Faltava uma semana para o carnaval de 1993 e eu queria juntar um dinheirinho para passar o feriado longe de São Paulo – na verdade, nem tão longe assim, já que a idéia era seguir para Bariri.
Para minha sorte e a de alguns amigos, fomos chamados para fazer um bico em um casamento: iríamos servir as coxinhas, os quibes e as empadinhas que minha mãe havia feito para o evento.
Assim, tornamo-nos garçons por uma noite. Acabada a cerimônia, um batalhão de convidados famintos jorrou pelo salão de festas da igreja. Foi o tiro de largada para que nós, como baratas tontas, começássemos a correr de uma mesa à outra, carregando bandejas cheias de salgados.
Não me recordo se naquela noite conseguimos equilibrar as coisas em uma só mão, se derrubamos algo no chão ou se passamos por algum vexame. Lembro-me que o Daniel, amigo que estava na mesma situação, ouviu de uma convidada: “Vocês são dinâmicos, hein?” Passado tanto tempo, acho que não poderíamos ter tido melhor recompensa do que esse elogio.
Toda essa historinha me veio à cabeça ontem à noite, quando estive no Vivos, bar que pertence ao Gilberto, ex-maître do Original.
Fui atendido pelo Domingos. O Domingos deve ter uns 40 e poucos anos. Sobre ele, pouco sei, depois de alguns minutos de conversa.
Mora para os lados do Parque Continental. Trabalhou no Siri Kaskudo, um bar especializado em frutos do mar. Trouxe-me uma ótima caipirinha, servida em copo longo (R$ 7,00). Disse-me que a feijoada (R$ 16,00, porção individual) dos sábados é bem-servida. Que a carne-seca que recheia a barca (baguete de pão francês, R$ 9,00) vem de fornecedores selecionados. Que no almoço de domingo tem bacalhau no Vivos. Que o serviço de manobrista custa R$ 6,00. Que a idéia dos donos era abrir um bar com cara de Jardins e de Vila Madalena, mas que a clientela dali não era tão fina; ainda assim, o Domingos atende como se deve, vestindo camisa branca, calça preta e gravata-borboleta.
E que, infelizmente, por causa do pouco movimento nesses três primeiros meses, o cardápio da casa vai mudar, que serão servidos pratos executivos no almoço durante a semana e que os preços vão baixar.
O sem-jeito com que ele contou isso a um cliente que pela primeira vez aparecia no bar, meio que sabendo que essas mudanças podem vir a ser uma tola tentativa de os donos levarem o bar adiante, é comovente – o problema é que o ponto, em frente ao cemitério do Araçá, é meio micado, difícil até de parar o carro para entregar ao manobrista.
Mesmo com o bar quase vazio, o Domingos arranjava o que fazer: arrumava os saleiros e paliteiros sobre as mesas, pegava louças na cozinha e guardava no armário, passava um pano nas cadeiras e de vez em quando, sem ser inconveniente, vinha perguntar se estava tudo bem.
O Domingos, tenho certeza, é um garçom por vocação. Justamente por isso, você merece acrescentar os 10% na conta quando passar por lá.
Vivos. Avenida Doutor Arnaldo, 1 215, Sumaré, tel. 3675-5406.
Oi, MiguelVim dar uma espiada no seu blog. Grande falha a minha ainda não o conhecer…Pensei em parar nesse bar algumas vezes, especialmente por causa do nome sensacional. Mas está sempre tão vazio que me pergunto se os freqüentadores não seriam os moradores do Araçá.
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Pois é, Cris, uma pena…O ponto é completamente equivocado, já que os ônibus passam por ali em alta velocidade. Mal dá para parar o carro. Volte mais vezes!
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