O dia em que Roberto Carlos foi porta-estandarte

Neste fim de semana, em meio a diversos blocos de carnaval que saem às ruas de São Paulo – estará em curso uma retomada do carnaval de rua? – para as prévias momescas, um ilustre visitante desembarca do Rio de Janeiro e dá as caras no bairro de Pinheiros.

Ciceroneado pelo compositor Moacyr Luz, o bloco Exalta Rei se apresenta a partir da 1 da tarde de sábado no Pirajá.

O bloco desfilou pela primeira vez no carnaval carioca de 2009, pelas ruas do fantástico bairro da Urca, que tem como o mais famoso morador o cantor Roberto Carlos – e este blogueiro estava lá.

Folia com ie-ie-iê na Urca

No repertório do grupo havia apenas canções  do “Rei”, tocadas em ritmo de marchinha, samba e funk, caso das versões de Amigo e Todos Estão Surdos, por exemplo.

Como virou praxe entre os blocos mais concorridos, naquele carnaval o Exalta Rei havia anunciado que desfilaria a partir das 6 da tarde da segunda-feira de carnaval. Mentira. Fez a concentração bem mais cedo, ao lado do bar Garota da Urca, e por volta de umas 3 ou 4 da tarde saiu pelas ruas do bairro – nada como ser insider, hehe.

Disciplinados como numa procissão, os foliões seguiram os músicos pela rua que beira aquele pedacinho da Baía de Guanabara e fizeram uma parada diante do prédio em que o camarada de Erasmo. Lembro da comoção que tomou conta do cordão ao ver uma discreta movimentação na sacada do apê de Roberto. Lá do alto apareceu na mureta uma funcionária, depois outra. De repente, ninguém mais. Até que Ele, Ele Mesmo, vestido de camiseta azul-clara e com aqueles indefectíveis mullets grisalhos – que um amigo definiu como franjas nas costas – deu o ar da graça.

O Rei, no alto de sua majestosa cobertura

Imagine, leitor, o que foi aquele momento. O “Rei” Ficou ali por algum tempo e se recolheu para o que seria o ápice daquela tarde ensolarada: desceu até o mezanino do edifício, deu uma sambadinha e ainda empunhou o estandarte do bloco, para delírio da galera. Realmente inesquecível.

A sambadinha real

Já por volta das 6 da tarde, caminhando para fora da Urca, em direção ao Leme, onde eu e meus amigos pretendíamos comer no Cervantes – que estava fechado, o que no obrigou a seguir de táxi até o Bar Lagoa -, cruzamos com algumas garotas no sentido contrário. Queriam saber onde era a concentração do Exalta Rei. Dei uma de estraga-prazeres e falei: “olha, com sorte vocês pegam o finalzinho do bloco”.

A prova do crime

Pelo que consta, Roberto ainda não confirmou presença no grito de carnaval do Pirajá. Mas o bloco-revelação do carnaval 2009 há de reverenciá-lo, assim como a outras majestades, como Michael Jackson, Luis Gonzaga, Elvis Presley e Ray Charles.

O blog estará lá.

Pirajá. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 64, Pinheiros, tel. 3815-6881, http://www.piraja.com.br.

Pré-carnaval na Pompeia, de bar em bar

Foto: divulgação

Neste sábado (19), o bloco carnavalesco Passaram a Mão na Pompeia desfila pelas ruas do bairro.

Como nos quatro anos anteriores, ao som de marchinhas e sambas-enredo, os foliões e convidados fazem o esquenta no Santa Zoé e seguem rua abaixo em direção a outros bares da região: Valge Lanches, Mercearia do Francês, Botequim, Velho Rabo e Desembargador Bar.

A novidade desta edição é a parada no Centro Cultural da Pompeia (Rua Ministro Ferreira Alves, 305), onde a cervejaria Bamberg, de Votorantim, interior do estado, vai servir o mesmo chope vendido na loja Bamberg Express (Rua Cayowaá, 573, Perdizes).

