A viagem gastronômica do Franz Ferdinand

Franz Ferdinand, com Alex Kapranos à direita / Foto: Lucio Ribeiro

Neste domingo, 27, às 6 e meia da tarde, o Franz Ferdinand toca mais uma vez em São Paulo, no Parque da Independência. O show – gratuito – é parte da programação do Cultura Inglesa Festival , evento que a cada ano reúne mais e mais legais atrações não só na capital, mas também em Santos, Campinas, São José dos Campos e Sorocaba.

Das bandas surgidas nos últimos dez ou quinze anos, certamente o Franz é a minha preferida. Já fui a dois shows e passei a ter uma simpatia ainda maior pelos caras quando descobri que o vocalista, Alex Kapranos, é um sujeito bom de garfo e de contar histórias. Tanto é que lançou Mordidas Sonoras (Conrad, 144 páginas, R$ 27,30 no site http://www.lojaconrad.com.br), livro em que reúne historietas de lugares em que ele e seus colegas pararam para fazer uma boquinha durante a turnê mundial de 2005 e 2006 (quando, em São Paulo, a banda abriu o shows do U2, na primeira vez que os vi).  

Um momento impagável do livro é o relato da passagem por  Cingapura. Após ter sido estupidamente interpelado pelo gerente do Intercontinental enquanto fazia uma boquinha no pomposo saguão do hotel em que estava hospedado, convidou a plateia de 6.000 pessoas a aparecer por ali depois do show. “Levem um pouco de fast-food com vocês”, pediu. E não é que a moçada apareceu?

 

Foto: divulgação

 

O livro traz também alguns textos publicados na coluna “Sound Bites”, que ele assinou no jornal inglês The Guardian justamente até 2006, além de memórias de infância e dos tempos pré-rock’n’roll, quando trabalhou como entregador de comida e chef de cozinha. É hilária a descrição da degustação de amendoim, digamos assim, feita pelo autor, aos 3 anos de idade, sobre o carpete zero-quilômetro da casa nova.

Foram duas voltas e meia ao redor do planeta, por quatro continentes, onde Kapranos e seus colegas comeram de quase tudo: caranguejos de água doce em Sydney, faisão em Glasgow, cabeça de porco na Coreia, miúdos bovinos em Buenos Aires e até foram apresentados ao rodízio de carnes na churrascaria Porcão, no Rio de Janeiro. Ilustrado por Andy Knowles, tecladista da banda, Mordidas Sonoras é um livro leve, mas que deve ser digerido em pequenos goles, uma historinha de cada vez, como quem degusta uma stout gelada, no ponto.

 

BH + São Paulo = 24 horas de boteco neste sábado

Costelinha com molho de cachaça e rapadura acompanhada de pachá mineiro do Bar do Antônio (Pé-de-cana) / Foto: divulgação

Para falar a verdade nem é assim tão necessário arranjar um motivo especial para passar o sabadão entregue à boemia. Mas o dia de amanhã, 19 de maio, traz duas senhoras festas dedicadas à botecagem, uma em São Paulo, outra em Belo Horizonte – e cada uma delas com 12 horas de duração.

Em Beagá, os 41 botecos participantes da edição 2012 do festival Comida di Buteco – que chega a São Paulo em 1º de junho – vão participar da Festa de Saideira. A partir do meio-dia, eles vão servir os petiscos com os quais concorreram este ano, enquanto rolam os shows de Nando Reis, Monobloco e Aline Calixto. Ali pelo cair da tarde devem ser divulgados os botecos vencedores e seus tira-gostos maravilhosos. Vou faltar à festança desta vez, mas na terça-feira passada, durante um bate-e-volta à cidade, tive tempo de provar o prato de um dos concorrentes, o Bar do Antônio (Pé-de-cana), ali do Sion: uma deliciosa e úmida costelinha de porco assada com molho de cachaça e rapadura, acompanhada de pachá mineiro (queijo-de-minas empanado e frito). Faltou-me apenas uma dosezinha de cachaça para acompanhar – culpa do horário comercial…

