São Pedro, São Paulo, Saint Patrick


O relógio do computador marcava 0h02 de hoje, quando deixei a redação. Devoto que sou, e ainda que fosse tarde, não poderia ir para casa sem antes erguer um brinde e rezar um Pai Nosso em nome de Saint Patrick.

Como todo botequeiro há de saber – e há de ter um santinho na carteira –,17 de março é o dia desse que é, de certa forma, um dos padroeiros da boemia. E da Irlanda, que nos deu a cultura do pub. Só por zelar para que voltemos sãos e salvos para casa todos os dias, ele já merece seu lugar no céu. E tanta devoção.

Ao fim de um dia como o de ontem, em que Noé quase ancorou sua arca aqui na margem do Rio Pinheiros, resolvi muito coerentemente tomar meu pint de Guinness (R$ 19,00 a lata) no São Pedro São Paulo.

Acompanhado do Sílvio Nascimento, editor de Veja.com e boêmio da melhor estirpe, baixei no bar no momento em que o garçom recolhia as mesas da calçada. Dia atípico, resignou-se o dono, movimento fraco por causa do dilúvio.

Lá dentro, alguns bravos entornavam seus scotchs – a fenomenal carta de uísques lista setenta rótulos – e outros solitários puxavam papo com quem quer que se aproximasse do balcão.

Nesse clima de paz, certamente Saint Patrick estava olhando por nós.

São Pedro São Paulo. Rua Doutor Renato Paes de Barros, 127, Itaim Bibi, tel. (11) 3079-4028.

Cedo, em pé e de graça


Hoje, a partir das 22 horas, a cantora Tiê faz, no Studio SP, o segundo show de lançamento de seu CD Sweet Jardim. Ela toca e canta ali, aliás, também nos dias 18 e 25 de março, com entrada grátis.

A apresentação faz parte do projeto Cedo e Sentado, em que o bar leva ao palco atrações tidas como revelação no cenário musical alternativo. E num clima mais sossegado em relação à balada que costuma se seguir na casa, célebre por seus shows arrasa-quarteirão, após a 1 da manhã, ainda que seja na virada de uma segunda para terça-feira.

O novo Studio SP traz muitas diferenças em relação ao endereço que ocupava na Vila Madalena. Se naquele local os espaços eram mais bem distribuídos – área do palco num andar, chill-out no outro, terraço etc –, na Rua Augusta tudo fica concentrado numa espécie de galpão. Com pé-direito alto, o espaço abriga um bar ao fundo do salão, sob um mezanino. O palco toma quase toda a lateral esquerda. À direita, fica uma espécie de arquibancada.

Essa configuração bem que me fez relembrar do velho Blen Blen, que no fim dos anos 90 existiu na Rua Cardeal Arcoverde.

Quanto ao show de Tiê, você pode escutar a doce voz da moça aqui. Na quarta-feira passada, com casa cheia, houve quem a acompanhasse, em coro, quando entoou um cover do Balão Mágico.

É, fomos inocentes um dia.

Studio SP. Rua Augusta, 591, Consolação, tel. (11) 3129-7040.

O velho e novo Jacaré


Segundo ele próprio me disse, seu relógio marcava 4 da tarde de sábado, quando foi deixado o recado na caixa postal do celular. Era o meu amigo Felipe Machado (metaleiro, jura que gostou do show da Madonna), convidando-me para tomar uma cerveja no Jacaré Grill.

Depois de meia hora na piscina, 1000 metrinhos, era tudo que eu precisava para fechar o dia, antes de correr para cumprir com minhas obrigações domésticas – no caso, fazer supermercado…

A ideia era boa não só por que iria rever os amigos – além do Felipe, ficaria feliz por encontrar também o John, um globetrotter recém-chegado de uma temporada em Assunção – mas também por que era a oportunidade de conferir a nova cara do bar, que foi ampliado há pouco mais de um mês.

Basicamente, o Jacaré cresceu para o lado – esquerdo. Ganhou mais um salão, luminoso e arejado. Esse aumento de área, porém, não significa que a costumeira muvuca de motoqueiros, trintões, balzacas e que tais em frente ao bar, na rua, tenha cessado.

