Um brinde para o Santo padroeiro dos cervejeiros

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Esta eu soube hoje, pelo meu amigo Willian, com uma semana de atraso, e fui conferir: dia 18 de julho é o dia de Santo Arnolfo (ou Arnulfo) de Metz, o padroeiro dos cervejeiros.

Santo Arnolfo nasceu em 582 na cidade de Metz, cidade na antiga Gália, atual França, onde foi bispo da Igreja Católica. Como se não bastasse, é um antepassado direto de Carlos Magno, que foi dono de todo o mundo ocidental.

Certa vez, uma peste horrível contaminou a água da região e muita gente ficou doente após consumi-la. Arnolfo, então, sugeriu aos fieis que bebessem cerveja, para evitar o contágio com a doença.

Morreu no dia 18 de julho de 641, em Remiremont. Um ano depois de sua morte, o corpo de Santo Arnolfo foi exumado, para que fosse enterrado na igreja de Metz sua cidade-natal.

Após transportarem os restos mortais, os fieis pararam em uma taberna para comprar cerveja e só havia uma garrafa à venda.

Compraram-na e tiveram, então, que reparti-la.

Milagre!: o líquido da garrafa jamais chegou ao fim, todos puderam saciar a sede e os cervejeiros do mundo ganharam seu santo padroeiro.

É o que diz uma lenda.

Outra versão dá conta que alguns famintos fieis da região rezaram a Santo Arnolfo, pedindo-lhe o que comer. Pouco depois, notaram que seus barris de cerveja estavam cheios da bebida.

A fonte da informação e a origem da foto são do site da Arquidiocese de São Luís do Maranhão (icatolica.com.br)

A costela do Belchior

 

Aquele Belchior, o rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, é outro, e foi pro céu dia desses, grandissíssimo compositor!

No caso, o da costela, que mencionei no título deste texto, é o Belchior de Freitas Soares, mais conhecido como Bel, o dono de um boteco bem pequeno em Pinheiros, escondido no meio de um quarteirão, num salão simples e estreitinho (foto).

Aliás, o Bel se gaba de fazer “a melhor costela no bafo do mundo”. Ele é fornecedor de bares nas vilas Madalena e Mariana, inclusive.

Não acho que seja a melhor do mundo – não chega perto do matambre que meu finado tio Artur fazia -, mas a carne estava bem macia na visita que fiz recentemente.

Na verdade, foi a segunda vez que estive lá – e da primeira, havia levado para viagem uma costela muito suculenta, úmida, limpa (isto é, sem gordura)  e, sim, deliciosa.

Desta vez, pedi um PF de costela, que veio com arroz, feijão e mandioca frita (R$ 18,98). Vem com uma porção pequena de arroz e feijão, mas se você quiser repetir, basta pedir que o Bel traz, sem cobrar nada a mais. Temperei a costela (que fica 15 horas em cozimento, segundo o Bel, apenas com sal grosso, ervas e cebola) com a pimentinha e a farinha da casa e foi mesmo uma delícia.

Tem também costela servida na panela de pedra sabão (por 75 reais), costelinha de porco com barbecue (85 reais), vaca atolada (cozida com mandioca, 75 reais) e até ossobuco cozido na cerveja preta (68 reais) – tudo isso em porção para 3 pessoas.

Pra beber, caipirinha feita com cachaça mineira de Salinas a R$ 18,50 e cerveja Heineken a 10 reais.

De sobremesa? Uma paçoquinha, que é cortesia da casa.

Costelas (Costela do Bel). Rua Amália de Noronha, 343, Pinheiros.

 

Salvem os nossos Formigas

Domingo retrasado, depois de desembarcar em Guarulhos, resolvi desviar meu caminho para almoçar no Formiga, o velho restaurante instalado no Largo São José do Belém, ao lado da igreja.

Ao lado do finado vizinho Jacaré e do Peru’s (ou ‘Pirú’, para os locais), que mudou-se da Rua Júlio de Castilhos para a Cajuru, o Formiga formou a animalesca e histórica trinca gastronômica do bairro do Belém.

Dos três, como eu ia dizendo, o Jacaré não existe mais. O Peru’s fechou a porta vaivém, tipo Velho Oeste, do antigo endereço da Rua Júlio de Castilhos— que nos anos 80 acolhia em quase todos os sábados aos craques do Proálcool, lendário time de futsal que dominava a ZL, e do qual eu era mascote — para continuar montando o melhor churrasco (o sanduba) de São Paulo num imóvel maior, onde pode receber pequenas multidões em busca do cômodo bufê self-service.

