O boteco mais seguro do Rio de Janeiro

Demorou um bocado, mas finalmente fui conhecer o Pavão Azul, boteco localizado na esquina as ruas Barata Ribeiro e Hilário de Gouveia, em Copacabana.

Foi uma visita rápida, é bem verdade, a meio caminho entre Ipanema e o Aeroporto Santos Dumont, quarta-feira passada.

Mas com tempo suficiente para pescar, acho eu, um tiquinho da alma do bar que — diferentemente de outros botecos da Zona Sul carioca, que costumam valer-se da fortuna de sua localização como vantagem competitiva, esquecendo-se do que realmente importa: atendimento, comida e bebida.

Percebi verdade naquelas pataniscas (uma espécie de primo pobre e disforme do bolinho de bacalhau, R$ 2,30 a unidade) e no chope, servido em copo adequado (tipo Hannover, com pezinho).

Não consegui me acomodar em uma das mesas sobre a calçada, mas o garçom deu um jeito de me arranjar uma banqueta, sobre a qual coloquei copo, petiscos e porta guardanapos, quase no meio-fio. A uns 5 metros de distância, alguns clientes tomavam cerveja e conversavam, encostados nos carros parados nas vagas a 45 graus.

A uma distância ainda menor, duas freguesas trocavam segredos, copo de cerveja na mão, pernas cruzadas e cadeiras descansando sobre o capô de um carro da polícia, também estacionado ali — a 12ª Delegacia de Polícia fica ali em frente, no que deve fazer do Pavão Azul o bar mais seguro do Rio de Janeiro.

Pavão Azul. Rua Hilário de De Gouveia, 71, Copacabana, tel. (21) 2236-2381.

Na Vila Olímpia, um delicioso leitão à bairrada

 

Você certamente não há de ter reparado, meu querido leitor, mas alguma coisa mudou aí neste texto acima, à direita da minha foto, que contém o meu perfil. Além do orgulho de continuar contando minhas impressões em relação ao que ando comendo e bebendo de bom ou de ruim (em geral, de bom, por acreditar que é isso que pode lhe interessar), desde março passei a integrar a equipe da revista Men’s Health Brasil.

Como você pode imaginar, o período de transição profissional nunca é fácil, razão pela qual há de compreender minha ausência por algumas semanas neste espaço. Uma boa notícia durante esse intervalo é que pude voltar a Nova York, onde conheci novos endereços, dos quais vou compartilhar em breve. E, claro, visitei e revi alguns abres e restaurantes que, da mesma forma, creio que mereçam um relato.

Quero (re)começar falando do delicioso leitão à bairrada servido no Rancho Português. O Rancho pertence aos mesmos donos do Rancho 53, que fica na Rodovia Castelo Branco, quilômetro 53, e que serve um famoso bacalhau — vale a viagem, certamente.

Pois na imensa casa inaugurada em 2013, na esquina da Rua Alvorada com a Avenida dos Bandeirantes, e que comporta uma senhora adega de vinhos e um empório, eu diria que a atração maior da cozinha é o leitão à bairrada, ou seja, temperado com sal e pimenta e levado ao forno. Os fornos em que o bichinho é assado, aliás, foram importados de Portugal. Um dos pratos mais famosos da gastronomia lusitana, o preparo requer atenção especial com a matéria-prima: para que sejam preservadas as características originais da receita, o leitão deve ser abatido com cerca de 6 semanas de vida e 6 a 8 quilos de peso.

O Rancho até prepara uma versão, digamos, pocket, a R$ 129, para duas a três pessoas. Mas a graça está em encomendar o leitão inteiro (R$ 520), reunir 8 a 10 amigos, e refestelar-se.

Rancho Português. Avenida dos Bandeirantes, 1051, Vila Olímpia, São Paulo (SP), tel. (11) 2639-2077, http://www.ranchoportugues.com.br

 

 

Comprando peixe na Ceagesp (ou no Ceasa)

Pátio do Ceasa: a foto é antiga (1995) mas a atmosfera permanece / Foto: Gladstone Campos

Para a maioria dos paulistanos, a Ceagesp  (ou o Ceasa) é aquele megaatacado feiosão, na margem direita do Rio Pinheiros, em que os donos de restaurantes e chefs de cozinha, supermercadistas, feirantes e o público em geral vão buscar toda sorte de produtos hortifrutigranjeiros para abastecer seus estabelecimentos, barracas e geladeiras.

Uma vez por ano, pelo menos, o coitado do Ceasa (ou a Ceagesp) aparece nos telejornais, em rede nacional, por causa das inundações na temporada de chuvas. Você deve se lembrar de ter visto o Datena e o comandante Hamilton exibindo as imagens deprimentes de caixotes de madeira, hortaliças e melancias boiando próximo a caminhões ilhados. Triste, não é?

Pois é, a Ceagesp (ou o Ceasa) é feiosa mesmo, você e seu nariz serão sufocados por cheiros bons e outros nem tanto, mas esse gigantesco entreposto deve ser considerado como um, digamos, ponto turístico obrigatório na cidade caso você seja um aficionado por gastronomia (Ok, e também por jardinagem, mas essa é uma outra história).

