As empanadas da Paola

Um ano atrás, a chef argentina Paola Carosella reformulou não apenas o cardápio mas todo o conceito do restaurante Arturito, em Pinheiros, do qual é proprietária. Disposta a continuar oferecendo uma boa cozinha, mas a bolsos mais acessíveis, ela cortou custos — mudando, por exemplo, detalhes na decoração (caíram fora as toalhas de linho, as flores frescas que decoravam as mesas deram lugar a plantas em vasos) e diminuindo a oferta de vinhos — e criou um cardápio com itens mais em conta, a exemplo do delicioso sanduíche de barriga de porco braseada com picles, aióli, tomate e rúcula (27 reais).

Objetivo alcançado e clientela satisfeita, ela de certa forma mantém um percurso de uma gastronomia mais pop. Em abril, tomou o caminho do Itaim Bibi e inaugurou o La Guapa Empanadas e Café, em sociedade com Benny Goldenberg, do Mangiare. Nessa agradável, por que simples, casa especializada no típico salgado argentino, são preparados sete sabores, na hora, ao preço de 6,30 reais cada unidade. Mais vale a pena pedir logo o combo com seis deles, a 36 reais. Há a salteña (de carne moída, azeitona, batata e ovo), a portenha (queijo cremoso e tomate assado), a pucacapa (cebola, coentro e queijo), a amarrito (presunto e queijo), a humita (milho verde, manjericão e queijo cemoso), a de frango caipira e a de espinafre e brócolis com queijo.

Para acompanhar, pode-se pedir vinhos de boa relação custo-benefício e, para finalizar, o tabletón, um tentador doce feito com alfajor, cacau e doce de leite, servido com um creme chantilly de cachaça com fava de baunilha — ideal para curar qualquer frustração futebolística, se é que você me entende.

La Guapa Empanadas. Rua Bandeira Paulista, 446, tel. (11) 3079-2631, http://www.laguapa.com.br.

(Foto: Mario Rodrigues)

5 botecos a caminho do Itaquerão *

Nos arredores da estação Artur Alvim do metrô, na qual, recomenda-se, devem descer os torcedores que vão acessar o setor oeste do Itaquerão, até os botequins têm padrão Fifa. Uniformizados, muitos deles, ao menos os que se colocam na rota de quem chega e sai do estádio, tiveram suas fachadas pintadas de vermelho – cor predominante da cerveja Brahma e da Coca-Cola, marcas que patrocinam a Copa do Mundo.

Em dias de jogos do Mundial na Arena de São Paulo, esses bares têm ganhado mais movimento, sobretudo de turistas estrangeiros. “Já atendi ingleses, holandeses e chilenos”, disse-me o garçom do Bola Bar, situado dois quarteirões acima da estação do metrô.

No dia do jogo Bélgica e Coreia do Sul, aproveitei para dar uma volta e conhecer a vizinhança de Artur Alvim, região que leva o nome do engenheiro-chefe da antiga companhia férrea. Foi ele quem projetou a malha ferroviária naquela região da ZL paulistana.

Um quarteirão acima, próximo à entrada principal do condomínio Santa Bárbara, de predinhos ao estilo Cohab, deparei-me com uma pracinha, no entorno da qual circulavam alguns ônibus e lotações. Vi um SRD guiado por sua dona ceder à provocação de um vira-latas liberto, crianças brincando na gangorra e balançando sobre um pneu amarrado a uma árvore, em frente a uma imobiliária que anunciava apartamentos “grandes” ao preço de “médios” na Cohab I (ou seja, 195.000 reais, e diante de pequenos estabelecimentos comerciais, todos vizinhos de parede: uma assistência técnica de eletrodomésticos, uma lan house e o Xaveco’s, um dos cinco bares que descrevo a seguir.

Xaveco’s

Morador do condomínio Santa Bárbara, que fica a não mais de 100 metros do bar, o sergipano  Carlos Alberto Santos é quem comanda o bar. Santos me contou que vive em São Paulo desde 1973 e que abriu o negócio 25 anos atrás. Ele próprio decorou as paredes e o teto dos 9 ou 10 metros quadrados do lugar com objetos de toda sorte, recolhidos em suas viagens para pescar ou presenteados por amigos: bonecas, luvas de boxe, um tatu empalhado, um pedaço de couro de onça e até um chifre de rinoceronte, arrematado de um amigo que viajou à África estão entre as dezenas de quinquilharias. É por causa dessa decoração que ele não serve comida ali, apenas uns traguinhos: caipirinha (10 reais) e cerveja (Brahma e Skol a 7 reais; Seramalte e Original a 8 reais), por exemplo. Carlos Alberto é irmão do ex-meia Antonio Carlos, que nos anos 80 atuou pelo Mogi Mirim, o América do México e o Botafogo carioca. “Ele jogou com o finado Berg, o Josimar e o Alemão”, disse-me. O outro irmão, Paulo Santos, também foi jogador e fez carreira em times de Sergipe, como o Itabaiana e o Lagarto. E por que Carlos Alberto não seguiu o mesmo caminho da família?  “Mano, sou ruim de bola. Mas joguei capoeira”, contou-me.

