Deixei as tripas em Natal

Farol da Mãe Luiza, em Natal

Farol da Mãe Luiza, em Natal

Voltar a Natal é sempre um prazer, ainda que durante a rápida estada de 24 horas pela “cidade do sol”, na sexta e no sábado passados, tenha sido mais de trabalho e menos de sol – precisos 30 minutos, convém dizer.

Passar, mesmo de carro, pela via costeira, supensa uns bons 50 metros acima do nível daquele mar azul esverdeado, é um privilégio que só pode ser entendido por quem já esteve por ali. Enquanto pego a Rebouças engarrafada no sentido da Marginal Pinheiros, fico imaginando o que passa pela cabeça dos natalenses que fazem esse caminho todas as manhãs para ir ao trabalho…

Ainda que eu tivesse pouco tempo, na noite de sexta fui ao Biroska Bar, que fica nos arredores do campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Fica numa esquina de bairro, de frente para uma praça com chão de areia, cercada por casinhas. Nas mesas percebi muitos grupos de estudantes – as férias no Nordeste costumam acontecer em junho, por causa das festas juninas – e famílias.

De frente para a minha garrafa de Original gelada, segui meus amigos de mesa, que pediram espetinhos de carne, queijo de coalho e de frango. E quis provar também os bolinhos de charque com queijo de coalho e massa de batata. Cada porção veio com oito unidades, mas se tivessem vindo com oitenta eu teria dado conta. Redondinhos, massa sequinha e recheio bem-temperado, nenhum deles chegou à terceira mordida.

Mas agora há pouco, dando uma conferida no cardápio pelo site da casa (www.biroskabar.com.br), vejo que perdi a chance de experimentar uma especialidade local: a tripa de porco frita na própria gordura, que vem numa porção com batata-doce e farofa ou farofa dágua.

Como diz o ditado, quem vai com muita sede ao pote… Esse foi meu caso: lembro que baixei no bar com tanta fome que só xeretei o cardápio depois de ter pedido os primeiros espetinhos. E passei batido pelas tripas. Espero não cometer esse erro novamente.

Biroska Bar. Rua Ametista, 2388, Potilândia, tel. (84) 3234-3109

Rapidinhas nos botecos

 

Bar do Magrão: brejas e mais brejas

Bar do Magrão: brejas e mais brejas

Nos últimos dez dias acabei conhecendo, voltando, petiscando e me irritando em alguns botecos. Como a correria por aqui é grande – tenho de fazer a mala, nada mau, dois dias em Natal e dois em Salvador, a trabalho –, seguem alguns registros vapt-vupt dessas rápidas andanças:

Amigo Leal (Rua Amaral Gurgel, 165, Vila Buaqrue, tel. 3223-6873) – Um clássico, muito acima da média. Pastéis nota 10 (de camarão e de carne seca, R$ 2,90 cada um), boa surpresa o sanduba de kassler com molho de repolho (R$ 9,50) e o chope, como sempre, impecável.

Bar Brahma Aeroclube (Avenida Olavo Fontoura, 650, Campo de Marte, Santana, tel. 2089-1131) – A filial de um dos mais famosos bares da cidade é um equívoco, em todos os aspectos. Sob péssima acústica e um salão que mais lembra a praça de alimentação de um shopping, eu e um casal de amigos devolvemos um bloody mary (horrível, ácido) e uma porção de pupunha, que estava absolutamente cru. Salvaram-se o chope e os pasteizinhos.

Bar do Magrão (Rua Agostinho Gomes, 2988, Ipiranga, tel. 2061-6649) – A carta de cervejas está cada vez maior e melhor. Uma dica: peça sempre a ajuda do próprio Magrão na hora de escolher, porque alguns rótulos não estão no menu. Para acompanhar, escondidinho de bacalhau ou um belo filé à parmigiana, que três pessoas dividem na boa.

Ilhabela (Avenida João Dias, 154, Santo Amaro, tel. 5521-6339) – Outro clássico, quando estive lá no ano passado tomei um chopinho meia-boca. Desta vez, não. Estava perfeito. Com aqueles canapês de rosbife, faz um casal perfeito.

