Minhas férias I – No meio dos botecos tinha uma igreja

Fundos da Capela de Sant’Ana: à direita, o Bar da Gê; à esquerda, o Bar das Pedras

Conforme prometi, vou escrever sobre alguns dos bares que conheci durante as férias de virada de ano. Depois de muitos réveillons, esta foi a primeira vez em que não pulei as sete ondinhas no mar. Escolhi, ao contrário, o caminho da roça e só cheguei à praia no dia 6 de janeiro, sábado.

A bordo de meu Fiestinha 2006 – que revelou-se um valente! – percorri 2000 quilômetros pela Estrada Real. Essa rota, para quem não sabe, começou a ser aberta no século XVII a partir de Ouro Preto (MG) para escoar as riquezas minerais para o litoral a fim de enviá-las à Europa. Com a descoberta de pedras preciosas no norte de Minas, a rota estendeu-se até Diamantina. São dois percursos: um com destino a Parati e outro ao Rio de Janeiro. Mais informações no http://www.estradareal.org.br/.
Entre trechos de asfalto, terra vermelha, calçamento de pedras e cascalho, passei por dezenas de cidades. Saí de São Paulo diretamente rumo a Sabará (MG), visitei pelo menos uma dezena de cidades mineiras e fiz a última escala justamente em Parati (RJ).
Logo no dia 1º de janeiro, antes de deixar Lavras Novas, distrito a uns 15 quilômetros de Ouro Preto, resolvi conhecer o vilarejo da Chapada, que por sua vez está a uns cinco quilômetros de Lavras Novas.
Esse povoado deve ter sido um dos menores lugares em que já estive na vida. Dizem que habitam a Chapada não mais que 70 pessoas.
A Chapada tem uma via principal, de terra, cortada por ruelas que levam a sítios e cachoeiras, no meio da qual está a Capela de Sant’Ana, construída no século XIX e lindamente restaurada.

Bar das Pedras: avohai

De um lado da igrejinha fica o Bar das Pedras. Do outro, o Bar da Gê, anexo à Pousada Santana (31-3551-3521).

A Chapada deve ser o lugar com o maior índice de botecos per capita no Brasil ou no mundo: um para cada 35 habitantes!

Como o Bar da Gê estava com todas as mesas ocupadas – suponho que a população no réveillon deve ter quadruplicado –, resolvi parar para a cervejinha do fim de tarde no Bar das Pedras.

Ao que parece, a freguesia do bar da Gê tem não somente a bênção de Sant’Ana, como desfruta também da sombra de sua capela. Isto mesmo: à medida que as horas vão passando, os clientes vão colocando as mesas de plástico junto a lateral da igreja para fugir do Sol. Quando nem mesmo a sobrinha espanta o calor, vez por outra o freguês se levanta, vai até o chuveiro e toma uma ducha gelada ali mesmo, ao lado da porta do bar.

Assim como o concorrente do outro lado da rua, digo, da igreja, o Bar das Pedras tem uma mesa de sinuca, cadeiras de plástico e uma ducha – esta, porém, fica no quintal. Pedras, muitas pedras revestem a parede e sustentam mesinhas de madeira.

O bar é tocado há pouco tempo por três irmãos, jovens. Pelo que pude inferir ao ver o palquinho atrás da mesa de sinuca, à noite devem acontecer shows de músicos locais, entoando hits de Zé Ramalho, Beto Guedes, Sá & Guarabyra e de toda a bicho-grilagem do rock rural.

Fiquei umas boas duas horas no Bar das Pedras, tomando cerveja (R$ 3,00), beliscando uma porção de lingüiça com mandioca, olhando para a capela e pensando que poderia permanecer ali dias, anos, só vendo o tempo passar.

Mas como ainda era 1º de janeiro, segui viagem.

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