Passeio iberopaulistano – parte II


Balcão do sancho Bar y Tapas / Foto: Cida Souza

Três dias depois da visita ao Tonel, fui finalmente conhecer o Sancho Bar y Tapas, que, ironicamente, fica a três quarteirões da minha casa. Para minha frustração, vi mais defeitos do que qualidades no bar.

O ambiente é festivo e faz lembrar o astral dos endereços do mesmo tipo encontrados, por exemplo, em Barcelona, em Sevilha e Madri. Outro ponto positivo da casa é a oferta de bebidas. A seleção de cervejas não é enorme, mas foge do trivial e tem preços honestos: Backer Pale Ale a R$ 9,90 e as espanholas Estrella Galicia e Estrella Damm Barcelona, respectivamente, a R$ 5,90 e R$ 8,90. Entre os drinques, o pisco sour, correto, custou-me R$ 18.

Decepcionei-me, porém, com dois dos três itens que selecionei do cardápio: as croquetas de jamón (croquetes de presunto cru, R$ 19 a porção com 6 unidades), por exemplo, tinham um recheio com gosto acentuado de maisena — fiquei procurando o sabor do jamón e não encontrei…

O rabo de toro con polenta (R$ 17), a meu ver, poderia ser descrito no cardápio como polenta com rabada, já que a quantidade de carne, desfiada, é mínima. E, se por um lado não notei nenhum defeito nas patatas bravas (R$ 12), por outro tenho de dizer que já provei melhores.

Sancho Bar y Tapas. Rua Augusta, 1415, Consolação, tel. (11) 3141-1956.

 

 

E por falar em estádios…

Estádio Olímpico de Berlim Foto: Camila Antunes

Sempre que chego pela primeira vez a uma cidade procuro conhecer dois tipos de atração: estádios de futebol e mercados (sob a aba do chapéu “mercado” incluo feiras de rua, camelódromos e supermercados).

Mas é de estádios que quero falar. Num momento em que os principais estádios brasileiros estão em reforma para a Copa do Mundo de 2014 – a exceção do Morumbi, o mais importante de todos!, que, não sei não, ainda acho que vai receber alguns joguinhos do mundial – é interessante saber que a bola vai rolar por velhos-novos gramados, antes esquecidos.

Como pode ser visto nesta galeria de estádios publicada pelo viajeaqui, o Brasileirão 2011 terá partidas em Pituaçu (Salvador), no Presidente Vargas, em Fortaleza, e até em Macaé, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro.

Aos torcedores mais fanáticos, eis um bom motivo para seguir os times e conhecer novas cidades, não só em dia de jogos.

É verdade que os clubes e/ou cidades e/ou estados que administram os estádios pelo país ainda estão engatinhando no que poderíamos chamar de “turismo de futebol”. As exceções, eu diria, são poucas.

Uma delas é o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, onde fica o maravilhoso Museu do Futebol e cuja infra-estrutura fica disponível a qualquer pessoa que queira, por exemplo, fazer uma caminhada na pista ao redor do gramado ou mesmo tomar um sol na arquibancada.

Ao Morumbi é possível fazer visitas programadas, com direito a conhecer a espetacular sala de troféus, entre outras instalações.

Lembro-me que, quando criança, explorei o Mineirão, onde já assisti diversos jogos, e pude até pisar no gramado.

Fora do Brasil foram inesquecíveis:

– a visita a La Bombonera, do Boca Juniors, em Buenos Aires, onde estive por duas vezes: a primeira, em 2004, fiz a visita guiada pelos vestiários, loja, sala de imprensa, museu e gramado. Naquele dia, por sorte, Carlitos Tevez, que ainda jogava pelo Boca Juniors, estava no clube e pude tirar uma fotinho ao lado dele. Voltei ao estádio em 2009, quando assisti a um empate de 2 a 2 do time da casa com o Argentinos Juniors.

