Uma cerveja made in… Havaí?

Esta semana está sendo uma daquelas ocasiões mais do que especiais para quem gosta de cerveja. E, sem muita enrolação, vou dizer o porquê: já na segunda-feira, o Melograno, na Vila Madalena, recebeu três barris de 50 litros da inigualável Urquell. A quem não estiver ligando o nome à pessoa, basta dizer que esta é a cerveja-símbolo da República Checa, país que apresentou ao resto do mundo as cervejas do tipo pilsen (a Brahma nossa de cada dia, por exemplo, é uma pilsen). Pilsner, aliás, é uma região localizada a sudoeste de Praga, no meio do caminho para a Áustria e a Alemanha.

No ano passado passei por Praga, infelizmente não fui a Pilsner, mas lembro que em quatro dias tomei pelo menos umas dez canecas dessa cerveja – e ainda dei um jeito de esconder umas garrafinhas na mala… Durante alguns anos a Zahil, importadora paulista de vinhos, trazia o rótulo diretamente do leste europeu.

Infelizmente os três barris servidos no Melogranodevem estar sequinhos a esta altura porque foram abertos apenas para um encontro com representantes do consulado checo.

A boa notícia é que o bar inaugurou uma série de eventos mensais dedicada a cada país notadamente reconhecido pela produção da bebida. Para o 14 de julho, data que marca a queda da Bastilha, está prevista uma degustação de rótulos franceses.

Na noite de ontem foi a vez de o Frangó colocar para gelar algumas garrafas e latas de produçaõ artesanal apresentadas pela comitiva liderada por Bob Pease, vice-presidente da Associação Americana de Cervejeiros (Brewers Association of USA) e da Associação dos Produtores de Lúpulo dos Estados Unidos.

Chamou a atenção a profusão de marcas do tipo pale ale e IPA (India Pale Ale), que parecem ser, aliás, as categorias de cervejas mais promissoras nos EUA.

Essas cervejas costumam ser amargas, uma consequência da presença marcante de lúpulo em sua composição. No aroma de muitas delas, percebi notas florais (mais) e frutadas (menos). Com teor alcoólico médio entre 6,2% e 7,5%, as amostras tinham em geral cor âmbar a cobre.

A maioria dos rótulos, aliás, veio dos estados do Colorado (como a Titan, para mim a melhor, aromática, 7,1% de álcool), Califórnia (Boont Amber Ale, do produtor Anderson Valley, seca, passagem breve pela boca) e Oregon (Rogue Dead Guy Ale, amarga sem incomodar, com personalidade, mas aroma tímido).

Incrível, porém, foi ver que até no Havaí há cerveja das boas. Com nome mais que apropriado, a Big Swell IPA, feita em Maui, tem 6,2% de álcool, aroma de frutas, lúpulo equilibrado e amargor sem ser agressivo.

E para quem acha que a viagem ao mundo das cervejas acabou aqui, vai a dica: o All Black estica até 31 de julho o seu festival de cervejas latinas. Da mexicana Dos Esquis (R$ 7,50) à Colorado Demoiselle (R$ 19,00), há rótulos da Argentina e do Uruguai.

All Black. Rua Oscar Freire, 163, Jardim Paulista, tel. (11) 3088-7990.

Frangó. Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 168, Freguesia do Ó, tel. (11) 3932-4818.

Melograno. Rua Aspicuelta, 436, Vila Madalena, tel. (11) 3034-1837.

O vinho da Copa

Se as garrafas já estivessem à venda por aqui, este blogueiro recomendaria que brindássemos com o vinho oficial da Copa de 2010 a cada um dos 3 gols que a Seleção Canarinho marcou ontem contra a Itália.

Elaborados na África do Sul pela vinícola Nederburg, o branco, o tinto e o rosé Twenty10 devem ser lançados em agosto num evento no Museu do Futebol (a confirmar). Os rótulos serão vendidos ao consumidor por R$ 35,00 cada um, importados pela Casa Flora (www.casaflora.com.br).

Não se ouve falar tanto em nosso mercado das etiquetas vindas do país-sede da próxima Copa do Mundo (se compararmos com a quantidade de argentinos, chilenos, portugueses, italianos e franceses), mas as principais importadoras brasileiras mantêm boas opções sulafricanas em seus catálogos (confira alguns endereços no blog do vinho de veja.com).

