Permita-me discordar

Empório sagarana / Foto: Mario Rodrigues

Eleito o melhor boteco de São Paulo pelo júri da Vejinha “Comer & Beber”, o Empório Sagarana, devo discordar, não é o melhor boteco de São Paulo. É um lugar bacana, sem dúvida, com suas virtudes e poucos defeitos.

Direto ao assunto, como diria o comentarista político, falta ao Sagarana, que nasceu em 2009, vencer a infância, a adolescência e ganhar algumas rugas que, com os anos, espera-se, o bar haverá de conquistar. Por exemplo, uma parede e uma ou outra mesa encardidos; uns bebuns e chatos falando sozinho no canto do balcão que, aliás, é muito pouco convidativo.

Ao cardápio faria bem a inclusão de umas porçõezinhas menos empertigadas, um torresminho, uma moela ou língua no molho, um amendoinzinho cozido ou torrado, algo menos empertigado (não vale apelar para aqueles com a casca colorida, vendidos ali a R$ 6,00 cada cumbuca) para compor a lista ao lado daqueles saborosos, sim, pães de queijo com recheio de pernil desfiado (R$ 20,00 a porção com quatro unidades).

Já que comecei a falar de coisas boas, a seleta de cachaças é benfeita, pautada por rótulos que viajam desde a Paraíba (Serra Limpa, R$ 10,00 a dose) e Minas Gerais (Claudionor, R$ 8,00). Algumas dezenas de marcas de cerveja, importadas e de microcervejarias brasileiras, também estão à venda, a exemplo da Colorado Indica (R$ 18,00, de Ribeirão Preto) e da holandesa La Trappe Quadrupel (uma facada, R$ 55,00).

No fim das contas, parafraseando Guimarães Rosa, autor de Sagarana, eu fico reconhecendo que o bar, tal qual o mundo, é “facílimo de se aturar.”

Empório Sagarana. Rua Marco Aurélio, 883, Vila Romana, tel. (11) 3539-6560, http://www.emporiosagarana.com.br.

Chama o cachacier

Dias atrás, o Bar do Arnesto (Rua Ministro Jesuíno Cardoso, 207, Vila Olímpia, tel. 3848-9432) lançou oficialmente sua carta de cachaças, com 503 rótulos. Sem dúvida é uma boa novidade, já que o bar vem se juntar a outros que também mantêm um cardápio especialmente dedicado ao destilado. Mas o que é bom poderia ficar melhor se o Bar do Arnesto e a imensa maioria dos bares/cachaçarias não se impressionassem tanto com os números. Diante de tantas cachaças, será que o freguês não precisa de orientação? Duas sugestões:
1. cardápio didático: além da procedência (no caso do Bar do Arnesto, as cachaças são separadas por estado de origem e há destaque para as de Salinas, em Minas Gerais), é importante que ao lado de cada rótulo conste uma minificha técnica, com dados como a graduação alcoólica, o tipo de madeira e o tempo em que é envelhecida. É só seguir o exemplo de muitos restaurantes, que mantêm boas cartas de vinho;
2. garçons ou maître treinados para saber indicar uma boa cachaça ao cliente, que as conheça, as tenha degustado. Ou seja, uma espécie de sommelier (profissional especializado em vinhos): um cachacier, por que não?

A seguir, outros bares com cartas de cachaças numerosas:

Água Doce Cachaçaria (Avenida Macuco, 655, Moema, tel. 5056-1615, http://www.aguadoce.com.br): na franquia paulistana são vendidas 300 marcas, organizadas no cardápio seguindo uma cotação por estrelas. São informadas também a presença ou não de madeira e a cidade de procedência;

Fazendinha Pompéia (Avenida Nicolas Boer, 120, Barra Funda, tel. 3611-1114, http://www.cachacariapompeia.com.br): antiga Cachaçaria Pompéia, tem a maior carta de cachaças de São Paulo, com 1300 rótulos;

Terra Nova (Rua Maria Amália Lopes de Azevedo, 550, Tremembé, tel. 6996-7000, http://www.terranovabar.com.br): são cerca de 350 cachaças, divididas por estado. Há dados como graduação alcoólica, cidade de origem e, em alguns casos, o tipo de madeira em que são envelhecidas;

Universidade da Cachaça (Rua Iaiá, 83, Itaim Bibi, tel. 3167-0461): a cachaçaria do chef Sergio Arno vende 440 rótulos, de nove estados brasileiros, apresentados em ordem alfabética, a partir da região de origem.