O ovo da dona onça

Salão do Bar da Dona Onça / Foto: Raul Zito

“A partir de agora e por todo o tempo que você permanecer no bar, seremos responsáveis pela sua felicidade”. Estão vendo a lousa no canto superior esquerdo da foto que mostra o Bar da Dona Onça? Pois bem, a frase que começa este texto estava escrita ali, como que dando boas-vindas a quem chegasse à casa.

No domingo passado, depois de ter ido à exposição do artista gráfico holandês Escher no Centro Cultural Banco do Brasil, centrão de São Paulo, parei para um almoço tardio no Bar da Dona Onça, que não visitava há um ano ou mais.

Fiquei contente por ver a casa cheia em pleno domingão, quando a região central costuma ficar vazia e tristonha. Passava das 3 e meia e havia apenas duas mesas vagas. Estava curioso para finalmente provar algumas das receitas que ainda não conhecia no novo cardápio.

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Tive a sorte de conseguir pedir a última porção de minissanduíche de carne moída temperada com azeitona e ovo cozido (R$ 24,00, com três unidades), uma versão graciosa do buraco quente, o velho pão com carne moída.

Para acompanhar o almoço, minha ideia era pedir um vinho, mas confesso que fiquei assustado com os preços. Meia-garrafa do argentino Catena malbec está custando, ali, R$ 54,00! Acabei optando por uma garrafa da cerveja Colorado Indica, R$ 19,00 e arrematei a refeição com o Terranova shiraz, produzido pela vinícola Miolo no Vale do Rio São Francisco, divisa de Bahia com Pernambuco, pelo qual paguei justos R$ 9,00 a taça.

Dividi com Camila um prato de arroz de bacalhau, que nos pareceu apetitoso. À mesa, ele chegou em dois pratos de alumínio, tipo caçarola, em quantidades que, se não generosas, suficientes para nos deixar satisfeitos. Sobre o prato de Camila veio o ovo da segunda foto deste post.

Mal a garçonete desejou-nos bom apetite, elogiei a belezura daquele ovinho frito (na hora que postei a foto abaixo no facebook não havia rolado a parte chata da história…) e brinquei, “pô, só veio pra ela?”

O ovo de R$ 4,00

Ao perceber minha vontade de provar daquele ovinho de gema quase molinha, a garçonete disse que iria ver com o chef se ele fritaria um para mim. Fiquei feliz da vida com a gentileza dela.

Pois é, não foi uma gentileza, conforme eu veria na hora em que a conta chegou. Por esse ovo extra, cobraram-me R$ 4,00.

Situações como essa me deixam beeeeem chateado. Irritado. Mal-humorado. Afinal, 1. eu não pedi pelo ovo; 2. a garçonete não me entregou o cardápio para que eu conferisse o preço; 3. não me falou que eu teria de pagar por algo que ela própria havia me oferecido (para efeito de comparação, ela me perguntou se eu iria querer o couvert…); 4. conclusão: fiquei com a nítida impressão que ela (ou o caixa) deu-me claramente um “migué” para cima de mim.

Paguei a conta, deixei os 10% do serviço, dei uma última olhada no que estava escrito na lousa e pensei: comi muito bem, como das outras três vezes em que estive ali. Mas não fiquei feliz.

Bar da Dona Onça. Avenida Ipiranga, 200, Centro, tel. (11) 3257-2016.