– as duas vezes em que fui ao Estádio Olímpico de Berlim. A primeira delas, na companhia de dois amigos, assisti a estreia do Brasil na Copa de 2006, o 1 a 0 contra a Croácia, gol de Kaká. Naquele dia tive a prova de que Deus existe: apesar de um amigo ter se perdido bem na hora que o jogo ia começar, ele conseguiu ver o jogo. Enquanto procurava por ele, eu encontrei um ingresso para a partida, jogado na alamenda que liga a estação de metrô ao estádio. Não localizei meu amigo – só fui revê-lo tarde da noite, já no nosso motorhome como qual rodamos a Alemanha – mas vendi o ingresso pelos mesmos 300 euros que tive de desembolsar ao cambista de quem comprei a entrada (que dava acesso ao setor destinado à amável torcida croata). Na segunda vez, em 2008, fiz um passeio por toda a área do estádio, que tem uma arquitetura monumental, como se pode ver pelas fotos deste post (desculpem pela qualidade das imagens).

No detalhe, a pira olímpica

– na mesma Copa, assisti no Estádio Olímpico de Munique ao jogo entre Alemanha e Argentina, que acontecia no Estádio Olímpico de Berlim. Como? Simples: a organização da Copa de 2006 instalou um megatelão no meio do gramado do estádio de Munique para que todos os torcedores e turistas que estavam na cidade pudessem torcer pelas equipes. Foi muito legal (ainda mais porque deu Alemanha, hehe)!

– o jogo entre Real Madrid e Atlético de Bilbao, em dezembro de 2006, no Santiago Bernabéu. Em sua fase “galática”, o Real tinha na equipe Ronaldo, Beckham, Roberto Carlos, Emerson, Raúl, Van Nistelrooy, Robinho, entre outros. O Real ganhou de virada, com gols de Ronaldo e Roberto Carlos. Não pude conhecer os bastidores do estádio mas fiquei impressionado com a organização dos setores, a acústica (se eu estivesse no lugar do jogador do Bilbao que foi expulso e tomou a mais sonora vaia de todos os tempos, eu teria saído do gramado aos prantos) e o acesso: há uma estação de metrô na porta, exatamente na porta do Bernabéu.

– a estreia do St. Pauli na segunda divisão do Campeonato Alemão de 2008-2009, em seu estádio em Hamburgo. Havia pelo menos 20.000 pessoas nas arquibancadas, em uma partida às 18 horas de uma sexta-feira. O bacana é que esse estádio é o único na Alemanha que tem autorização para que seja vendida cerveja na arquibancada, conforme contei aqui mesmo no Boteclando.

Mas preciso contar uma coisa: nenhuma dessas experiências se compara ao dia em que o São Paulo ganhou seu primeiro título da Taça Libertadores, em 1992, em pleno Morumbi. Eu estava lá.

Nasceu Tiago! Viva Santiago!

Detalhe da Catedral de Santiago de Compostela Fotos: Miguel Icassatti

 

À 1 e tanto da manhã desta segunda-feira, 18 de abril de 2011, quase 2 horas (ou10 da noite deste domingo, 17 de abril, no horário brasileiro), nasceu meu sobrinho Tiago Padberg-Biederbeck em Hamburgo, na Alemanha, com 51 centímetros (os mesmos de quando nasci) e 3 quilos, 350 gramas (10 gramas a mais do que eu). Minha irmã Daniela passa bem e ele já mamou uma vez. É o terceiro sobrinho deste tio apaixonado, que vem se juntar a Júlia e Torbinho, o alemãozinho que prestes a completar três anos de vida já é fã de AC/DC e do Iron Maiden, torce para o São Paulo e o St. Pauli, tem uma bela canhota e acaba de ganhar um irmãozinho.

Logo depois do café da manhã deste domingo liguei o computador para falar com a Dani e saber, afinal, como ela estava se sentindo, porque toda a família já estava de prontidão à espera do novo integrante da família, cujo nome, aliás, ela manteve em segredo até agora (torço para que Tiaguinho deixe a maternidade com o macacão dos Beatles que comprei meses atrás na Galeria do Rock). Conversamos por cerca de meia hora pelo Skype e ela estava bem. Minutos depois minha irmã Priscila, mãe da Julieta, telefonou para minha casa e avisou que a Dani estava indo para a maternidade. Era meio-dia, mais ou menos, horário do Brasil e eu estava assistindo a Bayern Munich x Bayer Leverkusen na TV, enquanto me preparava para ir ao clube.

