Dois dias e 211 anos nos bares do Sul

Bar Naval, em Porto Alegre/ Foto: Miguel Icassatti

No intervalo de uma semana, oito dias para ser mais exato, estive nas duas maiores cidades da região Sul e pude conhecer dois bares que, juntos, somam 211 anos de idade.

O Naval, o caçula deles, foi inaugurado em 1907 no Mercado Público de Porto Alegre. Sou velho conhecido do mercado pois, sempre que me sobra um tempinho nas breves visitas que faço à capital do Rio Grande, passo pelo Empório 38 e trago na bagagem algumas garrafas de vinho produzido no Vale dos Vinhedos, por pequenos vitivinicultores.

Uma vez mais fui tentado a almoçar no Gambrinus mas como já estava de mala e cuia e a caminho do aeroporto para voltar a São Paulo, decidi aproveitar a chance e pousar nesse outro ponto centenário do local, que ainda não havia conhecido.

Ok, se a idéia for comparar um e outro, Gambrinus e Naval, diria que o primeiro ainda é o meu bar preferido na cidade. Por mais que a ambientação não seja mais 100% original, estão lá, com seus 122 anos de idade, os lustres, o mobiliário de madeira e algumas peças de decoração que têm lá seu charme. Se a gente for falar de chope, ambos se equiparam. Na variedade e na qualidade do cardápio, porém, mais uma vez o Gambrinus se destaca. Só de lembrar da costela ao molho que comi ali, putz, começo a salivar.

A austeríssima e autêntica decoração, com azulejos dos tempos em que foi aberto, marcam o Naval, que tem uma cara mais assim de pé sujo. A porta que dá para a rua, entreaberta, deixa passar uma luminosidade que não chega a dominar todo o ambiente mas que provoca um interessante jogo de luz e sombra sobre o balcão gasto, o piso de cerâmica, a chopeira e as fotos de Carlos Gardel, Francisco Alves, Lupcínio Rodrigues e outros dinossauros presas na parede.

Para acompanhar o chopinho, optei por triviais salgados, clássicos da boemia: bolinho de bacalhau e bolinho de batata recheado com carne (R$ 4,00 cada um). Fossem fritos na hora e não tão massudos, certamente eu teria saído de lá mais feliz.

Na semana seguinte baixei em Curitiba. Como o hotel em que me hospedei ficava a próximo ao centro da cidade, preferi encarar a caminhada de pouco mais de um quilômetro até a Praça Osório, para almoçar no Stuart.

Em funcionamento desde 1904, esse bar de nome britânico preserva pouco, lamentavelmente, do que deve ter sido sua arquitetura original. No que restou, felizmente a disposição das mesas parece ter sido mantida. A despeito da marca que a capital paranaense ostenta – a de ser a mais fria do Brasil –, algumas mesas ficam coladas aos janelões de vidro, todos eles abertos, escancarados quase até o chão. Convém não dar sopa para trombadinhas, é verdade, mas não deixa de ser muito legal fica por ali a observar as árvores e  o vaivém dos pedestres pela Praça Osório, em companhia de um chopinho.

Foi o que fiz. Na mesa ao lado, um senhor de seus 80 anos  lia tranquilamente o jornal. Três incautos adentraram o salão e ao perguntarem sobre o que havia para ao almoço, foram informados de que a casa prepara apenas aperitivos. Deram meia volta e se foram.

Nem cinco minutos após ter feito meu pedido, chegou à mesa o sanduíche de pernil “com verde completo” (R$ 9,50), ou seja, com um molho de verduras e queijo. À parte veio uma espécie de molho chimichurri. O lanche estava bem gostoso, com tempero na medida, e sem aquele recheio exagerado e dispensável dos sandubas que temos aqui no Mercadão paulistano.

Ainda no Stuart, vi que um costume de outros tempos, e que ainda é comum em bares da Europa, se mantém: o próprio garçom é quem fecha a conta para o freguês e cobra pela conta. Ele tira do bolso sua caderneta, faz a soma “de cabeça”, informa o valor, o cliente paga, ele tira do bolso o bolo de notas e dá o troco, se for o caso.

Simples e rápido. Certas coisas não deveriam ter mudado, né?

Empório 38. Mercado Público (Largo Glênio Peres, s/nº), centro, tel. (51) 3224-4548.

Gambrinus. Mercado Público, tel. (51)3226-6914.

Naval. Mercado Público, lojas 91 e 93, centro, tel. 3286-3423.

Stuart. Praça Osório, 427, centro, Curitiba, tel. (41) 3323-5504.

E o começo de ano segue movimentado

Estes primeiros dias de janeiro estão bem parecidos com os últimos do ano passado, ao menos quando me refiro ao ritmo em que tenho ido a bares, restaurantes, baladinhas.

Na sexta, por exemplo, juntamo-nos em três casais para jantar no Zena Caffè. Diria que hoje este é um dos meus best buy na cidade, por sua localização, astral, preços e cardápio.

