O novo Riviera, primeiras impressões

Balcão do Riviera: um bar que gira ao seu redor

Balcão do Riviera: um bar que gira ao seu redor

Não são poucos os perigos que correm aqueles que tentam ressuscitar um bar ou um restaurante de passado glorioso. Ao tentar fazer com que a glória ressurja ancorada apenas no nome e na nostalgia dos que viveram aqueles dias, essas iniciativas acabam por virar meros pastiches, a exemplo do que ocorreu com o Pandoro, o Bar Brahma e o restaurante Carlino, três casos que não careciam de exumação.

Pois Facundo Guerra (Vegas, Lions, Volt) e Alex Atala (D.O.M. e Dalva e Dito) tornaram-se sócios e resolveram correr o risco, juntos, de dar nova vida ao Riviera, o célebre bar na esquina da Consolação com a Paulista inaugurado em 1949.

Consta que o Riviera surgiu como uma casa de chá, frequentada pela vizinhança abonada dos casarões de Higienópolis. Conheci o Riviera já em sua fase agonizante, no fim dos anos 1990, nada glamurosa, bem ao gosto de Rê Bordosa, personagem do cartunista Angeli que foi concebida ali. Lembro-me do chope ordinário, da escada curvilínea, das mesas espalhadas pelo tristonho salão de pé-direito alto.

Pois o Riviera a la Facundo e Atala, nestes primeiros dias, tem mais a ver com a festa que deve ter sido seus primórdios. No lugar das mesinhas, brotou no salão um imenso balcão central, ao redor do qual orbita todo o resto. É um ícone e tanto, para um ambiente que já contava com velhos símbolos como o pé-direito de uns 7 metros de altura, a fachada com tijolinhos de vidro através dos quais vê-se o néon do lado de fora e a tal escada, que leva ao mezanino.

No mezanino, aliás, há um outro bar, de formato ondulado, de frente para os janelões que dão vista para o viaduto que liga a Paulista e a Consolação à Rebouças e à Doutor Arnaldo. No espaço central espalham-se mesas e, no fundo acomodam-se músicos que devem fazer showzinhos de quinta a sábado (R$ 35 o couvert artístico para quem se instalar ali).

A escada e o balcão: velho e  novo ícones

A escada e o balcão: velho e novo ícones

Pois, para meu gosto, o mais legal é ficar no térreo, ao redor do balcão, de preferência na posição da foto acima. Dali pode-se ver bem o entra-e-sai e o sobe-e-desce, além dos barmen a trabalhar — tomei um bom sidecar, R$ 22, um manhattan apenas mediano, R$ 24 e um chope Heineken (R$ 7) muito bem tirado.

O cardápio — sem contar o menu executivo servido na hora do almoço, pensado por Atala, é claro — apresenta porções, como a de amendoim, a de ostras e a de mexilhão (em falta, no sábado) e a sanduíches. O royal, famosa sugestão do velho Riviera, vale a pedida (R$ 23, rosbife com queijo, tomate e pepino no pão de forma envolto em uma fina camada de ovo). O lancha (R$ 29, filé a milanesa com rúcula e tomate), por sua vez, veio um pouco encharcado em gordura.

Pois com o encardido que o tempo naturalmente trará ao balcão e a expertise, se bem empregada, de Facundo e Alex, para fazer os ajustes (em especial no serviço, desatento ou  impolido?), o novo Riviera terá provado que, sim, vale a pena correr certos riscos.

Riviera Bar. Avenida Paulista, 2584, tel. (11) 3231-3705, http://www.rivierabar.com.br

 

 

 

 

O dia em que tomei uma cerveja com o vocalista do Iron Maiden – ao som de Agepê e Frank Sinatra

Bruce Dickinson, do Iron Maiden: "o piloto"

Bruce Dickinson, do Iron Maiden: “o piloto”

 

O dia, ou melhor, a noite em que tomei umas cervejas com Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, ao som de pagode e Frank Sinatra foi a de ontem, quinta-feira, 19 de setembro de 2013.

Foi assim que tudo aconteceu: Bruce e eu temos um grande amigo em comum, Alexey, ou Alex, com quem estudei no colegial e que o vocalista do Iron conheceu em 1996. Ambos são pilotos e fanáticos por aviação.

Pois bem, pedi ao Alex que intermediasse um contato com Bruce para uma entrevista (a ser publicada em breve na próxima edição especial Abril na Copa). Alex, el Mahandro, não só fez o meio de campo como me ligou no fim da tarde de ontem, dizendo para eu estar por volta das 8 da noite no hotel em que os caras do Iron Maiden estão hospedados.

