É bar e bola

Com os jogos Pan-Americanos chegando ao fim neste fim de semana, os fãs de esporte voltam sua atenção para o Campeonato Brasileiro de futebol. Para atrair esse público, muitos bares mantêm telões e aparelhos de TV ligados nas partidas, principalmente nas noites de quarta-feira e nas tardes de domingo. Se você é um torcedor de mesa de bar, veja o time das 11 opções abaixo e responda à enquete:

> Confira o resultado

Jeremias, o Bar do Walter

Foto: Fernando Moraes

Houve quem criticasse e também quem aplaudisse a reforma do primeiro quarteirão da Rua Avanhandava, idealizada pelo restaurateur Walter Mancini e concluída no início deste ano. A verdade é que, com boa iluminação, calçadas mais largas e pavimento renovado, os 140 metros iniciais dessa via são hoje, talvez, os únicos do centro nos quais podemos fazer algo tão trivial quanto o que se vê em qualquer outra grande cidade: caminhar, passear a qualquer hora do dia e da noite, com prazer e sem ter a preocupação com a segurança.
Dono da cantina/ponto turístico Famiglia Mancini e de outros quatro endereços na Avanhandava, Walter Mancini abriu no início deste ano, no mesmo ponto em que funcionou por pouco tempo o restaurante Camarim 37, o Jeremias, o Bar. É um piano-bar para quem busca conforto na atmosfera do ambiente e não no menu. Ilustrações de artistas como Jaguar, Angeli e Ziraldo, autor do personagem que inspira o nome do bar, adornam as paredes. À frente e à esquerda do longo balcão ficam as mesas e o espaço que cabe aos músicos.
A casa serve steak diana e outros pratos old-fashioned, além de receitas tradicionais, como o filé à parmigiana, e petiscos pouco inspirados. Seria boa idéia providenciar uma seleção de queijos e antepastos da vizinha Famiglia Mancini. Impecavelmente trajados de summer jacket, os garçons, embora educados, são um tanto desatentos. É mais fácil acenar para os barmen e pedir que esses chamem aqueles, do que conseguir fazer um pedido diretamente aos colegas de salão.
De volta ao que interessa, todos os dias, a partir das 18 horas, músicos tarimbados da noite interpretam canções de MPB e de jazz, em apresentações solo ou em duos, trios e quartetos. Não é raro perceber, no fim de noite, o entra-e-sai de cantores e instrumentistas saídos de outras casas de música ao vivo, ávidos por uma jam session e pelos últimos goles da noiteNa lista de drinques (a partir de R$ 9,00), aliás, estão todos os clássicos: bloody mary correto (R$ 12,00), kir royal (R$ 12,00), dry martini (R$ 14,00) etc. É a eles que você deve confiar seu fígado, brindes ou frustrações, quando quiser tomar aquele porre. Com estilo, é claro.

Jeremias, o Bar: Rua Avanhandava, 37, centro, 3255-4120. 17h30/1h (quinta até 2h; sexta e sábado até 3h). Cc.: todos. Couvert art.: R$ 11,00. Estac. c/manobr. (R$ 9,00, por três horas). http://www.famigliamancini.com.br/.

Mais tequila, por favor

Obá Restaurante: aula-degustação de tequila
De tudo que já bebi, o tequila – trata-se de um substantivo masculino no idioma espanhol – é o destilado de que menos sou fã. A oferta em nossos bares é fraquíssima, tanto em qualidade como na variedade de rótulos, a ponto de ser raras nas prateleiras as garrafas de tequila preparado com 100% de agave azul, a planta de que é feito. Em geral são vendidos tequilas grosseiros, em cuja receita há a mistura com outros ingredientes, como cana-de-açúcar. E, quando encontro um bom tequila, envelhecido em barris de carvalho e 100% agave, o preço da dose chega a ser proibitivo (mais de 15 reais).
Incomoda-me também a maneira como a maioria das pessoas degusta a bebida, com limão, sal e num shot. Parece que a intenção é a de se embebedar e não a de dar atenção ao que está sendo consumido.
Uma rara ocasião para fugir do trivial será a aula-degustação de tequila que o restaurante mexicano Obá vai realizar na quinta-feira (26), às 20 horas. O proprietário da casa, Hugo Delgado, vai conduzir a atividade, em que serão tratadas a história do tequila, sua composição e as formas de consumo. Serão degustados os rótulos El Jimador Blanco, El Jimador Reposado, 1800 100% Agave Blanco, Jose Cuervo 100% Agave Tradicional Reposado, Herradura 100% Agave Reposado e Herradura 100% Agave Añejo.
Obá – Rua Melo Alves, 205, Jardim Paulista, tel. 3086-4774. Aula-degustação: quinta-feira (26), 20 horas. R$ 110,00.

