Menu de tubaínas

Bar Coronel, em São José dos Campos

Chega às bancas neste fim de semana a nova edição anual de VEJA VALE E MONTANHA “Comer & Beber”, que abrange 590 bares, restaurantes e endereços comidinhas das regiões do Vale do Paraíba, da Serra da Mantiqueira e da Serra da Bocaina.

A partir de amanhã, as novidades podem ser conferidas também no site http://www.vejavaleemontanha.com.br. Nesta que é a mais abrangente publicação da série ‘comer & Beber”, da qual sou editor, há casas recém-inauguradas e lugares tradicionais de cidades como Campos do Jordão, Pindamonhangaba e até de São Luís do Paraitinga, que aos poucos vai se reconstruindo.

Entre os vencedores, o Bar Coronel, de São José dos Campos, fatura mais uma vez o prêmio de melhor boteco e leva também o de melhor cozinha. Instalado em uma esquina de frente para o cemitério, esse botecaço tem um balcão de petiscos sensacional. Lembro-me especialmente dos embutidos e dos queijos, do bom chope e, sobretudo, da alma interiorana que seu ambiente carrega. É um dos grandes exemplares do gênero.

Em pleno bairro da Consolação, a uns 70 passos de casa e a três quarteirões da Avenida Paulista, o Tubaína presta meio que uma homenagem ao interior de São Paulo, tanto no cardápio quanto na carta de tubaínas.

Bar Tubaína, na Consolação

Você leu certo, o bar, que foi inaugurado em setembro de 2009, tem uma carta com cerca de quinze rótulos de tubaína! Nessa lista estão a Cotuba, fabricada em Tanabi, a Etubaína Orlando, de Piracicaba e a Gengibirra Limongi, de Rio das Pedras.

Atire a primeira tampinha quem nunca pediu a avó uns trocados para comprar uma Baré Cola ou uma Simba Limão! Se eu não estiver enganado, lembro que, num tempo em que não havia garrafas PET, esses refrigerantes eram vendidos em vasilhames de cerveja. Tinham, portanto, o dobro de capacidade das garrafas dos outros e custavam bem menos que uma Coca-Cola.

De Ribeirão Preto vem o chope Colorado, muito bom, especialmente o Appia, de trigo (R$ 6,50). Para acompanhar, vale pedir um sanduba (mandei ver num de pernil temperado com o shoyu, muito bom).

Para paladares mais infantis, que tal combinar uma porção de mandiopã com uma Soda Limonada Guarany?

Bar Coronel. Rua Francisco Rafael, 298, centro, tel. (12) 3921-3141, São José dos Campos, www.barcoronel.com.br.

Tubaína. Rua Haddock Lobo, 74, Consolação, tel. 3129-4930, Consolação, São Paulo.

O bar do Juscelino

Juscelino Pereira: Piselli, Zenna e, agora, Ministro

De um estabelecimento que tem à frente Juscelino Pereira não se espera menos do que o padrão de qualidade que seu nome imprime à cozinha e ao serviço. Sua bela história de empreendedorismo – de ex-garçom do grupo Fasano tornou-se gerente do Gero, até que resolveu, em 2004, abrir seu primeiro restaurante – e a competência e paixão que entrega ao Piselli e ao Zena Caffè nos faz crer nisso.

Foi com essa expectativa que desembarquei no recém-inaugurado Ministro 1153, bar do qual Juscelino é um dos sócios. Infelizmente deixei o local, uma hora e pouco depois, um tanto decepcionado.

Se o bar vai “pegar” ou não, ainda é cedo para dizer – e torço para que tenha sucesso.

O bar é apresentado como uma casa de petiscos brasileiros e carnes preparadas na grelha. Acho que aí está um equívoco. “Mais um?”, me perguntei.

É mais um mas, tudo bem, vamos ver o que há para comer: uma opção com filhote, delicioso e carnudo peixe da região amazônica, chamou minha atenção. Mas em plena noite de sexta, “havia acabado no almoço”, disse-me o garçom. Ok, tento a porção de linguiça caseira, para petiscar. “Também acabou”.

Esforçado, o garçom sugere a porção de picanha. Caramba!, será que não tem uma outra opção maaais original?

Acabei optando por um trivialíssimo bolinho de arroz com queijo (R$ 14,00) e um hambúrguer com batata rústica (R$ 25,00).

