O empate e o pé-quente

Foto: Mário Rodrigues

Era quase 9 e meia da noite quando saí da redação. Dali a vinte minutos o São Paulo estrearia na Libertadores da América 2008. Em geral, costumo assistir jogos importantes assim em casa, concentrado. Vez ou outra opto por um bar.

Como estava a caminho do bairro do Morumbi, tive um insight e pensei: bom, vou à Cantina e Pizzaria portão 5. Para quem nunca foi ao estádio do Morumbi, é a casa que fica na rampa de acesso ao setor de numeradas.

No meio do caminho parei para abastecer o carro e, no intervalo em que desci pagar a conta e voltei ao carro, meu time levou o1 a 0. Era começo de jogo e comecei a me preocupar.

Pensei em desistir, ir para casa, mas, com a mesma garra com o Muricy comanda o time em campo, segui para o Portão 5.

Parei o carro e, da porta, vi algumas mesas ocupadas, torcedores com a camisa do São Paulo e, no telão, a bola explodindo no travessão do goleiro do time colombiano. Assim que me acomodei na mesa, gooooooooooool!

Animei-me com o fato de estar, pela primeira vez na vida, num território 100% sãopaulino, em que podia torcer, gritar, chorar se fosse o caso, pelo meu time. E, claro, pensei: caramba, sou pé-quente!

O problema é que, nessa primeira visita, dali em diante o jogo não foi dos melhores. A porção de frango a passarinho (R$ 13,50), farta e muito sequinha, mostrou-se bem mais interessante. Para quem gosta, recomendo o molho de alho picado servido a parte. A pizza aperitivo meia mussarela meia calabresa era qualquer nota.

No fim das contas, o empate não foi mal resultado, o franguinho compensou a pizza e voltei pra casa com a certeza de que, sim, temos chance de levar o tetra.

Cantina e Pizzaria Portão 5
. Estádio do Morumbi, portão 5, tel. (11) 3771-3313/ 3749-8230.

Vinho e comida de boteco

Foto: Ricardo Toscani

Desde meados do ano passado, faço parte de um grupo que se reúne uma vez por mês para degustar vinhos.

Um dos intuitos dessa confraria ainda sem nome, composta por cinco amigos – agora somos seis – é descobrir e visitar restaurantes e bares de boa relação preço-qualidade e, nesses lugares, harmonizar a comida da casa com vinho.

Já fomos, por exemplo, ao Mocotó (receitas sertanejas), à cantina Pasquale e ao Del Mar (boteco espanhol).

Cada um de nós tem de levar uma garrafa e, muitas vezes, até mesmo os copos mais adequados para provar a bebida já que nos lugares mais simples a gente encontra copo americano – e olhe lá.

Ontem à noite, embora desfalcada de dois confrades, nossa turma fez algo ousado: propusemo-nos a combinar vinho com comida de boteco. Escolhemos como a casa da vez o Veloso, boteco na Vila Mariana do qual já falei algumas vezes aqui no blog.

Éramos quatro e os quatro vinhos – que cada um comprou ou escolheu previamente de suas adegas particulares – foram: Pizzato Chardonnay 2006 (branco) e Salton Talento 2004, nacionais; mais o chileno Panilonco Carménère 2005 e o champanhe Tattinger.

Entre os petiscos, provamos bolinhos de bacalhau, bolinhos de camarão com catupiry, coxinhas, bolinhos de arroz com lingüiça, sanduíche de lingüiça moída, bolinhos de carne e empadinhas de palmito. Tudo muito bom, apenas o bolinho de bacalhau um pouco aquém dos demais.

Provamos o vinho branco acompanhando os bolinhos de bacalhau e os de camarão – boa combinação.

Os demais tira-gostos foram degustados com os tintos e, de todas os cruzamentos, o mais interessante foi o do Salton Talento com os bolinhos de carne. Na boca, grosso modo, a mistura deixou um agradável sabor de bala de café (“retrogosto” é como os experts em vinho falam dessa sensação que a bebida deixa depois que ela é engolida). Na harmozinação com a empadinha, o grupo notou um sabor de goiaba.

Todos os petiscos, obviamente, casaram-se perfeitamente com champanhe.

O próximo encontro dessa confraria deverá ser em uma churrascaria. Espero que, até lá, a gente já tenha lhe dado um nome.

Veloso. Rua Conceição Veloso, 56, Vila Mariana, tel. (11) 5572-0254.