Não, nada disso. No Jacaré, também faz parte do programa fazer aquela pressão, ficar em pé ali no meio fio, com o periscópio ligado em quem chega e quem sai. Só vai para a mesa quem quer pedir uma porção de linguiça calabresa com molho de maracujá ou da picanha fatiada, que continuam sendo boas desculpas para acompanhar a cerveja sempre gelada.

Esse era o meu caso.

Jacaré Grill. Rua Harmonia, 321/337, Vila Madalena, tel. (11) 3816-0400.

Ômega-3, sardinha 2


Nos últimos quatro dias, meu organismo certamente consumiu mais ômega-3 do que em todos os outros 33 anos, dois meses e dezoito dias de sua vida.

A razão é simples: tanto no almoço tardio de domingo como no da terça-feira, meu cardápio incluiu quantidades generosas de sardinha. O peixe preferido do meu vira-latas Thobias tem esse nome, vejam só, pois costumava nadar em cardumes pelo Mediterrâneo, na costa da Sardenha. Uma espécie migratória, é encontrada também no litoral japonês, no do Chile, na Califórnia, na África e no Brasil.

Diz a revista Saúde!, a sardinha é um dos mais ricos fornecedores do ácido graxo ômega-3, que ajuda o corpo humano a prevenir doenças no coração, no intestino e nas articulações. Cada 100 gramas de sardinha fornece de 1,5 a 2,5 gramas de ômega-3 – mais que o salmão, o atum e o bacalhau!

Bacalhau, aliás, também fez parte do meu menu nesses dois dias. No Jabuti, onde estive no domingo, comecei com dois bons bolinhos para acompanhar o chope que, ali, nunca esteve tão cremoso. Na seqüência, pedi sardinhas escabeche, acompanhadas de um pãozinho francês crocante, cujas rodelas combinadas com o molho transformaram-se em óbvios canapés.

Na terça-feira, o almoço mensal da minha confraria – que se reúne em botecos ou restaurantes com alma boêmia a fim de combinar a cozinha desses lugares com bons vinhos (leia mais sobre a confraria aqui) – chegou à Casa Santos. Notei que o estabelecimento, um dos mais antigos do Pari, passou por reforma nos últimos anos. O salão, providencialmente climatizado, ganhou pintura nova e mais fotos antigas da cidade e do bairro.

Precedidas por excelentes bolinhos de bacalhau – graúdos, com casca crocante e regados por um bom azeite –, as sardinhas desembarcaram sobre a mesa preparadas à portuguesa (temperadas com limão e sal, na grelha, e guarnecidas de rodelas de cebola e pimentão). Dessa forma, o sabor marcante, mineral e levemente defumado do pescado pareceu destacar-se ainda mais. Dos vinhos degustados, apenas o argentino Salentein sauvignon blanc/chardonnay foi páreo para as ditas cujas.

Confesso que depois de ler a reportagem da Saúde! não consigo conter a alegria e a vontade de tirar uma casquinha dos patrulheiros das gorduras e pseudomales contidos em certas comidas de botequim.

Taí a prova de que Homer Simpson está certo: “salada não leva a nada!”

Casa Santos. Rua Conselheiro Dantas, 92, Pari, tel. (11) 3228-5971.

Jabuti. Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1315, Vila Mariana, tel. (11) 5549-8304.

De luto

Narciso Moreno, fundador, proprietário, fazedor de batidas e alma do Bar das Batidas morreu na segunda-feira de carnaval.

Quem conta é meu amigo Edmundo Leite, jornalista do portal Estadão, num texto (leia aqui) que, na verdade, presta um tributo à figura que era Narciso.

Sempre bem-humorado, com bonezinho displicentemente jogado sobre a cabeça, à la Waldick Soriano, Narciso conseguiu a proeza de fazer com que seu cinqüentenário boteco fosse mais conhecido pelo apelido – C… do Padre – do que pelo nome de batismo. Jurou, certa vez, que até um vigário foi freguês da casa.

Abraço, Sócio!