Enquanto aguardava esses pedidos, fiquei pensando: cadê a olive ascolane, aquela azeitoninha empanada com recheio de linguiça, deliciosa entrada do Piselli? Ou algo tão simples e ao mesmo tempo inspirado como isso? As lulinhas à dorée, por exemplo?

De pontos positivos, é legal dizer que a carta de cervejas, embora curta, tem bons rótulos (Quilmes, a grande, R$ 15,00). E que, no balcão, quem prepara os drinques é o barman Rogério, o velho “Mr. Rabbit”, que já trabalhou em diversas casas e papou prêmios que coquetelaria.

Juscelino, continuo com fome.

Ministro 1153. Rua Ministro Rocha Azevedo, 1153, Jardim Paulista, tel. (11) 3064-1153.

Petiscos coadjuvantes

No cinema, tendo a achar que o papel de ator e de atriz coadjuvante é encarado como sendo de segunda classe. A despeito disso, o Oscar é concedido, muitas vezes, a atuações de primeiríssima qualidade, aquelas que de fato roubam a atenção do espectador.

Para ficarmos em dois exemplos de atuação em que o protagonista é surpreendido, lembro da encarnação do Coringa pelo brilhante Jack Nicholson do Batman, de Tim Burton (1989) – alguém se lembra que bruce wayne era Michael Keaton? – e a irretocável atuação de Christoph Waltz como o coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios. Waltz, ao menos, garantiu para a si a estatueta.

O leitor há de perguntar: o que essa breve menção ao cinema tem a ver com o assunto deste blog? Vou tentar explicar: em muitas casas especilalizadas nisso ou naquilo, costumo me surpreender com o acompanhamento de um prato, a guarnição ou com petiscos relegados à segunda página do cardápio.

Puxe na mamória: é impressão minha ou os melhores pães de queijo são encontrados nos coverts das churrascarias?

Pois foi a polenta frita (R$ 14,50 a porção) do Pira Grill (Rua Wisard, 161, Vila Madalena, tel. 3097-8262), no tardio almoço de sábado, que me fez pensar nesta história. Fazia mais de ano que não almoçava ali. Entre as especialidades grelhadas, fiquei surpreso também com o delicioso e marcante tempero do frango (na verdade, pedi meia porção e paguei R$ 18,50).

Cortada em cubos, a polenta tem a casca crocante, bem sequinha. O segredo é esperar uns minutinhos até ela esfriar um pouco – sai da cozinha pelando! – e abrir ao meio esses dados de fubá de milho para perceber o seu úmido e salgado recheio. Tenho a impressão de que ali no Pira Grill é frita a melhor polentinha desta cidade.

Além dessa sugestão, deixo uma lista de petiscos que, embora pareçam coadjuvantes, roubam a atenção dos paladares mais atentos:

Ao Chopp do Gonzaga, Avenida Ana Costa, 512, Gonzaga, Santos, tel. (13) 3284-8940.
– Coadjuvante: para atacar o ótimo molho de cebola preparado nesse tradicionalíssimo endereço de Santos, não espere pelas carnes. Pegue meio pãozinho, cavuque o miolo e preencha o espaço com as lâminas de cebola curtida.

– Principal: o espetão à moda da casa, com carne, lombo de porco e linguiça calabresa.

Bar do Sacha, Rua Original, 89, Vila Madalena, tel. 3815-7665.
– Coadjuvante: a porção de mandioca cozida puxada na manteiga, bem amarelinha, me faz lembrar da que minha vó preparava. No próprio quintal de sua casa em Ponta Porã (MS), ela arrancava a raiz, limpava, descascava e levava à mesa. Melhor companhia a um bom churrasco não há.

– Principal: a costela assada no bafo.

Burdog, Avenida Doutor Arnaldo, 232, Pacaembu, tel. 3151-4849.
– Coadjuvantes: não dá para ignorar a maionese feita na casa e a porção de anéis de cebola frita.

– Principal: o cheese salada.

Carlinhos, Rua Rio Bonito, 1641, Pari, tel. 3315-9474.

– Coadjuvantes: o arais (foto), cafta que vai à chapa prensada no meio de duas bandas de pão árabe, é um perigo. Você corre o risco de repetir uma, duas, três vezes e deixar de provar outras boas opções de tempero armênio no cardápio.

– Principal: embora o restaurante se autoproclame “rei da picanha”, pule esse item, junte uma dezena de amigos e encomende o carneiro inteiro recheado de arroz e amêndoa.

