Beba duas vezes por semana e seja feliz

Happy hour: duas vezes por semana, no mínimo / Foto: Romero Cruz

Happy hour: duas vezes por semana, no mínimo / Foto: Romero Cruz

A Organização Mundial de Saúde e entidades científicas internacionais de grande reputação, como o hospital da Universidade Johns Hopkins e a American Dietetic Association — além da minha nutricionista, a quem tive de recorrer no início desta semana depois que levei um presta-atenção do meu check-up mais recente por causa do colesterol —, recomendam os benefícios do vinho tinto para combater inimigos como as placas de gordura nas veias, a má circulação sangüínea e o mais ardiloso de todos os vilões (ao menos, no meu caso), o mau colesterol.

Na consulta de segunda-feira passada, Livia, a nutricionista, me deu o aval: “tudo bem, pode beber uma a duas taças de vinho por dia, não tem problema.”

Ok, para mim a boa notícia não era exatamente tão nova assim. Tipo, eu-já-sabia! Mesmo assim, meus olhos brilharam, ela há de ter percebido. Afinal, agora eu tinha um aval científico dito em alto e bom som.

Devo tamanha alegria aos queridos resveratrol e aos flavonoides, compostos presentes na uva, que têm respectivamente ação antioxidante e favorecem a produção de colesterol bom no  fígado.

Além dessa preciosa confirmação, dez dias atrás um interessantíssimo estudo comandado pelo neurocientista Robin Dunbar, da Universidade de Oxford foi divulgado. (Leia a notícia, em inglês, aqui.)

De acordo com Dunbar, homens que saem duas vezes por semana para beber com os amigos tendem a ter uma saúde melhor, a se recuperar mais rapidamente de doenças e a ser mais generosos.

Convenhamos, duas noitadas por semana em companhia dos amigos não farão mal a nenhum relacionamento.

Moderação e equilíbrio, no bar e na vida, não fazem mal a ninguém.

 

Vinho na Bienal

Entrada da Wine Weekend no prédio da Bienal: estandes de 24 importadoras / Foto: Miguel Icassatti

Entrada da Wine Weekend no prédio da Bienal: estandes de 24 importadoras / Foto: Miguel Icassatti

Pelo quarto ano consecutivo, acontece de hoje (25) a domingo (28) em São Paulo a Wine Weekend, feira que reúne 24 pequenas importadoras de vinhos e algumas das principais vinícolas brasileiras.

É a primeira vez que a feira acontece no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, o prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera — nos anos anteriores ocorreu no estacionamento do Jockey Club.

O ponto mais bacana deste evento, porém, é que, diferentemente de outras feiras, o visitante pode não apenas degustar os vinhos, mas principalmente comprar as garrafas (em geral, com desconto) ali mesmo. E quantas garrafas quiser ou conseguir acomodar nos carrinhos de supermercado colocados à disposição.

Casa Valduga, Lídio Carraro, Pericó, Perini, Aurora e Salton são as principais vinícolas nacionais presentes. No estande da Salton, por exemplo, o Talento (elaborado com as uvas cabernet sauvignon, merlot e tannat), tinto servido à comitiva do papa Francisco, está à venda por R$ 49,00. Na compra da caixa com seis unidades (R$ 294,00), ganha-se uma garrafa. O tinto Desejo (100% merlot) sai a R$ 55,00 e o branco Virtude, feito com a uva chardonnay, custa R$ 45,00.

Entre as importadoras, destacam-se a De La Croix, com seu portfólio dedicado aos vinhos franceses, a Qual Vinho? (com boa oferta de sul-africanos), a Cantu (que vende o fantástico Quinta do Vallado Reserva Field Blend 2008, R$ 125,00) e uma novata, a Weinkeller. Fundada há um ano, essa importadora é especializada em vinhos alemães, muitos deles com boa relação entre preço e qualidade, caso do branco Pfaffmann riesling (R$ 49,00).

A quem vai de carro, a boa notícia é que para estacionar não se gasta mais do que os R$ 3,00 do bilhete Zona Azul. Palestras e degustações temáticas, assim como uma exposição do cartunista Hermé, completam o programa.

