Dos cafés de Paris às brasseries da Borgonha e de Key West à África, o bar do escritor Ernest Hemingway era La Bodeguita del Medio, em Havana — que visitei em 2003 —, onde entornava baldes do melhor mojito do mundo. Ok, podia ser também El Floridita, na mesma Havana Vieja.
Fernando Pessoa, imortalizado em uma estátua em pleno Largo Camões, no bairro do Chiado, em Lisboa, era habituê do Café A Brasileira.
Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e todo o Clube da Esquina foram a todos os bares possíveis do ainda hoje boêmio bairro de Santa Teresa.
Tarso de Castro e seus amigos varavam noites no Antonio’s, em fins dos anos 60, no Leblon. Estivessem em São Paulo, eram facilmente encontrados no bar da churrascaria Rodeio, nos Jardins.
Pode até ser que Pablo Neruda, o grande poeta chileno, tivesse predileção por um ou outro bar ou café, fosse em Santiago, Valparaíso, Paris ou qualquer lugar do mundo. Mas por nenhum desses lugares, tenho certeza, ele dedicou tanto amor quanto aos bares que construiu em suas três casas: La Chascona, em Santiago; La Sebastiana, em Valparaíso; e Isla Negra em El Quisco.
Dessas três, já tive a sorte de conhecer as duas primeiras.
Neruda se dizia também um construtor e de fato o era, afinal, recolhia ou comprava todo tipo de peça, de taças de cristal a sofás, de maçanetas a mapas confeccionados no século XVII. Tudo para decorar suas casas e os bares nelas instalados. O bar de La Chascona, que conheci em 2009, parece uma gruta, graças às paredes de ferro. Na decoração chamam a atenção os sapatos gigantes e as fotos antigas expostas num grande leque de madeira preso à parede atrás do balcão.

Bar de La Chascon: a casa de Neruda em Santiago / Foto: reprodução
Do bar de La Sebastiana, em Valparaíso, Neruda talvez não pudesse ver o mar por causa dos objetos e paredes que separava esse ambiente das janelas da sala, se não me enhgano no terceiro dos cinco pisos da casa. Voltei de lá cerca há menos de um mês e as cores e os excessos daquele delicioso cantinho da casa não me saem da cabeça. Ali, cercado por garrafas, copas e outras tantas tranqueiras, Neruda costumava se fantasiar e se vestir de barman para servir aos seus amigos — era grande anfitrião. Dizem que preparava um drinque com vermute, mas sabe-se também que gostava bastante de uísque e de vinho. Quantos de seus poemas não tiveram inspiração ali?

O bar de La Sebastiana, em Valparaíso / Foto: reprodução
Espero conhecer Isla Negra em breve e, assim, fechar a minha trilogia nerudiana.