Como matar um bar

Dois dos mais admiráveis botecos nos quais tomava-se chope de primeira linha nesta cidade estão sendo assassinados. Ontem eu vi, meninos, e conto-lhes o modus operandi desses dois crimes.
Primeiro, submeta-se à exigência da cervejaria e troque a marca do chope. A bebida ficará pior, o creme que cobria o líquido vai tornar-se uma espuma seca, porosa, sem graça. Esse é o estado atual de um deles, que, prestes a completar 40 anos, já não era o mesmo, dizem os mais assíduos, desde que o garçom da casa, um lorde, aposentou-se, morrendo logo em seguida.
Outra opção – a que acontece com o outro moribundo e com tantos mais – é comprar um bar que você admire e transformar o seu prazer em negócio. Passe de freguês a dono. Em vez de preocupar-se em escolher a melhor mesa ou em saber da saideira, comece a lidar com dinheiro, fornecedores, clientes. Troque a decoração antiga pela “à moda antiga”.
Deixe que os tiradores de chope, da segunda geração no ofício de manusear a máquina (esta com quase oito décadas de atividade), peçam demissão. Melhor, demita-os.
Instale uma TV e telas de plasma – ou LCD, nunca se sabe ao certo –nas paredes e mantenha ao menos um desses aparelhos ligados o tempo todo em canais de futebol.
Convide um casal para interpretar MPB ao vivo, voz, microfone, violão e uma caixa de som, em um canto do salão e não ligue se a letra de um samba de Cartola sair errada. Uma noite de música no meio da semana será o suficiente.
Pago um chope a quem não souber que bares são esses.

A Rosa e o petisco de nome impublicável

Foto: Renata Ursaia

Quem quiser saber o que é hospitalidade, deve conhecer a Academia da Gula (Rua Caravelas, 374, Vila Mariana, tel. 5572-2571; 7h/23h; sáb., 11h/17h30; fecha dom.; http://www.academiadagula.com.br/), um boteco improvável, numa esquina improvável a um quarteirão da 23 de maio que, dependendo do horário, terá tráfego complicado — provável desculpa para desviar seu caminho e estacionar numa das mesas do bar.

Rosa Brito, portuguesa de Barcelos, é a dona da casa.

Ela recebe os fregueses — quando Lula ainda não havia se mudado para Brasília, consta que passava por lá; entre eles, também, não é raro encontrar algum comissário ou piloto da Air France, empresa que hospeda seus funcionários no hotel vizinho e que sugere a eles o boteco como referência culinária na cidade — e os fornecedores, atende as mesas, atua na cozinha, fofoca com a filha e conta histórias verdadeiras de seus patrícios, que são melhores do que piada, a quem quiser voltar para casa com algum caso engraçado. Importante, sua filha (Daniela), a Sônia (garçonete da noite) e a Ilda (a do dia) são espertas a ponto de saber que bom atendimento e simpatia, para quem é botequeiro, equivalem a uma saideira. Por isso, seguem o exemplo de Dona Rosa.

Já estive na Academia da Gula três ou quatro vezes. A mais recente delas foi na noite de sexta-feira, quando recebi um amigo de Recife, bom de copo, aliás. Você não deve sair de lá sem:

1. abrir os trabalhos com os bolinhos de bacalhau (pequeninos, moldados na colher, R$ 16 a porção com 12 unidades) e uma garrafa de cerveja;

2. provar a alheira, estourada na chapa quente com um pouco de azeite (R$ 13);

3. pedir uma porção de bacalhau cru desfiado no punho, com azeite, cebola e salsinha (na foto, R$ 35), cujo nome que consta no cardápio é impublicável a uma hora destas;

4. despedir-se da Dona Rosa com um ‘até breve’.

Todos por um

Fotos: Rômulo Fialdini
“Original, histórias de um bar comum” é, por assim dizer, o próximo item a ser incorporado ao cardápio do bar que já nasceu um clássico, não só pelas homenagens que desde sempre prestou aos célebres botecos de São Paulo e do Rio mas também por que é um honrado discípulo de todos eles. Trata-se de um livro de autoria do jornalista atleticano Nirlando Beirão, com fotos de Rômulo Fialdini e prefácio do publicitário Washington Olivetto. “Nosso propósito principal é devolver ao universo dos bares e botequins uma dosezinha de tanto o que dele temos absorvido nesses últimos 11 anos”, conta Edgard Bueno da Costa, um dos proprietários do bar e um dos pais da idéia.

