Os melhores frangos são os que sobem a serra

Para um folião um tanto hiperativo quanto eu, é até duro constatar: este carnaval foi dos mais tranquilos.

Eu, que já me perdi pelos blocos de Olinda, Rio de Janeiro, Ouro Preto e Recife em carnavais passados, desta vez optei pelo sossego da Serra Gaúcha. Passei duas noites entre Gramado e Canela. Fiquei surpreso com as altíssimas temperaturas (desembarquei em Porto Alegre com 38 graus na cachola; no alto da serra os termômetros bateram os 33 graus) e impressionado com a estrutura turística da região.

Canela foi uma gratíssima surpresa. Como não tive muito tempo para desfrutar da cidade, saí de São Paulo decidido a fazer duas coisas, apenas. Assim, dei uma volta pelo Parque do Caracol, cuja atração máxima é a cascata homônima, com 131 metros de altura. A vista para aquele véu, a partir do mirante, hipnotiza. Dali parti para o Parque da Cachoeira, aonde se chega após encarar 10 quilômetros de uma estrada de cascalho. Bem menores, com cerca de 20 metros de altura, talvez, as quatro quedas d’água formada pelo Rio Cará do parque formam piscinas naturais, a principal delas com 8 metros de profundidade. Uma delícia ter mergulhado ali.

Gramado, por sua vez, é definitivamente uma das cidades brasileiras mais preparadas para o turismo: há parques, museus, shows, lojas, restaurantes, cáfés, atividades, enfim, capazes de manter famílias entretidas por uma semana, pelo menos – e sem repetir qualquer item da programação. Opções de hospedagem também não faltam, pois existem pousadas simples mas charmosas, hotéis luxuosos e até mesmo casas e apartamentos para aluguel por temporada.

Confesso que esperava uma pouco da mais da gastronomia. No inverno, ok, deve ser uma delícia encarar uma daquelas sequências de fondues que muitos restaurantes oferecem. Mas no verão, convenhamos, é uma tarefa difícil. Da mesma forma, há um exagero de restaurantes especializados em rodízio de massas. Uma pastisceria ou uma trattoria, das boas, a cidade fica devendo. (Prometo voltar no inverno, ávido por um banquete de fondues)

Galeto al primo canto, da Casa di Paolo, em Gramado (RS)
Galeto al primo canto, da Casa di Paolo, em Gramado (RS) / Foto: Mario Rodrigues

Uma ótima exceção a essa regra, ainda bem, fica por conta de uma instituição gaúcha, no caso, uma galeteria. Na Casa di Paolo, que integra uma rede com restaurantes em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, é servido um impecável galeto italiano.

Convém dizer que esse tipo de estabelecimento se caracteriza pela fartura. O galeto al primo canto, ou seja, abatido ao primeiro canto, entre 25 e 30 dias de vida, é a estrela de uma refeição que costuma começar com sopa de capelete, salada de radicce (almeirão) com bacon, maionese, polenta e massas, como o espaguete e o tortei (recheda com abóbora).

Salão da galeteria Casa di Paolo, em Gramado (RS)

Um dos ambientes da Casa di Paolo, em Gramado (RS) / Foto: Marcelo Curia

A Casa di Paolo, pois, conjuga comilança com qualidade e sabor. E preza os ingredientes da terra. A começar pela bebida, o refrescante chope Rasen, fabricado em Gramado (R$ 4,80) à moda das cervejas mais secas e amargas do norte da Alemanha.  

A especialidade da casa, por sua vez, é precedida pela sopa de capelete e pelas duas opções de salada: a siciliana (com alface, rúcula, croûtons, tomate seco e parmesão) e a de fresquíssimas e verdejantes folhas de radicce com bacon crocante.

Em seguida, o garçom deposita à mesa, como que numa escolta ao galeto, uma bandeja contendo polenta brustolada (chapeada) e outra repleta de bolotas de queijo à dorê (bolotas mesmo, maiores que uma bolinha de pingue-pongue e menores que uma bola de tênis; logo, bolotas!).

Sua excelência o galeto, por sua vez, chega cortado em quatro pedaços, com a pele douradíssima e a carne úmida e bem temperada, com sal na medida e um leve destaque para a sálvia.

