A costela do Belchior

 

Aquele Belchior, o rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, é outro, e foi pro céu dia desses, grandissíssimo compositor!

No caso, o da costela, que mencionei no título deste texto, é o Belchior de Freitas Soares, mais conhecido como Bel, o dono de um boteco bem pequeno em Pinheiros, escondido no meio de um quarteirão, num salão simples e estreitinho (foto).

Aliás, o Bel se gaba de fazer “a melhor costela no bafo do mundo”. Ele é fornecedor de bares nas vilas Madalena e Mariana, inclusive.

Não acho que seja a melhor do mundo – não chega perto do matambre que meu finado tio Artur fazia -, mas a carne estava bem macia na visita que fiz recentemente.

Na verdade, foi a segunda vez que estive lá – e da primeira, havia levado para viagem uma costela muito suculenta, úmida, limpa (isto é, sem gordura)  e, sim, deliciosa.

Desta vez, pedi um PF de costela, que veio com arroz, feijão e mandioca frita (R$ 18,98). Vem com uma porção pequena de arroz e feijão, mas se você quiser repetir, basta pedir que o Bel traz, sem cobrar nada a mais. Temperei a costela (que fica 15 horas em cozimento, segundo o Bel, apenas com sal grosso, ervas e cebola) com a pimentinha e a farinha da casa e foi mesmo uma delícia.

Tem também costela servida na panela de pedra sabão (por 75 reais), costelinha de porco com barbecue (85 reais), vaca atolada (cozida com mandioca, 75 reais) e até ossobuco cozido na cerveja preta (68 reais) – tudo isso em porção para 3 pessoas.

Pra beber, caipirinha feita com cachaça mineira de Salinas a R$ 18,50 e cerveja Heineken a 10 reais.

De sobremesa? Uma paçoquinha, que é cortesia da casa.

Costelas (Costela do Bel). Rua Amália de Noronha, 343, Pinheiros.

 

Quer saber o que é um Boteco de verdade? Vá ao Bar do Luiz Nozoie

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Fazia tempo que eu devia a mim mesmo um retorno a este que é um dos botecos mais clássicos da cidade de São Paulo, e um dos meus preferidos, por sinal.

Estou falando do Bar do Luiz Nozoie, no Bosque da Saúde.

Luiz Nozoie é um nissei que abriu este bar em 1962. E que levou a família para trabalhar com ele. A finada e fiel companheira, Dona Shizue, tomou conta da cozinha – que Deus a tenha -, que hoje está sob a batuta da filha, Marcia.

O Bar do Luiz Nozoie é um lugar muito simples, a decoração parece ser a mesma desde os tempos da inauguração, original – sequer há placa na porta.

Não importa. É um boteco obrigatório.

Conheci o Bar do Luiz Nozoie em 1998, quando fiz minha primeira reportagem lá. Era apenas Bar do Luiz. Por um imbróglio jurídico e mesquinho do Bar Luiz, do Rio de Janeiro, o boteco da Saúde ganhou o sobrenome ali por volta dos anos 2000 e pouquinho.

Marcia herdou de dona Shizue, que morreu há uns dez anos, a tarefa de preparar os pasteizinhos, que mais parecem rissoles, e que levam até cerveja na massa. Tem de carne, de queijo e de camarão, 3 reais a unidade – CUIDADO COM O CAROÇO DA AZEITONA!

Seu Luiz já não desce ao Guarujá para pescar – seus troféus de pesca estão expostos numa prateleira – os peixes-espada e as prejerebas que trazia para dona Shizue preparar, mas os espetinhos de peixe ainda fazem sucesso. Assim como a rã à milanesa, 15 reais.

Em cima do balcão ficam expostas em caixas de vidro, diversas conservas, queijos e porções frias, para que você monte um pout-pourri.

Uma fatia de lombo de porco temperado com ervas, por exemplo, sai por 1,50 real.

O jiló recheado com uma espécie de chutney picante de cebola custa 3 reais a unidade e é sensacional!

Entre as bebidas, a Serramalte está 13 reais.