Foi o que fiz, e às 8 e meia, mais ou menos, cheguei ao Renaissance. Reencontrei Alex, no bar do lobby, em meio a algumas dezenas de fãs — os mesmos fãs, disse-me ele, que afugentaram os integrantes da banda, que queriam ficar relaxando no hotel depois de terem desembarcado de um voo vindo do México.

A ideia era dar um tempo por ali e aguardar o chamado de Bruce. Pedimos uma cerveja (Erdinger, R$ 17,00), colocamos o papo em dia e ficamos por ali até umas 10, quando alguém do staff da banda veio até a gente, convidando-nos para subir ao Havana Club, o bar que fica no mezanino do hotel.

No espaçoso salão à meia-luz, casais dançavam na pista localizada no fundo e ao som de “Deeeeixa eu te amaaaar, faz de conta que sou o primeeeeiro”, o pagode romântico hit de Agepê. À esquerda, o balcão do bar se estende por uns bons 10 metros, e ocupa quase toda a lateral.

Em uma mesinha de canto, ao lado desse balcão, encontramos Bruce Dickinson e dois técnicos da banda, já grisalhos — como Bruce, aliás — com três copos, dos grandes, de caipirinha à frente.

Pelo que pude captar do bum humor dos três gringos, a primeira rodada dos drinques parecia algo distante no tempo. Alex e eu pedimos uma Heineken cada um (R$ 12,00 a long neck), antes que ele e Bruce engatassem uma conversa sobre jumbos, A 380s, A 330s, A 320s, gulfstreams e outros aviões. Entrei no papo quando o assunto migrou para Rock in Rio, família, a turnê.

Antes da saideira, por volta de meia-noite e meia, o DJ ainda presenteou os casais dançantes com Frank Sinatra, Bill Halley e Roberto Carlos. Bruce tomava mais uma caipirinha.

Havana Club. Alameda Santos, 2233, Hotel Renaissance, Jardim Paulista, tel. (11) 3069-2233.

 

 

 

 

Brera, os panini ‘de boy’ e o bom exemplo do garçom

Passaram-se quatro ou cinco meses desde a inauguração do Brera, um bar-sanduicheria aberto nos Jardins, até que, na noite do sábado, fui conhecer a casa. E, antes de esclarecer o porquê, digo que gostei, e muito dali.

O Brera ocupa uma espécie de sobrado do lado esquerdo da rua, em sua parte plana. Um terraço em nível elevado em relação à calçada acomoda uma mesa coletiva ao redor da qual, em noites gostosas como foi a de sábado, turmas podem se reunir num certo clima de dolce far niente. Essa impressão ganha força ainda mais quando, de passagem, ouve-se pessoas falando em italiano. Algo que ali não acontece por acaso, porque alguns dos donos nasceram na Bota.

Lá dentro, num ambiente à meia-luz, as paredes são cobertas por réplicas com fotos em preto-em-branco de padeiros e padarias italianos do fim do século 19 e início do 20. Uma delas é esta:

Padeiro italiano, em foto de 1865: belas imagens nas paredes do Brera

Padeiro italiano, em foto de 1865: belas imagens nas paredes do Brera

Especializado em panino, o local trabalha com frios, queijos e demais ingredientes de primeira, expostos aos clientes no balcão instalado logo à direita da entrada do salão. A imensa maioria dos itens — da mortadela de Bolonha ao presunto de Parma — é importada da Itália. As exceções ficam por conta do pão (produção especial da padaria Em Nome do Pão, especialmente para o Brera, e que tem assim uma textura de ciabatta) e dos itens de salada. E os frios são cortados na hora, como bem fazem as boas padocas.

Para cada uma das 20 e poucas combinações, há dois tamanhos: o padrão, digamos assim, que vêm a mesa disposto sobre uma tábua e acompanhado e de uma salada, e o míni, que é servido num pão menor, quase do tamanho do nosso francês.

Primeiro, provei o langhe, que é montado com presunto cru de Parma maturado por 18 meses, queijo brie, tomate, azeite trufado piemontês (em tempo: bem suave, cujo delicado sabor integrou-se aos demais ingredientes) e rúcula (R$ 23,90/ R$ 12,50 o míni).

Langhe: boa opção de panino

Langhe: boa opção de panino

Em seguida, pedi o longobardo, composto de mortadela, qeuijo gorgonzola, tomate, anchovas e mostarda (R$ 22,90/ R$ 11,50), também saboroso.

A primeira boa surpresa, porém, tive logo que pedi uma taça de vinho para acompanhar a refeição. O syrah (R$ 14,00) havia acabado e o garçom me ofereceu o nero d’ávola, cuja taça custa R$ 19,00, pelo mesmo preço do primeiro.

Taí um exemplo que deveria ser seguido por todos os estabelecimentos.

Brera. Rua Ministro Rocha Azevedo, 1068, Jardins, tel. (11) 3895-5855.