Mordidas no chope

A caneca do Boi na Brasa/ Foto: Renato Ferreira

Conheci a churrascaria Boi na Brasa nos anos 80, quando eu era mascote do Proálcool Futebol Bebuns e Mulher, invencível time de futebol de salão que arrepiava qualquer adversário que ousasse enfrentá-lo nas manhãs de sábado ali no alçapão do Parque da Mooca.

Eu tinha meus 9 ou 10 anos e me lembro que após os jogos o time sempre seguia para algum boteco ou restaurante a fim de repercutir o resultado das partidas em meio a garrafas de cerveja, cumbucas de feijoada, torresmos, sanduíches de salame com queijo prato e canecas de chope.

O destino preferido costumava ser o Peru’s, então na Rua Julio de Castilhos, perto do Largo São José do Belém – já escrevi sobre isso aqui no blog. Em seguida vinha o Boi na Brasa, ao qual a turma chegava em busca da salada de agrião, da alta e gorda bisteca bovina e da feijoada.

No capítulo bebidas, eu me contentava com duas ou três garrafas de guaraná Antarctica caçulinha. Mas olhava estranho para aquelas canecas de alumínio fosco, arredondadas, em que era despejado o chope que meus ídolos consumiam aos hectolitros.

Fiquei uns bons quinze anos sem voltar à casa, até que fiz isso no ano passado, após mais uma das peladas de sábado – dessa vez a turma era outra, o time, idem, para o qual guardei, aliás, meus golzinhos.

Imediatamente veio a lembrança da feijoada, da bisteca e da caneca que – o tempo me fez esquecer dela – costumava chegar à mesa com algums marcas deixadas por outros bebedores.

Não me refiro ao vermleho do batom ou aos resíduos de bebida, mas às mordidas na borda das canecas mais ‘rodadas’. É verdade, pode parecer esquisito ou anti-higiênico perceber esses, digamos, registros bem na hora de levar o chope à boca.

Prefiro acreditar que esses carimbos de caninos, pré-molares e molares são na verdade uma espécie de certificado de qualidade da bebida ou algum código secreto trocado pelos habituês e boêmios que há 43 anos enchem a casa, que notabilizou-se também por manter a churrasqueira acesa até as 4 da manhã.

Contra todos os cânones que versam sobre o serviço correto de um chope, digo que sim, o chope do Boi na Brasa servido na caneca de alumínio é bem decente (custa R$ 4,30), conforme atestei mais uma vez no sábado passado.

Para não perder a viagem, preciso dizer que deixei ali, sim, uma dentada para a posteridade.

Churrascaria Boi na Brasa. Rua Marquês de Itu, 139, Vila Buarque, esquina com Rua Bento Freitas, tel. (11) 3223-6162.

Oração (e algumas doses) para St. Patrick

Desde a semana passada, muitos bares de São Paulo, em especial os pubs e cervejarias, estão com uma progranação especial em homenagem a St. Patrick, o padroeiro da Irlanda, cujo dia de sua celebração é hoje, 17 de março.

Em reconhecimento a esta importante data e à mais boêmia das santidades, o blog indica alguns destinos para quem quiser comemorar:

All Black (Rua Oscar Freire, 163, Jardim Paulista, tel. 11/3088-7990): além de ser recebido com um drinque de boas-vindas, o fiel, digo, cliente, paga hoje R$ 10,00 pelo pint de Guinness. Shows de pop e rock com as bandas Templários e Insônica.

Frangó (Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 168, Freguesia do Ó, tel. 11/3932-4818): as comemorações aqui vão até o dia 20. Hoje, 17, quem pedir três garrafas da Guinness Expression Import (R$ 24,90, de 330 mililitros) ganha um chope verde Colorado Cauim e leva para casa um copo da casa no formato pint. Com 8% de teor alcoólico, essa versão Expression Import difere da Guinness tradicional por ser bem mais encorpada. A outra tem 4,2% de álcool.

Melograno (Rua Aspicuelta, 436, Vila Madalena, tel. 11/3031-2921): o pint de Guinness sai por R$ 12,00. Como novidade, a casa traz outra cerveja irlandesa, a Murphy’s de lata, concorrente da Guinness.

O’Malley’s (Alameda Itu, 1529, Jardim Paulista, tel. 11/3086-0780): a patir das 20h se apresentam as bandas Cross Town Traffic e Murphy’s Law, esta intérprete de música irlandesa. O pint de Guinness hoje sai a R$ 12,00. Heineken, R$ 6,00. Entrada: R$ 40,00 (mulher) e R$ 60,00 (homem).

Por fim, o blog oferece também uma oração a St. Patrick, numa comovente interpretação da banda Velhas Virgens: http://www.youtube.com/watch?v=-urDWoAdDiY&feature=related

Amém!

Bares de sorte

Foto: Rubens Chiri/www.saopaulofc.net

Pois é, acabei não indo ao Autêntico porque só consegui saí da redação às 20h. Desci até o ponto de táxi, não havia nenhum carro ali, mas por sorte consegui uma carona, que me deixou na esquina da Joaquim Antunes com a Rebouças.