A concentração começa ao meio-dia mas, dica do blog, é legal chegar por volta das 2 da tarde. Até lá!

Santa Zoé. Rua Cotoxó, 522, Pompeia.

Brasília é legal. O Universal Diner também

Universal Diner (Foto: Ana Araujo)

Até conhecer Brasília – o que ocorreu há doze anos, nos meus tempos de repórter da PLAYBOY – eu ficava imaginando como seria essa cidade, que brotou do Cerrado ao longo dos cinco anos da era JK.

Seria possível, da janelinha do avião, notar com clareza a simetria das duas asas abertas, a Norte e a Sul, e o Eixo Monumental, que formam o Plano Piloto? Seria verdade que não haveria esquinas na capital do país? Eu encontraria senadores, deputados e políticos em geral a cada quadra?

Bom, transcorrido todo esse tempo voltei a Brasília umas cinco ou seis vezes, a mais recente delas na semana passada. Em outros anos passei alguns apuros com o calor absurdo e a qualidade do ar – para um alérgico como eu não há coisa pior do que umidade e secura extremas, secura que é uma característica brasiliense. Desta vez, porém, surpreendi-me ao constatar que em São Paulo os dias têm estado mais quentes do que lá e o ar, menos respirável.

Políticos, a bem da verdade, só os vi quando fiz um rápido tour pela Câmara e o Senado, em 2009, e nos eventos de premiação de VEJA BRASÍLIA “Comer & Beber”. Quando estive no Palácio do Planalto em 2008, ciceroneado pelo amigo Ivan Marsiglia, que trabalhava na área de comunicação do Governo Federal, fui até a famosa “antesala da Presidência” e o gabinete da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas ela não estava lá.

Esse papo de que não há esquinas em Brasília é conversa fiada. Para mim, esquina e cruzamento são a mesmíssima coisa.

O fato é que cada vez que estou em Brasília descubro algo de bacana. Os palácios que só via pela TV, os traços de Oscar Niemeyer crescendo para todo lado, os amigos, os prédios não tão altos e que não tampam o horizonte, os bares e os restaurantes, como foi o caso do Universal Diner, onde jantei na quinta-feira da semana passada.

O Universal Diner é um do três empreedimentos de Mara Alcamin, eleita a chef do ano da edição VEJA BRASÍLIA “Comer & Beber” em 2007 e 2008. Fica ao lado do Zuu a.Z. d.Z. e na mesma quadra do Quitinete, que é um empório.

Mara Alcamin, na cozinha da casa (Foto: Ana Araujo)

Se considerarmos que o Universal Diner foi aberto em 1997, não seria exagero dizer que é também o pioneiro no gênero “dinning club” no Brasil. Hoje espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades, os dinning clubs são uma mistura arriscada de restaurante e casa noturna.

Mara Alcamin correu esse risco e passou no duplo teste de servir comida decente e criar um espaço megadescontraído. Os diversos ambientes, inclusive o mezanino, têm decoração kitsch, com objetos coloridos, móbiles, armários de cozinha e árvores no meio do salão dos fundos, que tem iluminação baixíssima e fachada envidraçada, com vista para a entrequadra arborizada.

O som, sempre em volume mais alto no ambiente da frente, passa por Sidney Magal, Jorge Benjor e Roberto Carlos. Vê-se que o público compõe-se de tudo um pouco: turmas de jovens, periguetes, executivos, forasteiros, gays.

No cardápio – cujos preços não são nada baratos – há pratos com a marca da chef Mara: a ousadia na mistura de ingredientes. Saí de lá satisfetíssimo após provar os cubos de filé de frango com molho de limão-siciliano guarnecidos de risoto de chutney de banana (R$ 49,00). Os pasteizinhos de queijo de coalho que pedi na entrada estavam oleosos, seriam dispensáveis.

