Qual é o seu boteco?

Anteontem fui ao Rei das Batidas, boteco no Butantã aberto na década de 70. Estive lá para bater um papo com um grupo de estudantes que está se formando em Jornalismo.

Para cumprir um trabalho de uma das disciplinas, os jovens estão produzindo um documentário sobre o bar. Parte deles deu cano, apareceram a Marina e o Caio.

Logo no começo da conversa, quis saber da Marina o porquê da escolha desse bar. Ela respondeu mais ou menos o seguinte:

“Então… [Nota do blogueiro: nós, paulistanos, falamos muito ‘Então…’] a gente quer entender algumas coisas. Por exemplo, o Rei das Batidas é um lugar feio, fica numa rua feia e escura mas vive cheio! As batidas já foram melhores mas a porção de provolone a milanesa, essa sim, é a melhor do mundo!”

Bom, Marina, o fato de ser feio não desabona o bar. Diferentemente do que muita gente pensa sobre as mulheres, o que vale em um boteco é sua beleza interior. Isso pode ser traduzido, por exemplo, na simpatia do dono ou na camaradagem do garçom, na fórmica gasta do balcão que, ainda assim, vai ser aconchegante o suficiente para acolher o freguês, o copo de chope, a bolacha e o próprio chope. É aquela história: boteco bom tem de ter alma.

Outra coisa: se as batidas já foram melhores eu não me lembro, estive lá duas ou três vezes. Melhor perguntar para as gerações de veteranos da ECA, da FEA, da Poli e da FFLCH, por exemplo, que levaram seus calouros para tomar cerveja ali ao longo dos últimos trinta anos. Ainda que tenham sido melhores mesmo, aposto que se eles voltassem ao Rei achariam que tá tudo bem, do jeitinho que era como quando freqüentavam a casa.

Mas o ponto principal para entender o mito do Rei das Batidas e de tantos outros botequins por aí está na sua resposta, Marina: enquanto você ou qualquer pessoa tiverem a certeza de que aquela porção de provolone a milanesa ou aquele bolinho de bacalhau daquele outro bar são as melhores coisas do mundo, ou ainda achar que ninguém atende tão bem quanto o garçom do seu boteco preferido, esse lugar será o melhor bar do mundo. Mesmo que todo o resto da humanidade digam o contrário.

Rei das Batidas – Avenida Waldemar Ferreira, 231, Butantã, tel. 3031-5795.

3 thoughts on “Qual é o seu boteco?

  1. Olá Miguel, concordo plenamente com a sua resposta, aliás quem sou eu para discordar, e o que vale mesmo é o bom e velho boteco com o ladrilho todo gasto e ….Moro no Ipiranga e aqui tem o Bar do Seu João que parece que quer que eu seja totalmente incoerente. É o bar mais limpo do Brasil, sem exagero, fica numa esquina em frente a uma pracinha e logo que fecha, lá pelas nove horas, a filha começa a limpeza e limpa tudo. De manhã ela continua e é tudo limpinho, não tem um “cisco” nem de cinza de cigarros. Lógico que a freguesia, já conhecida, colabora em muito, até o banheiro é limpo. Mas faz a melhor calabresa na chapa que pode existir, com um tempero bem particular. É pequeno, não tem mesas, quatro daquelas banquetas redondas fixas no chão. As minhas amigas já se acostumaram e sentam na escada. Mas independente da limpeza é muito bom e êle faz também uma caipirinha de maracujá que é boa de mais. Em tempo: o Seu João é Português, digo, da Ilha da Madeira. Grande abraço, parabens pela “coluna”.José Maria

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