Wine Weekend São Paulo Festival 2013. Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Bienal), Parque Ibirapuera, portões 3 e 4. Ingresso: R$ 50,00, com direito a uma taça de cristal. http://www.wineweekend.com.br.

BBB: Bacalhau Bom e Barato

Um dos salões da Casa Portuguesa: ambiente faz lembrar a região do Alentejo / Foto: divulgação

 

Semana sim, semana não — às vezes, semana sim, a outra também — saio para almoçar na Casa Portuguesa.

Esse restaurante simpaticíssimo, que ocupa um sobrado de esquina e cujos salões têm paredes pintadas de branco que me fazem lembrar as casinhas caiadas da região do Alentejo, prepara e vende os pratos de bacalhau mais baratos de Pinheiros e adjacências.

Ok, quando me sento à mesa, quase sempre uma daquelas instaladas ao lado da estante repleta de garrafas de vinho verde e tinto nas prateleiras, não espero encontrar o melhor dos cod ghadus morhua, o melhor e mais caro tipo de bacalhau — refiro-me ao ingrediente.

Mas nunca saio de lá arrependido por, uma vez mais, ter feito a opção pelo BBB, bacalhau bom e barato servido ali.

De segunda a sexta, há duas opções de prato do dia, que saem a R$ 23,00 cada uma. A partir de segunda, o menu varia entre bacalhau à gomes de sá e à eliseu (arroz de bacalhau com grão de bico); com natas e a brás (terças); ao forno e à gomes de sá especial (quartas); zé do pipo e com grão de bico (quintas); caldeirada, à brás e à gomes de sá especial (sextas).

Minha receita preferida, porém, é a do bacalhau à lagareiro (frito em posta, servido com batatas ao murro, brócolis e alho assado, R$ 38,00). Em geral, abro os trabalhos com dois bolinhos de bacalhau (R$ 3,00 cada um), divido essa receita e uma entrada (que pode ser a alheira, R$ 21,00) com mais uma pessoa.

Para beber, há rótulos de vinhos de diferentes regiões de Portugal, dos mais simples (a exemplo do Porca de Murça, R$ 35,00, produzido no Douro) aos que têm boa relação entre preço e qualidade, como o EA (Eugenio Almeida, alentejano, R$ 62,00).

Na falta de um bom vinho do Porto para acompanhar o pastel de nata na sobremesa (R$ 5,50), vale pedir um expresso bem tirado (R$ 3,00).

Atenção: a casa só atende durante o almoço.

Casa Portuguesa. Rua Cunha Gago, 656, Pinheiros, tel. (11) 3819-1987. http://www.casaportuguesa.com.br

Bowie, Berlim e KaDeWe

Detalhe do piso gourmet da KaDeWe / Foto: Miguel Icassatti

 

Este 8 de janeiro que já está quase acabando em um provável dilúvio aqui em São Paulo  marca o aniversário de pessoas queridas, entre elas David Bowie (espero que a chuva não faça faltar energia elétrica em casa, para que eu possa ouvir Space Oddity na minha vitrolinha Bel Air 1973 daqui a pouco).

Pois eis que no dia de hoje Bowie divulga um novo single, Where are you now?, coisa que não fazia há muito tempo (veja o clipe no link http://www.youtube.com/watch?v=FOyDTy9DtHQ&feature=share).

Na canção e no vídeo ele cita Berlim, em endereços como a Potsdamer Platz e a KaDeWe, sobre a qual escrevi neste mesmo blog em 2008.

Como bateu uma nostalgia danada de Berlim, reproduzo aqui trechos daquele velho post escrito durante minhas férias, diretamente da Alemanha, em versão editada. Acho que ainda está valendo:

“Pois estive em Berlim pela terceira vez, durante quatro dias na semana passada (perdão, mas as postagens não estão acompanhando devidamente o ritmo da viagem. Estou de férias, compreendem?). Das cidades que conheço, Berlim é a que mais me tocou. Conheci Berlim em 2003, na mesma viagem em que descobri Paris e Londres. É claro que me encantei por esses dois destinos, mas Berlim, em duas noites, me pegou de jeito, justamente porque eu não esperava encontrar toda aquela energia.