A essa altura poderão estar à sua frente, sobre a toalha branca, também o espaguete e/ou o tortei feitos ali mesmo, amarelíssimos, cobertos por um (tomate), dois (funghi), três (quatro queijos), quatro (alho e óleo) ou cinco (tomate seco) tipos de molho.

E para não dizer que não falei de doces, você escolhe: sagu com creme ou pudim de leite.

Eu fui de pudim.

Achou pouco? Pois saiba que nas galeterias pode-se repetir os pratos quantas vezes quiser. Por tudo isso, na Casa di Paolo cada comensal paga R$ 47,00 mais taxa de serviço.

E volta para casa rolando, satisfeitinho da silva.

 

 

Um alemão no bairro dos italianos

Prateleiras na Cervejaria do Alemão, na Mooca / Foto: Miguel Icassatti

 
Dias atrás os jornais noticiaram que após 1 ano e 8 meses foi registrado um homicídio na Mooca. Esse longo intervalo de paz faz do bairro um dos mais tranquilos da cidade. Disso, qualquer mooquenseestá cansado de saber. Se São Paulo fosse uma grande Mooca, já pensaram que beleza esta cidade não seria?
 
Pois, além do sossego, a Mooca nos oferece o sotaque, o Juventus (o clube), a Juventus (a casa de esfihas), os panetones da Di Cunto, as massas do Carlini (que tirou o Don do nome) e o Elídio Bar, entre outros refúgios gastronômicos.
 
Além desses grandes símbolos locais, as ruas de paralelepípedo, paralelas e transversais à artéria que é a Avenida Paes de Barros, revelam lugares menos badalados. E surpreendentemente bons, como a Cervejaria do Alemão, que conheci ontem a convite do meu amigo Walter Tommasi.
 
Para fazer par com o chope cremoso e bem tirado, de colarinho alto, ou para manter o fígado em ordem diante da boa oferta de cachaças, a lista de tira-gostos vai do frango à passarinho (bom, sequinho) com mandioca (sem sal) e do pernil temperado (bom, úmido e levemente adocicado) à costelinha de tambaqui ao filé à parmigiana aperitivo.
 
Inaugurado em 1996 numa esquina da Rua Madre de Deus, o botecão foi sedo decorado aos poucos, com a contribuição de fregueses, que passaram a presentear o anfitrião, o corintiano Hans Von Bier (se traduzido para a língua alemã, seu nome seria algo como “Hans da Cerveja!”). Por isso as paredes ostentam camisas do Juventus, da Portuguesa e do Corinthianas, com destaque para uma do já saudoso Dr. Sócrates.
 
Mas eu recomendo ao caro leitor uma corrida de olhos mais atenta às fotos do anfitrião expostas na parede. Em uma delas do início dos anos 80, tá lá ele abraçado com a Xuxa, num clique feito antes de ela assumir seu reinado.
 
Cervejaria do Alemão. Rua Madre de Deus, 325, Mooca, tel. (11) 2291-8960.
 
 
 
 
 

É carnaval na Pompeia

 

Bloco Passaram a Mão na Pompeia – desfile 2011/ Fotos: Vânia Mendonça/divulgação

 

Não sei quanto a você, mas na tarde deste sábado (4), faça chuva (quase certeza) ou sol (certeza), meu destino será a Rua Cotoxó e adjacências.

É que pelo terceiro ano seguido vou me juntar ao bloco carnavalesco Passaram a Mão na Pompeia, o mais família e low-profile da Zona Oeste paulistana. 

Neste sexto ano de desfile, o bloco vai se concentrar a partir do meio dia em frente ao bar Santa Zoé e sair em desfile pelas ruas pompeanas. (Cá entre nós, é uma boa chegar lá pelas 3 da tarde).

O trajeto inclui as ruas Ministro Ferreira Alves, Caraíbas e Desembargador do Vale, e paradas estratégicas nos bares Valge Lanches, Desembargador e no Centro Cultural Pompeia.

Este ano, os cerca de 800 foliões esperados vão entoar marchinhas e paródias que homenageiam Sócrates e Wilza Carla.

Vamos nessa?

Bloco Passaram a Mão na Pompeia. Concentração: Santa Zoé (Rua Cotoxó, 522, Pompeia). Sábado, 4 de fevereiro, meio-dia.