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Xaveco’s Bar. Rua Maria Eugênia Celso, 91-A (em frente à Praça Augusto Rodrigues de Souza). 10h às 14h e 16h à 0h.

Fotos Miguel Icassatti

Bola Bar

Cheguei ao Bola, duas quadras acima da saída do metrô e cuja fachada foi pintada de vermelho, guiado pelos decibéis emitidos (muito acima do suportável) por um carro de som estacionado em frente ao bar. “A Brahma tá bancando”, disse-me o garçom. E o Bola até que se preparou para a Copa: instalou um telão e deixou dois aparelhos de TV ligados na programa. A seleção musical era um pot-pourri de sertanejo, arrocha e até pagode cantado em inglês, estilos bem distintos do que faz supor quem chega ali e repara na decoração, pontuada por painéis fotográficos com imagens de um sorridente Mick Jagger, Beatles, Elvis e Freddy Mercury. Às sextas e sábados, vi num cartaz, há pop e rock ao vivo e aos domingos, sertanejo. No sábado, aliás, a casa fica bem cheia, disse o garçom que me serviu um passável churrasquinho no pão, graças à feijoada (16 reais, para um comensal; 25 reais para dois; 39 reais para quatro). Fiquei curioso para conferir a porção de batata frita servida na telha, com bacon (19 reais) e parmesão (16 reais).

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Bola Bar. Rua Maria Eugênia Celso esquina com Rua Inês Monteiro, tel. (11) 2742-3111.

Casa das Empadinhas

Na movimentada via que sai da estação de metrô, e na qual os pedestres em marcha pelo meio-fio parecem ter transformado em um calçadão, essa lanchonete se destaca por suas estufas que exibem salgados às centenas: coxinhas, quibes, bolinhas de queijo e empadinhas em versão miniatura, a preço único de 70 centavos (ou três unidades por 2 reais). Atenta ao fluxo de gringos famintos, a gerência até arriscou descrever em inglês, num destacado papelzinho cor de rosa, o conteúdo de alguns dos itens, caso dos croquetes de carne (meat), das empadinhas de frango (chicken) e das de palmito (palmito, em vez de palm heart).

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Casa das Empadinhas. Rua Doutor Campos Moura, 295.

ScarBar

“É fiscalização?”, perguntou-me o dono do bar, Wilson, desconfiado, ao ver-me chegando ao balcão, depois de eu ter tirado uma foto da fachada do boteco. Ao saber que eu estava fazendo uma reportagem, relaxou: “A ficha do bilhar é R$ 1,50, mas já vou parar o jogo para que a freguesia assista ao jogo”. Sobre a grelha da churrasqueira, já em cinzas, vi espetinhos esturricados de carne e de linguiça (4 reais cada um) e, na estufa, duas ou três costelinhas de porco e uma pequena montanha de torresmos gigantes (3,50 reais cada um). Na outra ponta do balcão pude ver uma turma devorando cumbucas de caldinho de mocotó, a 7 reais cada uma, mesmo preço da de feijão e da de vaca atolada (mandioca com costela). Para beber, cerveja Skol e Budweiser a 10 reais o litro, além de Skol e Brahma a 7 reais (a garrafa de 600 mililitros). “Esse é o preço de Copa”, explicou-me, dizendo que ao fim do evento vai baixá-los.

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ScarBar. Rua Doutor Campos Moura, 75-B, tel. (11) 3747-5264. 10h/1h (fecha segunda).

Arena Sports Bar

Dos mesmos donos do Bola Bar, o Arena foi aberto em abril de 2014, com vista para a estação de metrô. Tem um ambiente “mais social”, conforme me havia dito o garçom do Bola Bar. Por mais social, entenda-se um salão com um balcão de pedra e uma chopeira, mesinhas de madeira escura, elemento, aliás, que permeia a decoração, que está tinindo de nova. Os preços, ali, são mais elevados: o chope, por exemplo, sai por 5,90 reais e, nos dias de jogo, é servido lamentavelmente em copo de plástico. A caipirinha custa 14,90 reais e os espetinhos, 3,90 reais (de carne, frango e coração). Têm feito sucesso, disse-me o garçom, as porções de  bolinhos de mandioca com carne seca (26,90 reais, com 8 unidades) e a de picanha no réchaud (67,90 reais). Mas àquela hora, com os times de Bélgica e Coreia do Sul perfiladas para cantarem o hino de seus países, ninguém comia. Enquanto a rapaziada postava-se nas mesas mais próximas ao telão, com copos de cerveja ao lado, em uma mesinha de canto próximo à janela, duas garotas tomavam refrigerante e bisbilhotavam nos respectivos aparelhos de celular.

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Arena Sports Bar. Avenida Doutor Luiz Aires, 1618, tel. (11) 2639-0462

*publicado por este blogueiro originalmente no blog Clima de Copa, no site de PLACAR