Voltei em 2006, durante a Copa do Mundo, quando percorri a Alemanha de sul a norte a bordo de um motorhome, com meus amigos de faculdade Alexandre Scaglia e Beto Gomes. Viagem inesquecível, em que assistimos a estreia do Brasil, comemorada num boteco ao lado do Estádio Olímpico no meio de um exército de croatas bêbados. Num exemplo de fair play, trocamos camisetas, contamos como se pronuncia alguns palavrões nos respectivos idiomas e tomamos muita, mas muita cerveja.

Desta vez (nota de 2013: em 2008) fiquei hospedado no bairro de Kreuzberg, que é repleto de bares. Nas margens do rio Spree e de seus canais (aliás, pouco se fala da belez que é a Berlim cortada por canais) há alguns deles, assim como em vias importantes como a Oranienstrasse. Um bar ao lado do outro, um restaurante italiano colado num asiático e assim por diante.

É diferente de Prenzlauerberg, bairro que fica na área correspondente à da antiga Berlim oriental, e que vem sendo restaurado a uma velocidade incrível. Velhos prédios tornam-se apartamentos de luxo e pontos comerciais deteriorados dão lugar a cafés e bares charmosíssimos que, aos domingos, ficam lotados de gente já pela manhã, para o brunch.

Nos quatro dias em que passei por Berlim, perdi a conta dos bares em que parei para uma cerveja ou mesmo um vinho. Em meio a eles, aproveitei para rever a KaDeWe, uma megaloja de departamentos que fica na regiao da Ku’Damm, uma das vias mais movimentadas da cidade.

Antes que o leitor pense que vai ler dicas de descontos e liquidações de grifes, convém avisar que a missão do blogueiro ali era a de subir diretamente ao sexto andar, o piso gourmet.

Chamar aquilo ali de Piso gourmet é questão de modéstia. Melhor propor o seguinte: imagine o Mercado Central de São Paulo, com seus boxes de frutas, frios, peixes. Pense agora que as dasluzetes passaram por lá e fizeram uma megafaxina, deram um banho de esguicho e de loja nos donos e nos funcionários dos boxes.

É mais ou menos essa a impressão que se tem do sexto andar da KaDeWe. Há córneres com vinhos à venda (juro que vi uma garrafa do brasileiro Miolo Lote 43 não muito longe de um Chateau Pétrus), três ou quatro boxes de frios e salsichas de todos os tipos, prateleiras e mais prateleiras de cervejas, acougue, peixaria, produtos como caviar, especiarias e bares, claro.

Um deles é um champanhe bar da Moët Chandon. Há tambem um sushi bar, tentei parar no vizinho, um oyster bar (especializado em ostras) mas não havia uma banqueta vazia; passei rapidamente por um bar especializado, acreditem, em lagosta; e parei para tirar uma foto diante do bar do famoso chef, que virou marca, Paul Bocuse.

Como um bom mercadão, uma multidão circulava pelos corredores e por esses bares. Faltava pouco menos de meia hora para a loja fechar e, em vez de ter de beber algo correndo, parei na seção de bebidas para viagem, comprei uma garrafinha de espumante, abri ali mesmo e desci as escadas rolantes tomando uns goles. Ao meu lado desciam esguias alemãs carregando sacolas Dolce & Gabbana, Gucci, Prada…”

KaDeWe. Tauetzienstrasse, 21. Tel. (00XX49) 302189851, www.kadewe-berlin.de

A viagem gastronômica do Franz Ferdinand

Franz Ferdinand, com Alex Kapranos à direita / Foto: Lucio Ribeiro

Neste domingo, 27, às 6 e meia da tarde, o Franz Ferdinand toca mais uma vez em São Paulo, no Parque da Independência. O show – gratuito – é parte da programação do Cultura Inglesa Festival , evento que a cada ano reúne mais e mais legais atrações não só na capital, mas também em Santos, Campinas, São José dos Campos e Sorocaba.

Das bandas surgidas nos últimos dez ou quinze anos, certamente o Franz é a minha preferida. Já fui a dois shows e passei a ter uma simpatia ainda maior pelos caras quando descobri que o vocalista, Alex Kapranos, é um sujeito bom de garfo e de contar histórias. Tanto é que lançou Mordidas Sonoras (Conrad, 144 páginas, R$ 27,30 no site http://www.lojaconrad.com.br), livro em que reúne historietas de lugares em que ele e seus colegas pararam para fazer uma boquinha durante a turnê mundial de 2005 e 2006 (quando, em São Paulo, a banda abriu o shows do U2, na primeira vez que os vi).  

