Para esquecer

O cardápio do Mestre: ou como traduzir o nome de um sanduíche para o inglês

O cardápio do Mestre: ou como traduzir o nome de um sanduíche para o inglês

Este post vai contar uma breve história na qual, infelizmente, deu tudo, ou quase tudo, errado, ao menos do meio ao fim. O epílogo, conforme você, leitor, pode constatar está logo acima. Nada me fez conseguir rotacionar a foto para propiciar uam leitura mais confortável. Perdão, portanto, se vier a ter um torcicolo por causa disso.

A própria foto, em si, de minha autoria, é um desastre. Feita com o iPhone 3GS, não tem foco. Mas acho que você consegue ver a pérola por meio da qual o misto frio foi traduzido para o inglês: “mixed”. Muito bom, né?

Fazia uns bons anos que eu não ia ao Mestre das Batidas, boteco que, verdade seja dita, é um herói da resistência em meio a horda de bares sem personalidade na região do Itaim. Cinquentão, foi aberto nos anos 60 e hoje está rodeado por arranha-céus espelhados, que despejam sua nova freguesia, ruidosa e que costuma ocupar toda a calçada em frente nas noites mais quentes – foi-se o tempo em que era possível sentar-se à mesa numa boa para tomar uma cerveja, a batida de coco, célebre, e pedir uma porção de calabresa frita no álcool.

Ou para comer um bolinho de bacalhau, frito na hora. Pois pedi uma cerveja e um bolinho que, infelizmente, vi que jazia ali na estufa e chegou a mim meio murcho, quase frio, ruim, afinal. Razão suficiente para tirar meu humor. A ideia era abrir os trabalhos com o salgado fritinho na hora, quentinho.

Por pouco não fui embora àquela hora. Mas como eu já havia pedido também um americano, resolvi tomar um segundo copo de cerveja, que, ao menos, estava bem gelada. Embora num tamanho GG, o sanduba parece ter sido tirado da chapa antes de o queijo estar totalmente derretido. Não saí com fome mas saí insatisfeito. De bom, só mesmo a sorte de ter conseguido estacionar o carro em frente ao bar.

Mestre das Batidas. Rua Clodomiro Amazonas, 440, Itaim Bibi, tel. (11) 3168-7418.

 

O novo Riviera, primeiras impressões

Balcão do Riviera: um bar que gira ao seu redor

Balcão do Riviera: um bar que gira ao seu redor

Não são poucos os perigos que correm aqueles que tentam ressuscitar um bar ou um restaurante de passado glorioso. Ao tentar fazer com que a glória ressurja ancorada apenas no nome e na nostalgia dos que viveram aqueles dias, essas iniciativas acabam por virar meros pastiches, a exemplo do que ocorreu com o Pandoro, o Bar Brahma e o restaurante Carlino, três casos que não careciam de exumação.

Pois Facundo Guerra (Vegas, Lions, Volt) e Alex Atala (D.O.M. e Dalva e Dito) tornaram-se sócios e resolveram correr o risco, juntos, de dar nova vida ao Riviera, o célebre bar na esquina da Consolação com a Paulista inaugurado em 1949.

Consta que o Riviera surgiu como uma casa de chá, frequentada pela vizinhança abonada dos casarões de Higienópolis. Conheci o Riviera já em sua fase agonizante, no fim dos anos 1990, nada glamurosa, bem ao gosto de Rê Bordosa, personagem do cartunista Angeli que foi concebida ali. Lembro-me do chope ordinário, da escada curvilínea, das mesas espalhadas pelo tristonho salão de pé-direito alto.

Pois o Riviera a la Facundo e Atala, nestes primeiros dias, tem mais a ver com a festa que deve ter sido seus primórdios. No lugar das mesinhas, brotou no salão um imenso balcão central, ao redor do qual orbita todo o resto. É um ícone e tanto, para um ambiente que já contava com velhos símbolos como o pé-direito de uns 7 metros de altura, a fachada com tijolinhos de vidro através dos quais vê-se o néon do lado de fora e a tal escada, que leva ao mezanino.

No mezanino, aliás, há um outro bar, de formato ondulado, de frente para os janelões que dão vista para o viaduto que liga a Paulista e a Consolação à Rebouças e à Doutor Arnaldo. No espaço central espalham-se mesas e, no fundo acomodam-se músicos que devem fazer showzinhos de quinta a sábado (R$ 35 o couvert artístico para quem se instalar ali).

A escada e o balcão: velho e  novo ícones

A escada e o balcão: velho e novo ícones

Pois, para meu gosto, o mais legal é ficar no térreo, ao redor do balcão, de preferência na posição da foto acima. Dali pode-se ver bem o entra-e-sai e o sobe-e-desce, além dos barmen a trabalhar — tomei um bom sidecar, R$ 22, um manhattan apenas mediano, R$ 24 e um chope Heineken (R$ 7) muito bem tirado.