Veloso (Rua Conceição Veloso, 56, Vila Mariana, tel. 5572-0254) – Domingão à noite, depois ver o Tricolor ganhar do Santos, passei por lá para tomar um chopinho, uma caipirinha de lima, limão e gengibre (feita com a cachaça Mangueira, de Castelo do Piauí, estado natal do grande Souza!), e um sanduba de bife à milanesa. Perfeiro para fechar o fim de semana.

Até a volta!

Conversa no barbeiro

Nosso Bar: orgulho campineiro

Nosso Bar: orgulho campineiro

– Não consigo de jeito nenhum entender esse negócio de Sudoku. Tem gente que consegue resolver rapidinho, vapt-vupt!

– Calma, Alpheu, calma.. Cada um de nós tem capacidade pra uma coisa – tenta consolar o amigo, meu xará, por sinal.

O fim de tarde de quinta-feira corria assim, tranquilo, no Salão Astúrias, aberto 44 anos atrás no centro de Campinas. Parei por ali para aparar a barba (R$ 25,00), já que precisava me aprontar para o evento de lançamento de VEJA CAMPINAS “Comer & Beber”. Um festão para 850 pessoas, aliás.

– Por exemplo, Alpheu: advogado não pode ser engenheiro. Como é que advogado vai ser engenheiro? É muito cálculo… Às vezes, o seu negócio deve ser palavra-cruzada, então, né?

– É, pode ser – e Armando volta a folhear o jornal, parado há alguns minutos na página do passatempos.

Eu voltava do Nosso Bar, botecaço instalado no Mercado Campineiro. Como escrevi neste blog no ano passado, o bar resume-se a um balcão do qual saem especialidades como o sanduíche de aliche com lombinho e queijo provolone. A carta de cervejas, seguramente, é a maior da cidade, com pelo menos umas oitenta opções de rótulos. Tem do chope Ashby, de Amparo (SP) à belga Deus, de garrafa. E o Mercado Campineiro tem lá um quê do Mercado da Boquería, em Barcelona, com seus corredores bem estreitos.

– Ah lá, tá escutando? – aponta com a cabeça o Válter, o barbeiro que me atende, para a loja de roupas do outro lado da rua, onde duas balconistas não param de falar. É esse blábláblá o dia in-tei-ro! Como é que pode?

– É… Elas sempre arrumam assunto – concordei. Vocês são espanhóis?

– Não. Somos italianos, apesar do nome do salão.

Astúrias, Boquería, Barcelona? Com tantas referências à Espanha, foi inevitável lembrar de mais uma: http://www.youtube.com/watch?v=zLfAibxDK00

Fígaro!

Nosso Bar. Rua Barão de Jaguara, 988, boxe 2, Mercado Campineiro, centro, tel. (19) 3233-9498.

Salão Astúrias. Rua Luzitana, 1212, centro, tel. (19) 3232-8446.

A palheta do Ron Wood e os galetos de Copacabana


Foi depois do show dos Rolling Stones na praia de Copacabana. Eu me lembro, eu era um entre 1,2 milhão de pessoas que naquela noite de 18 de fevereiro de 2006 haviam acabado de assistir ao maior concerto de rock de todos os tempos.

Eu estava bem perto do palco, que por sua vez foi montado em frente ao Copacabana Palace. Perto mesmo, a ponto de ver Ron Wood atirar a palheta da sua guitarra e ela vir parar na areia aos pés do meu amigo e guitarrista Felipe Machado. Se decidisse sair dali da diretamente para o Leblon, onde estava hospedado, só iria chegar na manhã seguinte, pois teria de atravessar toda a orla. Acabei tendo a ideia de seguir até o Cervantes para comer um sanduba antes de arriscar uma saída pela esquerda.