Um momento impagável do livro é o relato da passagem por  Cingapura. Após ter sido estupidamente interpelado pelo gerente do Intercontinental enquanto fazia uma boquinha no pomposo saguão do hotel em que estava hospedado, convidou a plateia de 6.000 pessoas a aparecer por ali depois do show. “Levem um pouco de fast-food com vocês”, pediu. E não é que a moçada apareceu?

 

Foto: divulgação

 

O livro traz também alguns textos publicados na coluna “Sound Bites”, que ele assinou no jornal inglês The Guardian justamente até 2006, além de memórias de infância e dos tempos pré-rock’n’roll, quando trabalhou como entregador de comida e chef de cozinha. É hilária a descrição da degustação de amendoim, digamos assim, feita pelo autor, aos 3 anos de idade, sobre o carpete zero-quilômetro da casa nova.

Foram duas voltas e meia ao redor do planeta, por quatro continentes, onde Kapranos e seus colegas comeram de quase tudo: caranguejos de água doce em Sydney, faisão em Glasgow, cabeça de porco na Coreia, miúdos bovinos em Buenos Aires e até foram apresentados ao rodízio de carnes na churrascaria Porcão, no Rio de Janeiro. Ilustrado por Andy Knowles, tecladista da banda, Mordidas Sonoras é um livro leve, mas que deve ser digerido em pequenos goles, uma historinha de cada vez, como quem degusta uma stout gelada, no ponto.

 

E por falar em Paris…

Paris e França têm estado presentes na minha vida ultimamente, ainda que no cinema ou engarrafadas com vinhos.

Dos três últimos filmes que vi no cinema, um tem como cenário o interior da França – o poético Minhas Trades com Margueritte, com Gérard Depardieu – e os demais a capital: Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, e o fabuloso Gainsbourg, O homem que amava as mulheres (e que mulheres…).

Meia-Noite em Paris (foto: divulgação)

E entre os vinhos que tenho tomado, por sorte e oferta dos amigos, os rótulos franceses têm sido insuperáveis, como este Baron de Pichon-Longueville 2002:

Essa alta dose de Paris me fez lembrar, não por acaso, do Le Cosi, onde jantei na viagem mais recente que fiz à cidade, no réveillon de 2010. A bem da verdade, esse restaurante tem um ambiente bem cute-cute, gostosinho, e uma culinária razoável, mas que no fim das contas valeu os 100 eurinhos que Camila e eu deixamos ali justamente pela somatória desses itens – e por estar em Paris, é claro.

Os pratos ali têm inspiração na gastronomia da Córsega e da Provence, caso da cocotte (sopa) de legumes com foie gras (13 euros) e da versão da casa para o entrecôte (26 euros).

O mais legal do Le Così, porém, é mesmo o seu entorno, aquele miolinho da Rive Gauche e dos Jardins de Luxemburgo, com suas ruas cada vez mais silenciosas conforme os ponteiros do relógio vão chegando e ultrapassando a meia-noite. São perfeitas para uma caminhada sob a chuva, como sugere Gil, o protagonista de Meia-noite em Paris, ou sob o frio do inverno, como felizmente pude experimentar.

Le Così. Rue Cujas, 9, Paris.

PS: propaganda nunca é demais. Paris está na capa da VIAGEM E TURISMO de agosto/2011.

Leia também:
O Ritz do 6ème
38 endereços em Paris para dormir bem, comer melhor ainda e curtir

Na companhia dos Douro Boys

Rio Douro, visto a partir da Quinta do Crasto

Anteontem participei de uma degustação de vinhos elaborados pelos Douro Boys, como são chamados os produtores do Douro que, a partir de 2002, juntaram-se para promover os vinhos dessa bela região para o mundo. Não é exagero dizer que esses simpaticíssimos e competentes boys de meia-idade provocaram uma pequena revolução. Afinal, concorrentes que são, por que haveriam de se juntar num negócio? Porque viram que, unidos, poderiam explorar muito mais o potencial mercadológico da bebida sem prejuízo nenhum aos negócios de suas próprias vinícolas. Já se falou muito, aliás, que essa experiência poderia ser replicada aqui no Brasil a fim de divulgar a região do Vale dos Vinhedos e mesmo outras menos conhecidas.

