
O Pari, como se sabe, é um bairro instalado a 3,5 quilômetros do marco zero. Ao seu redor (do Pari), orbita toda a cidade de São Paulo. Lá vivi por 22 anos e graças a Deus mantenho bons amigos – razão pela qual tento voltar algumas vezes por ano ao pedaço. Ema no de eleição é certeza, já que mantive ali meu domicílio eleitoral.
No domingo, desembarquei no Pari para tentar fazer um programa completo: almoçar na Casa Líbano e assistir ao clássico Portuguesa e São Paulo, no estádio do Canindé. A refeição, como eu esperava, foi perfeita. Não por acaso, o restaurante é um dos dez endereços bons e baratos da cidade, na opinião do editor de gastronomia de Veja São Paulo, Arnaldo Lorençato (leia a reportagem aqui).
Lamento (ah, como um Shiraz faria boa companhia àquele michui..), mas respeito muito, a posição dos proprietários da casa de não servir bebida alcoólica. Muçulmanos, eles servem ainda bem temperadas receitas árabes preparadas de acordo com preceitos halal – os cortes são provenientes de animais abatidos segundo os ditames de sua religião.
Duas jóias me chamam atenção ali: a cafta (macia e úmida) e a esfiha de carne aberta, também molhadinha, e com uma massa levemente adocicada.
Por falar em esfilha, na noite de segunda-feira fui tomar um chope (R$ 3,90 o de caneca) no Rei das Esfihas (foto), outro ponto turístico do bairro. Dei-me conta que fazia meses não passava por lá quando, no domingo, notei que a fachada havia sido mudada completamente. Após uma reforma, o salão dobrou de tamanho e perdeu completamente aquele ar de boteco sujinho – exceto pelo banheiro, que continua nojento, muito por culpa dos fregueses.
Nostálgico que sou, confesso que fiquei um tanto quanto temeroso do que poderia vir a encontrar. Alguns dos meus bares preferidos foram modernizados e perderam sua identidade, seu sabor original, como o Pandoro e o Peru’s (no Belenzinho). Sem falar no Elídio, que ainda não tive coragem de ver como ficou.
O Tadeu, com seu porte de coroné nordestino, estava de folga. Acho que foi a primeira vez que outro garçom me atendeu no Rei. Mal presságio? Que nada! Ao dar o primeiro gole no chopinho, percebi que a reforma, felizmente, deixou intocada a qualidade da bebida, que ali é um tanto mais amarga e um pouco mais gasosa que de costume. As enormes esfihas – há quem torça o nariz, mas as filas de espera no balcão, nos fins de semana – atestam a qualidade do quitute.
Há quem considere heterodoxo o pedido de uma esfiha de calabresa com catupiry (R$ 2,50), mas é uma das minhas prediletas. Aos críticos, digo logo: provem uma primeiro, depois venham falar comigo. Para os tradicionalistas, asseguro, a de carne, gordurosa (R$ 1,50), a clássica, é uma delícia.
No meio dessa dupla excursão ao Pari, só restou-me uma tristeza: como não quis pagar 50 reais por um ingresso de arquibancada das mãos de um cambista, fiquei sem ver os gols do Washington. Sorte dos 7500 gatos pingados que lotaram o Canindé.
Casa Líbano. Rua Barão de Ladário, 831, Pari, tel. (11) 3313-0289.
Rei das Esfihas. Rua Doutor Ornelas, 58, Pari, tel. (11) 3313-0022.