Cadê?

Sobre a notificação extrajudicial emitida pelo advogado do Boteco São Bento (leia reportagem na Folha Online: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u630810.shtml) ao blog “Resenha em Seis”, tenho a dizer três coisas

1. o que já disse, mais de um ano atrás, no post a seguir: http://viajeaqui.abril.com.br/blog/boteclando/2008/02/o-cofrinho-do-patrao-%e2%80%93-e-os-10-dos-otarios/

2. cadê a minha notificação?

3. lamentável…

Santiago parte 3 – pisco sour na saideira

Foto: Andrea D'Amato

Foto: Andrea D'Amato

 

Já com um sabor de saideira descendo pela garganta, fui explorar o Barrio Brasil, um pedaço da cidade que segue uma rotina mais parecida com a da Santiago dos anos 40 ou 50 – confie, leitor, mesmo sabendo que eu nasci nos 70. Suas ruas retas e planas acomodam um casario simples, de planta térrea e construções que se emendam umas nas outras.

Alguns desses imóveis abrigam famílias. Outros, bares e restaurantes charmosos. Indeciso sobre em qual deles entrar, acabei andando algumas quadras, até dar-me conta que já estava no Barrio Concha y Toro. Barrio, ou bairro, é modo de dizer. Estamos falando aqui de um microconjunto de vias estreitas e de paralelepípedo que circundam a Plazoleta de la Libertad de Prensa, também conhecida como Plaza de los Periodistas (Praça dos Jornalistas). Arandelas e iluminação amarelada mais sobrados com fachadas de estilos tão distintos quanto o gótico e o art déco compõem a atmosfera da área.

Apesar do nome, a famosa vinícola não está instalada ali. Na verdade, nesse pedacinho mágico da capital chilena moraram, entre os anos 20 e 40, Don Melchor (o fundador da marca, cujo nome batiza o rótulo mais famoso produzido pela casa) e seu irmão Enrique Concha y Toro.

Num prédio erguido nos anos 30, ao qual o acesso é feito por uma bela escada de mármore, foi inaugurado cerca de seis meses atrás o Club Santiago, um bar-restaurante em que se come uma tenra albacora (peixe também conhecido como atum-branco) e deliciosas, suculentas costelinhas de porco.

Como nos almoços e jantares anteriores eu havia consumido uma quantidade de vinho equivalente ao que bebo normalmente em um mês, decidi provar, finalmente, um pisco sour – não exagero ao dizer que o amor que o chileno tem pelo drinque é o mesmo que dedicamos à caipirinha. Essa mistura de suco de limão com pisco e açúcar combina mais com um dia de verão, evidentemente, mas eu não poderia sair de lá sem tomar uma delas. De quebra, trouxe uma garrafa d destilado na mala, para tentar fazer uns coquetéis por aqui.

Ao fim de quatro noites e cinco dias, voltei para casa com a lembrança de uma Santiago cinza e nublada – resultado da poluição e do smog, a névoa marcante – e com a impressão de que os chilenos são amáveis, pontuais e conservadores (as crianças, por exemplo, usam ainda terninho e gravata como uniforme escolar; o país, por sua vez, foi um dos últimos a legalizr o divórcio, em 2004). Mas formam um povo que sabe comer, beber e receber muito bem.

Club Santiago. Erasmo Escola, 2120, Barrio Concha y Toro, Santiago, tel. (02) 673-4700

Santiago parte 2 – O dia em que fui abduzido pelo choro maltón

Nem bem eu havia alcançado o segundo quarteirão da via paralela à rua do hotel (Calle Santa Beatriz), durante a minha primeira caminhada por Santiago, quando avistei, do outro lado da rua, o letreiro enorme: “Ostras y Mariscos”.

Pela aparência do ponto julguei se tratar de uma peixaria, já que não havia nenhuma outra identificação na fachada. Continuei seguindo, pois, em direção à Avenida Providencia sem dar maior atenção ao lugar. Até que notei que três senhores de meia idade, engravatados, cruzaram a porta de madeira e quadradinhos de vidro.