Das regiões produtoras de vinho que conheço – Piemonte, Maipo e Colchágua, Franciacorta, Alentejo, Jerez, Montevidéu e Vale dos Vinhedos – o Douro é, de longe, a mais bonita e magnética. As vinícolas locais começam a se abrir para o enoturismo e as pequenas vilas e cidades ao longo do curso do rio, como Pinhão e Peso da Régua, têm lá sua graça e gastronomia castiças, que valem o investimento de alguns dias de exploração. Há exatamente um ano estive na Quinta do Crasto, onde fui muito bem recebido pelo enólogo Manuel Lobo, que conduziu uma visita pelos vinhedos e uma rápida degustação.

Veja também: 7 dias de vinho, vinho, vinho, boa comida, sesta, cavalgadas, e spa na deliciosa Mendoza, da revista VIAGEM E TURISMO

Bom, o fato é que o evento de anteontem teve a presença, in loco, dos boys João Ferreira (da Quinta do Vallado), José Teles (representando a Niepoort), Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão), Tomás Roquette (Quinta do Crasto) e Cristiano Van Zeller (Quinta Vale D. Maria).

Os Douro Boys

A degustação começou com a prova dos brancos, dos quais gostei bastante do Crasto Branco 2010, da Quinta do Crasto (cujos rótulos no Brasil são importados pela Qualimpor). Frutado e refrescante, tem bom corpo e equilíbrio, não enjoa se bebido desacompanhado de comida. Na sequência, aponto o Redoma Reserva 2009 do Niepoort (importador: Mistral), com boa persistência, encorpadão, “novomundista”, ou seja, com uma dosezinha a mais de açúcar, um pouco enjoativo.

Na sequência, cada produtor apresentou, separadamente, rótulos de suas respectivas vinícolas.

Dos três exibidos pela Quinta Vale Dona Maria (importador: Vinho Sul), destaco o Quinta Vale Dona Maria 2007. Como os outros dois, esse é vinificado a partir de vinhas velhas, de um total de 41 castas diferentes plantadas há mais de sessenta anos. É um vinho potente, estruturado e com retrogosto de café e chocolate. Achei o mais diferentão entre eles.

Convém ressaltar, tanto para esse como para todos os demais vinhos, que são de safras recentes, logo, ainda fechados, “duros”, como se diz, e que devem proporcionar muito mais prazer a quem os degusta se forem bebidos daqui a alguns anos.

A Quinta do Vale Meão (importadora: Mistral), que produz apenas os rótulos Meandro e Quinta do Vale Meão, apresentou exemplares da safra 2008. O primeiro exibiu aromas desequilibrados, de caráter animal. Já o segundo (um corte das castas touriga nacional, touriga franca, tinta roriz, tinta barroca e tinta amarela), arrisco dizer que foi o melhor da noite. Mescla elegância e concentração. Equilibrio é mesmo tudo.

Da Quinta do Vallado (importador: Cantu), o Reserva Field Blend 2008 mandou bem, embora estivesse um tanto tímido em termos de aromas. Por ser de vinhas velhas, desconhece-se quais sejam os tipos de uva usados em sua vinificação.

Em seguida, a Quinta do Crasto foi a única a abrir quatro rótulos diferentes, dos quais o Reserva Vinhas Velhas 2009 foi o melhor. Um vinho elegante, com boa concentração o aroma e o paladar amadeirados bem integrados à bebida. Um dos meus top 3 da noite.

Também beliscou o meu pódio o Batuta 2008, um dos trê stintos trazidos pela Niepoort. Tem uma cor mais límpida e características de aroma e sabor que remetem aos vinhos da Borgonha, os bons. Se para algumas pessoas isso demonstra uma certa falta do caráter e tipicidade da região, para mim não há problema. Vinho delicioso.

Para encerrar, dos três portos Vintage apresentados, diria que o da Quinta do Vallado 2009 é o mais interessante.

