Mi Palermo querido, papá!

O zôo do Buenos Aires: centenário

O zôo do Buenos Aires: centenário

Tenho certeza absoluta: para Maria Cecília, o colo do papai é o melhor lugar do mundo. Disputam o segundo posto na preferência da minha filhota os colos do vovô Gê, da mamãe, das vovós, titias e, desde o fim de semana passado, as ruas de Palermo, o querido bairro portenho.

Em sua primeira visita a Buenos Aires, Ciça, a nenê globetrotter, parecia sentir-se em casa. Embirrou, tagarelou, disparou algumas vezes pelas calles Thames, Serrano e Honduras, pelo saguão do Aeroparque, fez amigos nos restaurantes, brincou na areia, pirou no zoológico e cantou parabéns à mamãe, aniversariante.

Este foi meu quinto encontro com Buenos Aires. Na verdade, o mais correto é dizer que foi o quarto reencontro com Palermo Viejo, e só com Palermo Viejo, já que desta vez não saí do bairro, que conheci em 2004, na minha primeira viagem à cidade, e pelo qual fiquei imediatamente arrebatado. Gosto muito de seus prédios residenciais, de suas praças, bares e restaurantes, de suas lojinhas e kioskos, de suas casas e árvores desfolhadas no inverno, das ruas largas e retíssimas.

Saímos de São Paulo, Ciça, Camila e eu, na sexta, ao meio-dia, e desembarcamos em Ezeiza por volta das 3 da tarde. A corrida a bordo do táxi oficial do aeroporto até o hotel (Aspen Square, muito bom e bem localizado) custou-nos 240 pesos (100 reais). O voo de volta, na noite de domingo, partiria do Aeroparque, a vinte minutos e 40 pesos de Palermo. Portanto, vai aqui uma dica: tente sempre pousar e decolar desse aeroporto, para ganhar tempo e economizar dinheiro.

Contra a tentação de encarar uma parrilla logo nas primeiras horas em Buenos Aires, jantamos no italiano La Baita (Thames, 1603), a 700 metros do hotel e ao qual chegamos após uma agradável caminhada. Na verdade, Ciça pareceu ter se empolgado mais com o restaurante do que eu, já que resolveu circular por entre as mesas e explorar o restaurante, antes de voltar para meu colo e se deliciar com as galhetas, grissinis e pãezinhos do couvert. O ambiente é aconchegante, a carta de vinhos tem umas três dezenas de rótulos a preços razoáveis (tomei um Clos de los Siete por um valor equivalente a uns 70 reais), mas o cardápio decepcionou-me. Pedi uma milanesa com batatas e anchovas, que pesou mais do que o esperado no estômago.

No fim da manhã de sábado, seguimos direto para o Zoológico, a três quarteirões de distância. O zôo de Buenos Aires (35 pesos a entrada) não é grande, mas rende uma boa diversão. Muitas das jaulas, viveiros e áreas reservadas aos animais estão ali desde a fundação, em 1888. Maria Cecília empolgou-se com o elefante, o camelo, o filhote de hipopótamo, os rinocerontes e as lhamas.

Dali, caminhamos meio sem destino pelas transversais e paralelas à larga e bela Avenida Libertador e chegamos ao Voulez Bar, que fica numa esquina do bulevar Cerviño. Nesse bar, nem o colo do papai nem o da mamãe tiveram vez. Ciça deu um pequeno show, chiou, fez manha e só se acalmou quando lhe demos uns calmantes, digo, biscotinhos de polvilho. Quero voltar lá para comer um dos bonitos e enormes sanduíches, ou mesmo repetir a dose com o filé de frango acompanhado de purê de abóbora.

Na dúvida entre esticar para o Malba ou voltar ao hotel para fazer uma parada estratégica e acalmar a pequena, seguimos pelo bulevar Cerviño até que, poucos passos adiante, Ciça dormiu. Pudemos, assim, fazer uma paradinha em um café ao lado do parquinho infantil vizinho ao Jardim Botânico.

Ciça e seu amigo Santiago: a integração latinoameriacana é possível

Ciça e seu amigo Santiago: a integração latinoameriacana é possível

Ao fim do café, Ciça acordou, com toda a energia do mundo. Não poderíamos estar em um lugar melhor, ao lado do parquinho. Em meio à criançada, ela deu uns passos hesitantes, segurando em minha mão, até que a soltou e se entregou ao tanque de areia, onde fez amizade com dois garotinhos portenhos, os xarás de nome Santiago. No único momento de tensão dessa etapa do passeio, ela tirou o rastelinho da mão de Santiago I, que por sua vez abraçou o baldinho: — Noooo, Ciçaaaaa!

