Montado, não batido


Cena 1: James Bond se aproxima do balcão e, em vez do costumeiro dry martini, pede ao barman para preparar uma caipirinha.

Cena 2: O barman começa a colocar na coqueteleira, um a um, o limão, o gelo, o açúcar e a cachaça. Tampa o utensílio e, com aquele ar solene, leva-o com as duas mãos sobre o ombro esquerdo e sacode uma, duas, três vezes, em movimentos ritmados.

Cena 3: James Bond larga uma nota de 20 reais sobre o balcão, acena para o barman e deixa o ambiente sem tocar no copo.

Se a sequência acima fosse filmada, James Bond mereceria o meu e o seu cumprimento. Afinal, diferentemente do dry martini, a caipirinha é um drinque que deve ser montado diretamente no copo. Nunca mexido. Jamais batido.

Todo barman deveria saber disto: que a caipirinha requer cuidado, concentração no momento de distribuir os itens no copo, mais jeito do que força na hora de apiloá-los.

Mas não é o que a gente está acostumado a ver. Para servir mais rápido, por preguiça ou sabe lá o porquê, o sujeito apanha o copo da coqueteleira como se fosse o do liquidificador, joga tudo de qualquer jeito, shake, shake, shake e despeja no copo.

Invariavelmente, esse modo de preparo causa alguns danos à caipira. Primeiro, o gelo tende a picar e a se transformar em água mais cedo. Depois, como o limão vai se espatifar além da conta, a mistura pode ficar mais azeda que o desejado.

Pois foi uma caipirinha dessas que tomei na segunda-feira à noite, em Vitória, no Saidera Bar. Fazia um calor danado, eu voltaria para São Paulo na manhã seguinte, o bar ficava distante poucos quarteirões do hotel, daí a minha decisão. Quando percebi o barman dançando com a coqueteleira, era tarde demais. Nos primeiros goles, pude constatar os estragos que descrevi aí em cima…

Como os pasteizinhos de camarão e o sanduba de pernil com shoyu demoraram a sair da cozinha, tive tempo de me redimir, tomando duas caldeiretas do chope da casa, eleito o melhor da cidade na edição passada de Veja Espírito Santo.


Minhas curtíssimas 24 horas em Vitória – que está cada vez mais bem-cuidada, ao menos naquele pedaço da Praia do Canto – mereciam mesmo um bota-fora mais legal.

Saidera Bar. Rua João da Cruz, 241, lojas 2, 3, 4 e 5 (esquina com Rua Aleixo Neto), Praia do Canto, Vitória, tel. (27) 3235-2687.

PS: 007 se daria bem em Vitória. As capixabas continuam lindas

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