Ao fim da degustação, alguém disse que a região do Douro se diferencia por conseguir produzir dois tipos de vinho – tinto e Porto – com qualidade. Eu não descartaria os brancos que vêm surgindo. E diria que seja qual for o tipo de vinho, é uma região que merece ser brindada e visitada sempre!

E por falar em estádios…

Estádio Olímpico de Berlim Foto: Camila Antunes

Sempre que chego pela primeira vez a uma cidade procuro conhecer dois tipos de atração: estádios de futebol e mercados (sob a aba do chapéu “mercado” incluo feiras de rua, camelódromos e supermercados).

Mas é de estádios que quero falar. Num momento em que os principais estádios brasileiros estão em reforma para a Copa do Mundo de 2014 – a exceção do Morumbi, o mais importante de todos!, que, não sei não, ainda acho que vai receber alguns joguinhos do mundial – é interessante saber que a bola vai rolar por velhos-novos gramados, antes esquecidos.

Como pode ser visto nesta galeria de estádios publicada pelo viajeaqui, o Brasileirão 2011 terá partidas em Pituaçu (Salvador), no Presidente Vargas, em Fortaleza, e até em Macaé, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro.

Aos torcedores mais fanáticos, eis um bom motivo para seguir os times e conhecer novas cidades, não só em dia de jogos.

É verdade que os clubes e/ou cidades e/ou estados que administram os estádios pelo país ainda estão engatinhando no que poderíamos chamar de “turismo de futebol”. As exceções, eu diria, são poucas.

Uma delas é o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, onde fica o maravilhoso Museu do Futebol e cuja infra-estrutura fica disponível a qualquer pessoa que queira, por exemplo, fazer uma caminhada na pista ao redor do gramado ou mesmo tomar um sol na arquibancada.

Ao Morumbi é possível fazer visitas programadas, com direito a conhecer a espetacular sala de troféus, entre outras instalações.

Lembro-me que, quando criança, explorei o Mineirão, onde já assisti diversos jogos, e pude até pisar no gramado.

Fora do Brasil foram inesquecíveis:

– a visita a La Bombonera, do Boca Juniors, em Buenos Aires, onde estive por duas vezes: a primeira, em 2004, fiz a visita guiada pelos vestiários, loja, sala de imprensa, museu e gramado. Naquele dia, por sorte, Carlitos Tevez, que ainda jogava pelo Boca Juniors, estava no clube e pude tirar uma fotinho ao lado dele. Voltei ao estádio em 2009, quando assisti a um empate de 2 a 2 do time da casa com o Argentinos Juniors.

– as duas vezes em que fui ao Estádio Olímpico de Berlim. A primeira delas, na companhia de dois amigos, assisti a estreia do Brasil na Copa de 2006, o 1 a 0 contra a Croácia, gol de Kaká. Naquele dia tive a prova de que Deus existe: apesar de um amigo ter se perdido bem na hora que o jogo ia começar, ele conseguiu ver o jogo. Enquanto procurava por ele, eu encontrei um ingresso para a partida, jogado na alamenda que liga a estação de metrô ao estádio. Não localizei meu amigo – só fui revê-lo tarde da noite, já no nosso motorhome como qual rodamos a Alemanha – mas vendi o ingresso pelos mesmos 300 euros que tive de desembolsar ao cambista de quem comprei a entrada (que dava acesso ao setor destinado à amável torcida croata). Na segunda vez, em 2008, fiz um passeio por toda a área do estádio, que tem uma arquitetura monumental, como se pode ver pelas fotos deste post (desculpem pela qualidade das imagens).

No detalhe, a pira olímpica

– na mesma Copa, assisti no Estádio Olímpico de Munique ao jogo entre Alemanha e Argentina, que acontecia no Estádio Olímpico de Berlim. Como? Simples: a organização da Copa de 2006 instalou um megatelão no meio do gramado do estádio de Munique para que todos os torcedores e turistas que estavam na cidade pudessem torcer pelas equipes. Foi muito legal (ainda mais porque deu Alemanha, hehe)!

