Finalmente, o Bardega

Bardega: vinho direto na máquina

Bardega: vinho direto na máquina

Nos últimos dois anos, São Paulo ganhou uma razoável quantidade de wine bars (ou bares dedicados ao vinho). Sem dúvida, uma boa notícia. A ideia comum a esses estabelecimentos é a de oferecer a possibilidade ao cliente de comprar uma boa variedade de vinhos em taça e não em garrafa. Assim, degusta-se várias opções pelo preço equivalente ao de uma garrafa.

O Bardega, inaugurado em 2012 na Vila Olímpia, desponta como o que tem a maior oferta de vinhos em taça: pelas minha inexatas contas passam de 100 os rótulos de tintos, brancos, espumantes e rosés. Quantidade impressionante.

Novato em visita à casa, não captei de imediato o esquema de autoatendimento. Até alcançar minha mesa, nenhum garçom, maître ou sommelier veio até a mim para perguntar se eu precisava de alguma ajuda. Mas o serviço funciona assim: você deve pegar um cartão com o sommelier e se dirigir às doze máquinas Enomatic, que evitam que o líquido de deteriore e onde são conservadas as garrafas [à direita, na foto]. Ao escolher o vinho, pode optar por doses de 30, 60 ou 120 mililitros (uma garrafa de vinho tem 750 mililitros). Basta posicionar uma taça embaixo da torneirinha da máquina, inserir o cartão e pronto. O vinho é despejado copo abaixo e o valor cobrado pela dose é incluído no cartão, que deverá ser pago à saída.

Degustei doses de 60 mililitros e, confesso, achei os preços um tanto salgados. Ok, não se pode comparar o preço cobrado no bar com o que geralmente se paga numa loja ou na importadora. Por outro lado, não faz sentido embutir uma quantia no preço relativa ao serviço do vinho, já que a casa apregoa o sistema self-service, certo? Donde só posso inferir que a margem de lucro da casa lhe é bem favorável.

Pelo português Vinha Grande, por exemplo, paguei R$ 16,00. O australiano Wakefield State Shiraz custou-me R$ 12,00 a dose de 120 mililitros do espanhol Viña Sastre Crianza saiu por R$ 32,00. De fato, os vinhos estavam em perfeitas condições. Os espumantes, por sua vez, devem ser pedidos a um barman no balcao montado no fundo do salão. Servido na taça flûte padrão, o rosé português Aida Maria custou R$ 20,00.

Do cardápio, provei o risoto de abóbora e o cozido de carne (R$ 28,00 cada porção). Os pratos muito saborosos, mas achei a ração muito pequena. Honestamente, não reclamaria se tivesse de desembolsar uns R$ 5,00 ou R$ 10,00 para comer um pouco mais.

Senti falta de um jerez na seleção de vinhos e, por isso, perguntei ao sommelier se eventualmente havia alguma opção fora das Enomatics. Infelizmente não, disse-me ele, que já chegou a disponibilizar umrótulo, mas desistiu por causa da baixa procura. Uma pena, taí uma bebida que merece ser descoberta pelos fãs de vinho.

 

Bardega. Rua Doutor Alceu de Campos Rodrigues, 218, Vila Olímpia, tel. (11) 2691-7578, http://www.bardega.com.br.

 

 

La vie en rosés…

É certo que muitos experts e críticos do mundo do vinho torcem o nariz quando é colocada à sua frente uma taça de vinho rosé. O que é uma bobagem tremenda. Vinho bom e vinho ruim não têm cor predeterminada. Tá certo que entre os vinhos mais caros e prestigiados do mundo um outro rosé apareça com algum destaque e na forma de espumante. Mas eu não desprezo um bom rosé.

Os vinhos rosés são em geral versáteis, porque se apresentam como uma boa opção de bebida para os dias mais quentes — a temperatura média nos primeiros dez dias de dezembro em São Paulo foi de 31,1 graus! — e podem fazer bom papel tanto como aperitivo como acompanhando pratos mais leves, como pescados, massas com molhos delicados e até frituras.