Já de volta ao hotel, fralda trocada, deixamos mamãe aniversariante descansar e andamos alguns quarteirões até a Calle Honduras, para comprar seu presente. Estava anoitecendo, muita gente nas ruas, e àquela hora Palermo ganha uma luminosidade toda especial, graças ao embate entre o sol a se pôr e a iluminação pública.

Ciça e o blogueiro, num tranquilo passeio no fim de tarde palermitano

Ciça e o blogueiro, num tranquilo passeio no fim de tarde palermitano

No jantar de sábado, finalmente fomos a uma parrilla, no caso La Retirada. Típica casa de carnes argentinas, cujos cortes são assados em forno de barro. Dividimos um ojo de bife ao ponto, que na verdade veio passado além da conta, considerado o padrão argentino. Ainda assim, estava saboroso. E Ciça, sonhando com os anjinhos.

Acordamos tarde no domingão — tarde, é bom dizer, significa 8h30 da matina, já que Ciça desperta entre 6h30 e 7h —, em tempo de pegar o bom e farto café da manhã do hotel. Assim, fizemos o check-out sem pressa. Deixamos as malas guardadas ali e tomamos a rua em direção ao La Cabrera, o meu restaurante predileto por lá.

O salão do La Cabrera: um dos prediletos dos brasileiros, entre os quais este blogueiro

O salão do La Cabrera: um dos prediletos dos brasileiros, entre os quais este blogueiro

Arrisco dizer que essa parrilla é quase uma embaixada brasileira, assim como o La Brigada, em Santelmo, e o Cabaña Las Lillas, no Puerto Madero. Pela relação entre custo e benefício, eu fico com ela e com cortes como o asado de centro (asado de tira/ costela), o bife de chorizo, o fantástico ojo de bife e as empanaditas fritas. E também por causa do serviço: durante a espera de quase uma hora, na calçada, serviram-nos de um drinque aperitivo e chouriço (linguiça). Já no salão, fomos atendido pelo garçom Chiche que, ao saber que era aniversário de minha Camila, ofereceu-nos duas taças de espumante e um pudim de leite, sobre o qual colocou uma vela para cantarmos parabéns. Ciça, no colo da mamãe, provou um doce pela primeira vez em sua vida, justamente, duas ou três colheradas do pudim de aniversário.

Maria Cecília, uma vez adocicada, ficou ligadona, feliz da vida. E não se deu conta de que o melhor lugar do mundo não é o colo do papai, nem Palermo, nem Buenos Aires. Mas, sim, todo e qualquer lugar em que o papai e a mamãe puderem estar ao seu lado.

 

 

Parrilla: Montevidéu X Buenos Aires

Cheguei a Montevidéu no fim da tarde de quinta-feira (23), o dia seguinte à derrota do Peñarol para o Santos, que, agora, como o São Paulo, pode bater no peito e dizer que é tricampeão da Libertadores.

A manchete dos jornais uruguaios, mais do que lamentar a perda do jogo e do título, destacava a luta, a raça e o orgulho de ver o mais tradicional e vencedor time local novamente entre os melhores do continente. Na saída do aeroporto, vi algo que seria inconcebível por aqui: um ambulante vendia pôsteres com a foto dos vice-campeões da América.

Veja também:

Doce Deleite, reportagem sobre o Uruguai da revista VIAGEM E TURISMO

10 restaurantes para ir a dois em Buenos Aires

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Nesse dia e nos seguintes, a final da Libertadores seria o assunto principal das conversas sobretudo entre os locais e os turistas brasileiros. Mas eu estava interessado, na verdade, em outro assunto: as parrillas, tema que acirra rivalidades entre uruguaios e argentinos.

Em qual das duas cidades está a melhor? Montevidéu ou Buenos Aires? Como seguiria também para a Argentina, resolvi fazer um tira-teima.

Em Montevidéu, comecei por uma das bancas de parrilla do Mercado del Puerto, lamentavelmente não pelo famoso El Palenque, que estava já fechando, mas pela La Chacra, a única no mercado que àquela hora, 5 da tarde mais ou menos, não tinha cadeiras já viradas sobre as mesas nem garçons varrendo o salão.

Mercado del Puerto, Montevidéu

Sentei-me no balcão da casa, que fica bem no meio do mercado. Ali devorei dois meganacos de asado de tira (costela bovina), precedidos por uma apimentada salsicha parrillera (linguiça). Assada ao ponto, a carne tinha um quase nada de sal, como manda a tradição local. Compensei o sal com o excesso sobre as batatas fritas e com o molho chimichurri. O mais legal foi constatar que as boas churrasqueiras urtuguaias são alimentadas por lenha e não por carvão. Veredicto: bom.

