Frutos do mar: aprendendo a comer

Existem três tipos de comida: 1. Aquela que você gosta; 2. A que você não gosta nem nunca vai gostar; 3. E aquela que você aprende a comer.

Nesse item 3 estão, por exemplo, a dobradinha, que aos poucos vou tolerando, alguns itens da culinária japonesa, da qual ando avançando além do trivial. E os frutos do mar.

Há quem salive só de pensar em abrir uma ostra e sugar aquela gosminha, sem sal nem limão mas com um restinho de areia. Não estou ainda nessa fase, mas confesso que com um limãozinho o molusco vai muito bem!

Ou seja, sinto-me em meio a um aprendizado, como nos tempos de escola. Com a baixa gastronomia não se tem uma relação fugaz como a que se vive nos supletivos. Não! O negócio aqui é mais complicado, é preciso estudar muito para entender a filosofia que ensinam as mesas de botequim.

Como certos ensinamentos não saem da cabeça da gente, lembro-me da primeira vez que comi camarão.

Era 1997, provavelmente, e eu estava no restaurante La Plancha, no Rio de Janeiro, na companhia do grande amigo Ricardo Amorim que, sabendo da minha então rejeição aos frutos do mar, de propósito levou-me a uma casa do gênero. Para despistar, falou para eu experimentar uma posta de cherne – peixe que, uma pena, tem pouca oferta aqui em São Paulo. Devorei o bichinho quase todo.

O Ricardo ofereceu um pouquinho das gambas al ajillo (camarão preparado numa calda de vinho branco, azeite e alho fatiado), típica receita espanhola. Gentimente recusei, ele insistiu. “Mas só um pouquinho”, assenti, para não desapontar o amigo.

Resumo da ópera: quase raspei a panela e, hoje, quando me meto a cozinhar, gambas al ajillo é um dos pratos chez miguelito de maior sucesso.

Um ou dois anos depois daquela primeira aula, conheci o Jabuti, quando tive de escrever uma reportagem para Playboy chamada “Dez adoráveis botecos”.

O quarentão Jabuti, claro, estava no rol. Mas como eu ainda era calouro nos frutos do mar, fiquei só nos bolinhos de bacalhau e de carne. Dias atrás voltei à casa, que fica na esquina da Joaquim Távora com a Conselheiro Rodrigues Alves, na Vila Mariana, de frente para o belo prédio do Instituto Biológico.

Para ter uma idéia, as vitrines do balcão instalado naquele acolhedor salão fora de moda exibem muitas das 35 opções de petiscos preparados com peixes e frutos do mar.

Lição decorada, comecei a prova com os bolinhos de bacalhau e de carne, como da primeira vez. Mas avancei para a sardinha escabeche, a lula ao vinagrete e fechei com o delicioso polvo ao vinagrete (na foto, R$ 41,00 a porção). Para brindar, fui de chope.

Tenho certeza que nessa matéria passei no teste, e com louvor.
Agora, uma coisa nunca entendi: se o boteco é especializado em frutos do mar, por que se chama Jabuti?

Jabuti. Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1315, Vila Mariana, tel. 5549-8304.

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