O fazedor de caipirinhas

Foto: Leo Feltran
Não espere que o barman Alfredo Martins lhe dê ouvidos como bem faz, por exemplo, Souza, do Veloso, caso você esteja assim meio constrangido por estar do lado de cá do balcão e se sinta na obrigação de quebrar aquele silêncio desconfortável de elevador. Ou que ele tenha a boa-pracice de um Derivan, que hoje recebe e monta mojito atrás de mojito para a clientela no enfumaçado Esch Café.
O “boa noite” de Martins costuma ser no limite da boa audição e da educação, pouco mais do que um aceno de cabeça. Há clientes de primeira viagem que se incomodem com esse jeito do anfitrião, existe quem não dê a mínima e prefira se ater àquilo que ele sabe fazer de melhor no restaurante Totò, do qual é um dos sócios: as caipirinhas.
Sentar-se numa banqueta e ficar ali ao lado de Martins vendo-o dosar mililitricamente o açúcar e a cachaça ou juntar dois quartos de um limão ao toque ligeiro de três dedos para preparar os drinques é tão divertido quanto provar à mesa, logo mais, uma das boas massas do cardápio, a exemplo da lasanha de abobrinha, gratinada e envolvida por todos os lados num molho rosé caudaloso.
Nessa quarta visita ao Totò, reparei que Martins costuma ocupar a ponta-direita do balcão de tampo de granito retangular. Nos dias de maior movimento, trabalha ao lado de outros barmen.
Caixas com vistosos cajus, limas-da-pérsia, carambolas, limões-cravo, kiwis, uvas e cirigüelas (ou umbus), entre outras frutas, mantêm a distância entre quem faz e quem vai beber as caipirinhas. E são a parte perecível do arsenal que contém ainda um pilão e uma tábua de plástico, uma afiadíssima faca e copos de vidro fino e fundo bojudo, perfeitos para acolher e manter, do primeiro ao último gole, o frescor das misturas que Martins propõe.
A cajurica é, por assim dizer, um clássico do Totò, que em 2008 completa dez anos: leva mexerica, limão-cravo, caju e vodca ou cachaça, no caso a deliciosa mineira João Mendes, fabricada em Perdões.
Outras caipirinhas combinam, por exemplo, abacaxi com isso, cirigüela com aquilo, uma fruta vermelha com outra. Há uma surpreendente versão de frutas verdes, feita com kiwi, carambola e uva thompson, melhor com vodca.
Naquele estágio em que o drinque já está quase no fim, com o gelo derretido, não fique constrangido de puxar os pedaços de fruta com a ponta do canudinho e comê-las embebidas no álcool.
Como acontece nas boas mesas da Itália, terá sido uma providência tão trivial quanto limpar do prato, com o miolo do pão, um bom molho de uma massa.
Totò. Rua Doutor Sodré, 77, Vila Olímpia, tel. (11) 3841-9067. Fecha segunda.

Portuguesa, com certeza

Dias atrás fui ao Bar do Magrão, no Ipiranga. O Magrão, o dono, por si só, merece uma crônica. É uma figuraça. É roqueiro e devoto do próprio negócio que montou. Está no bar todos os dias, dividindo com a mulher o comando da casa.

Ao passar pela geladeira em que ele armazena os bons rótulos de cerveja que vende, bati o olho numa garrafinha de Sagres, a loira de marca portuguesa.

Na hora, bateu uma nostalgia de Lisboa, cidade em que estive dois anos atrás. Passei poucos mas maravilhosos dias em Lisboa. Fiquei hospedado num hotel espetacular, de frente para o Tejo. Lembro-me que, quando olhava para aquele belo rio, tinha a impressão de que do outro lado da margem, avistaria o Brasil.

Bom, voltando a Sagres, tomei uma garrafa, que me foi servida na temperatura ideal, num copo muito bacana. É uma cerveja lager (de baixa fermentação), do tipo pilsen, como as mais comuns que temos aqui. É um pouco mais encorpada que essas – tem 5.0% de álcool – e em seu processo de fabricação são utilizados cereais não-maltados, o que não prejudica seu agradável amargor.

Sinceramente, não sabia que estava sendo importada para cá. No contra-rótulo, verifiquei que chega ao Brasil pela Adega Alentejana (http://www.alentejana.com.br/). No momento, não há nenhuma em estoque, mas o próximo carregamento deve chegar em março. Na importadora, cada garrafa sai a R$ 4,60.

Enquanto o novo lote não vem, vale a pena dar um pulo ao Ipiranga para garantir as últimas garrafinhas à venda no Bar do Magrão, ou experimentar as outras boas cervejas importadas à venda no boteco.