Como eu estava perto da Rua do Pinheiros, subi um quarteirão e parei num certo Café, Cachaça & Cia., na esquinda da Pinheiros com a Cônego Eugênio Leite. Sem letreiro na fachada e paredes externas pintadas de verde musgo, esse boteco chamou minha atenção por suas mesas na calçada, 100% ocupadas, e por ter apenas uma mesa vazia no estreito salão.

Alguém duvida que ela estava a minha espera?

Ali dentro, dois sãopaulinos mantinham os olhos vidrados na TV, as mãos segurando o copo de Original – eu pedi uma Serramalte, um churrsaquinho com queijo e gastei R$ 15,00 -, e xingavam o Washington, que àquela altura já tinha marcado o primeiro gol do São Paulo.

Fiquei ali até o fim do jogo, por isso vi o segundo gol do time, uma jogada do Richarlyson e finalização dele, Washington.

Admiro esse cara. É caneleiro? É. Mas é artilheiro. Faz gol e joga com raça, com o coração. O São Paulo, não custa lembrar, tem 5 gols até o momento na Libertadores. Quatro gols do Washington, um do Ceni.

Agora quero confessar uma coisa: a ideia original, de seguir para o Autêntico, não ocorreu por acaso. Já assisti a três ou quatro partidas do São Paulo lá, sempre com vitória nossa. Logo, é um bar que dá sorte ao meu time, assim como o Pé Pra Fora. Do Veloso, cujo proprietário, Otávio Canecchio, torce para o Parmêra, não tenho boas recordações quando o assunto é o meu time. Ainda assim, Otávio, Souza, Wil & cia., não se preocupem, não perderam este freguês.

O que importa dizer é que certos bares ficam marcados no coração da gente por nos trazerem sorte, alento, conforto na hora do sofrimento (seja de uma dor de cotovelo, seja por ter tomado um gol aos 45 do 2º tempo) e da tensão. Torcedor que é torcedor sabe do que estou falando.

Café, Cachaça & Cia. Rua Cônego Eugênio Leite, 466, Pinheiros, tel. (11) 3063-4026.

CORREÇÃO: o passe para o gol do Washington foi obra de Fernandinho e não de Richarlyson

Futebol no bar: um direito de todos

Faz quinze minutos que o Tricolor está em campo no Defensores del Chaco para o jogo contra o Nacional do Paraguai pela Copa Libertadores. Como o horário da partida – começou às 19 horas – é bizarro, não vou ter tempo de sair da redação, passar no supermercado e comprar umas latinhas de cerveja já geladas, a fim de ver o jogo no conforto de casa.

O jeito vai ser correr para algum bar a tempo de acompanhar o segundo tempo. Tô pensando, talvez chegue em Perdizes em 15 minutos e descole uma mesinha boa ali na calçada do Autêntico, na esquina da Caiubi com a Campevas. Hum…, só a lembrança daquele colarinho cremoso já me faz salivar pelo chope desse boteco em que a maioria das noites (e tardes de sábado, quando monta um bufê de boa feijoada) transcorre na maior tranquilidade.

A ligação perfeita entre boteco e futebol, imagino, deve existir desde aquele 15 de abril de 1895, dia em que Charles Miller reuniu os colegas da São Paulo Railway em alguma taberna do Brás para comemorar os 4 x 2 contra o time da Companhia de Gás.

Já nos tempos da TV Tupi, esse casamento ganhou um belo upgrade, quando algum dono de boteco resolveu puxar uma extensão e colocar um aparelho preto-e-branco, de tubo, em cima da geladeira. Afinal, a freguesia tinha de acompanhar o Brasil x Itália, o Fla X Flu, o Choque-Rei ou algum outro clássico enquanto tomava a sua cervejinha.

Eis que o tempo corre, o drible passa a ser visto como desrespeito e o futebol no Brasil vem a ter dono. Um dono que decide que não, nada dessa história de bar transmitir jogo de Copa do Mundo. “Só mediante autorização da FIFA ou da emissora licenciada”.

Pois é, nós, torcedores e botequeiros quase tivemos de engolir essa, caso quiséssemos assistir em um bar as partidas da Copa do Mundo da África do Sul.

O fato é que aquele estabelecimento que não quiser preencher no site da FIFA – em inglês – o requerimento de transmissão terá de seguir algumas “exigências”, tais como:

– não cobrar ingresso para ter acesso ao bar;

– partidos políticos e candidatos não podem ser associados com a exibição dos jogos (pergunta do blogueiro: se eu decidir me candidatar ao cargo de vereador e decidir juntar uns amigos para ver um jogo no bar, corro risco de ser punido pelo TRE?);

– o sinal da TV deve ser transmitido na íntegra, incluindo os intervalos comerciais (sugestão do blogueiro: para que o cliente não perca um segundo sequer dos maravilhosos comerciais, que tal instalar monitores de 14 polegadas em cada um dos mictórios e reservados no banheiro?).

Convenhamos, seria o fim da picada. Felizmente, não vai ser.

 

Autêntico. Rua Campevas, 320, Perdizes, tel. (11) 3873-0455.