São Paulo é aquele lugar em que tudo se transforma, se adapta, se metamorfoseia ambulantemente diante da deselegância discreta de suas meninas. O que é legal, na maioria das vezes.
Uma cidade que tem boas pizzarias e botecos sensacionais, é claro, haveria mesmo de oferecer ao seu povo uma pizzaria-boteco (ou boteco-pizzaria). Refiro-me a Urca, tradicionalíssimo endereço na esquina da Brigadeiro Luiz Antônio com a Alameda Santos, que existe desde 1958.
Estive lá um tempinho atrás e reparei essa falha em meu currículo – nunca havia colocado os pés ali. Desde que era office-boy e cruzava a Paulista pela Brigadeiro, confesso, eu era meio desconfiado com a Urca porque, da janela do busão, nunca via a casa cheia – quem está na rua mal consegue ver o salão, e, a bem da verdade, não conhecia ninguém que tivesse comentado algo sobre a casa.
Até que… fui e gostei.
São 41 sabores de pizza, assados no forno a lenha, e o cliente pode escolher a espeessura da massa. Fui de meia portuguesa, meia peperoni, com massa média, e saí bem feliz.
Mas cadê o boteco?
Pois é, eu achei que a alma botequeira meio que passeia pelo salão, que parece parado no tempo, ainda mais com o estranho desenho triangular: da entrada ao fundo, vai afinando, afinando, até ficar bem estreitinho.
A lista de bebidas apresenta drinques que nossos pais bebiam: hi-fi (16 reais), cuba libtre (15 reais) e até batida espanhola, aquela bem docinha, feita com vinho, abacaxi e leite condensado, a 19 reais.
Pra falar a verdade eu pedi um chope Brahma (9 reais), tirado com capricho, colarinho, bem cremoso.
Caso alguém não queira comer pizza, pode ficar com as porções de frios defumados (como o pastrami, 34 reais a porção), ou a de queijos (o maasdam, por 38 reais) e até frango a passarinho – 31 reais.
Aliás, um dos mais famosos frangos a passarinho de São Paulo está em outra pizzaria, a Camelo, na rua Pamplona, aquela do deputado da mala.
Pizzaria Urca. Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, 2401, esquina com Alameda Santos.