E não é que esta Semana Santa oferece um motivo para visitar esse mundo das cebolas e dos badejos?

Até amanhã, quinta-feira (5), acontece das 3 da tarde às 9 da noite a 7ª Santa Feira do Peixe. No Pátio do Pescado, cercadas por carretas tipo frigorífico, algumas barracas vão vender diretamente ao consumidor produtos frescos como polvo, lagostim, lula, camarão e diversos tipos de peixe.

Passei por lá ontem à noite e enchi duas sacolas com camarão cinza (R4 24,00 o quilo) e um viçoso lombo de bacalhau Cod gadus morhua (R$ 42,98 o quilo). Confesso que não pesquisei os preços desses itens no supermercado, mas me parece que fiz um bom negócio. Entre outras pechinchas vi também que havia sardinha (R$ 4,00 o quilo), cavalinha (R$ 2,60) e lula (R$ 10,00). No meio do pátio, ao lado da banca de bacalhau, pode-se aproveitar a viagem e levar para casa todo tipo de tempero.

A quem quiser fazer uma boquinha por ali, uma banca nos fundos dessa área vende pastel de bacalhau e de outros sabores. E apesar de o endereço oficial do Ceasa (ou a Ceagesp) constar como Avenida Doutor Gastão Vidigal, 1946, fica a dica: o melhor acesso à Santa Feira se dá pelo portão 13 da Avenida das Nações Unidas (Marginal Pinheiros), cerca de 500 metros após a ponte do Jaguaré. Estacionamento grátis.

Sandubas e mais sandubas no Mercadão

Começou hoje – e eu já pretendo conferir amanhã mesmo – o Festival Gastronômico Caminhos e Sabores de São Paulo, que reúne doze boxes, bares e quetais do Mercado Municipal Paulistano.

Até o dia 14 de novembro, algumas dessas casas estão apresentando em primeira mão receitas recém-criadas.

Outras estão concedendo desconto no preço de itens clássicos, caso do Hocca Bar, famoso pelo pastelão de bacalhau e o sanduba de mortadela, que baixou de R$ 8,50 para R$ 3,00 o do sanduíche bela baby (mortadela com queijo).

Estou particularmente curioso para provar estes dois sandubas:

1. o de sardinha escabeche do Mortadela Brasil (R$ 8,00)

fotos: divulgação

2. o bacalanche da Lanchonete Ponto 27, que, a foto não nos deixa enganar, traz bacalhau desfiado bem fininho, temperado com ervas finas e azeitona verde (R$ 14,00).

O mais legal é que, a cada pedido, o cliente pode levar para casa as dicas sobre o modo de preparo.

Se de fato eu conseguir passar por lá amanhã cedo, conto aqui depois se valeu a pena.

Mercado Municipal de São Paulo. Rua da Cantareira, 306, centro.

A Rosa e o petisco de nome impublicável

Foto: Renata Ursaia

Quem quiser saber o que é hospitalidade, deve conhecer a Academia da Gula (Rua Caravelas, 374, Vila Mariana, tel. 5572-2571; 7h/23h; sáb., 11h/17h30; fecha dom.; http://www.academiadagula.com.br/), um boteco improvável, numa esquina improvável a um quarteirão da 23 de maio que, dependendo do horário, terá tráfego complicado — provável desculpa para desviar seu caminho e estacionar numa das mesas do bar.

Rosa Brito, portuguesa de Barcelos, é a dona da casa.

Ela recebe os fregueses — quando Lula ainda não havia se mudado para Brasília, consta que passava por lá; entre eles, também, não é raro encontrar algum comissário ou piloto da Air France, empresa que hospeda seus funcionários no hotel vizinho e que sugere a eles o boteco como referência culinária na cidade — e os fornecedores, atende as mesas, atua na cozinha, fofoca com a filha e conta histórias verdadeiras de seus patrícios, que são melhores do que piada, a quem quiser voltar para casa com algum caso engraçado. Importante, sua filha (Daniela), a Sônia (garçonete da noite) e a Ilda (a do dia) são espertas a ponto de saber que bom atendimento e simpatia, para quem é botequeiro, equivalem a uma saideira. Por isso, seguem o exemplo de Dona Rosa.

Já estive na Academia da Gula três ou quatro vezes. A mais recente delas foi na noite de sexta-feira, quando recebi um amigo de Recife, bom de copo, aliás. Você não deve sair de lá sem:

1. abrir os trabalhos com os bolinhos de bacalhau (pequeninos, moldados na colher, R$ 16 a porção com 12 unidades) e uma garrafa de cerveja;

2. provar a alheira, estourada na chapa quente com um pouco de azeite (R$ 13);

3. pedir uma porção de bacalhau cru desfiado no punho, com azeite, cebola e salsinha (na foto, R$ 35), cujo nome que consta no cardápio é impublicável a uma hora destas;

4. despedir-se da Dona Rosa com um ‘até breve’.