Uma breve volta ao mundo dos vinhos

Não tenho do que reclamar, até aqui, desta semana que termina fria e com trânsito mais pesado do que o normal.

No embalo da Expovinis, maior feira de vinhos do país, que aconteceu de terça a quinta-feira nos pavilhões da Expo Center Norte, outros eventos ligados à enogastronomia tomaram conta da cidade.

Além da Expovinis, tive a oportunidade de ir à apresentação de alguns rótulos da vinícola australiana Mitolo (importados pela Casa Flora) e ao evento que reuniu vários produtores da região italiana do Piemonte.

Da breve volta ao mundo feita em companhia dos meus copos, destaco os meus top 10, na ordem em que foram degustados, entre terça e quinta-feira:

1. Mitolo G.A.M. 2007

Mitolo G.A.M. / Foto: divulgação

Importado pela Casa Flora, este vinho leva apenas uvas shiraz. Além de ter alcançado 91 pontos na avaliação do crítico americano Robert Parker, foi eleito um dos dez melhores shiraz australianos de acordo com uma prova feita pela revista inglesa Decanter. Tem bom corpo, aroma terroso e de geleia de frutas e denota muita tipicidade. Custa cerca de R$ 180,00 e vale cada real investido.

2. Mitolo Serpico 2007

Produzido pela mesma Mitolo em vinhedos próximos aos do G.A.M., este vinho é 100% elaborado com uvas cabernet sauvignon. Uma ousadia, se pensarmos na tradição da vinícola (e do país) no trato com a shiraz. Minhas primeiras impressões aromáticas foram de notas herbáceas e compota de frutas. Na Casa Flora, sai por cerca R$ 220,00. É para comprar hoje e guardar pór uns bons anos.  

3. Domaine de La Mavette Gigondas Prestige 2007

 Foi um dos bons achados na Expovinis deste ano. A pequena vinícola do sul da região francesa do Rhône ainda não tem importador no Brasil. Dos 34 hectares de vinhas, apenas 8 estão na comuna de Gigondas. Ali é produzido esse vinho, composto de grenache (65%) e syrah (35%). Lembro-me dos aromas tostados e presença de madeira, que pede também uns aninhos de guarda na adega.

4. Cartuxa Reserva Tinto 2007

 É um clássico da rgião do Alentejo, em Portugal. Produzido pela Fundação Eugénio de Almeida nos arredores da bela cidade de Évora, tem como importadora para o Brasil a Adega Alentejana, certamente a que tem a maior oferta de vinhos lusitanos. Seu blend leva alicante bouschet, trincadeira, aragonês e alfrocheiro. Se for bebido em breve, deve passar por decantador. Vale a pena mantê-lo mais uns anos na adega.

5. Tour D’Artus 2009 Grand Cru 2009

Dos vinhos apresentados na Expovinis no estande de Saint Emillion, na região vinícola de Bordeaux, gostei bastante deste aqui. Os finos taninos da uva merlot já mostram algum equilíbrio, apesar da juventude do vinho. Acho que vai evoluir bastante na garrafa. Este pequeno produtor não tem importador no Brasil.

6. Malvira’ 2010 Roero Arneis

Para não dizerem que não falei de brancos, este aqui é um dos raros italianos brancos que já bebi e que são dignos de nota. Um pouco alcoólico além da conta, é produzido com a uva arneis, nas colinas da vila de Roero.

7. Elio Grasso Barolo 2005 Ginestra Casamate

Barolo Elio Grasso / Foto: Miguel Icassatti

 Um dos grandes Barolo, é importado pela Interfood. Ainda austero tanto no que refere aos aromas quanto ao paladar, bebê-lo nso dias de hoje seria quase um desperdício – é bom lembrar que o vinho está na faixa dos três dígitos… Eu guardaria na adega e abriria daqui a uns cinco anos.

8. Ciabot Nentin Domenico Clerico 2007

Outro grandissíssimo Barolo, uma outra safra ganhou 98 pontos do crítico Robert Parker. Produzido por Domenico Clerico (que tem vinhos importados no Brasil pela Vinci Vinhos), é muito jovem aindam as esbanja elegância. Para ocasiões especiais.