Bar do Magrão. Rua Agostinho Gomes, 2988, Ipiranga, tel. (11) 6161-6649.

PS: prometo, em breve indicarei bons bares para experimentar cervejas diferentes

Ao vivo

Bar do Torto, em Santos Foto: Alexandre Schneider

No tempo em que eu usava camiseta preta com nome de bandas como Deep Purple, Black Sabbath, Nirvana e Metallica, eram ainda raros os shows desses grupos no Brasil.

Era início dos anos 90 e, assim que era anunciada a chegada de um desses nomes, eu e meus amigos começávamos a juntar dinheiro para encarar as filas monumentais para comprar o ingresso – geralmente, claro, para o setor mais barato e mais distante do palco. Ainda assim, sabendo que de nada adiantaria, no dia do show chegávamos quatro ou cinco horas antes dos primeiros acordes.

Enquanto esperávamos o grande dia, nos contentávamos com as apresentações de bandas cover em bares como o Café Piu-Piu, o Café Aurora, o Black Jack Rock Bar e até o Fofinho Rock Club.

Ou seja, os bares em que havia música ao vivo eram o lugar onde podíamos fazer, sem nenhum constrangimento, nossas delirantes performances de air guitar ou de batera nas coxas.

Neste sábado, 24, o Deep Purple faz sua oitava escala em São Paulo para um show e eu vou estar lá, frente a frente com Ian Gillan, Ian Paice e Roger Glover pela quarta vez. É o primeiro grande show de rock do ano. Na semana seguinte tem Iron Maiden.

A bem da verdade, no som do carro tenho escutado mais um jazzinho e até música clássica, mas vou tentar achar um tempinho para dar um pulo num dos bons bares de rock da cidade a fim de afinar a garganta.

Como versa um dos milhões de clichês do gênero: “o rock ainda corre nas veias”.
A seguir, vai a lista dos melhores bares de música ao vivo de todas as cidades em que publicamos as edições VEJA – O Melhor da Cidade e os respectivos links.

São Paulo
Baretto: é um dos bares mais refinados da cidade, logo, nunca um guitarrista de rock deu canja por lá. Mas é possível ouvir, diariamente, standards de jazz e canções de MPB tocados por músicos competentes. Nomes como Bobby Short, Marina Lima e Caetano Veloso já se apresentaram lá.

ABC
Mansão Kaufmann: fica no “A”, ou seja, em Santo André.

Belém
Café Imaginário: o repertório privilegia jazz e blues, mas abre espaço para outros gêneros.

Belo Horizonte
Vinnil Cultura Bar: na Savassi, funciona em uma construção dos anos 40.

Brasília
Calaf: ganhou também o título de melhor bar para paquerar.

Campinas
Casa São Jorge: no balcão há uma imagem do santo que dá nome à casa, eleita também o melhor bar para dançar.

Curitiba
Santa Marta: cada noite há uma programação diferente.

Espírito Santo
Jazz Café: fica na Praia do Canto, em Vitória, e, apesar do nome, há jazz mesmo só às terças. Nos demais dias, rock, pop e MPB.

Manaus
Aqui há um empate, entre o All Night Pub e o Ton Biz.

Natal
Shock Bar: tem clima praiano, mas fica no bairro de Petrópolis.

Porto Alegre
Opinião: existe desde os anos 80. Em seu palco já subiram, mas faz tempo, nomes como Cazuza e Lobão.

Praia – Baixada Santista
Torto: já ouviu falar dos prédios de Santos que são inclinados? Pois é, o bar fica num dos mais tortos da orla.

Recife
UK Pub: é preciso ter dose dupla de paciência se quiser ter acesso à casa. Desde que abriu, vive lotada. Papou também os títulos de melhor bar para dançar e para paquerar.

Rio de Janeiro
Trapiche Gamboa: em plena zona portuária, no bairro da Saúde, a roda de samba rola num casarão de 1867.

Salvador
Bahia Café Aflitos: de quebra, tem vista para a baía de Todos os Santos.

Santa Catarina
Jinga Bar: fica na Lagoa da Conceição e pertence a um baterista, que conhece os melhores músicos do pedaço, ou seja, garantia de bons sons.

Mar & Montanha (Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Litoral Norte de SP)
Em São José dos Campos (Vale), o melhor é o Anexo da Nena.

O bar menos carioca de São Paulo

Foto: Gustavo Lourenção

Consta que o bar Devassa faz o maior sucesso no Rio de Janeiro, cidade na qual foram abertas oito unidades da rede. A matriz, inaugurada em 2001, fica no Leblon, tem decoração de boteco-chique e as mesas são distribuídas pela calçada.

