Meu reencontro com Madri, depois de quase nove anos, foi brevíssimo, um dia e meio, conforme vou contar na edição da Revista GOSTO que chegará às bancas daqui a uma semana.
Mas como na primavera da Europa os dias já se estendem até 9, 10 da noite, o convite para zanzar está feito. Ou seja, tive pouco tempo, mas ele ‘rendeu’, como diz minha mãe.
E, em Madri, entendo que zanzar significa dar um rolê por quantos bares conseguir, numa mesma tacada. Em Chueca – o bairro gay, moderno, turístico, hipster, seja lá o que for – essa tarefa fica mais fácil porque há um monte deles, o que é bom para quem está sozinho, o que era o meu caso.
Nesses bares de tapas, como o El Tigre, o lance é encostar na barra (o balcão) e pedir uma caña (copo de chope). Em segundos, o atendente colocará à sua frente um pratinho com uma croqueta de jamón e um pedaço de tortilla. Você desembolsará uma moeda de 1 ou 2 euros, agradecerá e seguirá seu rumo.
Vai entrar no segundo, que pode ser o Bodega de la Ardosa, um boteco excepcional na ativa desde 1892, e pedir um copo de Rioja Crianza na barra. E o barman virá com umas azeitonas e um naco de pão. Mais 3 euros, gracias e… próximo.
Era perto de 2 da manhã de segunda para terça da semana passada e eu voltava a pé para o hotel, depois desse périplo. Ao passar em frente à Igreja de San Antón, vi que estava aberta. Atenção: 2 da manhã! Entrei, caminhei pelos altares laterais até chegar ao dedicado a San Valentín.
Segundo a tradição católica, San Valentín era um soldado romano que casava jovens romanos no século III, opondo-se à determinação do imperador Claudio II, que havia proibido os matrimônios por achar que os soldados solteiros eram mais valentes no campo de batalha. Morreu decapitado em 14 de fevereiro do ano 270 tornou-se o padroeiro dos namorados. Razão pela qual em muitos países o dia dos namorados é celebrado em 14 de fevereiro, dia de San Valentín.
No altar, há uma câmara com uma ossada, atribuída ao santo protetor dos namorados. Há quem questione a originalidade dessas relíquias, mas o fato é que elas podem ser vistas por quem quiser, 24 horas por dia, 365 dias por ano. A igreja está sempre aberta, atendendo um pedido do Papa Francisco, para que os templos estejam sempre de porta aberta. Tem wi-fi, sacerdotes de plantão para conferir os sacramentos a qualquer hora e até um serviço de confissão por iPad.
Nada mais moderno e revolucionário, porém, do que a porta aberta.
Feliz Dia dos Namorados.