O Formiga, por sua vez, resiste ao tempo com as mesmas características e cardápio que conheci nos meus tempos de moleque — a batata frita à portuguesa encontra poucas rivais na cidade. Minha filha tomou uma limonada bem docinha, eu bebi uma Serramalte (R$ 8), molhei o pãozinho crocante (fornecido pela Padaria Belga, que fica na esquina do largo com a Cajuru) no saboroso vinagrete, mas me decepcionei com o espetão misto (R$ 88), composto por contra-filé de péssima qualidade, lombo de porco aceitável e linguiça toscana das boas. Com os acompanhamentos, no caso arroz-de-carreteiro e legumes, a porção chega a alimentar três pessoas.

Ventiladores de parede, fotos de propaganda de banana split — da Yopa! — e duas TVs de 20 polegadas, daquelas de tubo, explicam o quero dizer com “resiste ao tempo”.

Em pleno domingão de sol, o salão comprido e escuro estava praticamente vazio. Um dos cozinheiros, da velhíssima guarda, me confessou: “o Formiga está mal cuidado… e já faz tempo”. Mas com certa dose de orgulho, contou-me: “certa vez, o Maluf patrocinou uma pizzada para 1200 pessoas aqui”.

O Formiga existe há 81 anos. Oitenta e um anos. Quantos bares e restaurantes paulistanos chegam dignamente a essa idade?

Precisamos salvar nossos Formigas.

Formiga. Largo São José do Belém, 177, Belém, tel. (11) 6693-1255.

Beba duas vezes por semana e seja feliz

Happy hour: duas vezes por semana, no mínimo / Foto: Romero Cruz

Happy hour: duas vezes por semana, no mínimo / Foto: Romero Cruz

A Organização Mundial de Saúde e entidades científicas internacionais de grande reputação, como o hospital da Universidade Johns Hopkins e a American Dietetic Association — além da minha nutricionista, a quem tive de recorrer no início desta semana depois que levei um presta-atenção do meu check-up mais recente por causa do colesterol —, recomendam os benefícios do vinho tinto para combater inimigos como as placas de gordura nas veias, a má circulação sangüínea e o mais ardiloso de todos os vilões (ao menos, no meu caso), o mau colesterol.

Na consulta de segunda-feira passada, Livia, a nutricionista, me deu o aval: “tudo bem, pode beber uma a duas taças de vinho por dia, não tem problema.”

Ok, para mim a boa notícia não era exatamente tão nova assim. Tipo, eu-já-sabia! Mesmo assim, meus olhos brilharam, ela há de ter percebido. Afinal, agora eu tinha um aval científico dito em alto e bom som.

Devo tamanha alegria aos queridos resveratrol e aos flavonoides, compostos presentes na uva, que têm respectivamente ação antioxidante e favorecem a produção de colesterol bom no  fígado.

Além dessa preciosa confirmação, dez dias atrás um interessantíssimo estudo comandado pelo neurocientista Robin Dunbar, da Universidade de Oxford foi divulgado. (Leia a notícia, em inglês, aqui.)

De acordo com Dunbar, homens que saem duas vezes por semana para beber com os amigos tendem a ter uma saúde melhor, a se recuperar mais rapidamente de doenças e a ser mais generosos.

Convenhamos, duas noitadas por semana em companhia dos amigos não farão mal a nenhum relacionamento.

Moderação e equilíbrio, no bar e na vida, não fazem mal a ninguém.

 

Bar do Giba e a voz do povo

Bar do Giba: eleito o boteco do ano por Veja São Paulo

Bar do Giba: eleito o boteco do ano por Veja São Paulo

Nesta semana circula mais uma edição anual do guia Comer & Beber de Veja São Paulo. Desta vez, a revista decidiu escolher os melhores bares, restaurantes e comidinhas da cidade pautada apenas pelo voto do internauta que visita o site da publicação. É a voz povo, digitalizada.

Se a voz do povo é a voz de Deus, Ele elegeu o fantástico Bar do Giba como o boteco do ano em São Paulo.

E Ele sabe mesmo o que faz. Havia uns bons anos que eu não ia ao Giba, até que, na sexta, recebi um convite-alerta do amigo Luis Alvim, para que fôssemos almoçar lá no sábado, antes que a maioria das bancas e assinantes da Vejinha recebessem seus exemplares e resolvessem conferir alguns dos melhores do ano já no sabadão.