Na sexta, após umas comprinhas no Shopping de Punta Carretas, jantei no La Perdiz. Com astral de pub, esse restaurante reúne casais, turmas e turistas, que são servidos por garçons jovens e solícitos. Após uma espera de 10 minutos no balcão, o tempo de desenrolhar uma garrafa de vinho, conseghui uma mesa defronte à churrasqueira. Camila pediu um badejo a la plancha (na churrasqueira) e eu fiquei com um bife ancho acompanhado de purê de batatas. Veredicto: muito bom.

Depois de uma tarde de friaca e ventos na lindinha Colônia de Sacramento, cidade às margens do Rio da Prata, uma mistura de Parati com o Quadrado, de Trancoso, desembarcamos do buquebus em Buenos Aires pontualmente às 21h30. Na capital argentina também só se falava de futebol, no caso, sobre o provável rebaixamento do River Plate à segunda divisão local, um absurdo tão grande como aquele que acometeu o Corinthians. Como essa foi minha quarta visita à cidade, posso dizer que já começo a me sentir um portenho, até por que eu tenho ascendência argentina: Leopoldo Icassatti, meu tataravô, era um hermano.

Não tive muita dificuldade para encontrar o Don Julio, restaurante típico que fica em Palermo Viejo. O melhor é que, como hospedamo-nos em Palermo – o que poucos brasileiros fazem, mesmo depois de consolidada nossa invasão a cada inverno -, seguimos a pé para lá.

Por volta das 23h, o restaurante tinha bom público – pegamos a última mesa disponível. Notei que a clientela compunha-se de grupos de casais jovens, famílias e alguns poucos turistas gringos. Camila pediu por um bife de chorizo, meia-porção, o que sigifica muita carne para uma mulher só. Eu esperei ansiosamente por meu vacio (fraldinha). Não sei se é um reflexo da preferência da maior parte dos brasileiros, mas achei que o carne tinha passado do ponto – e olhe que pedi que viesse ao ponto, já sabendo que o “ao ponto” dos portenhos corresponde ao nosso “mal passado”. Veredicto: bom.

Para o almoço de domingo, reservei tempo e paciência para conhecer o La Brigada, em San Telmo, famosa e turística parrilla. Na opinião do meu amigo Jorge Carrara, argentino e crítico de vinhos da revista “Prazeres da Mesa”, ali estaria a melhor carne de Buenos Aires.

La Perdiz, em Montevidéu

Antes de falarmos da carne, convém dizer que o restaurante merece uma visita simplesmente por estar em Santelmo, por ser um ponto turístico e por causa da decoração, repleta de flâmulas, fotos e faixas de clubes de futebol do mundo inteiro. O astral tem assim uma pegada do paulistano Família Mancini. e o turista corre o risco até de cruzar com Lionel Messi, quando ele está pela cidade.

Para variar, quis provar o asado de tira especial e Camila ficou com o ojo de bife, ambas boas pedidas. O ojo de bife devia ter uns 10 centímetros de altura. Saboroso, estava muito macio. O asado especial foi o melhor corte que degustei na viagem, mas não foi a melhor carne que provei por lá, embora tivesse notado que o garçom cortou a carne com a colher, de tão macia que estava. Veredicto: Muito bom.

Como me propus a desempatar essa versão do clássico do Rio da Prata por meio da parrilla, tive de recorrer à memória. De modo que dou a vitória a Buenos Aires. Não esqueço do asado de tira que encarei há exatamente um ano, no La Cabrera, em companhia dos amigos Krueger, Badá e Ed. Ponto perfeito, ótimos acompanhamentos, tempero impecável. Veredicto: sensacional.

La Cabrera, em Buenos Aires

Don Julio. Calle Guatemala, 4691, Palermo Viejo, Buenos Aires.

La Brigada. Calle Estados Unidos, 465, San Telmo, Buenos Aires, Argentina.

La Cabrera. Calle Jose Cabrera, 5099, Palermo Viejo, Buenos Aires, Argentina.

La Chacra. Mercado del Puerto, Ciudad Vieja, Montevidéu.

La Perdiz. Calle Guipúzcoa, 350, Punta Carretas, Montevidéu.


E por falar em estádios…

Estádio Olímpico de Berlim Foto: Camila Antunes

Sempre que chego pela primeira vez a uma cidade procuro conhecer dois tipos de atração: estádios de futebol e mercados (sob a aba do chapéu “mercado” incluo feiras de rua, camelódromos e supermercados).

