Eu só queria tomar um chope

Parafraseando meu amigo Luiz Américo Camargo, editor e colunista do caderno Paladar do Estadão, na noite de terça passada “eu só queria tomar um chope” depois do trabalho.

Saí da redação lá pelas 11 da noite e resolvi conhecer a filial do Bar do Juarez aberta meses atrás em Pinheiros.

A bem da verdade, a casa fica numa rebarbinha da Vila Madalena, numa região cercada de residências térreas, bem mais tranquila que o miolo da Rua Aspicuelta. É talvez a maior das quatro unidades (as outras ficam em Moema, no Brooklin e na Vila Olímpia), se não a mais ajeitada. Tem um salão interno e uma enorme área a céu aberto, com teto retrátil.

Fazia uma noite bonita, embora não muito quente, e resolvi pegar uma mesinha no espaço descoberto.

À medida que eu caminhava pelos diversos ambientes, até chegar à mesa, percebi que um garçom carregava uma bandeja com alguns copos de chope. De um lado ao outro ia, voltava e descarregava um copo numa e noutra mesa – sem que nenhum cliente o pedisse.

Há quem veja nesse hábito um exemplo de eficiência no serviço.
–Putz, como esses caras são rápidos! Meu chope mal acabou e eles já vieram repor!, dirão.

Mas eu sou da turma que detesta esse expediente, pelo simples fato de que, depois de uns bons minutos levando o copo para lá e pra cá, a bebida vai chegar à mesa deteriorada: mais quente e sem o colarinho protetor.

Dito e feito: assim que me sentei, o cidadão veio com o último copo da bandeja. Agradeci, disse que sim, queria um chope, mas não aquele. E pedi que fosse tirar um zerinho.

Depois de umas doze horas na luta, e por R$ 4,50 a caldeireta, convenhamos, eu merecia um chopinho decente, não?

Já acomodado, xeretei o bom cardápio e resolvi pedir um caldinho de feijão (inacreditáveis R$ 9,00!) e um sanduíche de filé com molho acebolado (R$ 13,00).

Hummm!, pensei, o caldinho vai forrar o estômago e o sanduba vai ser um belo arremate!

Que nada…

Um quinze minutos depois, vejo à minha frente, ao mesmo tempo, os dois pedidos!

Será que o garçom (era outro, por isso achei que não era nada pessoal) pensou que eu estava esperando alguém? Estaria eu com cara de quem voltou da guerra? Haveria um ectoplasma na outra ponta da mesa? Não, eu estava sozinho…

Resultado: a cada duas colheradas no caldinho – de feijão preto, muito bom, e acompanhado de torresminho picado e quentinho –, eu tascava uma mordida no lanche, para que nem um nem outro esfriassem.

Depois de mais um chope, veio a conta (R$ 34,10, já com os 10% do serviço) e a, por assim dizer, vingança: deixei R$ 34,00 contadinhos, com duas notas de R$ 2,00 e três de R$ 10,00.

Bar do Juarez. Rua Deputado Lacerda Franco, 642, Pinheiros, tel. (11) 3578-5228.

PS: quem circula pela Vila Madalena, aliás, deve ficar atento. A 1 da manhã de hoje, ao sair da redação, vi uma blitz na Rua Pedroso de Moraes, e motoristas sendo parados para fazer o teste do bafômetro. À Vila, vá de táxi, portanto.

6 thoughts on “Eu só queria tomar um chope

  1. Salve Miguel!, alguns lugares em que não dá prá entrar nem prá conhecer. É lamentável o que alguns bares fazem com o chope. O “tirador”, por mais que saiba o que faz, por mais que os fabricantes de chope invistam em treinamento e maquinário, vai apenas colocando os chopes nos copos sem nenhum cuidado e o garçon sai “distribuindo”. É prá atender os que gostam de bares da moda, aque acham que o atendimento bom é o desse tipo, já que estão acostumados aos Mac Donalds e não sabem esperar. Tem aqueles bares em que o garçom fica ali ao lado, o copo não acabou de esvaziar e ele já vai pondo mais cerveja, sem perguntar nada. Já disse a vários que se o garçon me atender corretamente eu bebo muito mais, vou gastar muito mais, não precisa ficar forçando, ficar perguntando “mais uma?”,é só me deixar em paz. Uma vez, em um ato de pouca cidadania, “tomei a garrafa do garçom que insitia em me servir. Ficou mal porque as mulheres não entenderam e não entendem que só quero tomar a minha cerveja e o garçom “só” tem que ficar atento. Grande abraço.

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  2. Miguel,Parabéns pelo blog e pelas matérias que me deixam com água na boca.Você, como formador de opinião, poderia iniciar uma campanha contra estes 'bares da moda' que acabam com nossa tranquilidade de apreciar um chopp bem tirado. Tive a má esperiência de conhecer o Bar do Juarez de Pinheiros em um domingo de sol onde eu queria simplesmente apreciar um bom chopp e degustar algum petisco.Tive que chamar a gerência do estabelecimento para explicar que não queira que o garçon trocasse meu copo sempre que que consumisse um pouco mais da metade do líquido, que como sempre, chegava a mesa deteriorado e longe da temperatura ideal. Como não fui atendido, pedi a conta e não paguei os 10% do serviço. Este é um lugar que nunca mais volto e se chego em um boteco e vejo que o serviço é assim já nem entro.Abraços,

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  3. Oi, Carlos.É uma pena. Certamente os garçons cumprem ordens da mesma gerência para a qual você fez a reclamação, que por sua vez cumpre ordens do patrão. Melhor mesmo entregar-se à tarefa de encontrar outro bar.Obrigado e volte sempre.

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  4. Pingback: Uma vez mais, Juarez, eu só queria tomar um chope! | Boteclando - Blogs - VEJA SP

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