Prontamente atendi, ou melhor, atendemos. Camila e eu chegamos por lá às 2 e meia da tarde e fomos os últimos a nos juntar à mesa. A turma já havia devorado uma paleta de cabrito e dado fim a umas caipirinhas e pasteizinhos (recomendo fortemente o de camarão e o de palmito).

Apesar do atraso, conseguimos alcançar os demais, ao pedirmos uma porção de barrinha de cereal (isto é, de barriga de porco frita), mais pasteizinhos e uma costela de cabrito, além de algumas garrafas de Serramalte e uma caipirinha feita com a boa cachaça Solar.

Não me perguntem o preço desses itens porque, como não há cardápio na casa, não tenho ideia do quanto nos foi cobrado por cada cosia que pedimos. Só sei que a conta total bateu nos R$ 540,00, o que significa que cada um deixou R$ 90,00 na casa.

Confesso que essa falta de menu me causa certa preguiça. Permaneço, portanto, no desfalcado time dos chatos que gostam de ver as opções e preços dos comes e bebes. Quem se queixava que o Giba só recebia pagamentos em dinheiro e cheque, a boa nova, ao menos para mim, é que cartões de débito agora são bem-vindos.

No mais, deixo meus parabéns para o Giba. Título merecidíssimo.

A lista completa dos vencedores de Comer & Beber de Veja São Paulo pode ser conferida aqui.

Bar do Giba. Avenida Moaci, 574, Moema, São Paulo, SP, tel. (11) 5535-9220.

Breja e bistrô

Coxinha de rabada: para abrir os trabalhos / Foto: Fernando Moraes

Expert em cervejas, consultor de pubs e chef de cozinha, o australiano Greigor Caisley é a  cabeça, o coração e os braços que comandam o agradabilíssimo Twelve Bistro, aberto cerca de um ano atrás num pedaço ainda imune ao costumeiro fuzuê que toma conta da Vila Madalena.

Para os dias e as noites mais quentes, vale a pena fincar a bandeira na varanda, embora o salão interno, decorado com recortes de um suplemento de culinária de um dominical australiano, seja bem aconchegante, escurinho, bom para ir a dois.

Há doze anos em São Paulo e com a experiência de quem trabalhou em restaurantes londrinos, no Buffet Ginger (de Nina Horta) e no Drake’s Pub, Greg, como todos o chamam, deu, sim, atenção à cozinha sem descuidar da oferta de cervejas na carta de bebidas.

Há cerca de 100 rótulos na lista, importados de uma dúzia de países e de variados tipos. O chope Bamberg Pilsen, produzido em Votorantim (SP), por exemplo, sai a R$ 5,00. A garrafinha de 330 mililitros da fantástica strong golden ale belga Duvel custa R$ 22,00 e a La Trappe Triple, produzida na Holanda, vale R$ 52,00 (750 mililitros).

As cervejas, aliás, são usadas na receita do fish’n chips (robalo frito em massa de cerveja com batata frita, R$ 36,00) e de sobremesas, a exemplo petit gateau com sorvete de Guinness (R$ 14,00), extremamente doce, e do pudim de pão com sorvete de cerveja de frutas vermelhas (R$ 12,00).

No almoço de hoje, eu e dois amigos abrimos os trabalhos com a deliciosa coxinha de rabada e o pastel de cordeiro ao curry e chutney de manga (R$ 16,00 cada porção). Entre os pratos principais, as três pedidas foram aprovadas: bife ancho com batatinha ao murro e mostarda de Dijon (R$ 38,00), robalo em crosta de castanha e coco com purê de banana da terra e molho de gengibre (R$ 42,00) e a fraldinha com purê de batata, uma das opções do menu de almoço da São Paulo Restaurant Week (R$ 31,90, com entrada e sobremesa), evento que termina no domingo, 16.

A quem pensa em aproveitar o último fim de semana do evento, taí uma boa sugestão.

Twelve Bistro. Rua Simão Álvares, 1018, Vila Madalena, tel. (11) 3562-7550, http://www.twelvebistro.com.br.

The Queen’s Head, um pub bom e barato

Balcão do Queen's Head Pub / Foto: Mario Rodrigues Jr.

Que eu me lembre, o belo prédio do Centro Brasileiro Britânico (CBB), em Pinheiros, já cedeu espaço aos finados pubs Poet’s Corner — que se instalou apenas no salão fechado no térreo do edifício, no início dos anos 2000 — e Drake’s. Esse último teve vida mais longeva e se manteve em atividade de 2004 a 2011, dividindo-se entre o ambiente interno e uma agradável área na parte externa do CBB.