Mas é de estádios que quero falar. Num momento em que os principais estádios brasileiros estão em reforma para a Copa do Mundo de 2014 – a exceção do Morumbi, o mais importante de todos!, que, não sei não, ainda acho que vai receber alguns joguinhos do mundial – é interessante saber que a bola vai rolar por velhos-novos gramados, antes esquecidos.

Como pode ser visto nesta galeria de estádios publicada pelo viajeaqui, o Brasileirão 2011 terá partidas em Pituaçu (Salvador), no Presidente Vargas, em Fortaleza, e até em Macaé, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro.

Aos torcedores mais fanáticos, eis um bom motivo para seguir os times e conhecer novas cidades, não só em dia de jogos.

É verdade que os clubes e/ou cidades e/ou estados que administram os estádios pelo país ainda estão engatinhando no que poderíamos chamar de “turismo de futebol”. As exceções, eu diria, são poucas.

Uma delas é o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, onde fica o maravilhoso Museu do Futebol e cuja infra-estrutura fica disponível a qualquer pessoa que queira, por exemplo, fazer uma caminhada na pista ao redor do gramado ou mesmo tomar um sol na arquibancada.

Ao Morumbi é possível fazer visitas programadas, com direito a conhecer a espetacular sala de troféus, entre outras instalações.

Lembro-me que, quando criança, explorei o Mineirão, onde já assisti diversos jogos, e pude até pisar no gramado.

Fora do Brasil foram inesquecíveis:

– a visita a La Bombonera, do Boca Juniors, em Buenos Aires, onde estive por duas vezes: a primeira, em 2004, fiz a visita guiada pelos vestiários, loja, sala de imprensa, museu e gramado. Naquele dia, por sorte, Carlitos Tevez, que ainda jogava pelo Boca Juniors, estava no clube e pude tirar uma fotinho ao lado dele. Voltei ao estádio em 2009, quando assisti a um empate de 2 a 2 do time da casa com o Argentinos Juniors.

– as duas vezes em que fui ao Estádio Olímpico de Berlim. A primeira delas, na companhia de dois amigos, assisti a estreia do Brasil na Copa de 2006, o 1 a 0 contra a Croácia, gol de Kaká. Naquele dia tive a prova de que Deus existe: apesar de um amigo ter se perdido bem na hora que o jogo ia começar, ele conseguiu ver o jogo. Enquanto procurava por ele, eu encontrei um ingresso para a partida, jogado na alamenda que liga a estação de metrô ao estádio. Não localizei meu amigo – só fui revê-lo tarde da noite, já no nosso motorhome como qual rodamos a Alemanha – mas vendi o ingresso pelos mesmos 300 euros que tive de desembolsar ao cambista de quem comprei a entrada (que dava acesso ao setor destinado à amável torcida croata). Na segunda vez, em 2008, fiz um passeio por toda a área do estádio, que tem uma arquitetura monumental, como se pode ver pelas fotos deste post (desculpem pela qualidade das imagens).

No detalhe, a pira olímpica

– na mesma Copa, assisti no Estádio Olímpico de Munique ao jogo entre Alemanha e Argentina, que acontecia no Estádio Olímpico de Berlim. Como? Simples: a organização da Copa de 2006 instalou um megatelão no meio do gramado do estádio de Munique para que todos os torcedores e turistas que estavam na cidade pudessem torcer pelas equipes. Foi muito legal (ainda mais porque deu Alemanha, hehe)!

– o jogo entre Real Madrid e Atlético de Bilbao, em dezembro de 2006, no Santiago Bernabéu. Em sua fase “galática”, o Real tinha na equipe Ronaldo, Beckham, Roberto Carlos, Emerson, Raúl, Van Nistelrooy, Robinho, entre outros. O Real ganhou de virada, com gols de Ronaldo e Roberto Carlos. Não pude conhecer os bastidores do estádio mas fiquei impressionado com a organização dos setores, a acústica (se eu estivesse no lugar do jogador do Bilbao que foi expulso e tomou a mais sonora vaia de todos os tempos, eu teria saído do gramado aos prantos) e o acesso: há uma estação de metrô na porta, exatamente na porta do Bernabéu.

– a estreia do St. Pauli na segunda divisão do Campeonato Alemão de 2008-2009, em seu estádio em Hamburgo. Havia pelo menos 20.000 pessoas nas arquibancadas, em uma partida às 18 horas de uma sexta-feira. O bacana é que esse estádio é o único na Alemanha que tem autorização para que seja vendida cerveja na arquibancada, conforme contei aqui mesmo no Boteclando.