Em 2006 surgiu a filial paulistana. Anteontem à noite – quando a gripe já estava aparecendo – estive lá pela segunda vez.

Como da primeira visita, feita cerca de um ano atrás, saí de lá com a impressão de que o bar é um lugar fora de contexto.

Não é que seja ruim, não é isso. Os garçons até que foram rápidos no atendimento, embora o hambúrguer que pedi estivesse com a carne quase torrada. O chope, que é preparado pela própria Devassa, foi bem-tirado, com o colarinho regulamentar de três dedos. Aliás, uma boa providência é fazer uma degustação dos diferentes tipos de chope, claro, red e escuro.

Mas, como disse, é um lugar fora de contexto. O público, formado basicamente por gente que acabou de sair das quatro paredes do escritório para curtir a happy hour, acaba curtindo a happy hour dentro de quatro paredes porque o bar é todo fechado. À frente da fachada de vidro há uma pequena varanda, sim, mas que tem o tamanho de um chiqueirinho de uma Brasília 73, capaz de acomodar somente duas ou três mesas. E no verão, convenhamos, mesas ao ar livre fazem toda a diferença.

(Pode ser que essa espécie de clausura faça parte de uma política da boa vizinhança, já que em volta há apenas prédios residenciais, afinal estamos nos Jardins.)

Além disso, falta ao bar a personalidade dos botecos cariocas mais clássicos e a descontração dos bares mais modernos – como os do Baixo Gávea ou a própria matriz, no Leblon. Tudo ali é comportado e arrumadinho demais, ainda que o nome Devassa tenha lá suas referências zefirianas.

Entre um bar certinho e um que cometa seus erros mas compense na autenticidade, na personalidade, prefiro a segunda opção.

É uma pena, mas se a Devassa paulistana não quisesse ser assim tão parecida com os Jardins, e trouxesse para cá um pouco mais de irreverência, quem sabe nós não poderíamos fazer uma viagem a Ipanema enquanto secamos o copo de chope?

Devassa. Alameda Lorena, 1040, Jardim Paulista, tel. (11) 3083-4470.

Para ver o céu

Foto: Daniela Toviansky

Finalmente o verão 2008 chegou em São Paulo. Não, não estou maluco. Vocês se lembram, janeiro foi um mês esquisito, principalmente na segunda metade. Eram dias frios e feios, quando não, chuvosos.

Veio o carnaval e o tempo continuou mixuruca. A ressaca só acabou no fim de semana passado.
Verão, sol, céu limpo (bom, em São Paulo nem tanto), tudo isso é um barato porque as pessoas vão para as ruas, lotam as calçadas e, claro, os bares.

Viver em São Paulo, parafraseando Hemingway, em dias assim, é uma festa.

Comecei a semana com a garganta incomodando, já que gastei as cordas vocais no Morumbi, durante os 3 a 2 do Tricolor sobre o Santos. (Pois é, uns gritam, outros choram, hehe).

Mas como a noite de segunda estava bem agradável, dei uma passada pela Casa do Espeto, em Perdizes, onde uma amiga reunia um grupo para comemorar seu aniversário.

Fazia pelo menos um ano que não ia até lá. Confesso que o lugar-comum dos bares especializados em espeto esgotaram a minha paciência.

É esquisito como, de tempos em tempos, surge uma modinha e as pessoas começam a pensar: “Opa! Vou abrir um bar! Um bar de espetinhos!”.

Se não foi o primeiro, a Casa do Espeto é, a meu ver, o responsável pela propagação dessa febre. Tanto quanto o Original foi, por exemplo, o difusor da onda dos bares-com-cara-antigamente.
O interessante é que, passada a moda, restam realmente os pioneiros, os bons.

No caso da Casa do Espeto, sua relativa longevidade, são cinco anos de vida, se deve sim ao pioneirismo, mas também à qualidade dos espetinhos. Para meu gosto, não é a melhor forma de degustar a carne mas, no embalo da cerveja, a gente manda um, dois, três, quatro, de carne, de frango, de lingüiça, de carne de novo…

Outro inegável atrativo do bar é a sua imensa e arborizada ao ar livre. Para noites como a de ontem e dias ensolarados como o que está fazendo lá fora (pelo menos por enquanto), passar horas bebericando e beliscando num espaço desses é um programão.

Casa do Espeto. Rua Cotoxó, 582, Perdizes, tel. (11) 3676-0436.

O cofrinho do patrão – e os 10% dos otários

Foto: Leo Feltran

Era quase 1 hora da manhã de sábado para domingo quando cheguei ao Boteco São Bento do Itaim Bibi.

