Entre tapas, pinchos e vinhos

Em fevereiro passado, escrevi um texto neste blog (leia aqui) em que contava sobre a turma de degustação de vinhos do qual faço parte. Ali eu dizia que um dos objetivos dessa confraria até então sem nome era o de “descobrir e visitar restaurantes e bares de boa relação preço-qualidade e, nesses lugares, harmonizar a comida da casa com vinho.” Disse também que naquela ocasião, propusemo-nos a ousadia de combinar vinho com comida de boteco.

É mais ou menos isso que vai acontecer durante a degustação “Entre tapas e vinhos”, na próxima terça-feira, 2 de dezembro, no restaurante Baby Beef Rubaiyat da Alameda Santos. Eu digo “mais ou menos” porque, guardadas as devidas diferenças culturais entre os bares de tapas espanhóis e os nossos botecos, podemos dizer que as tapas e os pinchos equivalem aos nossos tradicionais petiscos. Uns e outros devem ser comidos com as mãos, sem frescuras.

A diferença é que na Espanha, na Itália e na Alemanha, por exemplo, podemos encontrar uma quantidade enorme de bares que tenham uma boa e seleta carta de vinhos, que por sua vez são bem armazenados e servidos em copos adequados.

O cardápio desse evento de terça-feira, 2, leva a assinatura de Carlos Valenti, chef do Porto Rubaiyat de Madri. Valenti foi o vencedor do IV Campeonato Espanhol de Pinchos e Tapas, realizado na cidade de Valladolid, região de Ribeira del Duero. Ele vai preparar uma seqüência de treze sugestões, como ceviche de vieiras, ostras com pérolas de gim tônica, bacalhau ao pil pil (foto), codorna com chocolate e leitãozinho confitado.

A escolha dos vinhos está a cargo de um dos maiores especialistas do país, o sãopaulino Mario Telles Junior, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommelieres. Telles selecionou um espumante (Ravento’s Gran Reserva), um branco (Vina Tondonia Reserva 89) e três tintos (Allion 2003, La Rioja Alta 904 e Falset-Marçà Verema Tardana Negre 2005).

Até a manhã de hoje ainda existiam vagas em aberto para participar do jantar, que requer um investimento de R$ 230,00 por pessoa. Não é pouco, mas quando é que temos a chance de provar, de uma só vez, vinhos tão bons e com petiscos campeões assim?

Em tempo: meio sem querer, o meu grupo acabou sendo batizado de “Confraria da baixa gastronomia”. Corrijam-me, confrades, por favor, se eu estiver errado.

Baby Beef Rubaiyat. Alameda Santos, 86, Paraíso, tel. (11) 3170-5111.

Heinz Eterno

Desde sábado, está nas bancas das cidades do litoral sul de São Paulo a segunda edição de Veja Praia – O Melhor da Baixada Santista.


Pelo segundo ano consecutivo, apontamos os melhores restaurantes, casas de comidinhas e bares de oito cidades: Bertioga, Guarujá, Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe.


Mais uma vez, o Heinz é apontado como o dono da melhor happy hour e do melhor chope, na opinião do júri da publicação.


Assim como o santista Edson (o fato de Pelé ter nascido em Três Corações, hão de convir os conterrâneos, é puro capricho divino), ouso dizer que o santista Heinz é um bar eterno.


Por mais reformas por que passe o salão; por mais que as equipes d atendimento e da cozinha sejam renovadas, por mais que pais apresentem a casa aos seus filhos – e estes aos netos – , o bar sempre manterá sua imutável alma boêmia.


Programa imperdível é chegar ali antes das 5 da tarde, em dia de semana, e descolar uma mesinha na varanda. Você verá a casa encher aos poucos, primeiro os aposentados, depois os engenheiros e geólogos da Petrobras, em seguida a turminha de universitárias, até que, antes das 8 da noite, aquela esquina se tornará uma festa.


Há quarenta e seis anos espremido a uma ou duas quadras da orla de Santos, no charmoso bairro do Boqueirão, o boteco é, portanto, programa obrigatório a ser feito por quem desce a Serra do Mar. Sua fama, escrevi certa vez, transcende os limites da cidade.