Opa!, pensei, aí tem.

Atravessei o meio-fio, cheguei à porta, abri e entrei. Num salão com não mais de 4 metros de frente por 6 metros de comprimento, vi que à minha esquerda e à direita havia apenas dois refrigeradores repletos de camarões, mariscos e outros pescados congelados. À frente, no balcão, um sujeito de boné remexia nuns papéis.

– Perdão, senhor, estou enganado ou vi entrarem aqui três rapazes engravatados?

– Sim, eles entraram. Estão no restaurante.

– Onde? Não consigo vê-los e não me parece ter nenhuma porta para outro salão.

– Estão lá embaixo. Por aqui, por favor.

Absolutamente incrédulo, cruzei o balcão e vi, no chão, um buraco de cerca de um metro quadrado. Através dele, notei uma escada de madeira, que terminava num salão do qual pouco eu conseguia avistar. Apoiando a mão esquerda na parede, desci devagarinho cada um dos onze degraus. Embasbacado, ao chegar ao subsolo encontrei não só os três figuras, como mais oito, nove comensais distribuídos em duas mesas que dividiam o espaço exíguo com caixas de vinho.

O marujo

O marujo

Num terceiro ambiente, menor ainda, uma mesa comunitária de teto baixo acolhia uma turma celebrando um aniversário. À esquerda da escada, a cozinha.

Esse endereço inacreditável chama-se Bahía Pilolcura e, se o Google não me sacaneou, é pouco conhecido até mesmo entre os santiaguinos. Pertence a Alejandro Soto Velasquez, um pescador que vive no sul do país. Além de fornecer pescados a casas ligadas ao movimento Slow Food chileno, Velasquez vende produtos fresquíssimos e congelados e, de quebra, deixa sob a responsabilidade do amável chef Francisco Torres o preparo de algumas receitas.

Sentindo-me um marujo – é justamente essa a impressão, a de estar no porão de um barco pesqueiro – deixei a escolha do que iria comer por conta do chef.

Primeiro ele me trouxe um sensacional ceviche de lagostim (as porções custam cerca de 3500 pesos – ou 14 reais!), seguido das gambas al ajillo (camarão ao molho de alho, azeite e vinho branco, uma de minhas receitas preferidas e que, modestamente, fiquei craque no preparo).

Merece muita, mas muita atenção a porção de “choro maltón”, que apresenta mariscos gigantes cozidos no vapor (sim, os da foto). Esses mariscos escondidos em conchas de 9 centímetros de comprimento vêm das ilhas Calbuco, distante 1200 quilômetros de Santiago. São colhidos apenas no outono e no inverno, quando as águas do Pacífico atingem a temperatura de 9 graus centígrados! A essa temperatura, contou-me Don Francisco, os pescados conservam melhor seus nutrientes.

O choro maltón de Don Francisco

O choro maltón de Don Francisco

Por fim, provei também a “chupe de locos”, uma quentíssima e aromática caldeirada de frutos do mar.

Navegar, afinal, és preciso.

Bahía Pilolcura – Calle Antonio Bellet, 35, Santiago, Chile, tel. (02) 235-1345

 

Obs: post corrigido às 19h27 do dia 28 de setembro de 2009

Santiago parte 1: os vinhos

Cinco dias e quatro noites não são suficientes para explorar uma cidade como Santiago, capital do Chile. Mas era o tempo que eu tinha e, ainda em São Paulo, tratei de planejar minimamente a viagem. Recolhi algumas dicas com amigos generosos – valeu, Humberto e Adames –, comprei duas ótimas edições especiais da revista Viagem e Turismo (uma sobre a cidade e outra tratando de todo o país), contatei duas vinícolas e embarquei no voo Buenos Aires-Santiago da Aerolíneas Argentinas.