Oitavo maior produtor de vinhos do mundo, a África do Sul é famosa por cultivar as uvas chenin blanc (branca) e pinotage, uma variedade tinta. Durante o regime do apartheid o país sofreu, merecidamente, sanções internacionais e o produto não podia ser exportado. Não havia quem quisesse comprar.

Com a chegada de Nelson Mandela ao poder, em 1994, a indústria do vinho ganhou impulso. Um ano antes, quando Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz, celebrou a conquista com um exemplar da região da Península do Cabo.

Feitos com a uva cabernet sauvignon, o tinto e o rosé Twenty10 podem acompanhar bem petiscos como frango assado, uma boa bisteca e queijos como parmesão e brie. Já o branco, sauvignon blanc, deve ir bem com lulas no bafo, pro exemplo.

Para o ano que vem, lembre-se dessas dicas quando estiver – se Deus quiser! – diante da TV pronto para comemorar os gols de Luís Fabiano, Kaká & cia.

Em Maceió: acarajé baiano, pizza e chope paulistas (ou réquiem tricolor)


Pode ser apenas uma primeira impressão, mas nos dois dias que passei em Maceió, de domingo a terça, notei a presença de muitos casais, jovens casais, caminhando pra lá e pra cá na belíssima orla, da Pajuçara a Jatiúca.

É provável, portanto, que a capital alagoana seja uma espécie de meca brasileira dos casais em lua-de-mel. Se minha tese pudesse ser confirmada por dados estatísticos, a cidade mereceria o título, pois atributos não lhe faltam: mar verdinho, temperatura média entre 25 e 29 graus a uma semana do inverno, com sol a maior parte do dia, e um clima algo sossegado.

Como eu não estava por ali em lua-de-mel, mas, sim, por causa de trabalho, tratei de aproveitar o tempo livre para calar algum lugar em que pudesse provar alguma coisinha da gastronomia local. Acabei, na verdade, experimentando três legítimos exemplos da culinária e da boemia forasteira.

Na noite de domingo me atraquei com um acarajé no Akuaba. Com todo respeito às soteropolitanas Dinha (que Oxalá a tenha) e Cira, o quitute dali não faria feio diante do delas. Nesse bar-restaurante instalado a duas quadras da praia, o bolinho tem uma circunferência do tamanho da palma da mão e vem bem apresentado, numa bandeja, ao lado dos pertences. Camarão defumado, vatapá e caruru e uma pimentinha bem boa chegam à parte, para que o próprio comensal o tempere. Por R$ 4,00, estava bom demais! Perfeito para ser dividido por duas pessoas, como entrada.

Dali segui para o Armazém Guimarães, pizzaria local que exportou sua expertise para Recife. Num clima de bar e aquele zunzunzum de casa da nonna, encarei uma pizza brotinho light (no cardápio constavam 300 calorias, de peito de peru, R$ 11,90) acompanhada de uma taça de Paso El Portillo (R$ 9,00), um vinho branco argentino fresquinho – sem trocadilhos. Caiu bem como parceiro para fazer matar o tempo.

Na noite seguinte baixei no Alagoana Casa de Chopp & Botequim (foto). Vencedor da categoria chope na edição passada de VEJA MACEIÓ, o bar pertence a Cadu Gardel, empresário que comanou casas de sucesso na Vila Olímpia (bairro paulistano que já foi dominado por casinhas, depois por bares e hoje por prédios comerciais monstruosos), como o Rabo de Peixe e o Moça Bonita.

Para minha surpresa, Gardel conseguiu levar o know-how para esse local. Arrisco dizer que é o chopinho mais bem tirado do Nordeste. Com temperatura e colarinho ideais, o líquido dourado e cremoso vai à mesa numa caldeireta idêntica à do bar Amigo Leal, outro símbolo de SP. Isto é: o copo é mais alto e mais longilíneo que o usual.

Minha intenção era tomar dois copos e voltar ao hotel. Quando me dei conta, percebi que uma roda de samba e choro se formou, em plena segundona, ali numa mesinha de canto.

Em volume e cadência adequados, o quarteto de cavaco, violão, atabaque e pandeiro foi despejanto Paulinho da Viola, Jackson do Pandeiro e outros lordes, entre eles, Paulo Vanzolini que, aliás, é tema de um documentário que está em cartaz.