E por falar em cerveja, muitos anos atrás, o seu Luiz construiu uma engenhosidade, pra resfriar a cerveja rapidinho.

Ele encheu uma antiga máquina de armazenar sorvete com uma solução de muito gelo, álcool e sal e passou a mergulhar um samburá, uma cesta de pesca cheia de garrafas de cerveja e em 15 minutos conseguia gelar a garrafa.

O seu Luiz Nozoie está com 87 anos e ainda dá expediente no bar, às segundas, terças, quintas e sextas.

Botequeiro que se preze tem de conhecer este grande boteco de São Paulo, agradecer e pedir a bênção a Luiz Nozoie San.

Bar do Luiz Nozoie. Avenida do Cursino, 1210, Bosque da Saúde

O MoDi — ou a boa relação entre preço e qualidade

Os 30 e poucos minutos de espera por uma mesa, na segunda vez em que fui ao MoDi, na noite de sexta passada, valeram a pena. Taí um restaurante bom, bacana e barato, que, um amigo me contou ontem à noite, vai ganhar uma segunda unidade no mesmo bairro de Higienópolis, na área externa do shopping.

Por que é bacana? O MoDi ocupa aquele imóvel de pé-direito alto no térreo do Edifício Paquita, no meio do quarteirão na Rua Alagoas, no trecho em frente ao Parque Buenos Aires, que já hospedou outros empreendimentos gastronômicos, como a padaria do chef Olivier Anquier. À esquerda da entrada, fica o bar e há mesas no térreo e no mezanino. O único senão, falando do ambiente, é a acústica sofrível.

Por que é bom? Porque o chef Diogo Silveira, que é um dos sócios, acerta a mão em receitas como a dobradinha à toscana com bruschetta de ervas e polenta mole (R$ 25), servida apenas na primeira semana do mês. Nas demais semanas, revezam-se outras opções de miúdos. Quero voltar na próxima-última, dedicada à língua de boi. Outra boa sugestão é o varênique sbagliato recheado de cebola caramelizada com queijo cremoso e chips de presunto cru (R$ 28).

Das entradas, vai melhor a bruschetta de cogumelos (R$ 11) do que o cone al mare, uma seleção de frutos do mar encharcados, quero dizer, empanados (R$ 11).

As sobremesas estavam mais ou menos: tanto o canollo quanto a torta de chocolate (R$ 11 cada um).

Em compensação, os preços dos vinhos são bem convidativos, a exemplo da taça do porto Graham’s Tawny (R$ 11) e da garrafa do tinto Urban Tempranillo, vendida a R$ 68.

Para não perder tempo, tome o cuidado de não seguir o exemplo deste blogueiro e chegue o mais cedo que puder, ou fora dos horários de pico no almoço e no jantar. A cozinha funciona do meio dia às 11 da noite.

MoDi Gastronomia. Rua Alagoas, 475, Higienópolis, tel. (11) 3564-7031.

PS: texto alterado pelo blogueiro, para corrigir uma informação. Diferentemente do que foi escrito, a casa não faz reservas.

 

Um boteco hardcore

O que aconteceu com os velhos punks? Jão, guitarrista do Ratos de Porão, ao menos, tornou-se sócio de um bar, o Underdog, que é um baita de um bar, embora pequeno, em Pinheiros. Reproduções de cartazes de turnês do R.D.P. cobrem as paredes.

Está enganado quem pensa, porém, que Jão posa de patrão. Ao contrário, posta-se do lado de lá do balcão, serve doses dos bebes (17 reais a de uísque Jack Daniel’s) e dá uma força ao parceiro que administra a parrilla.

Da parrilla, é bom dizer, sai 100% do que há para comer: carnes bem churrasqueadas e sem frescuras, à moda argentina. Para começar, vale pedir um choripan (pão com linguiça, 9 reais). Gostei muito do skirt (entranhas bovinas, 25 reais), assado na medida certa, servido com pão francês fatiado, e também do hambúrguer, que é feito com costela (20 reais, mais 2 reais com bacon e mais 2 reais com queijo).