– o jogo entre Real Madrid e Atlético de Bilbao, em dezembro de 2006, no Santiago Bernabéu. Em sua fase “galática”, o Real tinha na equipe Ronaldo, Beckham, Roberto Carlos, Emerson, Raúl, Van Nistelrooy, Robinho, entre outros. O Real ganhou de virada, com gols de Ronaldo e Roberto Carlos. Não pude conhecer os bastidores do estádio mas fiquei impressionado com a organização dos setores, a acústica (se eu estivesse no lugar do jogador do Bilbao que foi expulso e tomou a mais sonora vaia de todos os tempos, eu teria saído do gramado aos prantos) e o acesso: há uma estação de metrô na porta, exatamente na porta do Bernabéu.

– a estreia do St. Pauli na segunda divisão do Campeonato Alemão de 2008-2009, em seu estádio em Hamburgo. Havia pelo menos 20.000 pessoas nas arquibancadas, em uma partida às 18 horas de uma sexta-feira. O bacana é que esse estádio é o único na Alemanha que tem autorização para que seja vendida cerveja na arquibancada, conforme contei aqui mesmo no Boteclando.

Mas preciso contar uma coisa: nenhuma dessas experiências se compara ao dia em que o São Paulo ganhou seu primeiro título da Taça Libertadores, em 1992, em pleno Morumbi. Eu estava lá.

Um frango para o Timão

É nos momentos difíceis que a amizade é submetida às maiores provas. Por isso quero agradecer aos amigos corinthianos que, após a derrota do meu São Paulo para o Avaí na quinta-feira passada, deixaram mensagens e mais mensagens de solidariedade no meu telefone celular.

Mais do que agradecer, quero retribuir tamanha demonstração de amizade e homenageá-los com a foto abaixo, clicada em uma das viagens que fiz a Hamburgo, na Alemanha, onde mora minha irmã.

Assim que saiu o gol do Neymar na final do paulistinha de ontem, o segundo do Santos, sabe-se lá o porquê, lembrei-me desse restaurante, que fica numa das ruas mais movimentadas do bairro português, a três ou quatro quadras do porto da cidade.

Essa região, que fica, aliás, às margens do Rio Elba, ganha uma intensa agitação nos meses de verão, que começa daqui a pouco no hemisfério norte.

O curioso é que na Churrascaria O Frango, gostoso, mesmo, é o bolinho de bacalhau.

Churrascaria O Frango: Reimarusstrasse, 17, Neustadt, Hamburgo,  Alemanha.

Compre na baixa, beba na alta


A notícia completa você lê no site internacional do canal Deutsche Welle. Não, não vou falar de assuntos tão sérios quanto economia ou política internacional neste espaço, mas chamou-me a atenção o que acontece no DAX-Bierbörse, um bar com sedes em cidades como Hannover, Hildesheim e Bielefeld, todas na Alemanha.
No DAX, o preço das diferentes marcas de cerveja flutua o tempo todo ao longo do dia, ou seja, varia conforme a procura, como se fosse uma bolsa de valores (börse) de cerveja (bier). Se, por exemplo, a Gilde está sendo muito vendida, ela vai ficando mais cara com o passar das horas. Por outro lado, se ninguém pede a Paulaner, ela passa a ser vendida cada vez mais em conta.
Genial, não? Cada vez que fico sabendo de uma história como essa, tenho vontade de perguntar a alguém que acaba de abrir mais um boteco-chique, mais um bar de espetinhos, mais um “pseudopub” (sim, um pub que acha que é pub), mais um lounge nova-iorquino ou mais um bar que serve feijoada com pagode, o seguinte: Cadê a autenticidade? A originalidade? A novidade?
Já temos bons e suficientes estabelecimentos desses e de outros gêneros na cidade. Precisamos de mais do mesmo? Além disso, não é de uma hora para outra que um lugar recém-aberto vai se transformar num Léo, num Frangó, num Bar do Luiz Nozoie ou mesmo num Original.
Se uma vez já dei as dicas para alguém que queira matar um bar (clique aqui), desta vez modestamente escrevo a quem pensa em abrir o seu. Quer copiar alguma idéia, OK, que esta seja realmente muito boa, ou que seja ao menos nova por aqui. Mas não seria mais legal pensar em algo realmente novo e diferente?
DAX-Bierbörse. Boulevard 3, tel. 00XX49-521-5281250, Bielefeld; Hamburger Allee, 4, tel. 00XX49-511-3888440, Hannover; e Am Ratsbauhof, 4, tel. 00XX49-512-1998377, Hildesheim.