Aqui em Buenos Aires o domingo amanheceu ensolarado. Com os bares e restaurantes de Palermo Hollywood, bairro em que estamos hospedados, ainda fechados, eu e Camila decidimos fazer o que todo turista deve fazer na cidade, ainda que seja sua segunda estada por aqui: baixar em San Telmo e curtir a muvuca que toma conta do bairro, graças à feira de antiguidades.
Barracas cheias de quinquilharias, lojas de estilistas independentes, bailarinos de tango, vendedores de empanadas, turistas, músicos tocando bandônion (a sanfona dos tangueiros), brasileiros – aliás, a gripe realmente causou seus estragos. Levei doze horas para escutar o sotaque de um patrício na rua -, sol, 17 graus e friozinho à sombra, esse foi o cenário do início da tarde.
À procura do Café Lezama, um tradicionalíssimo restaurante da regiao, acabei parando mesmo no Bar Britânico, já que o primeiro estava com uma espera daquelas… A ideia nao era almoçar e, sim, fazer um lanche, pois queria tentar a sorte de assistir a Boca Juniors e Argentinos Juniors em La Bombonera.
Na hora em que parei à porta, nao tive dúvida: esse é o bar em que estive cinco anos atrás e no qual parei para comer e beber as mesmíssimas coisas que da outra vez: um sanduíche de presunto cru (15 pesos ou cerca de 10 reais) e uma caneca de chope Quilmes (9 pesos ou cerca de 5 reais).
Esse bar me marcou por uma coincidência que vim a descobrir meses depois da primeira visita, ainda em 2004, quando fui assistir ao filme Diários de Motocicleta. Ali aconteceu a cena em que o jovem Che Guevara (Gael García Bernal) tenta convencer Alberto Granado (Diego Luna) a fazer a viagem de moto pela América do Sul. Diante da vacilaçao do amigo, Ernesto aponta para um velho que está cochilando, bêbado, talvez, e diz algo como: “entao você prefere ficar aqui e envelhecer como aquele ali?”
Aquele ali, curiosamente, foi o garçom que me atendeu daquela vez e que fez uma ponta no filme. Desta vez ele nao estava lá e nao duvido que tenha morrido.
De San Telmo seguimos para o bairro da Boca. Em dia de jogo do Boca aquela regiao da cidade vira mesmo uma festa. Bloqueadas para o acesso de carros, as estreitas ruas do bairro se colorem de azul e amarelo com os torcedores marchando em direçao ao estádio.
Com o ingresso na mao, encontro um bloqueio a cerca de 200 metros de um dos portoes, em que policiais controlam o acesso de pessoas. Dali só passa quem tem o ingresso e quem é aprovado no teste instantâneo de bafômetro.
Sim, tive de assoprar em frente a um equipamento, que nao acusou nenhuma anormalidade, apesar do chope que havia tomado 4o minutos antes. Mas vi várias pessos sendo reprovadas e tendo de passar, aí sim, por um teste mais rigoroso, num bafômetro como o que temos por aí. Nao fiquei para ver o que lhes acontecia, afinal o jogo estava para começar.
Dentro do estádio, atrás do gol, pude entender (e nao sei se vou conseguir explicar) porque La Bombonera é um mito tao temido.
Da hora em que entrei ao fim da partida, a torcida Xeneize nao para de cantar – mentira; no intervalo houve uma pausa, já que pelo sistema de som do estádio ecoou uma inacreditável sequência de tangos de Carlos Gardel.
Ao fim do primeiro tempo, o Boca Juniors perdia por 2 a 0 e eu julgava a fatura liquidada pelo Argentinos Juniors.
Mas em 7 minutos do segundo tempo um tal de Marino – camisa 16, entrou no intervalo – tratou de empatar o jogo e levou o estádio inteirinho a gritar e a cantar cada vez mais alto. Mesmo quando o time perdia bola, um zagueiro fazia uma barbeiragem, a torcida cantava, cantava e cantava. Nao tenho dúvida que ela levouo time ao empate e só nao lhe deu a vitória porque Riquelme, suspenso, nao estava em campo.
Nao me venham flamenguistas, corintianos e atleticanos dizer que sua torcida demonstra – eu disse “demonstra” – o mesmo amor às suas camisas porque nao acho que essa seja a verdade. Já vi o Tricolor jogar contra o Corinthians algumas vezes, já estive em Fla-Flu no Maracana lotado e em Atlético X Cruzeiro no Mineirao.
Em vez de ofender jogadores do próprio time, entoar gritos de guerra ofensivos ao adversário e exibir intolerância, esses organizados deveriam copiar a melodia e o texto dos cantos dos boquenses, arrepiantes declaraçoes de afeto à equipe que escolheram para torcer, simplesmente, torcer.
Bar Britanico. Avenida Brasil esquina com Rua Defensa, San Telmo, Buenos Aires.
fala miguelito, estava indo tudo bem ate falar do todo poderoso,
grande passeio e deve ser muito louco ver um jogo nesse estadio,
camarada fui na galinhada do dema sabado, estava muito bom.
abraços
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Lindo lugar!
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Duas coisas:
– olha minha experiência no la bombonera: http://www.youtube.com/watch?v=J6C7tpJjw3Q
– dá uma olhada no Mesa pra 1. Fiz uma breve resenha do Seo Zeca em Moema… fui muito crítico?
Abraços
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