A visão da Cordilheira dos Andes, através da janelinha da aeronave, é uma experiência que faz o coração acelerar. Assustadora – tentei lembrar-me do filme, acho que do fim dos anos 70, que narrava a história de um desastre aéreo na região, mas não consegui – e de uma beleza espetacular, a travessia sobre aquele interminável lençol de neve me marcou mais, certamente, que o sobrevoo sobre os Alpes, seis anos atrás.

Dali a dois dias eu tentaria esquiar pela primeira vez sobre a neve da estação de El Colorado (ninguém precisa saber qual foi meu desempenho, certo?), mas no dia do desembarque em Santiago, faminto, fiquei satisfeito ao saber que o Liguria, uma das dicas gastronômicas recebidas, estava localizado a poucas quadras do hotel – aliás, um achado. Chama-se Meridiano Sur, foi aberto há seis meses, tem apenas oito quartos e ocupa um casarão de três pisos no bairro da Providencia (diárias a partir de 108 dólares).

O Liguria é um lugar tão clássico quanto turístico. De seus vários ambientes, dois são particularmente bacanas. O dos fundos, de pé-direito colossal, tem a parede revestida por quadros e desenhos coloridos. Tem um ar vintage e me fez lembrar alguns sobrados do interior, obviamente, da Itália. Já no salão do bar, salta à vista um lindo balcão de traçado sinuoso, talhado em madeira escura. Seguindo seu contorno, banquetas altas acomodam confortavelmente quem para por ali para tomar um drinque.

Liguria: belíssimo salão

Liguria: belíssimo salão

Como era hora do almoço, acomodei-me na saleta lateral, destinada aos não-fumantes. Uma taça de Los Vascos Cabernet Sauvignon, acho que da safra 2006, e uma milanesa de porco deixaram uma excelente primeira impressão da cidade. Os preços de uma refeição, convém dizer, são equivalentes aos de São Paulo, com a diferença de que os vinhos, mesmo em taça, custam no máximo a metade do preço que no Brasil…

Por falar em vinho, dediquei boa parte da programação à visita de duas vinícolas. Primeiro, conheci a pequena porém belíssima Viña Aquitania, representada no Brasil pela importadora Zahil, e que produz, entre outros rótulos, o Sol de Sol, um dos melhores brancos do Novo Mundo.

Viña Aquitania: ao pé dos Andes

Viña Aquitania: ao pé dos Andes

Curioso imaginar, mas as instalações santiaguinas da vinícola ocupam 18 hectares dentro da capital chilena, a 20 minutos de metrô e 10 de táxi, a partir de Providencia. Aos pés da Cordilheira, é um passeio altamente recomendado para uma manhã ensolarada. Após uma hora e meia de caminhada pelos vinhedos, a cantina e as demais áreas de produção, a visita termina numa degustação da bebida, ao ar livre.

Dois dias depois, tomei um trem – a Cordilheira dos Andes, à direita, é companheira por boa parte da hora e meia de viagem – rumo à cidade de San Fernando, para conhecer a Santa Helena, segunda maior exportadora de vinhos chilenos para o Brasil, cujos rótulos são distribuídos no nosso mercado pela Interfood. Gigante, a vinícola se espalha por terras a perder de vista e ainda mantém videiras em terrenos próximos, cujo relevo me fez lembrar o do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul.

Santa Helena: vinhedos a perder de vista

Santa Helena: vinhedos a perder de vista

Bem à frente da imponente sede da vinícola ficam vinhedos plantados noventa anos atrás, dos quais são colhidas uvas cabernet sauvignon que serão a base do rótulo Parras Viejas, ainda não lançado e do qual tive o prazer de provar.

Liguria – Avenida Providencia, 1373, Providencia, próximo à estação do metrô Manuel Montt, http://www.liguria.cl.

Viña Aquitania – http://www.aquitania.cl

Viña Santa Helena – http://www.santahelena.cl

PS: as fotos seguem mais tarde, pois não estou conseguindo postá-las daqui desta lan house de Jericoacoara

PS 2: fotos incluídas às 19h34 do dia 28 de setembro de 2009