Pasquale, Rua Amália de Noronha, 167, Pinheiros, tel. 3081-0333.
– Coadjuvantes: depois de refestelar-me com a seleção de antepastos preparados na cantina, entre eles a abobrinha grelhada e o queijo cacio cavalo, não sobra muito apetite para outras experiências

– Principal: as massas cantineiras.

Totò, Rua Doutor Sodré, 77, Vila Olímpia, tel. 3045-1966.

– Coadjuvantes (?): bom, se levarmos as coisas ao pé da letra, estaremos falando de um restaurante italiano. Mas a verdade é que o bar – não por acaso montado no meio do salão – divide iqualmente com as massas frescas as atenções de quem chega à casa. Sócio do local, Alfredo Martins (foto) divide a bancada com Dantley de Souza e prepara espetaculares caipirinhas. Se você tiver a sorte de ser obrigado a aguardar por uma mesa, não hesite em puxar uma banqueta e ficar ali, à esquerda do balcão, a observar o minúcia com que a dupla corta as frutas antes de misturá-las às doses precisas de cachaça, vodca ou saquê. Sou fã da caipirinha de caju com limão-cravo e mexerica.

A coxinha de São Paulo X a empadinha de Porto Alegre

A coxinha do Frangó/ Foto: Mario Rodrigues

Na edição de VEJA PORTO ALEGRE “Comer & Beber” (www.vejaportoalegre.com.br) que está nas bancas e sobre a qual falei en passant no post anterior, o Nossa Senhora do Ó conquista o bicampeonato na categoria cozinha de bar.

Como diz o texto publicado na revista, a casa é uma espécie de sucursal do glorioso Frangó, tantas vezes eleito o melhor boteco de São Paulo nas edições “Comer & Beber” da Vejinha. Vagner Piccolo, o dono do Nossa Senhora de Ó, é irmão do Cassio, um dos sócios do Frangó.

Do boteco paulistano, o gaúcho toma emprestado a ideia de manter uma extensa e didática carta de cervejas e, é claro, o capricho no preparo do petiscos.

Prova disso é a empadinha de camarão, com massa podre e recheio bem incrementado (R$ 6,50), que tem potencial para se tornar um símbolo gastronomico do bar, assim como a coxinha de frango com catupiry resume a cozinha do botecão da Freguesia do Ó.

Na dúvida entre decidir qual dos dois tira-gostos é o melhor, deixo uma sugestão para os amigos porto-alegrenses: na próxima ida ao Nossa Senhora do Ó, peçam os dois e façam o tira-teima, já que aqui em São Paulo não temos escolha. Ou é a coxinha, ou é a coxinha.

Frangó. Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 168, Freguesia do Ó, tel. (11) 3932-4818.

Nossa Senhora do Ó. Rua Dinarte Ribeiro, 17, Moinhos de Vento, tel. (51) 3346-2319.

Pizzas à gaúcha e piadina à paulista

Neste fim de semana chega às bancas do Rio Grande do Sul e às mais importantes de outras regiões do país, a edição 2010 de VEJA PORTO ALEGRE “Comer & Beber”, da qual participei como editor.

Vamos apresentar nessa publicação cerca de 560 endereços da grande Porto Alegre, entre restaurantes, casas de comidinhas e bares.

Porto Alegre, aliás, é berço de alguns dos botecos mais fantásticos do país. A Cidade Baixa – a Vila Madalena de lá – reúne lugares históricos e símbolos da boemia gaudéria, lado a lado com casas cheias de novidades e modismos. Esses lugares devem, portanto, ser percorridos sob inspiração da movida madrileña. Ou seja, a pé, com paradas em quantos bares você aguentar, nem que seja para um traguinho só.

Dias atrás, enquanto editava os textos da revista, percebi algo curioso. Muitos botecos portoalegrenses sugerem como petisco principal as suas versões para a napolitaníssima receita de pizza, assim como do sanduíche aberto no prato.

Será influência da cultura italiana, tão notável na culinária gaúcha? Sobre essa presença, convém dizer, o grande legado é a profusão de galeterias, casas especializadas em servir o galeto al primo canto, sempre cercado de massas e outros acompanhamentos.