O serviço, embora simpático, poderia ser mais rápido, ainda que para isso tivesse de deixar para lá a bobagem do “Voi la…

Ainda assim, saí dali com a vontade de voltar.

E quanto a ver o Plano Piloto, de uma ponta à outra, lá do alto, continuo na expectativa. Quem sabe um dia, com céu limpo, e a caminho do Norte?

Universal Diner. 210 Sul, bloco B, loja 30, tel. (61) 3443-2089, http://www.universaldiner.com.br.

Recife e Olinda

Boa Viagem/ Foto: divulgação

Voltar a Pernambuco é sempre uma bênção – no verão e a poucas semanas do carnaval é ainda melhor. Os blocos mais tradicionais de Recife e da vizinha Olinda, como o das Virgens, começam a realizar as suas prévias, festas que tomam conta das ladeiras e ruas das duas cidades.

Ainda que eu tenha passado apenas duas noites em Recife, pude conferir o novo point na orla de Boa Viagem. A faixa de areia em frente ao Edifício Acaiaca, na altura do número 3500 continua sendo o “Posto 9” local, agitada e sempre cheia nos fins de semana. Cheia até demais, para falar a verdade. Não é à toa que neste verão os mais descolados recolheram as cadeiras de praia e o guarda-sol e decidiram marcar presença algumas centenas de metros mais adiante, em direção ao Pina, onde um barraqueiro esperto teve a ideia de estender um tapete vermelho do calçadão à areia, a fim de receber seus clientes.

Trata-se da Barraca do Pezão, que fica num trecho com poucos arrecifes, portanto, ideal para um mergulho naquele mar sempre verde e quente. Sob o guarda-sol, ele entrega ao cliente-banhista caipiroscas feitas com vodca Absolut e, comodidade impensável, aceita pagamentos com cartão de crédito. Diria, sem medo de errar, que ali está o novo Acaiaca.

Pude também voltar a Olinda, ainda que por meia tarde. Para quem é forasteiro e já passou alguns carnavais subindo e descendo suas ladeiras de paralelepípedo – no meu caso, foram três, em 1997, 2000 e 2010 – torna-se obrigatório visitar a cidade em um período que não seja o da folia.

Dois dos melhores representanets da gastronomia local estão localizados na cidade, o Oficina do Sabor e o Maison do Bomfim, onde almocei desta vez, embora tenham lugar cativo na minha memória a caipirinha de seriguela e os jerimuns recheados, ora por camarão, ora por carne de sol, do primeiro.

Como o Oficina, o Maison do Bomfim também ocupa um casarão no centro histórico. Sua cozinha está a cargo do franco-ganense Jeff Colas, que transformou um antigo albergue da juventude nesse restaurante especializado em culinária francesa. Pedi uma das opções de camarão, que veio grelhado com ervas-finas e, para a sobremesa, o crepe suzette.

Para acompanhar a refeição, meia-garrafa do Casa Valduga Chardonnay, produzido no Vale dos Vinhedos (RS). Aqui coube um comentário com a garçonete sobre a carta de vinhos, que trazia rótulo chilenos, argentinos e franceses. Uma vez que o Vale do São Francisco está próximo dali, por que não oferecer opções de brancos, espumantes e mesmo do shiraz que são elaborados ali? Em geral são bebidas leves, perfeitamente coerentes para ser apreciadas no eterno calor nordestino.

Para fazer a digestão, caminhei pela cidade, passei pela Rua do Amparo, os Quatro Cantos – o epicentro do carnaval –, desci a Prudente de Moraes. Somente ao entrar na fabulosa Basílica de São Bento (1582) é que percebi que estava a cantarolar o célebre hino dos Elefantes de Olinda: “Olinda, quero cantar/ a ti esta canção/ Teus coqueirais…”

Barraca do Pezão. Praia de Boa Viagem, altura do número 2000, Recife.

Maison do Bomfim. Rua do Bonfim, 115, carmo, Olinda, tel. (81) 3429-1674.