Pequeno, o salão comporta duas ou três mesas e mais duas banquetas, razão pela qual muita gente se acomoda nas outras poucas mesas armadas na calçada. O modus operandi do freguês é mais ou menos este: entrar, olhar os preços na parede, fazer o pedido, pegar uma cerveja (Duvel, 22 reais; Dundee e Vedette, 19 reais cada uma), deixar o nome com o garçom e dar um tempo do lado de fora.

O bônus para quem consegue um lugarzinho lá dentro é o som, cuja seleção em geral tem a mão de Jão, é claro. Na noite em que estive lá, rolou de Rush a Smiths e Nick 13.

Punk, sim. Radical, não.

Underdog. Rua João Moura, 541, Pinheiros. Abre de quinta a sábado, das 18h às 23h.

Salvem os nossos Formigas

Domingo retrasado, depois de desembarcar em Guarulhos, resolvi desviar meu caminho para almoçar no Formiga, o velho restaurante instalado no Largo São José do Belém, ao lado da igreja.

Ao lado do finado vizinho Jacaré e do Peru’s (ou ‘Pirú’, para os locais), que mudou-se da Rua Júlio de Castilhos para a Cajuru, o Formiga formou a animalesca e histórica trinca gastronômica do bairro do Belém.

Dos três, como eu ia dizendo, o Jacaré não existe mais. O Peru’s fechou a porta vaivém, tipo Velho Oeste, do antigo endereço da Rua Júlio de Castilhos— que nos anos 80 acolhia em quase todos os sábados aos craques do Proálcool, lendário time de futsal que dominava a ZL, e do qual eu era mascote — para continuar montando o melhor churrasco (o sanduba) de São Paulo num imóvel maior, onde pode receber pequenas multidões em busca do cômodo bufê self-service.

O Formiga, por sua vez, resiste ao tempo com as mesmas características e cardápio que conheci nos meus tempos de moleque — a batata frita à portuguesa encontra poucas rivais na cidade. Minha filha tomou uma limonada bem docinha, eu bebi uma Serramalte (R$ 8), molhei o pãozinho crocante (fornecido pela Padaria Belga, que fica na esquina do largo com a Cajuru) no saboroso vinagrete, mas me decepcionei com o espetão misto (R$ 88), composto por contra-filé de péssima qualidade, lombo de porco aceitável e linguiça toscana das boas. Com os acompanhamentos, no caso arroz-de-carreteiro e legumes, a porção chega a alimentar três pessoas.

Ventiladores de parede, fotos de propaganda de banana split — da Yopa! — e duas TVs de 20 polegadas, daquelas de tubo, explicam o quero dizer com “resiste ao tempo”.

Em pleno domingão de sol, o salão comprido e escuro estava praticamente vazio. Um dos cozinheiros, da velhíssima guarda, me confessou: “o Formiga está mal cuidado… e já faz tempo”. Mas com certa dose de orgulho, contou-me: “certa vez, o Maluf patrocinou uma pizzada para 1200 pessoas aqui”.

O Formiga existe há 81 anos. Oitenta e um anos. Quantos bares e restaurantes paulistanos chegam dignamente a essa idade?

Precisamos salvar nossos Formigas.

Formiga. Largo São José do Belém, 177, Belém, tel. (11) 6693-1255.

Kebab à paulistana

 

Uns bons anos atrás, quando este blog ainda estava hospedado no site da Vejinha, escrevi a respeito das casas especializadas em kebab que, na época, brotavam pela cidade.

Minha opinião não mudou de lá para cá: entendo que kebab é comida de rua e, como tal, dispensa maiores frescuras no preparo, o que ajuda a tornar a receita uma opção barata de comida, como acontece em qualquer grande cidade da Europa, por exemplo. Por lá, quem cobrar mais de 4 euros por um desses lanches correrá o risco de falir, pois no quarteirão seguinte a banquinha concorrente cobrará 3 euros.

Daquela moda gastronômica, que meio que prenunciou a era da gourmetização de tudo, restaram poucas dignas de nota, entre as quais incluo o Pita Kebab Bar, ao qual voltei ontem, depois de todo esse interlúdio.