Depois que o Drake’s encerrou as atividades, o grupo que controla os pubs Kia Ora e All Black decidiu assumir o ponto e abrir ali, no fim de 2011, o The Queen’s Head.

No novo pub, que ocupa apenas o salão interno, chama a atenção a boa relação entre preço e qualidade dos petiscos. Afinal, não há muitos bares nesta cidade em que seja  possível consumir algum petisco que não ultrapasse os dois dígitos, certo?

Tá certo, na real cada uma das porções a seguir — de linguiça de cordeiro com molho de iogurte, de linguiça de porco com uma espécie de vinagrete e de bolinhos de queijo (esta com 8 unidades) — custa R$ 11,00. Mas se você pedi-las em um combinado, o mix sai por R$ 28,00.

Entre as bebidas, ok, os preços seguem mais ou menos o que se vê no mercado: um meio pint das cervejas ales inglesas Old Speckled Hen e London Pride (cerca de 280 mililitros) sai por R$ 9,00. Cada pint, R$ 17,00. Mas há promoções, como a do pint de Heineken que às terças custa R$ 10,00. Ontem não pude, porém, beber a London Pride porque estava em falta desde dias atrás e o importador não havia reabastecido a casa, uma pena.

Ao menos às terças e quartas, dias em que não há música ao vivo — de quinta a sábado bandas tocam rock e a casa cobra entrada de R$ 10,00 a R$ 25,00, dependendo do horário de acesso —, o clima na happy hour é sossegado. Sobram lugares no balcão, algumas mesas ficam vagas e o papo é embalado por uma trilha que contempla Led Zeppelin, Deep Purple, Queen, The Firm e outros nomes do rock britânico. Nada mau.

The Queen’s Head. Rua Tucambira, 163, Centro Brasileiro Britânico, Pinheiros, tel. (11) 3774-3778, http://www.queenshead.com.br.

 

A notícia do dia!

Publicado na Veja.com:

Foto: Ligia Skowronski

Beber cerveja todo dia faz bem e combate até diabetes

Para as mulheres são dois copos pequenos da bebida; para os homens, três

A cerveja foi elevada ao status do vinho no que diz respeito aos benefícios à saúde. Um novo estudo espanhol comprovou que tomar uma caneca da bebida por dia combate diabetes, evita ganho de peso e previne contra hipertensão. Além de ter graduação alcoólica baixa, a cerveja contém ainda ácido fólico, vitaminas, ferro e cálcio – nutrientes que protegem o sistema cardiovascular.

“Nesse estudo, nós conseguimos banir alguns mitos. Sabemos que a cerveja não é a culpada pela obesidade, já que ela tem cerca de 200 calorias por caneca – o mesmo que um café com leite integral”, destaca a médica Rosa Lamuela, uma das responsáveis pela pesquisa feita em parceria entre a Universidade de Barcelona, o Hospital Clínico de Barcelona e o Instituto Carlos III de Madri.

Os especialistas afirmam também que a cerveja não é a responsável pelo aumento da gordura abdominal. A culpa, na verdade, seria dos aperitivos gordurosos, como salgadinhos e frituras, que grande parte das pessoas consome junto à bebida.

O estudo, realizado com 1.249 homens e mulheres acima de 57 anos, indica que mulheres podem tomar dois copos pequenos de cerveja por dia, enquanto para os homens estão liberados até três copos. Contudo, o hábito deve estar associado a uma dieta saudável e a exercícios físicos regulares.

Permita-me discordar

Empório sagarana / Foto: Mario Rodrigues

Eleito o melhor boteco de São Paulo pelo júri da Vejinha “Comer & Beber”, o Empório Sagarana, devo discordar, não é o melhor boteco de São Paulo. É um lugar bacana, sem dúvida, com suas virtudes e poucos defeitos.

Direto ao assunto, como diria o comentarista político, falta ao Sagarana, que nasceu em 2009, vencer a infância, a adolescência e ganhar algumas rugas que, com os anos, espera-se, o bar haverá de conquistar. Por exemplo, uma parede e uma ou outra mesa encardidos; uns bebuns e chatos falando sozinho no canto do balcão que, aliás, é muito pouco convidativo.