9. Paolo Scavino Barolo Bric Dël Fiasc 2007

Barolo Paolo Scavino 2007 / Foto: Miguel Icassatti

Outro vinhaço, que demostra boa tipicidade e elegância. As notas frutadas devem ficar mais equlibradas com o passar do tempo.

10. Barolo Vigna del Gris Conterno Fantino 2007

Uma das mais novas importadoras de vinho no Brasil, a Wine To Go representa o grande produtor Conterno Fantino. É um vinho ainda muito jovem, com tanino presente e que deve ser guardado por vários anos. Uma aposta, para quem tiver R$ 333,00 para investir em uma garrafa.

 

Minuto de silêncio para o Armando

Bar do Armando: símbolo manauara / Foto: Leo Feltran

 Se o Teatro Amazonas é o principal ponto turístico do centro de Manaus, o vizinho Bar do Armando terá sido o maior símbolo da boemia manauara em todos os tempos.

Quem já passou um fim de tarde, ou um fim de noite, ou as duas coisas, tomando uma cervejinha em uma das mesas de plástico dispostas sobre o calçadão ou o asfalto, há de concordar comigo. E há também de lamentar a morte de Armando Dias Soares, na terça-feira, 10 de abril, aos 77 anos, que foi quem transformou aquele imóvel simples e de fachada antiga num dos melhores botecos do país.

Armando não precisou pensar muito antes que isso viesse a acontecer. Nascido em Portugal, chegou ao norte do Brasil em 1952. Trabalhou em bares e teve uma banca de frutas no mercado público, até que, nos anos 70, passou a administrar a mercearia que o cunhado havia montado naquele ponto do Largo de São Sebastião, para o qual o belo Teatro Amazonas dá fundos.

 

Armando, avental azul e o pernil: inseparáveis / Foto: Cacau Mangabeira

 

Sempre vestindo avental azul, pouco tempo depois tomaria a decisão correta de mudar o foco do empreendimento ao ver chegar a concorrência das grandes redes de supermercados à cidade.

Manaus perdia uma quitanda mas imortalizava aquele endereço.

Nas três vezes em que estive ali, lembro-me de tê-lo visto administrar tudo sozinho: tomando conta do salão, checando os pedidos e preparando sanduíches de pernil no pão francês que locais e forasteiros, como eu, devorávamos com avidez enquanto víamos a vida passar.

Depois de três dias fechado por luto, o Bar do Armando foi reaberto. “Era o desejo dele, que continuássemos com seu legado”, disse-me o genro, Roberto Carvalho.

Bar do Armando. Rua 10 de Julho, 593, centro, Manaus, tel. (92) 3232-1195.

É sempre bom voltar no tempo e à Cantina Tempone

O badejo ao molho de camarão: recita dos bons tempos / Foto: Mário Rodrigues

 

Fazia quase cinco anos que eu não voltava à Cantina Tempone, no bairro do Pari. A última vez havia sido em julho ou agosto de 2007, quando incluí o restaurante em uma reportagem de capa para a Vejinha, intitulada “Treze Delícias do Pari”.

Almocei lá ontem, quinta-feira, depois de ter feito uma breve visita a um amigo. Voltar ao Pari, e ao Tempone, é sempre um grande prazer.

Na minha adolescência eu era um freguês bissexto do restaurante, que vivia lotado no almoço de sábado e domingo. Naqueles dias duros, era programa especial lá em casa o domingão em que eu e minhas irmãs baixávamos ali no salão para encomendar uma lasanha à bolonhesa ou canelone ao sugo ou um espaguete ao molho de calabresa.

Era sensacional: assim que nossa quentinha saía da cozinha do restaurante, acelerávamos o passo pela calçada, por quatro quarteirões. Quando chegávamos em casa, minha mãe já estava com a mesa posta à nossa espera. Foi inevitável não lembrar daqueles dias no almoço de ontem.

Esse típico restaurante de bairro, com um salão de decoração austera, é tocado pela família Tempone há quase 50 anos. Foi inaugurado e está na mesma Rua Rio Bonito desde 1965. Nos anos 1980, vejam só, chegou a ter uma filial na Rua Bela Cintra, no mesmo imóvel onde está o afamado Tordesilhas, da chef Mara Salles.