Mas preciso contar uma coisa: nenhuma dessas experiências se compara ao dia em que o São Paulo ganhou seu primeiro título da Taça Libertadores, em 1992, em pleno Morumbi. Eu estava lá.

Guarulhos – Lisboa – Buenos Aires

Não marquei a quantidade exata, mas no fim de semana bati meu recorde de consumo de carne. Em quatro investidas a parrillas portenhas, devorei peças de asado de tira (costela), bife de chorizo, ojo de bife e bife ancho em quantidades suficientes para abastecer uma família por semanas. Ou para garantir a alegria de um churrasco pré-jogo do Brasil. Acontece que passei o sábado e o domingo em Buenos Aires, na companhia de três de meus melhores amigos.

Desembarcamos em Ezeiza na tarde de sexta, depois de ter assistido a Brasil e Portugal num pubzinho que fica no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos.

Não é o lugar ideal para acompanhar uma partida de futebol, mas até que a experiência foi divertida, mesmo depois de ter pagado 8 reais por uma garrafa long neck de Kaiser Gold (que é uma cerveja muito boa, diga-se).

Coincidentemente, acomodado numa mesa à nossa esquerda, um portuga da gema, torcedor do Benfica, acompanhava o jogo ao lado de um inglês. Os outros 30 e poucos espectadores eram brasileiros, o pareciam ser.

No intervalo, puxei papo e disse a ele que em poucos dias viajo a Portugal – no que me passou uma dica de restaurante na cidade do Porto, que pretendo conferir. No mais, ele ficou impressionado por eu ter dito que conhecia a Vitória.

E quem é Vitória?

Vitória é uma águia que, com fitas vermelhas e brancas presas às garras, faz um voo rasante – como uma volta olímpica, a cada jogo do Benfica no Estádio da Luz, em Lisboa – e pousa no meio de campo. Após o pouso, o estádio irrompe numa festa. É emocionante.

httpv://www.youtube.com/watch?v=haCdUIwhutg

De volta a Buenos Aires, já à noite e acomodados no hotel Own, que fica no bairro de Palermo Holywood, seguimos para a rua em busca de algo para comer.

Para nosso azar (detesto essa palavra, mas…), havia na região uma manifestação do Sindicato dos Trabalhadores do Hotéis, Bares e Restaurantes. Os piqueteiros seguiam em marcha pixando carros e fachadas de estabelecimentos, invadirindo bares e restaurantes e obrigando seu fechamento imediato.

À mesa da parrila El Primo, depois de termos feito o pedido e de esvaziada uma garrafa de vinho, fomo gentilmente informados pela garçonete que nossos pratos não seriam servidos porque o patrão estava com medo que o local fosse invadido. Frustradíssimos, fechamos a conta.

Encontrar um restaurante ou bar aberto àquela hora seria uma tarefa dificílima, para não dizer inútil (deu pena de ver garçonetes a limpar as calçadas lotadas de panfletos jogados na rua).

Para nossa sorte, o Acabar (foto abaixo, de Pablo Souza) ficava perto dali.

Caminhávamos de volta ao hotel – esta é uma vantagem enorme de Palermo, a possibilidade de fazer muitas coisas a pé – quando notei que um casal deixava um bar cuja fachada estava compeltamente apagada. Consegui notar no entreabrir da porta um salão iluminado e bombando. Na cara de pau 9e com cara de faminto) perguntei ao porteir se poderíamos entrar. Era quase 1 da manhã.

Assim que entrei no salão, me dei conta que estive nesse mesmo bar em 2004, da primeira das três vezes que visitei Buenos Aires. É um bar-restaurante muito legal, em que é possìvel passar a noite a disputar partidas de ludo, Banco Imobiliário e outros jogos de tabuleiro que a casa deixa a disposição dos clientes. Dividimos uma picada (tábua de embutidos e queijos) e, para brindar, garrafas de Quilmes (10 pesos cada uma, o equivalente a 5,50 reais a garrafa de 1 litro). O ambiente e o astral do Exquisito!, na Bela Cintra, lembram muito esse Acabar, com a diferenta que o bar bonairense é maior, com vários ambientes. Grupos de garotas e turmas mistas dominavam o salão.

Para a primeira noite de um fim de semana em que assistiríamos ao jogo da Argentina de Maradona, Messi e Higuaín em território adversário (e não inimigo, certo, Galvão?), até que passamos por poucas e boas emoções.

Acabar. Calle Honduras, 5733, entre Bonpland e Carranza, Palermo Hollywood.

Parrilla El Primo. Calle Humboldt esquina com Gorriti, Palermo Hollywood.

PS: num próximo post, falo de uma das melhores carnes que já comi.