Ao cardápio faria bem a inclusão de umas porçõezinhas menos empertigadas, um torresminho, uma moela ou língua no molho, um amendoinzinho cozido ou torrado, algo menos empertigado (não vale apelar para aqueles com a casca colorida, vendidos ali a R$ 6,00 cada cumbuca) para compor a lista ao lado daqueles saborosos, sim, pães de queijo com recheio de pernil desfiado (R$ 20,00 a porção com quatro unidades).

Já que comecei a falar de coisas boas, a seleta de cachaças é benfeita, pautada por rótulos que viajam desde a Paraíba (Serra Limpa, R$ 10,00 a dose) e Minas Gerais (Claudionor, R$ 8,00). Algumas dezenas de marcas de cerveja, importadas e de microcervejarias brasileiras, também estão à venda, a exemplo da Colorado Indica (R$ 18,00, de Ribeirão Preto) e da holandesa La Trappe Quadrupel (uma facada, R$ 55,00).

No fim das contas, parafraseando Guimarães Rosa, autor de Sagarana, eu fico reconhecendo que o bar, tal qual o mundo, é “facílimo de se aturar.”

Empório Sagarana. Rua Marco Aurélio, 883, Vila Romana, tel. (11) 3539-6560, http://www.emporiosagarana.com.br.

Beba com os olhos

Sampler, menu degustação da Cervejaria Nacional / Foto: Mário Rodrigues Jr.

 

Antes da implantação da civilizada lei anti-fumo, eu pensava duas, três vezes antes de chegar a um bar de ambiente fechado. Saudade zero daquele fumacê. A bem da verdade, a memória daqueles tempos ainda provocam em mim certa desconfiança, razão pela qual levei um tempo para conhecer a Cervejaria Nacional, em Pinheiros. Mas um convite do meu amigo Marco Santo Mauro, expert em vinhos, grande e exigente bom-de-garfo, acabou por me convencer a ir até lá. Saí de lá bem surpreso.

O bar ocupa um improvável prédio de três pavimentos no meio do quarteirão da Rua Pedroso de Morais, entre as ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio. No térreo ficam os tanques de fermentação e maturação dos cinco tipos de chope fabricados na casa. O primeiro andar, sob luz baixa, é uma espécie de corredor com mesas do lado esquerdo e um imenso balcão à direita, de onde é possível observar sacas de malte na produção da bebida. A quem tiver idade suficiente para se lembrar da finada Brewpub, na Rua da Consolação, fará um inevitável déjà vu. No andar superior avista-se a cozinha ao fundo, precedida de um salão mais iluminado e formal, eu diria, como um restaurante.

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A mais gostosa e divertida maneira de experimentar a cerveja produzida na casa é o sampler, menu desgustação que inclui doses de 160 mililitros dos cinco tipos fabricados ali e que custa justíssimos R$ 14,00: domina (weiss, de trigo), y-îara (pilsen), mula (india pale ale), kurupira (ale) e sási (stout). Como mostra a foto acima, os copos são apresentados sobre uma plataforma de madeira, em uma sequência baseada na densidade da cor da cerveja e com a sugestão que se deguste da esquerda (mais clara) para a direita (mais escura, stout).

Subverti a ordem de degustação e deixei por último a mula (india pale ale), de maior teor alcoólico (7,5%), aroma mais marcante, frutado e delicioso paladar amargo. Das cinco é, sem dúvida, a melhor. Gostei também da domina (weiss), turva, adocicada e bem refrescante. Mais leve de todas, a stout poderia ser um pouco menos aguada. O aroma de café torrado cria uma expectativa que o paladar não confirma. Ainda assim, como eu disse acima, pedir um sampler é bem divertido.

Chamou-me atenção também a gentileza e o preparo dos garçons e garçonetes, que prestam informações básicas sobre as cervejas da casa. Taí um exemplo a ser seguido pela concorrência.

Entre os comes, experimentei a alheira (R$ 18,00 a porção), a linguiça picante e a temperada com erva-doce (R$ 12,00 cada porção de 150 gramas), aprovadas! A rabada com agrião (R$ 32,00) decepcionou-me um pouco. Vem, ok, no ponto e bem temperada, mas servida sem osso, com a carne como que desfiada e prensada, em meio a uma polenta de textura rugosa demais.

Fiquei curioso para provar a porção de coxa de pato grelhada. Na próxima, certamente.

Cervejaria Nacional. Rua Pedroso de Morais, 604, Pinheiros, tel. (11) 3034-4863, www.cervejarianacional.com.br