Acontece que naquele fim de noite o Cervantes estava fechado. Com a cara na porta e quase morrendo de fome, acabei sendo guiado pelo cheiro que vinha da brasa do estabelecimento vizinho, o Galeto Sat’s. O corredor estava lotado, as mesas também, mas logo consegui um banquinho no balcão, bem de frente para a churrasqueira na qual douravam alguns franguinhos (R$ 9,50).

Além do cheiro e da cor, foi um prazer danado escutar o chiado que vinha da brasa ardendo. Cheiroso, com a carne tenra e a pele crocante, devorei um inteiro, enquanto tomava uma ou duas crevejas. Não estou certo se pedi algum acompanhamento.

No fim de semana passado estive novamente no Rio de Janeiro para o casamento de um amigo. Fim de tarde de sábado, só tinha uma hora para enrolar antes de me preparar para a cerimônia. Caminhei pela Domingos Ferreira, a rua do hotel e que fica a um quarteirão da Avenida Atlântica, e após alguns metros dei de cara com duas galeterias. Imediatamente me veio a lembrança do Sat’s.

De um lado da rua fica o Crack dos Galetos (R$ 10,00). Chamou-me a atenção um grupinho de garotas que, ao balcão, conversava bastante, bebia cerveja (ou chope?, agora não lembro) e, óbvio, encarava um galetinho.


Depois de cinco horas de estrada, acabei atravessando a rua e parando no Braseiro (R$ 8,00), que estava mais vazio. Queria comer logo. Mais simples que o concorrente, tem um salão pequeno, sem mesas, apenas um balcão. Um velho balcão, rodeado por aquelas cadeiras giratórias antigas, acolchoadas. No canto esquerdo, a churrasqueira mantinha a brasa bem acesa.

A toalha de papel colocada à minha frente pelo garçom entregava a idade do lugar: “48 anos de tradição em galetos”. Para mim, a longevidade de lugares como esse, que de certa forma prescindem da chancela de críticos (como eu) e de indicação em roteiros gastronômicos para se manter funcionando, já é um certificado de qualidade. Afinal, ninguém mantém a porta aberta de um boteco ao longo de tanto tempo se não servir algo de bom.

O que sei é que dez minutos depois de fazer o pedido – galetinho (R$ 8,00!) com salada de batata (R$ 7,50) e molhinho de vinagre com azeite, cebola e tomate finalizado na hora – só sobravam os ossinhos para contar história.

Sei também que Copacabana mantém algumas outras dessas deliciosas bibocas. Nas próximas visitas à cidade, espero explorar todas elas.

Braseiro. Rua Domingos Ferreira, 214, Copacabana, tel. (21) 2236-3890 e 2547-9843.

Crack dos Galetos. Rua Domingos Ferreira, 197, Copacabana, tel. (21) 2236-7001.

Galeto Sat’s. Rua Barata Ribeiro, 7, loja D, Copacabana, tel. (21) 2275-6197.

Fuja de la vaca

Cuidado! Ao chegar ao Siga La Vaca! Brasil não vá pensando que se trata de uma filial brasileira da famosa rede de churrascarias argentinas (que, a bem da verdade, também não é lá essas coisas…). A diferença é sutil, uma vaquinha malhada ilustra as duas empresas, mas a marca portenha dispensa a exclamação no nome. E o bar-restaurante aberto em São Paulo pertence à empresária Lílian Gonçalves.

Tenha mais cuidado ainda com aquilo que pedir ao garçom. Diferentemente do que acontece no Frango com Tudo, bar vizinho que também é mantido por Lílian e que prepara um franguinho bem-assado e temperado no capricho, o serviço e a cozinha do Siga La Vaca! Brasil são desastrosos.

O sistema de bip, pelo qual o cliente deve chamar os garçons, se mostra ineficaz. De costas para o salão ou conversando entre si, eles raramente atendem à mesa imediatamente após o cliente acionar o equipamento.

O chopinho – disponível naquelas torres de 2 litros – não chega a empolgar mas não compromete.

Agora, o que você espera de um lugar que se diz especializado em carnes? Que a carne, não importa que tipo ou corte, seja assada no ponto exato, certo? Mas não foi isso que testemunhei.

