A palheta do Ron Wood e os galetos de Copacabana


Foi depois do show dos Rolling Stones na praia de Copacabana. Eu me lembro, eu era um entre 1,2 milhão de pessoas que naquela noite de 18 de fevereiro de 2006 haviam acabado de assistir ao maior concerto de rock de todos os tempos.

Eu estava bem perto do palco, que por sua vez foi montado em frente ao Copacabana Palace. Perto mesmo, a ponto de ver Ron Wood atirar a palheta da sua guitarra e ela vir parar na areia aos pés do meu amigo e guitarrista Felipe Machado. Se decidisse sair dali da diretamente para o Leblon, onde estava hospedado, só iria chegar na manhã seguinte, pois teria de atravessar toda a orla. Acabei tendo a ideia de seguir até o Cervantes para comer um sanduba antes de arriscar uma saída pela esquerda.

Acontece que naquele fim de noite o Cervantes estava fechado. Com a cara na porta e quase morrendo de fome, acabei sendo guiado pelo cheiro que vinha da brasa do estabelecimento vizinho, o Galeto Sat’s. O corredor estava lotado, as mesas também, mas logo consegui um banquinho no balcão, bem de frente para a churrasqueira na qual douravam alguns franguinhos (R$ 9,50).

Além do cheiro e da cor, foi um prazer danado escutar o chiado que vinha da brasa ardendo. Cheiroso, com a carne tenra e a pele crocante, devorei um inteiro, enquanto tomava uma ou duas crevejas. Não estou certo se pedi algum acompanhamento.

No fim de semana passado estive novamente no Rio de Janeiro para o casamento de um amigo. Fim de tarde de sábado, só tinha uma hora para enrolar antes de me preparar para a cerimônia. Caminhei pela Domingos Ferreira, a rua do hotel e que fica a um quarteirão da Avenida Atlântica, e após alguns metros dei de cara com duas galeterias. Imediatamente me veio a lembrança do Sat’s.

De um lado da rua fica o Crack dos Galetos (R$ 10,00). Chamou-me a atenção um grupinho de garotas que, ao balcão, conversava bastante, bebia cerveja (ou chope?, agora não lembro) e, óbvio, encarava um galetinho.


Depois de cinco horas de estrada, acabei atravessando a rua e parando no Braseiro (R$ 8,00), que estava mais vazio. Queria comer logo. Mais simples que o concorrente, tem um salão pequeno, sem mesas, apenas um balcão. Um velho balcão, rodeado por aquelas cadeiras giratórias antigas, acolchoadas. No canto esquerdo, a churrasqueira mantinha a brasa bem acesa.

A toalha de papel colocada à minha frente pelo garçom entregava a idade do lugar: “48 anos de tradição em galetos”. Para mim, a longevidade de lugares como esse, que de certa forma prescindem da chancela de críticos (como eu) e de indicação em roteiros gastronômicos para se manter funcionando, já é um certificado de qualidade. Afinal, ninguém mantém a porta aberta de um boteco ao longo de tanto tempo se não servir algo de bom.

O que sei é que dez minutos depois de fazer o pedido – galetinho (R$ 8,00!) com salada de batata (R$ 7,50) e molhinho de vinagre com azeite, cebola e tomate finalizado na hora – só sobravam os ossinhos para contar história.

Sei também que Copacabana mantém algumas outras dessas deliciosas bibocas. Nas próximas visitas à cidade, espero explorar todas elas.

Braseiro. Rua Domingos Ferreira, 214, Copacabana, tel. (21) 2236-3890 e 2547-9843.

Crack dos Galetos. Rua Domingos Ferreira, 197, Copacabana, tel. (21) 2236-7001.

Galeto Sat’s. Rua Barata Ribeiro, 7, loja D, Copacabana, tel. (21) 2275-6197.

2 thoughts on “A palheta do Ron Wood e os galetos de Copacabana

  1. Sou de Juiz de Fora – MG, perto do Rio. Este estilo de salão como o do Braseiro, com banquinhos ao redor do balcão, é conhecido no Rio como "bunda de fora". Acho que hoje em dia seria "cofrinho de fora". Esta tradição de galetos do Rio é bem antiga mesmo e deve ser preservada. Parabéns pelo artigo.Abraços,José Márcio

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