O cardápio — sem contar o menu executivo servido na hora do almoço, pensado por Atala, é claro — apresenta porções, como a de amendoim, a de ostras e a de mexilhão (em falta, no sábado) e a sanduíches. O royal, famosa sugestão do velho Riviera, vale a pedida (R$ 23, rosbife com queijo, tomate e pepino no pão de forma envolto em uma fina camada de ovo). O lancha (R$ 29, filé a milanesa com rúcula e tomate), por sua vez, veio um pouco encharcado em gordura.

Pois com o encardido que o tempo naturalmente trará ao balcão e a expertise, se bem empregada, de Facundo e Alex, para fazer os ajustes (em especial no serviço, desatento ou  impolido?), o novo Riviera terá provado que, sim, vale a pena correr certos riscos.

Riviera Bar. Avenida Paulista, 2584, tel. (11) 3231-3705, http://www.rivierabar.com.br

 

 

 

 

D4: parece Baixo Augusta, mas está nos Jardins

D4: ambiente mezzo indie, mezzo fashion

A caveira feita com Lego, que aparece na foto acima, foi a primeira coisa que chamou a minha atenção quando cheguei ao D4 Boteco Galeria. É uma obra do artista Alê Jordão que está (ou estava, pelo menos até o dia em que visitei o bar) à venda por 80.000 reais.

Naquela hora lembrei-me do meu sobrinho Torben que, aos 5 anos, é um ás do Lego. Ele é capaz de passar horas, dias, semanas montando todo tipo de coisa: já deu forma a espaçonaves, a uma Kombi, a barcos, trens, castelos mil.

Torbinho, pensei, é um artista. Fiquei ainda mais convicto quando me aproximei do caveirão e notei que, na real, a obra à venda no D4 é apenas revestida de peças Lego: trata-se de um molde em forma de caveira, em cuja superfície as pecinhas foram coladas e encaixadas. Uma autêntica cabeça oca — de Legos, ao menos.

De todo modo, a caveira combina em cheio com o visual meio alternativo do ambiente, que tem as paredes do térreo e da pista, no mezanino, grafitadas. Se você chegar vendado ao bar, que foi aberto em agosto de 2012, num primeiro momento vai achar que está em algum lugar do Baixo Augusta, até notar que o público que chega tem mais a ver com os Jardins, mesmo, e está mais para, como dizem, “fashionistas”: garotas e rapazes esguios, na faixa dos 30, e um certo ar gay friendly.

Da carta de bebidas, vale a pena apostar nos drinques, sejam eles os clássicos (negroni, bem gostoso, equilibrado, R$ 22,00) ou os da casa, a exemplo do john coltrane (vodca, mel, lemoncello e licor de amora Chambord, R$ 26,00). Entre os petiscos, a porção joan miró é bem feita e foge da mesmice (bolinhos de risoto de ragú de cordeiro, R$ 26,00).

Depois das 23h, a pista de dança começa a esquentar, ao som de eletro, funk e rock.

D4 Boteco Galeria. Rua da Consolação, 3417, Jardim Paulista, tel. (11) 2338-8910, http://www.d4botecogaleria.com.

 

 

 

Veloso, 7 anos

 

Veloso / Foto: Fernando Moraes

 

Foi no dia 29 de março de 2005 que o Veloso abriu, de frente para a caixa d’água da Vila Mariana, as suas duas portas de ferro pela primeira vez e exibiu ao público o piso de caquinho, o balcão de fórmica e as paredes parcialmente cobertas com fotos de artistas e jogadores de futebol – os quadros com as caricaturas de alguns fregueses e a bola de futebol que decora a prateleira do bar, enviada direto da Copa da Alemanha por um grupo de amigos da casa, viriam aos poucos.

Naquele dia, o já famoso Souza tirou o primeiro chope e montou o que seria a primeira das milhares de caipirinhas que iria servir dali em diante. Wil, um dos melhores garçons do Brasil, baixou às mesas as primeiras porções da hoje inimitável coxinha (R$ 20,00 com seis unidades) e do não menos saboroso bolinho de carne (R$ 18,40 com oito), o meu preferido, aliás.

No caixa, o patrão Otávio fechou, na ponta da caneta, orgulhoso e apreensivo as primeiras continhas.

Foi mais ou menos assim que nasceu, já como um clássico, o ariano Veloso.

Para comemorar o sétimo aniversário, Souza criou mais uma vez um menu especial de caipirinhas. Vou tentar passar lá mais tarde para provar a de pitaia com abacaxi (R$ 20,00), tá certo, Souza?

Veloso. Rua Conceição Veloso, 56, Vila Mariana, tel. (11) 5572-0254, www.velosobar.com.br

 

Encontro de barmen

Ontem à noite, dois dos melhores barmen do país estavam no Pirajá (Avenida Brigadeiro Faria Lima, 64, Pinheiros, tel. 3815-6881) . Um deles, Derivan, feliz da vida, circulava sem parar pelo salão. Afinal, era um dos anfitriões da festa de lançamento da Cachaça da Tulha – edição única 2007.
O outro, Guilherme — ele mesmo, do hibernante Pandoro –, preparava caipirinhas, caju amigo e outros drinques no balcão do bar.
Mais novidades vêm por aí.
Como um amigo disse a este BOTECLANDO, “o que é do homem…”