Como diz seu samba, é isso aí, Tricolor: “reconhece a queda e não desanima/ levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”.

Akuaba. Avenida Álvaro Calheiros, 6, Mangabeiras, Maceió, tel. (82) 3325-6199.

Alagoana Casa de Chopp & Botequim. Rua Deputado Luiz Gonzaga Coutinho, 125, esquina com a antiga Avenida Amélia Rosa, Jatiúca, Maceió, tel. (82) 3235-1678.

Armazém Guimarães. Avenida Doutor Antônio Gomes de barros, 188, Jatiúca, Maceió, tel. (82) 3325-4545.

Brasil, 38 graus


Um dia depois de encarar os 7 graus de Curitiba, desembarquei em Manaus sob amenos – amenos sim, pois estou levando em conta o fato de já ter visto os termômetros marcarem 37, 38 graus por lá – 32 graus.

(Se um dia tiver de morar na capital amazonense e equipar minha casa, meus dois primeiros eletrodomésticos serão um frigobar para gelar a cerveja e um aparelho de ar-condicionado.)

De mala e sem cuia, saí do aeroporto diretamente para o Choupana, um dos restaurantes mais famosos da cidade, vencedor da categoria por quatro anos seguidos. Minha ideia era me esbaldar com umas costelas de tambaqui. Ainda estão na minha memória as que comi – e pelas quais paguei a bagatela de R$ 5,00! – dois anos atrás numa das barracas do porto de Manaus.

Mas, para meu profundo desapontamento, o Choupana só faz pratos para duas pessoas. Tentei argumentar com a garçonete que estava sozinho e perguntei se poderia pedir meia-porção, já que a inteira me custaria R$ 82,00. Ela disse que sim, mas o desconto seria apenas de R$ 10,00.

Triste, desisti e optei pelo filé de pirarucu com legumes, purê de batata e arroz (R$ 56,00). Estava Ok, já provei melhores ali mesmo em Manaus, logo saí frustrado. Deveria ter pedido uma porção inteira de bolinho de bacalhau, já que o que experimentei de entrada estava muito bom.

De volta a São Paulo na sexta-feira, quase não acreditei quando vi um desses termômetros digitais de rua marcando 22 graus no comecinho da noite. Coloquei meus óculos e chequei: não, não estava vendo coisas.

Já em casa, abri uma garrafa de Super Bock Abadia Gold (essa supreendente cerveja portuguesa já pode ser encontrada por aqui, na importadora Adega Alentejana – http://www.alentejana.com.br) e relaxei. Por via das dúvidas, não tirei o cachecol. E se o tempo virasse de novo?

Choupana. Rua Recife, 790, Adrianópolis, tel. (92) 3635-3878

Brasil, 2 graus negativos


Quarta-feira da semana passada, 7 da manhã. Assim que o despertador tocou, liguei a TV no Bom Dia Brasil e, bingo!, a Michele Loretto (a moça do tempo) deu a notícia, ao vivo:
– Em Curitiba os termômetros marcam 1 grau, mas a sensação térmica é de 2 graus negativos.

Como dali a duas horas eu tomaria um voo com destino à capital paranaense, tratei de desencaixotar o meu casaco de frio – na verdade, é mais velho do que eu, já que herdei do meu avô – e segui para o aeroporto.

Pouco antes de aterrissar, o comandante reportou:
– Tempo bom em Curitiba, 6 graus.

Já que eu tinha saído de São Paulo com 10 graus, achei que não sentiria muita diferença. Que nada! Só tirei mesmo o casacão para conduzir a reunião com os jornalistas que desde já estão trabalhando na ediçaõ deste ano de VEJA CURITIBA “Comer & Beber”.

Encerrada a reunião, eu tinha duas horas livres antes de seguir para o aeroporto e pegar o voo de volta à calorenta São Paulo. Por isso, decidi conhecer o Jacobina, bar que no ano passado foi o vencedor em três categorias: boteco, happy hour e para petiscar.

O relógio marcava já 3 da tarde, por isso o salão estava bem vazio. Pude observar com calma os detalhes da decoração: máquinas de escrever antigas, disco de 78 RPM, vitrolas e todo tipo de tralha pendurada na parede, que torna o ambiente bem aconchegante, apesar do frio.