Fiquei contente ao ver que a casa prosperou, cresceu, tornou-se um agradável bar e que mantém, em alguns detalhes, uma identidade gastronômica alinhada com o que se come e se bebe em alguns lugares do Oriente Médio, berço do kebab.

Uma vez que eu não podia beber nada alcoólico, pedi uma limonada, que a casa serve em um copo grande, temperada com folhas de hortelã. Uma delícia (R$ 5,50).

O kebab de cordeiro, também bem-feito, veio enrolado num pão tipo pita bem fresco, misturado aos temperos de praxe e picles, o que deu um sabor mais ácido (R$ 20) ao meu sanduba (será que posso chamar assim?). Os nacos de carne estavam bem macios, em que pese o fato de terem sido preparados naqueles típicos espetos giratórios, que às vezes acabam deixando a carne ressecada, por causa das horas de exposição no mecanismo.

Pita Kebab Bar. Rua Francisco Leitão, 282, Pinheiros, tel. (11) 3774-1790.

Um voto para a picanha do Fuad

 

Com o início do horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, dei-me conta que esta será a primeira eleição sem a presença de Fuad Sallum, mentor do Esquina Grill do Fuad, talvez o boteco mais tradicional da região de Santa Cecília.

Em eleições anteriores, era batata: político que estivesse em campanha e quisesse arranjar uns votos a mais ou fazer uma média com os eleitores da área, tinha de tirar uma foto ao lado de Fuad Sallum, que dirigiu o conselho de segurança do bairro. Estão lá na parede do bar que ocupa a esquina das ruas Martim Francisco e Imaculada Conceição, registros do anfitrião ao lado de representantes da esquerda à direita, de Paulo Maluf a Dilma Rousseff.

Fuad Sallum morreu em 2013 e o bar mantém-se sob comando da família. Na parede central do salão reformado, branquinho da silva, chama atenção a churrasqueira, da qual saem porções generosas de carnes, que acabam por perfumar com cheiro de brasa quem se instala por ali. É por isso que prefiro esperar sempre, no frio ou no calor, por uma das mesas da calçada.

Estive lá algumas semanas atrás, numa tarde de domingo, e comecei pelos pasteis de carne, queijo e palmito (R$ 8,40 a porção com uma unidade de cada sabor). Na dúvida entre  a picanha saralho (servida no réchaud coberta com alho dourado) e o chuletão na brasa, optei pelo plano C, a picanha a la Ronaldo (R$ 67,90). Duas pessoas traçam com tranquilidade o corte servido em fatias, com arroz-de-carreteiro, agrião e um bolinho de mandioca bem gostoso. A carne não é a melhor do mundo, mas a pedida (ao ponto para mal-passado, não se esqueça) tem um ótimo custo-benefício, também por causa dos acompanhamentos.

Esquina Grill do Fuad. Rua Martim Francisco, 244, Santa Cecília, tel. (11) 3666-4493, www.esquinagrill.com.br.

 

 

 

 

O duelo das porchettas: Nova York x Itapecerica da Serra

Foi meu compadre Caio Mariano quem recomendou, de última hora, pelo what’sapp: “tenta ir no Porchetta”. Era meu penúltimo dia em Nova York e, ao ler a dica dele pensei: Caio não blefa, restam-me umas horinhas, vou fazer de tudo para ir lá.

E fui, e aproveitei para me encontrar com duas amigas ali, na porta do que eu imaginava ser um restaurante italiano. E tomei uma surpresa: até agora tenho dúvidas se o Porchetta é um restaurante (pequeno demais para isso, com assentos apenas em dois balcões internos e do lado de fora) ou um bar (não pode ser, pensando bem, já que não vi muita coisa para beber). Talvez seja uma lanchonete. O fato é que é o chamariz da casa é a receita da porchetta alla romana — na verdade o bar-restaurante-lanchonete prepara também um sanduíche de frango com acompanhamentos.

