Cheguei a Montevidéu no fim da tarde de quinta-feira (23), o dia seguinte à derrota do Peñarol para o Santos, que, agora, como o São Paulo, pode bater no peito e dizer que é tricampeão da Libertadores.
A manchete dos jornais uruguaios, mais do que lamentar a perda do jogo e do título, destacava a luta, a raça e o orgulho de ver o mais tradicional e vencedor time local novamente entre os melhores do continente. Na saída do aeroporto, vi algo que seria inconcebível por aqui: um ambulante vendia pôsteres com a foto dos vice-campeões da América.
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Nesse dia e nos seguintes, a final da Libertadores seria o assunto principal das conversas sobretudo entre os locais e os turistas brasileiros. Mas eu estava interessado, na verdade, em outro assunto: as parrillas, tema que acirra rivalidades entre uruguaios e argentinos.
Em qual das duas cidades está a melhor? Montevidéu ou Buenos Aires? Como seguiria também para a Argentina, resolvi fazer um tira-teima.
Em Montevidéu, comecei por uma das bancas de parrilla do Mercado del Puerto, lamentavelmente não pelo famoso El Palenque, que estava já fechando, mas pela La Chacra, a única no mercado que àquela hora, 5 da tarde mais ou menos, não tinha cadeiras já viradas sobre as mesas nem garçons varrendo o salão.

Mercado del Puerto, Montevidéu
Sentei-me no balcão da casa, que fica bem no meio do mercado. Ali devorei dois meganacos de asado de tira (costela bovina), precedidos por uma apimentada salsicha parrillera (linguiça). Assada ao ponto, a carne tinha um quase nada de sal, como manda a tradição local. Compensei o sal com o excesso sobre as batatas fritas e com o molho chimichurri. O mais legal foi constatar que as boas churrasqueiras urtuguaias são alimentadas por lenha e não por carvão. Veredicto: bom.
Na sexta, após umas comprinhas no Shopping de Punta Carretas, jantei no La Perdiz. Com astral de pub, esse restaurante reúne casais, turmas e turistas, que são servidos por garçons jovens e solícitos. Após uma espera de 10 minutos no balcão, o tempo de desenrolhar uma garrafa de vinho, conseghui uma mesa defronte à churrasqueira. Camila pediu um badejo a la plancha (na churrasqueira) e eu fiquei com um bife ancho acompanhado de purê de batatas. Veredicto: muito bom.
Depois de uma tarde de friaca e ventos na lindinha Colônia de Sacramento, cidade às margens do Rio da Prata, uma mistura de Parati com o Quadrado, de Trancoso, desembarcamos do buquebus em Buenos Aires pontualmente às 21h30. Na capital argentina também só se falava de futebol, no caso, sobre o provável rebaixamento do River Plate à segunda divisão local, um absurdo tão grande como aquele que acometeu o Corinthians. Como essa foi minha quarta visita à cidade, posso dizer que já começo a me sentir um portenho, até por que eu tenho ascendência argentina: Leopoldo Icassatti, meu tataravô, era um hermano.
Não tive muita dificuldade para encontrar o Don Julio, restaurante típico que fica em Palermo Viejo. O melhor é que, como hospedamo-nos em Palermo – o que poucos brasileiros fazem, mesmo depois de consolidada nossa invasão a cada inverno -, seguimos a pé para lá.
Por volta das 23h, o restaurante tinha bom público – pegamos a última mesa disponível. Notei que a clientela compunha-se de grupos de casais jovens, famílias e alguns poucos turistas gringos. Camila pediu por um bife de chorizo, meia-porção, o que sigifica muita carne para uma mulher só. Eu esperei ansiosamente por meu vacio (fraldinha). Não sei se é um reflexo da preferência da maior parte dos brasileiros, mas achei que o carne tinha passado do ponto – e olhe que pedi que viesse ao ponto, já sabendo que o “ao ponto” dos portenhos corresponde ao nosso “mal passado”. Veredicto: bom.
Para o almoço de domingo, reservei tempo e paciência para conhecer o La Brigada, em San Telmo, famosa e turística parrilla. Na opinião do meu amigo Jorge Carrara, argentino e crítico de vinhos da revista “Prazeres da Mesa”, ali estaria a melhor carne de Buenos Aires.
Antes de falarmos da carne, convém dizer que o restaurante merece uma visita simplesmente por estar em Santelmo, por ser um ponto turístico e por causa da decoração, repleta de flâmulas, fotos e faixas de clubes de futebol do mundo inteiro. O astral tem assim uma pegada do paulistano Família Mancini. e o turista corre o risco até de cruzar com Lionel Messi, quando ele está pela cidade.
Para variar, quis provar o asado de tira especial e Camila ficou com o ojo de bife, ambas boas pedidas. O ojo de bife devia ter uns 10 centímetros de altura. Saboroso, estava muito macio. O asado especial foi o melhor corte que degustei na viagem, mas não foi a melhor carne que provei por lá, embora tivesse notado que o garçom cortou a carne com a colher, de tão macia que estava. Veredicto: Muito bom.
Como me propus a desempatar essa versão do clássico do Rio da Prata por meio da parrilla, tive de recorrer à memória. De modo que dou a vitória a Buenos Aires. Não esqueço do asado de tira que encarei há exatamente um ano, no La Cabrera, em companhia dos amigos Krueger, Badá e Ed. Ponto perfeito, ótimos acompanhamentos, tempero impecável. Veredicto: sensacional.

La Cabrera, em Buenos Aires
Don Julio. Calle Guatemala, 4691, Palermo Viejo, Buenos Aires.
La Brigada. Calle Estados Unidos, 465, San Telmo, Buenos Aires, Argentina.
La Cabrera. Calle Jose Cabrera, 5099, Palermo Viejo, Buenos Aires, Argentina.
La Chacra. Mercado del Puerto, Ciudad Vieja, Montevidéu.
La Perdiz. Calle Guipúzcoa, 350, Punta Carretas, Montevidéu.