Um clássico

Se alguém lhe disser que o restaurante Santo Colomba é um lugar que parou no tempo, não entenda esse comentário como sendo uma crítica. Ao contrário, tome seu lugar na máquina de H. G. Wells e siga para o número 1157 da Alameda Lorena, nos Jardins.

Quando entregar o carro na mão do manobrista – modernidade que, ali, ficará contente com a gorjeta, já que o pagamento pelo serviço não é obrigatório – você se verá num ambiente que talvez seja a melhor reprodução do que significa o hoje banalizado adjetivo “clássico”.

Primeiro, será conduzido pelo maître à mesa e acomodado numa cadeira de couro, tão confortável como colo de tia. Antes que peça o cardápio, notará que os demais clientes mantêm certa intimidade entre si e, invariavelmente, com os garçons. E que nenhum deles (ou quase nenhum) consultará o menu.

Imite-os, portanto, esqueça do cardápio, e chame pelo chef, José Alencar de Souza, o Alencar. Ele lhe dirá honestamente que naquele dia o atum está melhor do que o salmão, que o cordeiro vai melhor com as batatas. Se quiser uma pasta, aceite seu conselho: vá de trenette, um tipo de espaguete cuja massa é feita pelo próprio Alencar, com molho, por exemplo, de tomate com linguiça de porco preto – que, num lance de sorte, poderá ser gentilmente cedida por um dos habitués.

Por falar em habitué, pude constatar no almoço de ontem que a clientela compõe-se de gente que não parece se encantar com os modismos. São senhores, muitos, e damas, algumas, que continuam frequentando o restaurante desde 1979, sempre em busca de ingredientes de primeira linha e de sabor. E não de pirotecnia.

Gente que gosta de lembrar da história (ou lenda?) de que a casa pertenceu a uma confraria gastronômica da qual faz parte um ex-governador e deputado federal, que por sua vez ainda mantém na adega no subsolo do prédio algumas garrafas de tintos como o caríssimo Romanée-Conti.

A prova material inconteste da classe do lugar pode ser vista logo à esquerda, na entrada do salão. Trata-se do maravilhoso e quase centenário bar ao estilo inglês de mogno, decorado com vitrais e azulejos portugueses.

O conjunto foi arrematado nos anos 70, pouco antes da demolição do antigo bar do Jockey Club do Rio de Janeiro. É razão suficiente para você acreditar que se o tempo de fato não parou, ali, diante daquele balcão, ele poderia correr mais devagar.

Santo Colomba. Alameda Lorena, 1157, Jardim Paulista, tel. (11) 3061-3588.

8 thoughts on “Um clássico

  1. que bacana, miguel!

    acrescento que os preços praticados no santo colomba são muito justos e que o alencar faz, apenas sob encomenda, um ótimo arroz de pato!

    te seguirei no twitter.

    abração!

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  2. Uma grata e feliz informação, todo o conteúdo. O ambiente, com certeza, transporta as pessoas a outra época, “em que o tempo poderia correr mais devagar”. Calor humano e apreciar o ato de alimentar-se, não simplesmente “comer”. Tudo na medida e simples, vida que a grande maioria das pessoas nem imagina existir. Obrigado.

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  3. Coisas da curiosa biografia de meu pai – foi ele, grande admirador de belos bares ingleses, quem deu jeito de comprar e levar pra lá esse lindo bar que era do Jockey do Rio!

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  4. Miguel, estive por lá depois de muitos anos, no final do mês de Julho, para com outros amigos enófilos (creio que os conheça à todos) degustarmos e discutirmos sobre a melhor maneira de classificar um vinho, e senti exatamente o mesmo que descreve em seu post sobre o local.
    Abraços de luz e calor
    Álvaro Cézar Galvão
    “O ENGENHEIRO QUE VIROU VINHO”

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