A bem da verdade, o Jacobina não é assim um boteco. Não pude esperar para conferir a happy hour mas tive a chance de experimentar um dos itens da cozinha.

E não me arrependi. Pedi um prato de baião-de-dois que estava absolutamente delicioso. Não cronometrei, mas a refeição chegou à mesa antes dos 8 minutos prometidos no site, caso sejam pedidos os pratos do dia. Queijo bem derretido, linguiça bem temperada, apenas o arroz estava um pouco além do ponto al dente – compreensível, já que era tarde.

Do chopinho não guardo nenhuma lembrança marcante. Na verdade, eu já começava a me preocupar com os 30 e poucos graus que provavelmente iria encontrar em Manaus, no dia seguinte. Dessa breve experiência, conto num próximo texto.

Jacobina. Rua Almirante Tamandaré, 1365, Juvevê, Curitiba, tel. (41) 3016-6111.

Na estrada real dos botecos

Depois de celebrar os dez anos de sucesso na capital mineira, o Festival Comida de Buteco chega pela segunda vez com sua caravana ao Rio de Janeiro. Tempo não vai faltar aos cariocas que quiserem nos próximos 27 dias – a farra começou na sexta-feira, 29 de maio –, testar e eleger os melhores botequins da cidade nos quesitos: qualidade do tira-gosto, temperatura da bebida, higiene e atendimento. Veja a lista dos concorrentes aqui.

Entre os concorrentes deste ano, já tive a honra conhecer o Bar Brasil, o Bar Urca (leia o post “Ressaca? Não, não, nada disso”, de fevereiro de 2009), o Bracarense, o Jobi e o Bar do Mineiro). Espero poder visitar logo o Original do Brás, vencedor do ano passado e que participou, como convidado de honra, da saideira do Comida di Buteco de Belo Horizonte, no fim de semana de 22 a 24 de maio.

Apesar do atraso, pelo qual me desculpo, não poderia deixar de falar desse evento que a cada ano fica mais legal. A Saideira é uma festa que reúne todas as casas participantes. Ao fim de três dias, são anunciados os vencedores. Desta vez, aconteceu no Centro Esportivo Universitário, uma ampla área anexa ao campus da UFMG, entre o Mineirão e a Lagoa da Pampulha. São Pedro ajudou e a origanização deu conta de atender, dentro dos conformes, aos 10000 visitantes que passara por ali em cada um dos três dias.

Num clima pacífico, as barracas de cada um dos 41 botecos de Beagá puderam ser ser visitadas com calma (e alguma fila, nos mais disputados). De quebra, a moçada curtiu shows de Luiz Melodia, Moacir Luz e da atleticana Beth Carvalho.

Ao desembarcar, segui diretamente do aeroporto de Confins, na tarde do sábado, para o evento. Muito bem recebido pelo anfitrião Eduardo Maya, fui guiado até a barraca do Bartiquim. Ali, comecei os trabalhos pelo rabo no mato (rabada com mostarda).

Em seguida, e logo ao lado, experimentei no Bar da Lora o potente “mercadão da lora ao molho dos bohemios”, um prataço de fígado com jiló, linguiça com couve e pernil com conserva.

Depois de uma volta de reconhecimento, parei no Agosto Butiquim para conhecer dona berinjela e seus dois quitutes (cubos de carne marinados, berinjela crocante e bolinhas de angu com taioba). Que me lembre, foi a primeira vez na vida que comi berinjela frita daquela forma – em palitos, como batatas do McDonald’s). Genial também a ideia das bolinhas de angu,

Antes de zarpar, tive tempo de dividir com a minha Camila, no Bar Sabor do Nordeste, uma porção de sinfonia nordestina, carne de sol na brasa com pirão de queijo (não sei não, mas poderia jurar que naquela hora eu estava em Recife…).

No dia seguinte – sem a chance de ser repreendido –, me atraquei com o tropeiro bandeirante do Bar do Dondinho (feijão tropeiro om couve).

Antes de correr para o aeroporto, experimentei ainda uma joia: o fondi mineiro do Boteco da Carne, uma porção combinada de linguicinha, pernil e almôndega molhados no angu molinho (para os paulistanos, angu = polenta) e queijo parmesão. Uma delícia!

Depois dessa epopeia, não, não sei quantos quilos fiquei mais gordo.

PS: Ah, para conferir os vencedores, visite http://www.comidadibuteco.com.br