Bolinho de bacalhau do Bar do Luiz Fernandes / Foto: Bob Paulino

Aqui em São Paulo, por sua vez, o anfitrião da festança é o Bar do Luiz Fernandes, que completa 42 anos. Dona Idalina e sua equipe devem estar neste momento trabalhando alucinadamente para dar conta de preparar os milhares de bolinhos e demais acepipes que serão servidos às 2.000 pessoas que devem se reunir, a partir das 16 horas, no Moinho Eventos (os ingressos estão esgotados). Além do lançamento do divino (um petisco feito com camarão) e de apresentar um cenário que remete ao Nordeste, em honra ao centenário de Luiz Gonzaga, o evento terá shows de Arlindo Cruz, Reinaldo, Neguinho da Beija-Flor e Dudu Nobre, entre outras 14 atrações divididas em dois palcos.

Menos pela música e mais pelos petiscos e a celebração de 42 anos, sim, eu estarei lá.

Saideira do Comida di Buteco 2012. Largo da Saideira (altura da Avenida Cristiano Machado, 3450, ao lado do Minas Shopping). 12h/0h. R$ 140,00. www.comidadibuteco.com.br.

Bar do Luiz Fernandes – 12 horas de boteco. Moinho Eventos (Rua Borges de Figueiredo, 510, Mooca). 16h/4h. R$ 150,00 (ingressos esgotados). http://www.bardoluizfernandes.com.br.

O Elídio Bar não morreu

Elídio Raimondi e seu mítico balcão: legado mantido / Foto: Mario Rodrigues

Conversei há pouco com Celeste Raimondi, uma das três filhas de Elídio Raimondi, um dos grandes nomes da gastronomia boêmia de São Paulo, que morreu no dia 2 de maio, aos 76 anos. “Meu pai trabalhou no bar até sexta-feira, dia 27, foi internado no dia seguinte mas não resistiu aos problemas decorrentes de circulação arterial”, contou-me Celeste.

Elídio nos deixou, mas seu bar – na verdade, seus dois bares, já que além da matriz na Mooca ele abriu alguns anos atrás uma filial no mezanino do Mercado Municipal – continuará ativo, pelas mãos da própria Celeste e de suas duas irmãs, Suzete e Solange.

Elídio era um gênio. Ao manter durante décadas o balcão repleto de travessas com dezenas de tira-gostos diferentes, às quais os fregueses podiam recorrer diretamente enquanto ele próprio, muitas vezes, tirava uma caldeireta de chope, Elídio ajudou a definir um estilo paulistano de boteco, que foi copiado à exaustão.

São-paulino, conforme me contou certa vez, forrou a parede de seu bar com recortes de jornal e fotos de times históricos de futebol e mesmo quando já não era mais politicamente correto entusiasmar-se por balões juninos, Elídio manteve fotos desses colossos coloridos feitos de papel de seda e lançados a céu, outra de suas paixões. 

O Elídio bar ficou fechado apenas na quinta-feira, dia 3, por luto. “Vamos manter o legado de 53 anos do trabalho do meu pai”.

Ao falar desses 53 anos, na verdade Celeste revelou-me uma curiosidade. Pela contagem, digamos, oficial, o bar tal qual conheci em 1998, quando fiz minha primeira reportagem sobre o boteco, para a PLAYBOY, teria sido fundado em 1973. Naquele ano, Elídio passou a servir chope, mas já vinha dando expediente no boteco da Rua Isabel Dias, 57, desde 1959.

Explico: o pai de Elídio, João Raimondi, havia montado um bar naquele ponto, vendeu-o para terceiros, até que o jovem Elídio o recomprou em 1959, antes mesmo de casar, e transformou num dos melhores bares de que se tem notícia.

Elídio Bar. Rua Isabel Dias, 57, Mooca, tels. (11) 2966-5805 e 2021-3097.