No livro – ainda no prelo, com lançamento previsto para agosto de 2007, mas do qual este blog antecipa um aperitivo com exclusividade –, Beirão conta a vida de um, o Original, a partir de passagens curiosas de personagens bons de copo em alguns dos melhores bares do mundo. A quem se encanta por histórias assim, é um texto de arrepiar. Quero dizer, só poderia ter sido escrito por um globetrotter dos balcões como Nirlando que, sim, esteve em todos eles, a começar pelo mitológico Harry’s Bar, de Veneza, citado no trecho a seguir.

“Personagem do Harry’s Bar, tanto na ficção quanto na realidade, Ernest Hemingway vai freqüentar muito este nosso livro, a partir de agora – ainda que muitas vezes trôpego, fazendo ziguezague, sempre de ressaca.
Hemingway era um homenzarrão de quase dois metros de altura e compleição de atleta, o que lhe dava ampla vantagem no que dizia respeito à capacidade de armazenar álcool – bourbon e gin sendo os seus favoritos.
Já era um escritor de fama quando veio se juntar, na Europa do pós-guerra (a Primeira Guerra, bem entendido), àquela legião cigana de norte-americanos que, beneficiados pelo dólar favorável, sonhavam em ver seu talento artístico desabrochar de repente ao pé da Sainte Chapelle ou sob a inspiração do sol de Cap d’Antibes. Como passaram à história como lost generation, geração perdida, é legítimo supor que o sucesso deles foi relativo.
Hemingway, não – foi tão bom na máquina de escrever quanto de copo na mão e deixou para a posteridade uma trilha em que o álcool coincide com o talento. Na Espanha que ele percorreu com regularidade nos anos 1930 e 1940, insuflado por mais uma de suas bandeiras de virilidade, as corridas de touro, até muito recentemente não havia um botequim digno do nome que não tivesse, a um canto, uma cadeira ou uma mesa que dissesse: aqui bebeu Ernest Hemingway. Em geral, era verdade.
Na Paris de uma époque que já não era tão belle, foi na Closerie des Lilas, em Montparnasse, que ele fez o ninho dele e até hoje rebanhos de japoneses sobem lá dos Jardins du Luxembourg para registrar em suas câmeras o mito na forma de um café-restaurante agora caríssimo e na verdade medíocre.
Mas Hemingway foi o supra-sumo do boêmio, daqueles que fazem a reputação de qualquer lugar pela sua simples presença ali. E, lá na esquina de Montparnasse com o Quartier Latin, ele ainda contava com um impressionante elenco de apoio, os ciganos da literatura com sotaque americano. Uma vez, deixou que se sentasse à sua mesa o dândi Ford Maddox Ford – que ele odiava. Ford perguntou:
– O que você está bebendo?
– Conhaque – respondeu Hemingway.
– Não sabe que começar a beber conhaque é fatal para um jovem escritor?
– Ah, é? Você bebe sempre? Não é sempre que eu bebo.
Hemingway não era dado a sutilezas, mas dessa vez saiu. Em Paris é uma festa (memória que cobre o período entre 1921 e 1926), ele conta que a Closerie des Lilas era conveniente por vários motivos: ficava perto de casa, era bem aquecida, tinha um agradável terraço para o verão e a primavera e não haveria nenhum perigo que aparecesse por lá aquela gente do Rotonde, do Dôme e da Coupole, vizinhos de arrondissement, onde os frívolos iam buscar – como fazem os atuais colunáveis – “uma migalha de imortalidade”.
Já no Closerie era possível ver o poeta Blaise Cendras, “com sua cara quebrada de boxeador e a manga vazia do paletó voltada para cima e presa com alfinetes, enrolando um cigarro com a mão que lhe sobrava”. E, é claro, a bordo de sua tresloucada Zelda, o magnífico Scott Fitzgerald, a quem Hemingway, porém, por puro ciúme profissional, jamais quis ceder o mérito de protagonista.
Com aquela macheza truculenta com substrato de sadismo, Hemingway explorava as inseguranças literárias de um autor que, no entanto, era muito mais requintado do que ele; humilhava Scott, fazia-o sofrer. Quando ficou claro quem era a autêntica estrela das letras, ali, o grandalhão Ernest desafiou o frágil Scott para um tira-teima lá no banheiro do tipo quem é o mais bem-dotado. A história não registra quem saiu vencedor. Mas há uma pista: ao contrário do fanfarrão Hemingway, Scott seria incapaz de alardear publicamente uma coisa dessas.
Entre a Europa e a América, Hemingway bebeu um oceano. Mas o Harry’s Bar – que ele ajudaria a eternizar – só em 1950, depois da Segunda Guerra, é que ganharia dele o privilégio literário. E, em Across the river and into the trees, não mais como cenário, mas na condição de protagonista tão importante quanto o coronel Richard Cantrell, alter ego do escritor, criatura dilacerada entre o amor por uma jovem condessa italiana e a culpa por ter executado 122 inimigos na guerra – episódio que, sabe-se agora, é cruelmente autobiográfico.
Enquanto se encharcava de negrone e dry martini no aconchego dos Cipriani, Cantrell-Hemingway balbuciava com seus botões: “Eu sou um porra de um felizardo e nunca deveria ficar triste por nada”. E, de novo, mergulhava na melancolia, a cantoria dos gondoleiros, lá fora, impregnando a alma junto com os odores desagradáveis da laguna.
Também naquela Cuba em que se refugiaria na década de 1950, em busca da paz para escrever e de marlins para pescar, o bar era seu lar. Recorria aos mojitos da Bodeguita del Medio com sede de retirante, freguês de carteirinha, assíduo e de língua solta. De vez em quando, revezava com La Floridita, onde o forte eram os daiquiris. Tinha um quarto no hotel Ambos Mundos e uma pequena mesa de trabalho que lhe batia no peito e era ali que ele batucava sua Remington, sempre de pé, descortinando a entrada fortificada do porto de Havana. Quando a inspiração secava, Papa Hemingway saía para umedecer o paladar.
Sua escrita era destilada, com punch de armagnac. Mas falava tanto de bebida que não há leitor que não saia de suas páginas trocando as pernas, inebriado. De mais a mais, o superboêmio Hemingway não dá dor de cabeça no dia seguinte.”
Trecho inédito de “Original, histórias de um bar comum”, de Nirlando Beirão