Ainda que a casa tenha cobrado R$ 160,00 de taxa de rolha pelas quatro garrafas que levamos, o jantar saiu a mais ou menos R$ 150,00 por pessoa, incluindo águas, estacionamento e serviço – acredite, em plena região dos Jardins, é possível também conseguir parar o carro na rua.

Zena/ Foto: divulgação

 

Enquanto aguardávamos por uma mesa, brindamos o encontro com uma garrafa de Moët & Chandon. À mesa, logo pedimos duas porções da focaccia da casa, assada no forno a lenha, com massa bem fina e recheio de stracchino, um queijo branco típico da lombardia, norte da Itália.

Está em grandes opções de entrada disponíveis na cidade.

Para acompanhar, abrimos uma garrafa do premiado Sassoaloro 2006 (importadora: Mistral), um dos grandes tintos da Toscana. Delicioso, certamente estaria melhor se resolvêssemos abri-lo daqui a um ou dois anos.

Como prato principal, houve quem pedisse o trenette ao pesto, uma espécie de espaguete e entre as especialidades da casa, outros pediram nhoque com molho de tomate com fonduta de stracchino (ótimo!). Eu fui de filé a milanesa com purê de batata. Não me arrependi.

Entre os vinhos, na sequência degustamos, decantados, o espanhol Castillo Perelada 3 Fincas Crianza 2007 (importadora: Zahil). Produzido na região espanhola da Catalunha – leva a denominação de origem Empordà – está entre o rótulos que considero de boa relação entre preço e qualidade. A quem não conhece, sugiro: compre duas garrafas, abra uma agora e guarde a outra para o futuro.

Por fim, bebemos um Palácio da Bacalhôa (importadora: Portuscale), português da região do Sado. Um grande vinho, sem dúvida, mas cuja potência recomenda que seja mantido em adega por uns bons anos.

No sábado, depois do cinema – recomendo muitíssimo Além da Vida, o novo dirigido por Clint Eastwood –, como quase sempre, encerrei a noite no Frevo.

Desta vez resolvi provar um cheese búrguer, pelo que me arrependi. Não estava ruim mas estava longe dos bons feitos na cidade. Senti-me como se estivesse em uma pizzaria e tivesse acabado de pedir um filé. Moral da história: Frevo é igual a beirute.

Frevo/ Foto: Mario Rodrigues

 

Ontem à noite a chuva me segurou por um bom tempo no Exquisito!, onde fui cumprimentar uma amiga que fez aniversário. Os R$ 6,00 pagos por cada uma das long necks de Bohemia me fizeram ter uma saudade danada de São Miguel do Gostoso (leia post abaixo), onde a garrafa de 600 mililitros custa R$ 4,00. E mesmo com meia casa cheia, o atendimento estava lento demais.

E hoje? Futebol com a galera da Abril.

Exquisito!. Rua Bela Cintra, 532, Consolação, tel. 3151-4530, www.exquisito.com.br

Frevo. Rua Augusta, 1563, Cerqueira César, tel. 3284-7622, www.frevinho.com.br

Zena Caffè. Rua Peixoto Gomide, 1901, Jardim Paulista, tel. 3081-2158, http://www.zenacaffe.com.br

Um breve balanço da primeira semana de 2011

Le Jazz / Foto: Cida Souza

Aos poucos, os bares e restaurantes da cidade vão retomando suas atividades após a merecida pausa de fim de ano. De quarta à noite ao almoço de hoje, passei por três lugares. Aqui vão minhas primeiras impressões gastronômicas de 2011:

Seu Domingos (Rua Fidalga, 289, Vila Madalena), quarta-feira à noite: este bar, inaugurado no finzinho de 2010, pertence ao empresário Flavio Pires, que legou à Vila Madalena endereços lendários como o Santa Casa e o Quitandinha, que passa por bom momento. Já a nova casa, aberta na esquina das ruas Fidalga e Aspicuelta, ainda não decolou. Tomei algumas garrafas de Serramalte (R$ 7,00) e provei proções absolutamente triviais, como a dos massudos bolinhos de arroz com gorgonzola e a de linguiça na chapa.

Così (Rua Barão de Tatuí, 302, Santa Cecília, http://www.restaurantecosi.com.br), jantar de quinta-feira: coincidentemente, decidi passar por lá justamente no dia em que o restaurante estava reabrindo. Notei que os preços subiram, em comparação com a visita mais recente, se não me engano em outubro. O polpettone está melhor do que antes. Já o agnolotti de cordeiro pareceu-me pesado demais. Ainda hoje pela manhã eu conversava com o prato.

Le Jazz (Rua dos Pinheiros, 254, Pinheiros, http://www.lejazz.com.br), almoço de hoje: salão incrivelmente cheio na primeira sexta-feira do ano – ainda bem que meu amigo havia feito reserva. Cheguei ávido para provar a porção de moulles et frites (mexilhão com batata frita), mas o garçom disse que só estaria disponível para o jantar. Tudo bem, a bisteca de porco com molho de cogumelos, brócolis e purê de batata recompensou.