Originária da Emilia-Romagna, no centro da Itália, a porchetta é um corte que pega toda a lateral de um leitão, que por sua vez vai ao forno completamente desossado. A pele, porém, é mantida. Após muitas horas, umas cinco, pelo menos, assando a uma temperatura de 250 graus, essa capa ganhará uma deliciosa consistência de pururuca — generosamente, o Porchetta publica em seu site a receita.

Eu pedi a versão sanduba — do mesmo modo como se come nas ruas da região de Roma (12 dólares) — e a carne estava com uma textura macia, enriquecida pelo bom tempero de alecrim e outras ervas. O pão ciabata, crocante, era dos bons, menos aerados do que as ciabatas que costumamos comer nas padocas de São Paulo.

Essa surpresa novaiorquina me fez lembrar da primeira vez que provei a porchetta: foi na costelaria Rancho do Vinho, em Itapecerica da Serra. Faz uns quinze anos, eu era repórter da Playboy e havia ido até lá para experimentar a costela e conferir a adega da casa que, na ocasião, guardava uma considerável oferta de vinhos brasileiros.

Lembro-me do proprietário e chef Celso Frizon tirando lasca por lasca do interior da porchetta exposta no meio do salão desse restaurante à beira da rodovia Régis Bittencourt. A carne saia úmida, branquinha e muito bem temperada para rechear as duas bandas de pão francês.

Celso continua preparando a própria versão da porchetta alla romana, mas apenas sob encomenda e no Dr. Costela, novo nome do Rancho do Vinho. Para a receita, Celso lança mão de leitõezinhos de 7 a 8 quilos. Recheados com carne suína selecionada, ervas frescas, embutidos e outros temperos, a porchetta chegará aos 15 quilos e ficará pronta depois de 17 horas de forno. Por cada quilo, Celso cobra 65 reais.

Qual das duas é a melhor? A menos que você consiga ir a Nova York, confie em mim: sinceramente, temos aqui um empate.

Porchetta. 110 East 7th Street, Nova York, tel. 212-777-2151, http://www.porchettanyc.com

Dr. Costela. Rodovia Régis Bittencourt, quilômetro 293,5, Itapecerica da Serra (SP), tel. (11) 4147-1557, http://www.drcostela.com.br.

 

As empanadas da Paola

Um ano atrás, a chef argentina Paola Carosella reformulou não apenas o cardápio mas todo o conceito do restaurante Arturito, em Pinheiros, do qual é proprietária. Disposta a continuar oferecendo uma boa cozinha, mas a bolsos mais acessíveis, ela cortou custos — mudando, por exemplo, detalhes na decoração (caíram fora as toalhas de linho, as flores frescas que decoravam as mesas deram lugar a plantas em vasos) e diminuindo a oferta de vinhos — e criou um cardápio com itens mais em conta, a exemplo do delicioso sanduíche de barriga de porco braseada com picles, aióli, tomate e rúcula (27 reais).

Objetivo alcançado e clientela satisfeita, ela de certa forma mantém um percurso de uma gastronomia mais pop. Em abril, tomou o caminho do Itaim Bibi e inaugurou o La Guapa Empanadas e Café, em sociedade com Benny Goldenberg, do Mangiare. Nessa agradável, por que simples, casa especializada no típico salgado argentino, são preparados sete sabores, na hora, ao preço de 6,30 reais cada unidade. Mais vale a pena pedir logo o combo com seis deles, a 36 reais. Há a salteña (de carne moída, azeitona, batata e ovo), a portenha (queijo cremoso e tomate assado), a pucacapa (cebola, coentro e queijo), a amarrito (presunto e queijo), a humita (milho verde, manjericão e queijo cemoso), a de frango caipira e a de espinafre e brócolis com queijo.

Para acompanhar, pode-se pedir vinhos de boa relação custo-benefício e, para finalizar, o tabletón, um tentador doce feito com alfajor, cacau e doce de leite, servido com um creme chantilly de cachaça com fava de baunilha — ideal para curar qualquer frustração futebolística, se é que você me entende.

La Guapa Empanadas. Rua Bandeira Paulista, 446, tel. (11) 3079-2631, http://www.laguapa.com.br.