Original: Rua Graúna, 137, Moema, tel.
5093-9486. http://www.baroriginal.com.br/

Boteclando também é cultura

Para você começar a conversa no bar, logo mais à noite: já é quase de domínio público, mas 13 de julho é o dia mundial do rock porque nesta data, em 1985, foram realizados os megaconcertos Live Aid, em Londres (Inglaterra) e na Filadélfia (Estados Unidos), para arrecadar doações às vítimas da fome na Etiópia. Apresentaram-se nomes como Mick Jagger, Robert Plant e Led Zeppelin, Queen, U2, The Who, Black Sabbath e dezenas de artistas e bandas.

We will, we will…

Hoje, sexta-feira 13 de julho, é o dia mundial do rock. E rock é um dos sinônimos do Café Piu Piu (Rua Treze de Maio, 134, Bela Vista, tel. 3258-8066), um dos poucos heróis da resistência que sobreviveram ao auge do Bexiga, duas décadas atrás. Para comemorar a data, a partir das 23h30 a banda Almanak tocaa covers de Judas Priest, Deep Purple, U2, Queen, The Killers, entre outras bandas. A entrada custa R$ 10,00.

Desandei… Errei o bar

Para entregar seu convite de casamento, um dos meus grandes amigos combinou de encontrar uma turma ontem à noite no Vila Isabel (Avenida Hélio Pellegrino, 198, Vila Nova Conceição, tel. 3945-2966), um bar que já foi interditado algumas vezes pelo PSIU. Não sei a razão, mas acabei indo para o Vila Rica (Rua Ministro Jesuíno Cardoso, 299, Vila Olímpia, tel. 3044-0914). Só fui perceber o equívoco depois do segundo chope, mas deu tempo de fechar a conta e consertar o erro.
São dois bares muito parecidos, arejados. Só que o chope é apenas regular, assim como as porções (calabresa acebolada, R$ 16, no Vila Rica).
Pensando bem, são lugares que não fazem falta nenhuma. Assim como alguns senadores.

Filosofia de boteco

Política é o último assunto sobre o qual eu e meus amigos costumamos conversar ou pensar quando nos encontramos em um bar. Falamos do trivial: futebol, relacionamentos, mulheres. E costumamos gargalhar das mesmas piadas de sempre, lembrar das mesmas cenas cômicas dos tempos de colégio, de bairro, de faculdade. Somos um grupo de amigos comum, como é, certamente, o seu. Mas essa palhaçada que vem tomando conta do Senado conseguiu a proeza. Pensei nisso ontem, enquanto tomava um chopinho. Quer saber, os excelentíssimos senadores que passam pela síndrome da vergonha alheia (para dizer o mínimo…) por conta das acusações contra o Renan Calheiros têm lá sua parcela de culpa nessa história toda. Afinal, não foram eles que o conduziram à presidência do Congresso?