E hoje à noite, o que vai ser?

Algumas delícias de Gostoso

Tourinhos. Foto: Ylton Amaral

 

Fico muito, mas muito feliz mesmo, quando consigo cumprir 100% de uma meta a que me propus.

Na noite de 25 de dezembro – quando embarquei em Guarulhos com destino a Natal, uma hora de atraso, o que nem foi muita coisa diante do que se tem visto até o dia de hoje nos aeroportos –, meu desafio era o de passar os sete dias seguintes sem calçar nenhum par de sapato ou de tênis.

Meus pés deveriam aceitar apenas 1. o par de Havaianas comprado em novembro no Hiper do Itaigara, em Salvador, a 14 reais; 2. a sandália de couro e sola de pneu de caminhão (30 reais numa lojinha no centro de Porto Seguro, adquirida em agosto); e 3. a areia quente das praias de São Miguel do Gostoso, no litoral norte potiguar, o destino que escolhi para passar aqueles dias pré e pós o réveillon.

A querida, ensolarada e bela Natal que me desculpe, mas desta vez nem sequer cogitei passar por sua Via Costeira. Duas horas depois de desembarcar no aeroporto Augusto Severo eu chegava são e salvo, às 4 da manhã, à Pousada das Caravelas, em Gostoso, graças ao transfer que o Wladimir, meu anfitrião naqueles dias, havia providenciado.

O turismo em São Miguel ainda é incipiente e as praias estendem-se por quilômetros e quilômetros, razões pelas quais, imagino, fiquei com a impressão de que a cidade estava um tanto quanto vazia. A única fila que peguei foi na casa lotérica em frente à igrejinha, no dia 31, quando pensei em fazer uma fezinha na Mega-Sena da Virada.

Mentalize a praia dos seus sonhos. Muito provavelmente ela será parecida com Tourinhos: pequena, quase deserta, mar calmo, uma enseadinha, areia fofa e pôr-do-sol divino. Aos domingos, me contaram, fica cheinha.

Xêpa, Maceió e Cardeiro,  na região central, formam uma só faixa de areia e se unem à Ponta do Santo Cristo, onde bati ponto e retomei o windurfe depois de mais de ano. Na Dr. Wind, misto de escola e clube de kite e windsurfe, pousada e bar de praia localizada na Ponta do Santo Cristo, passei a maioria dos dias a beber uma cervejinha e uma água de coco. Comi também sandubas sarados montados no pão de hambúrguer, como o de atum com abacaxi e salada.

Fiquei surpreso, aliás, com a qualidade de alguns lugares em que comi e bebi, embora tenha me decepcionado com a fraca oferta de bons peixes e frutos do mar na região. Destaco, sobretudo, os seguintes:

Casa da Laura (Ponta de Santo Cristo): descobri esse lugar po acaso, quando tentava encontrar a casa de umas italianas que alugam bicicletas.  Donos de um bed&breakfast no Lago de Como, na Itália, Giorgio e Laura estabeleceram-se em São Miguel em 2008. No arborizado e bem cuidado quintal de sua própria residência, eles atendem no máximo a 24 pessoas por noite e nas noites em que decidem abrir o portão. Cobram 20 reais pelo menu fixo, que pode incluir uma bem-feitíssima brischetta, nhoque com ragú, musse de maracaujá e uma caipirinha.

Hibiscus (Rua das Ostras, centro): é o mais ajeitadinho da cidade, com decoração naquele estilo rústico-chique-praieiro. Leves, os mini-acarajés valem como entrada (cuidado com a pimenta!). Com uma apresentação moderninha demais – uma ilha de arroz no centro do prato cercada de três ou quatro pedaços de peixe e três ou quatro camarões -, a moqueca me decepcionou. A caipirinha de mexerica com gengibre, porém, é das boas.

Pizzaria Quintal (Rua Praia da Xêpa): num enorme terreiro, a poucos metros da praia, a casa assa pizzas de massa fina em forno à lenha. A da casa é a que vale a pena: vem coberta por queijo de coalho picado. E ainda dá pra ver o céu estrelado.

Urca do Tubarão (RN 221, 7 km, Praia de São José): por si só é uma atração turística e merece um dia inteirinho de atenção. Num sítio que fica às margens da estrada que liga a BR-101 a São Miguel, quase à beira-mar, o figuraça Edson Nobre e sua mulher Lila, ex-professores, servem pratos regionais em porções para duas pessoas. Carne de sol com nata é a pedida. Antes de refeição, deixe-se ser conduzido pelo anfitrião até a cachaçaria, onde ele mostrará objetos antigos que compõem a pitoresca decoração e servirá uma dose da cachaça que engarrafa ali mesmo. Por 10 reais, traga na mala uma garrafa da que envelhece em barris de freijó.

Urca do Tubarão/ Foto: Camila Veras Mota

 

O melhor de tudo é que meu All-Star não fez a menor falta mesmo.