Já que está um calorão danado lá fora e como estamos a poucos dias do verão, aproveito para indicar cinco rótulos rosés — três dos quais degustei recentemente — que valem a pena ser degustados, e sem que nenhum nariz fique torcido.

Cà’del’Bosco Cuvée Prestige Rosé DOCG (R$ 268,65, na Mistral): é um grande símbolo da bela região da Franciacorta, na Lombardia, norte da Itália, que destaca justamente pela produção de espumantes. Feito com uvas chardonnay (brancas), essa edição especial, digamos assim, tem produção limitada. Em sua produção são acrescidos vinhos de outras safras. Um vinhaço, para ser bebido em grandes (ou pequenas, por que não?) comemorações.

 

Ercavio Tempranillo Rosado 2010 (R$ 41,40, na Decanter): boa opção custo-benefício, esse rosé espanhol é produzido com uvas tempranillo na região de Castilla – Toledo. Ganhou 87/100 pontos do crítico americano Robert Parker. O aroma discreto esconde um sabor bem gostoso de frutas vermelhas, em especial morango. Vai muito bem com uma paella.

 

Les Hauts de Janeil Rosé (R$ 44, na Zahil): Trata-se de uma espécie de repaginação do Rosé Les Bateaux. Apesar da mudança de nome e da apresentação (a garrafa tem agora formato bordalês), mantém-se como boa opção de preço-qualidade. É produzido na região do Languedoc, sul da França, com uvas syrah.

Janeil rosé: ótima relação preço-qualidade (R$ 44)

 

Paul Bur Rosé (R$ 59, na Zahil): ótimo custo-benefício, esse espumante francês é produzido com as uvas tempranillo (de origem espanhola) e grenache. Gosto tanto desse vinho que foi o escolhido para embalar a festança do meu casório. No caso, escolhi a versão brut.

 

Whispering Angel 2011 (R$ 129,90 na Todovino Interfood): os  rosés produzidos pelo Chateau D’Esclans são os melhores que tomei nos últimos dois ou três anos. O céu é o limite — na verdade, o limite pode ser os R$ 320,90 do top dessa vinícola, o Les Clans 2009 —, mas eu me contentaria e muito com o vinho de entrada, o Whispering Angel. Produzido no mais antigo chateau da Provence, datado de 1201, esse vinho é feito como os brancos da Borgonha, ou seja, as uvas são colhidas à noite e refrigeradas a 6 graus até chegarem à adega para a vinificação. Um vinho realmente especial.

 

Whispering Angel 2011: vale o investimento

 

Vinhos do coração

Na última hora, juntei-me no jantar de ontem a um grupo de amigos que se encontrou no Ráscal do Shopping Pátio Higienópolis.

A ideia da reunião foi de um dos meus confrades, Marcos Santo Mauro, que é integrante de pelo menos mais outras duas confrarias dedicadas ao vinho.

Ao me convidar, o Marcão disso que seria um jantar nada formal, que bastava levar uma garrafa de um tinto e algumas taças. Degustamos seis rótulos às cegas, de países como Espanha, França, Itália e Portugal.

Lá pelas tantas, alguém à mesa comentou que certa vez tinha participado de uma degustação em que cada pessoa deveria levar uma garrafa de seu “vinho do coração”. E deveria explicar o porquê da escolha.

Que ótima ideia!, pensei.

Imediatamente comecei a puxar da memória qual seria (ou quais seriam) os vinhos do meu coração. Só parei de matutar quando decidi escrever este texto. Vamos lá:

Champanhe Piper-Heidschek (França) – Ter conhecido esse champanhe é uma prova de que sou uma pessoa de sorte. Na edição de dezembro de 1997, a revista PLAYBOY publicou uma reportagem com uma degustação de espumantes e champanhes. Para produzir as fotos dessa matéria, o então editor especial Ricardo Castilho comprou uma garrafa extra de cada um dos dezessete rótulos testados e depois realizou um sorteio entre todos na redação. Como free lancer, eu acabara de chegar à equipe para cuidar do atendimento aos leitores do recém-lançado site www.playboy.com.br. No sorteio, a Piper, que havia alcançado o 5º lugar na prova, ficou comigo. Três meses depois eu brindaria com ela a minha contratação definitiva como repórter da PLAYBOY.

