Dois dos mais admiráveis botecos nos quais tomava-se chope de primeira linha nesta cidade estão sendo assassinados. Ontem eu vi, meninos, e conto-lhes o modus operandi desses dois crimes.
Primeiro, submeta-se à exigência da cervejaria e troque a marca do chope. A bebida ficará pior, o creme que cobria o líquido vai tornar-se uma espuma seca, porosa, sem graça. Esse é o estado atual de um deles, que, prestes a completar 40 anos, já não era o mesmo, dizem os mais assíduos, desde que o garçom da casa, um lorde, aposentou-se, morrendo logo em seguida.
Outra opção – a que acontece com o outro moribundo e com tantos mais – é comprar um bar que você admire e transformar o seu prazer em negócio. Passe de freguês a dono. Em vez de preocupar-se em escolher a melhor mesa ou em saber da saideira, comece a lidar com dinheiro, fornecedores, clientes. Troque a decoração antiga pela “à moda antiga”.
Deixe que os tiradores de chope, da segunda geração no ofício de manusear a máquina (esta com quase oito décadas de atividade), peçam demissão. Melhor, demita-os.
Instale uma TV e telas de plasma – ou LCD, nunca se sabe ao certo –nas paredes e mantenha ao menos um desses aparelhos ligados o tempo todo em canais de futebol.
Convide um casal para interpretar MPB ao vivo, voz, microfone, violão e uma caixa de som, em um canto do salão e não ligue se a letra de um samba de Cartola sair errada. Uma noite de música no meio da semana será o suficiente.
Pago um chope a quem não souber que bares são esses.
Como matar um bar
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