O anfitrião, Sergio Tempone, dá expediente no salão ao lado dos filhos, que revezam-se também no caixa. A esposa, Vera, fica de olho na equipe da cozinha, que é versátil, conforme pode-se ver no cardápio. As seis ou oito páginas, se não me engano, trazem uma boa centena de receitas, apresentadas em diferentes sessões: antepastos e entradas, saladas, dezenas de massas que podem ser combinadas com outra dezena de molhos, carnes, frutos do mar, peixes, aves e sobremesas. Enfim, papai, mamãe, vovó, vovô, filhinho e filhinha saem satisfeitos, de um jeito ou de outro.

Até pouco tempo atrás só eram preparadas receitas para duas pessoas – na verdade a porção média satisfaz três comensais tranquilamente – mas agora há opções individuais. Além do espaguete ao molho de calabresa, minha receita preferida, gosto muito do badejo com molho de camarão e frutos do mar. Mas desta vez provei o cabrito com batatas coradas e brócolis ao alho (R$ 34,80). A carne tinha cozimento perfeito, assim como as batatas, e o brócolis tinha uma textura deliciosa. O molho do cabrito estava um tanto quanto enjoativo porque notei a presença de vinho tinto em excesso.

Nada, porém, que não me fizesse sair dali feliz da vida por ter reencontrado, por pouco menos de uma hora, meus tempos de moleque.

Cantina Tempone. Rua Rio Bonito, 1421, Pari, 3311-0655.

Comprando peixe na Ceagesp (ou no Ceasa)

Pátio do Ceasa: a foto é antiga (1995) mas a atmosfera permanece / Foto: Gladstone Campos

Para a maioria dos paulistanos, a Ceagesp  (ou o Ceasa) é aquele megaatacado feiosão, na margem direita do Rio Pinheiros, em que os donos de restaurantes e chefs de cozinha, supermercadistas, feirantes e o público em geral vão buscar toda sorte de produtos hortifrutigranjeiros para abastecer seus estabelecimentos, barracas e geladeiras.

Uma vez por ano, pelo menos, o coitado do Ceasa (ou a Ceagesp) aparece nos telejornais, em rede nacional, por causa das inundações na temporada de chuvas. Você deve se lembrar de ter visto o Datena e o comandante Hamilton exibindo as imagens deprimentes de caixotes de madeira, hortaliças e melancias boiando próximo a caminhões ilhados. Triste, não é?

Pois é, a Ceagesp (ou o Ceasa) é feiosa mesmo, você e seu nariz serão sufocados por cheiros bons e outros nem tanto, mas esse gigantesco entreposto deve ser considerado como um, digamos, ponto turístico obrigatório na cidade caso você seja um aficionado por gastronomia (Ok, e também por jardinagem, mas essa é uma outra história).

E não é que esta Semana Santa oferece um motivo para visitar esse mundo das cebolas e dos badejos?

Até amanhã, quinta-feira (5), acontece das 3 da tarde às 9 da noite a 7ª Santa Feira do Peixe. No Pátio do Pescado, cercadas por carretas tipo frigorífico, algumas barracas vão vender diretamente ao consumidor produtos frescos como polvo, lagostim, lula, camarão e diversos tipos de peixe.

Passei por lá ontem à noite e enchi duas sacolas com camarão cinza (R4 24,00 o quilo) e um viçoso lombo de bacalhau Cod gadus morhua (R$ 42,98 o quilo). Confesso que não pesquisei os preços desses itens no supermercado, mas me parece que fiz um bom negócio. Entre outras pechinchas vi também que havia sardinha (R$ 4,00 o quilo), cavalinha (R$ 2,60) e lula (R$ 10,00). No meio do pátio, ao lado da banca de bacalhau, pode-se aproveitar a viagem e levar para casa todo tipo de tempero.

A quem quiser fazer uma boquinha por ali, uma banca nos fundos dessa área vende pastel de bacalhau e de outros sabores. E apesar de o endereço oficial do Ceasa (ou a Ceagesp) constar como Avenida Doutor Gastão Vidigal, 1946, fica a dica: o melhor acesso à Santa Feira se dá pelo portão 13 da Avenida das Nações Unidas (Marginal Pinheiros), cerca de 500 metros após a ponte do Jaguaré. Estacionamento grátis.