 

Salton Classic Merlot (Brasil) – Num tempo em que minha carteira só permitia comprar garrafas de boa relação custo-benefício, esse vinho era presença constante à mesa. Provavelmente, um dos vinhos que mais tomei até hoje.

 

Adega Cooperativa Borba (Portugal) – Já cumprindo a função de repórter da PLAYBOY, comecei a acompanhar profissionalmente as degustações e apresentações de vinhos organizadas pelas importadoras. Toda vez que vejo esse rótulo feito de cortiça na prateleira de um supermercado, lembro-me do fim dos anos 90, quando decidi que o Alentejo, região em que é produzido, estaria presente entre meus futuros destinos turísticos. Passaram-se dez anos áté que finalmente eu cruzasse o Tejo, em julho de 2010, mas a espera compensou. E muito.

Salentein Merlot (Argentina) – Naquela ola argentina do fim dos anos 90 e início dos 2000, esse vinho me chamou a atenção por sua potência e elegância. Passei a comprá-lo com certa frequência e graças a ele comecei a formar meu paladar para os vinhos. De quebra, é um rótulo de sangue holandês, como o meu.

Alión 1995 (Espanha) – O primeiro grande vinho que tomei e que marcou meu paladar por sua história e sua elegância. Beber uma taça de Alión – e saber que está tomando um vinho desse naipe – é como um batismo e um autorreconhecimento de que você tornou-se um homem e já não é apenas um menino.

Domaine Leon Barral 2002 (França) – Comprei esse vinho na primeira vez que fui a Paris, em 2003, na maravilhosa Lavinia, aonde voltei no fim do ano passado  em tempo de comprar mais uma garrafa. Um funcionário da loja me convenceu que se tratava de um belo rótulo de Faugères, uma das áreas de produção de origem controlada no Languedoc, sul da França. Ao degustá-lo, em setembro de 2007, consegui surpreender um amigo que é um dos maiores experts em vinho que conheço.

PS: fiquei surpreso com o bom serviço de vinhos do Ráscal, em especial com a gentileza do maître, Damião.

Ráscal. Shopping Pátio Higienópolis, tel. 3823-2667, http://www.rascal.com.br.

Próximo do pódio

foto: Ricardo D'Angelo

Já que o horóscopo me advertiu, tive cuidado ao guiar meu carro e cheguei são e salvo à degustação de ontem no Friccó. Antes de chegar aos vinhos, quero falar rapidamente do menu que o chef e restaurateur Sauro Scarabotta preparou para nosso grupo.

Ainda na área de espera, que fica de frente para a prateleira de vinhos que estão à venda ali, alguns a bons preços, beliscamos umas bruschettas, da qual chamo a atenção para a de patê de fígado com pó de café.

Já à mesa e após a degustação, o jantar começou com um prato com dois recheadíssimos e úmidos raviolonis de ricota, queijo brie e berinjela na manteiga, sálvia e maçã caramelada. Uma delícia, que quase ofuscou a tagliata de contrafilé com molho balsâmico e purê de fava. Tivéssemos escolhido vinhos menos encorpados, talvez fosse o caso.

Mas como o tema era Piemonte, precisávasmos de um pouco mais de sustança para suportar os potentes rótulos. Desta vez, felizmente, fiquei bem longe da lanterna. meu vinho foi o quarto mais bem pontuado na degustação às cegas. Levei, no caso, o Travaglini Gattinara (comprado na importadora World Wine La Pastina), 100% produzido com uvas nebbiolo. Na foto, é o segundo da direita para a esquerda.

Foi um painel sensacional, que começou com um brinde regado ao champanhe Drappier La Grande Sendrée safra 2002 (importadora Zahil).  Terminar setembro em companhia dos meus amigos e desses vinhos foi algo realmente especial.

Que outubro comece e continue assim. Que não nos falte vinho, cerveja e principalmente razões para brindar. E que votemos bem depois de amanhã.

+ Friccò