(Foto: Mario Rodrigues)

5 botecos a caminho do Itaquerão *

Nos arredores da estação Artur Alvim do metrô, na qual, recomenda-se, devem descer os torcedores que vão acessar o setor oeste do Itaquerão, até os botequins têm padrão Fifa. Uniformizados, muitos deles, ao menos os que se colocam na rota de quem chega e sai do estádio, tiveram suas fachadas pintadas de vermelho – cor predominante da cerveja Brahma e da Coca-Cola, marcas que patrocinam a Copa do Mundo.

Em dias de jogos do Mundial na Arena de São Paulo, esses bares têm ganhado mais movimento, sobretudo de turistas estrangeiros. “Já atendi ingleses, holandeses e chilenos”, disse-me o garçom do Bola Bar, situado dois quarteirões acima da estação do metrô.

No dia do jogo Bélgica e Coreia do Sul, aproveitei para dar uma volta e conhecer a vizinhança de Artur Alvim, região que leva o nome do engenheiro-chefe da antiga companhia férrea. Foi ele quem projetou a malha ferroviária naquela região da ZL paulistana.

Um quarteirão acima, próximo à entrada principal do condomínio Santa Bárbara, de predinhos ao estilo Cohab, deparei-me com uma pracinha, no entorno da qual circulavam alguns ônibus e lotações. Vi um SRD guiado por sua dona ceder à provocação de um vira-latas liberto, crianças brincando na gangorra e balançando sobre um pneu amarrado a uma árvore, em frente a uma imobiliária que anunciava apartamentos “grandes” ao preço de “médios” na Cohab I (ou seja, 195.000 reais, e diante de pequenos estabelecimentos comerciais, todos vizinhos de parede: uma assistência técnica de eletrodomésticos, uma lan house e o Xaveco’s, um dos cinco bares que descrevo a seguir.

Xaveco’s

Morador do condomínio Santa Bárbara, que fica a não mais de 100 metros do bar, o sergipano  Carlos Alberto Santos é quem comanda o bar. Santos me contou que vive em São Paulo desde 1973 e que abriu o negócio 25 anos atrás. Ele próprio decorou as paredes e o teto dos 9 ou 10 metros quadrados do lugar com objetos de toda sorte, recolhidos em suas viagens para pescar ou presenteados por amigos: bonecas, luvas de boxe, um tatu empalhado, um pedaço de couro de onça e até um chifre de rinoceronte, arrematado de um amigo que viajou à África estão entre as dezenas de quinquilharias. É por causa dessa decoração que ele não serve comida ali, apenas uns traguinhos: caipirinha (10 reais) e cerveja (Brahma e Skol a 7 reais; Seramalte e Original a 8 reais), por exemplo. Carlos Alberto é irmão do ex-meia Antonio Carlos, que nos anos 80 atuou pelo Mogi Mirim, o América do México e o Botafogo carioca. “Ele jogou com o finado Berg, o Josimar e o Alemão”, disse-me. O outro irmão, Paulo Santos, também foi jogador e fez carreira em times de Sergipe, como o Itabaiana e o Lagarto. E por que Carlos Alberto não seguiu o mesmo caminho da família?  “Mano, sou ruim de bola. Mas joguei capoeira”, contou-me.

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Xaveco’s Bar. Rua Maria Eugênia Celso, 91-A (em frente à Praça Augusto Rodrigues de Souza). 10h às 14h e 16h à 0h.

Fotos Miguel Icassatti

Bola Bar

Cheguei ao Bola, duas quadras acima da saída do metrô e cuja fachada foi pintada de vermelho, guiado pelos decibéis emitidos (muito acima do suportável) por um carro de som estacionado em frente ao bar. “A Brahma tá bancando”, disse-me o garçom. E o Bola até que se preparou para a Copa: instalou um telão e deixou dois aparelhos de TV ligados na programa. A seleção musical era um pot-pourri de sertanejo, arrocha e até pagode cantado em inglês, estilos bem distintos do que faz supor quem chega ali e repara na decoração, pontuada por painéis fotográficos com imagens de um sorridente Mick Jagger, Beatles, Elvis e Freddy Mercury. Às sextas e sábados, vi num cartaz, há pop e rock ao vivo e aos domingos, sertanejo. No sábado, aliás, a casa fica bem cheia, disse o garçom que me serviu um passável churrasquinho no pão, graças à feijoada (16 reais, para um comensal; 25 reais para dois; 39 reais para quatro). Fiquei curioso para conferir a porção de batata frita servida na telha, com bacon (19 reais) e parmesão (16 reais).