Como já era fim de tarde do sábado e eu voltava do clube faminto, quis provar algo de preparo rápido. Minha namorada pediu um cheesebúrguer e eu, um sanduíche com pedaços de picanha.

Servidos num pão de hambúrguer de péssima qualidade, carregados na maionese, os dois bifes – o do cheesebúrguer, para piorar, era como esses que a gente compra comgelados, no supermercado –vieram completamente torrados, imprestáveis.

Será que isso aconteceu porque eu pedi sanduíches (que custaram em torno de 9 reais) em vez de algum corte mais caro? Pelo jeito, se pedisse a parrillada completa, com carnes variadas, o prejuízo teria sido maior.

Resolvemos chamar a gerente que, constrangida, quis que não pagássemos, o que evidentemente recusei. Acertei a conta mas pedi a ela que orientasse a cozinha a caprichar, para que os próximos clientes não precisem fugir de la vaca.

Siga La Vaca! Rua Canuto do Val, 97, Santa Cecília, tel. (11) 3224-0586.

Comida de passarinho

Neto e filho de mineiras, confesso que demorei algum, na verdade muito tempo para criar coragem e experimentar algumas receitas que via prepararem minha vó Leonor, a tia Alicinha e a mãe de alguns amigos no ano em que morei em Contagem, cidade que está para Beagá assim como Osasco está para São Paulo.

Em terrenos baldios das ruas de terra do bairro, depois da chuva, a diversão da turma era caçar tanajura. Entrávamos no mato carregando latas de óleo vazias e só voltávamos para casa quando conseguíssemos enchê-las dessas formigas graúdas e bundudinhas. Chegando em casa, a mãe dos meus amigos até convidava para provar o traseiro torrado desses bichinhos (na verdade, são fêmeas!), preparadas com farinha de mandioca e arroz, mas… preferia mesmo voltar para ver minha vó tirar do forno o pão de queijo quentinho e corado.

Vó Leonor que, quando inventava de fazer dobradinha, putz, deixava a casa inteira com aquele cheiro azedo, intenso, horrível da tripa cozinhando na pressão. Mimado, eu pedia que fritasse um bife e a situação estava resolvida. Mal sabia eu que passaria a gostar do prato, ainda mais de ter provado uma cumbuquinha um tempo atrás no Bar do Caldo (o Bar do Nei, para os íntimos), ali no Mandaqui.

Pois na segunda-feira à noite, durante uma breve passagem por Belo Horizonte, só tive tempo de correr até o Salsa Parrilha, bar no bairro Santo Antônio apontado como o melhor para petiscar na edição passada de VEJA BELO HORIZONTE.

Além de fazer uma seleção dos acepipes frios expostos no balcão (R$ 45,90 o quilo), não dispensei o revigorante caldo de canjiquinha mineira (R$ 6,00) que aquecia sobre a mesa. Não se engane quem estiver achando que estou falando daquele grão de milho branco cozido, normalmente servido doce, com leite e leite de coco.

Estou falando de canjiquinha, que vem a ser o grão de milho triturado, a popular quirera, vendida em mercados como comida de passarinho.

Na hora em que vi aquele caldo engrossado borbulhando na panela de barro, imediatamente lembrei do magistral almoço da semana passada na casa das doces Mazzô e Aninha França Pinto, mãe e filha, a quem tive a honra de ser apresentado por minha namorada. À mesa foi Mazzô, cozinheira abençoada, mineira, é claro, quem discorreu sobre a procedência desse ingrediente ao servir uma cumbuquinha a cada um dos comensais.

Se naquele almoço a educação e a vergonha me impediram de repetir o prato, ainda que a anfitriã insistisse para que o fizesse, no Salsa Parrilha não deixei barato.

Da próxima vez vou ser menos mineiro, certo, Mazzô?

Bar do Caldo. Rua Judith Zumkeller, 152, Mandaqui, São Paulo, (11) 6203-5475.

Salsa Parrilha. Rua São Domingos da Prata, 453, Santo Antônio, Belo Horizonte, (31) 3225-7758.