Não saia dali sem experimentar o salsichão com mostarda escura e molho de cebola. Pesado? É, fazer o quê…


E sempre que o garçom descer à sua mesa um copo de chope – o modelo, que lembra uma taça, chama-se Trianon, é exclusivo da casa; não em lembro de ter visto em outro lugar –, segure-o com a ponta dos dedos pelo pezinho e erga-o acima de sua cabeça, como um dia fez Bellini, antes de dar o primeiro gole.


Será o seu troféu.


Heinz. Rua Lincoln Feliciano, 118, Boqueirão, Santos, tel. (13) 3286-1875.

Escondidinho, esse exibido

Faz tempo que o escondidinho de carne-seca vem saindo do armário, ops, da cozinha dos bares para chegar às mesas em versões feitas com outras matérias-primas. Debaixo daquela cama de purê gratinado, já é possível ver bacalhau, frango, camarão, lingüiça e até lagosta.

Alguns dias atrás estive no Velho Rabo, em Perdizes, bar que foi aberto há uns quatro anos com o nome de Rabo de Galo, bem em frente ao Botequim Bar & Grill, que, aliás, é dos mesmos proprietários.

Pedi uma porção do escondidinho, o tradicional. E não me arrependi. Arrisco dizer que foi o melhor que já comi. Bem gratinado e cremoso, o purê de mandioca tinha um leve sabor de abóbora, com toques de tostado, decorrente do gratin, e picante – o cozinheiro me disse que, sim, havia colocado umas pitadas de pimenta-do-reino e de noz-moscada na mistura. A carne-seca estava bem desfiadinha, temperada e, conforme vim a confirmar, havia sido cozida num caldo de legumes, salsa, cebolinha e coentro.

Servido numa cumbuca de louça branca, o petisco era surpreendentemente leve para o teor de gordura presente naquela porção. E não apresentava aquela acidez típica do excesso de cebola. A seguir, vai uma lista de bons botecos nos quais vale a pena provar o escondidinho:

Bar do Magrão (São Paulo): o purê de batatas que cobre o bacalhau é dos bons, lembra o que sua avó fazia quando você era criança. Rua Agostinho Gomes, 2988, Ipiranga, tel. (11) 2061-6649.

Barxaréu (São Paulo): aqui, o escondidinho de bacalhau é coberto por creme de batata e queijo de coalho gratinado. Um pouco pesado, achei. Rua Joaquim Távora, 1150, Vila Mariana, tel. (11) 5539-2444.

Botequim do Souza (Rio de Janeiro): o botequim anexo ao restaurante Aprazível prepara um escondidinho de carne-seca coberta de batata-baroa e queijo fundido gratinado (foto). Rua Aprazível, 62, Santa Teresa, tel. (21) 2508-9174.

Cação Chopperia (Campinas, SP)): o boteco que faz o melhor salgado da cidade prepara uma dezena de versões de escondidinho. Você arriscaria o de frutos do mar, o de camarão ou o de pernil? Avenida Armando Sales de Oliveira, 55, Taquaral, tel. (19) 3255-7346.

Chopp Haus (Vitória, ES): para acompanhar o chope Saidera, uma marca local, o escondidinho pode ser de camarão ou de lagosta. Avenida Anísio Fernandes Coelho, 21, Jardim da Penha, Vitória, tel. (27) 3225-3490.

Entre amigos – O Bode (Recife, PE): servido em porção individual, o escondidinho de bode é feito com purê de macaxeira e gratinado com queijo. Rua Marquês de Valença, 50, Boa Viagem, (81) 3466-2023.

Genuíno (São Paulo): quase em frente ao Barxaréu, faz um escondidinho de lingüiça calabresa moída coberto por purê de mandioca e gratinado com parmesão. Rua Joaquim Távora, 1217, Vila Mariana, tel. (11) 5083-4040.

Velho Rabo (São Paulo): Rua Caraíbas, 605, Perdizes, tel. (11) 3801-4464.