Neste primeiro texto depois de um período de oito semanas sem escrever, eu esperava me desculpar a você, leitor, pelo longo tempo sem escrever, já que tenho estado de molho, depois de uma cirurgia a que submeti o meu tornozelo esquerdo, após tê-lo fraturado num jogo de futebol. Eu esperava também contar a boa nova, ou seja, a migração deste blog para o portal Viajeaqui, também da Editora Abril, já que agora o blogueiro passa a ser também editor-chefe do referido portal.

Mas eis que o domingo, 17 de abril, reservaria outras boas novas: desde quinta-feira, fui autorizado pelo meu ortopedista a pisar novamente com o pé esquerdo – depois de quase sete semanas! –, a trocar as muletas axilares pelas canadenses (alguém sabe o porquê desse nome?) e a começar a fazer alguns exercícios de fisioterapia na água. Pois bem: já sabendo que meu sobrinho poderia nascer a qualquer momento, segui para o clube, onde, pela primeira vez em dois meses, mergulhei em uma piscina, em um dia de lindíssimo céu azul de outono.

O dia passou rápido, até o momento em que recebi a notícia da chegada de Tiago, por um telefonema de minha mãe. Eu recebi a ligação enquanto participava do sensacional e comovente jantar beneficente organizado pelo chef Jun Sakamoto no hotel Unique e com a participação de 20 outros chefs, cuja renda foi revertida às vítimas do terremoto e do maremoto no Japão. Não pude atender na hora, apenas na saída, após cumprimentar alguns chefs.

Enquanto minha mãe descrevia o peso e o tamanho de Tiaguinho, emocionada, é óbvio, não sei por quê, meu pensamento viajou aos primeiros dias de agosto do ano passado, quando visitei a cidade de Santiago de Compostela, na Galícia, Espanha.

Fiquei apenas duas noites naquela cidade, cujo entorno da catedral do discípulo de Jesus é repleto de ruelas medievais, que estavam tomadas por peregrinos, turistas, gente, enfim, do mundo inteiro.

A praça da Catedral de Santiago

 

Cheguei a Santiago numa noite de sábado, de carro, dirigindo desde Coimbra, em Portugal. A cidade estava lotada e sob uma aura alegre, festiva, já que o período coincidia com a festa do jubileu do santo, algo que, se eu não estiver enganado, acontece a cada onze anos. Faminto, deixei o hotel e me juntei à multidão que vagava entre os prédios centenários das ruas centrais, medievais e abertas apenas a pedestres. Guiei-me pelo fluxo de pessoas e quando me dei conta estava diante na praça em que fica a catedral. Um mundaréu de gente acompanhava o show do músico francês Jean-Michel Jarre (os mais velhos haverão de se lembrar de seus clips no Fantástico nos anos 80), um concerto algo psicodélico, algo new age, que combinava perfeitamente com a aura mística que domina a cidade.

Naquela noite, depois do show, parei em um bar que estava lotado. Não saberei dizer o nome. Tomei uma taça de vinho branco no balcão, duas talvez, observei a moçada falando alto e se divertindo, belisquei umas tapas e voltei ao quarto do hotel.

A Catedral de Santiago de Compostela, fabulosa

 

Todo esse roteiro de repente se reconstitui à minha frente. Enquanto escrevo este texto dedicado a Tiago, meu sobrinho, bebo um copo de uísque, sentado no sofá de casa. Daqui a pouco vou dormir, e com uma certeza: logo estarei em Compostela, diante da catedral, prestes a tocar a imagem de Santiago, em agradecimento a mais esta graça, mais esta bênção, mais esta alegria. Viva Thiago! Viva Santiago!