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Bola Bar. Rua Maria Eugênia Celso esquina com Rua Inês Monteiro, tel. (11) 2742-3111.

Casa das Empadinhas

Na movimentada via que sai da estação de metrô, e na qual os pedestres em marcha pelo meio-fio parecem ter transformado em um calçadão, essa lanchonete se destaca por suas estufas que exibem salgados às centenas: coxinhas, quibes, bolinhas de queijo e empadinhas em versão miniatura, a preço único de 70 centavos (ou três unidades por 2 reais). Atenta ao fluxo de gringos famintos, a gerência até arriscou descrever em inglês, num destacado papelzinho cor de rosa, o conteúdo de alguns dos itens, caso dos croquetes de carne (meat), das empadinhas de frango (chicken) e das de palmito (palmito, em vez de palm heart).

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Casa das Empadinhas. Rua Doutor Campos Moura, 295.

ScarBar

“É fiscalização?”, perguntou-me o dono do bar, Wilson, desconfiado, ao ver-me chegando ao balcão, depois de eu ter tirado uma foto da fachada do boteco. Ao saber que eu estava fazendo uma reportagem, relaxou: “A ficha do bilhar é R$ 1,50, mas já vou parar o jogo para que a freguesia assista ao jogo”. Sobre a grelha da churrasqueira, já em cinzas, vi espetinhos esturricados de carne e de linguiça (4 reais cada um) e, na estufa, duas ou três costelinhas de porco e uma pequena montanha de torresmos gigantes (3,50 reais cada um). Na outra ponta do balcão pude ver uma turma devorando cumbucas de caldinho de mocotó, a 7 reais cada uma, mesmo preço da de feijão e da de vaca atolada (mandioca com costela). Para beber, cerveja Skol e Budweiser a 10 reais o litro, além de Skol e Brahma a 7 reais (a garrafa de 600 mililitros). “Esse é o preço de Copa”, explicou-me, dizendo que ao fim do evento vai baixá-los.

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ScarBar. Rua Doutor Campos Moura, 75-B, tel. (11) 3747-5264. 10h/1h (fecha segunda).

Arena Sports Bar

Dos mesmos donos do Bola Bar, o Arena foi aberto em abril de 2014, com vista para a estação de metrô. Tem um ambiente “mais social”, conforme me havia dito o garçom do Bola Bar. Por mais social, entenda-se um salão com um balcão de pedra e uma chopeira, mesinhas de madeira escura, elemento, aliás, que permeia a decoração, que está tinindo de nova. Os preços, ali, são mais elevados: o chope, por exemplo, sai por 5,90 reais e, nos dias de jogo, é servido lamentavelmente em copo de plástico. A caipirinha custa 14,90 reais e os espetinhos, 3,90 reais (de carne, frango e coração). Têm feito sucesso, disse-me o garçom, as porções de  bolinhos de mandioca com carne seca (26,90 reais, com 8 unidades) e a de picanha no réchaud (67,90 reais). Mas àquela hora, com os times de Bélgica e Coreia do Sul perfiladas para cantarem o hino de seus países, ninguém comia. Enquanto a rapaziada postava-se nas mesas mais próximas ao telão, com copos de cerveja ao lado, em uma mesinha de canto próximo à janela, duas garotas tomavam refrigerante e bisbilhotavam nos respectivos aparelhos de celular.

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Arena Sports Bar. Avenida Doutor Luiz Aires, 1618, tel. (11) 2639-0462

*publicado por este blogueiro originalmente no blog Clima de Copa, no site de PLACAR