É interessante notar, quando se pensa em petiscar, essa diferença nos costumes boêmios nas diferentes regiões do país. Se em São Paulo estamos mais acostumados a pedir porções ou unidades de bolinhos, croquetes etc., ao longo dos anos reparei que em Belo Horizonte, por exemplo, a moçada é chegada em tira-gostos com molhinhos, ensopados, daqueles em que se mergulha um pedaço de pão. O Rio de Janeiro exportou a ideia do balcão de petiscos, pra gente se servir. Mundo afora, e já que citei Madri, tem coisa mais legal que fazer uma degustação de tapas e pinxos tipicamente espanhóis?

Pois é, como aqui em São Paulo lugar bom pra comer pizza é mesmo a pizzaria – ou, no máximo, um balcão de padoca –, não me lembro de ver uma sugestão de redonda no cardápio de nenhum boteco, exceção feita também aos pizza-bares. (Não me lembro, não quer dizer que não exista.)

Mas como em São Paulo há de tudo um pouco, outro dia voltei ao Vianna, em Pinheiros, e entre trouxinhas de camarão, espetos de cafta etc, acabei pedindo uma piadina de mussarela com alecrim.

Piadina é uma espécie de pizza (há quem diga que é um tipo de pão…) de massa ultrafina, crocante, esticada e assada sobre uma chapa ou frigideira, de preferência. Nessa massa vão apenas farinha de trigo, sal e banha de porco ou azeite de oliva. As coberturas podem variar.

Embora eu não tenha encontrado registros, é inegável a semelhança entre a piadina – originária da região italiana da Emília-Romagna – e a pizza.

Para acompanhar uma garrafa de vinho e engatar um bate-papo sem hora para terminar, numa noite friazinha como a de hoje, ela vai muito bem.

Vianna. Rua Cristiano Viana, 315, Pinheiros, tel. (11) 3082-8228.

Festa nas vilas

Nestes primeiros dias de abril, dois dos botequins mais bacanas de São Paulo, um na Vila Madalena e outro na Vila Mariana, estão em festa.

Parece que o apito inicial foi dado ontem, mas já faz dez anos que o São Cristóvão abriu pela primeira vez ao público seu salão forrado de fotos de jogadores e flâmulas de times de futebol.

Definir o São Cristóvão sem fugir do clichê de “templo” é, com o perdão do cacófato, perda de tempo. Toda vez que me aproximo daquelas centenas de quadrinhos, fotos, faixas e recortes de jornal que têm como tema esse assunto seriíssimo e devocional que é o futebol, sinto-me como se estivesse chegando a uma capela ou igrejinha barroca de Sabará, Mariana ou de alguma outra cidade histórica mineira, com sua sala de ex-votos repleta de imagens e recados de agradecimento por milagres alcançados.

O São Cristovão é sim um lugar que emociona a quem gosta de futebol e que por consequência faz o sinal da cruz quando seu time entra em campo para disputar um jogo importante. Lembro-me do dia que levei um amigo inglês para tomar dois chopinhos (R$ 4,40) ali, um fanático torcedor do Queens Park Rangers (o ‘QPR’), e de quão embasbacado ficou ao ver a fotinho do grande goleiro Gordon Banks, que fez a célebre defesa para a cabeçada de Pelé na Copa de 70.

Para comemorar seus dez anos, o bar promove de sábado (3) a sexta-feira (9) uma semana especial. No primeiro dia, um escrete de cartunistas capitaneado por Paulo Caruso expõe caricaturas de ídolos como Pedro Rocha, Dicá e outros boleiros inesquecíveis. Sensacional!

Nos outros dias há de tudo um pouco, mas na quarta, dia de secar o Flamengo na Libertadores, a TV do bar vai mostrar a partida do rubro-negro contra o Universidad de Chile. Quem estiver ali ganha uma rodada de bolinho de bacalhau e vinho do Porto – uma cortesia do proprietário do bar, que é vascaíno.

Na Vila Mariana, por sua vez, vai só até este domingo (4, o de Páscoa) o festival de mojitos que celebra os cinco primeiros anos do palmeirense Veloso. O grande Souza, dono de títulos e mais títulos de coquetelaria, está preparado versões diferentonas do drique, com frutas como maracujá, tangerina e carambola. Cada uma deles custa 17 reais.

Longa vida ao Veloso e ao São Cristóvão!

E Feliz Páscoa a todos.

São Cristóvão. Rua Aspicuelta, 533, Vila Madalena, tel. (11) 3097-9904.

Veloso. Rua Conceição Veloso, 56, Vila Mariana, tel. (11) 5572-0254.