O bar estava lotado, não havia uma mesa vaga sequer e a solução foi juntar-me às minhas amigas que estavam no balcão e que haviam chegado ali pouco antes de meia-noite.
Pedi um chope a um dos barmen e ele me orientou a pegar uma ficha no caixa.
Fui até lá e encontrei uma pequena fila. Olhei no cardápio e vi que o chope custava R$ 3,90.
Como havia apenas duas pessoas à minha frente, pude perceber que, para a primeira delas, a funcionária do caixa disse: “desculpe, vou ficar te devendo 30 centavos”.
Da que vinha atrás, ela cobrou R$ 4,29 pelo chope – ou seja, com a taxa de 10% de serviço incluída.
Na minha vez, pedi 4 copos de chope, pelos quais deveria pagar R$ 15,60. E perguntei para a moça: “cada chope custa R$ 3,90, né?”.
Ela já estava digitando o valor R$ 4,29, quando olhou-me com aquela cara sem-graça, dizendo: “Vou tirar os 10% do serviço”.
Agradeci e paguei com uma nota de R$ 20,00 mais uma de R$ 1,00, para facilitar o troco, que deveria ser de R$ 5,40.
Voltei ao balcão e comentei essa história com as meninas. Uma delas ainda me disse: “é verdade, ela ficou me devendo 20 centavos! Falou que já pediu para o patrão colocar mais moedas no caixa, mas ele não o fez…”.
Bom, é claro que a clientela bonita e bem-nascida do bar não vai se importar com esses centavos a mais que deixam ali. O que me irrita é essa lei de Gérson que não se extingue, a de todos quererem levar vantagem em tudo. E para alguém levar vantagem, sempre vai ter um otário para arcar com o prejuízo.
Não custa lembrar, mas ninguém é obrigado a pagar pelo serviço, tendo sido bem ou mal-atendido. Em casos como esse em que o funcionário fez o favor de me mostrar o caminho do caixa para que eu mesmo cuidasse do serviço, trata-se de um desaforo. E o pior é que este bar não é o único a fazer isso.
Para não dizer que não falei de flores, eu já estava terminando o terceiro chope – bem-tirado e com colarinho bem cremoso, diga-se – quando a hostess veio até nosso grupo oferecer uma mesa.
Minhas amigas ficaram surpresas porque, quando chegaram ao bar, a mesma hostess alertou: “olha, a casa está cheia e não vou poder acomodá-las numa mesa. Vocês terão de ficar no balcão”.
Tá vendo, é tão difícil assim respeitar o cliente?

Boteco São Bento. Rua João Cachoeira, 800, Itaim Bibi, (11) 3079-4285.

Quinta-feira de cinzas

Foto: Marcelo Barabani

Ontem à noite combinei um encontro pós-carnavalesco com um amigo e uma amiga. Como queríamos apenas bater papo, pensamos em um lugar perto de casa e do trabalho.

Decidimos ir até a Vila Madalena e escolhemos o Armesto Discos como o ponto de parada.

Esse bar, na verdade um pizza-bar, tem um ambiente muito legal. Quase todas as mesas ficam numa área quase a céu aberto: uma estrutura plástica nos protege da chuva.

A trilha sonora ambiente costuma ser classe A. Ontem, por exemplo, Jorge Ben, o dos anos 70, por isso Ben, cantava nas caixas de som.

As pizzas são bem saborosas, servidas em diferentes tamanhos, embora eu tenha achado a massa grossa demais. Rachamos uma de abobrinha, marguerita e toscana.

Como entrada, nos foi servido (sem que pedíssemos), mas cobrado (R$ 6,90), um pão de calabresa bem temperado.

Na última vez em que estive lá, lembro de ter tomado cerveja de garrafa. Mas a casa não serve mais esse item. Pedimos chope, que ali é fornecido pela Braumeister. Não estava dos melhores, nem dos piores, apenas OK, passável (R$ 3,60 cada).

O que nos chamou a atenção foi o fato de não ter entrado mais ninguém no bar no período em que estivemos lá, entre 9 e 11 da noite.

O papo estava tão bom – reminiscências momescas, de outros carnavais – que só fomos reparar nisso ao pedir a conta.

Não achamos ruim, apenas estranha a experiência de, em plena quinta-feira, sermos os únicos a entrar num bar da Vila Madalena.

Vai ver tem muita gente de ressaca ainda, não?

Armesto Discos. Rua Aspicuelta, 251, Vila Madalena, tel. (11) 3819-9009.