Passeio iberopaulistano – parte I

As mesas do Tonel, em primeiro plano: excelente bacalhau / Foto: Miguel Icassatti

O chef Alex Atala costuma dizer que é possível fazer comida ruim com ingredientes bons, mas que não se pode fazer comida boa com ingredientes ruins. Daí que é importantíssimo celebrar um endereço em que a gente consegue encontrar ingredientes de primeira e cozinha, por mais simples que seja e é, das boas.

Felizmente, esse encontro ocorre no Tonel, uma tasca à moda portuguesa instalada numa esquina da Chácara Santo Antônio. O ambiente — eu sei, eu sei, o contraluz na foto não ajuda — remete a endereços como a Tasquinha do Fadista e outras que a gente encontra no Bairro Alto em Lisboa.

Estive lá há exatas duas semanas, num involuntário passeio por bares-restaurantes ibéricos nos últimos dias.

Ao cardápio: o bolinho de bacalhau (R$ 380), a bem da verdade, deixou a desejar. Achei muito massudo, farinhento. A alheira, por sua vez, estava uma delícia, bem temperada, com o recheio suculento e a casca sequinha (R$ 22).

De volta ao bacalhau, as “punhetas” (R$ 32) traziam o bacalhau cru desfiado e misturado com cebola, azeite e outros temperos sobre fatias de um bom e fresco pão..

O melhor do almoço, ainda bem, ficou para o prato principal: o bacalhau a lagareiro (R$ 96, para duas pessoas). Acompanhado de batatas ao murro e brócolis, vem à mesa servido  numa atravessa mergulhado em azeite borbulhante. Levíssimo e salgado na medida, sua matéria-prima é o pescado do tipo cod gadus morhua, que vem a ser o de melhor qualidade. A textura e o cozimento perfeitos e a brancura do peixe fizeram-me recordar da máxima de Alex Atala. Ele tem razão.

Tonel. Rua Antônio das Chagas, 409, Chácara Santo Antônio, tel. (11) 5181-5441. Só abre no almoço.

 

O Jabuti e os frutos do mar

O balcão do Jabuti / Foto: Gustavo Lourenção

Caramba!, perdi mais uma vez a chance de esclarecer um mistério: se a especialidade da casa é o cardápio de petiscos e frutos do mar, por que o boteco se chama Jabuti?

Pois é, depois de sair da fisioterapia – aliás, a quem interessar possa: nesse interlúdio em que o blog ficou fora do ar, quebrei o tornozelo esquerdo em uma partida de futebol, ganhei uma placa com 11 pinos e mais quatro parafusos -, ontem à noite combinei de tomar um chopinho com um amigo. Como estávamos na região da Vila Mariana, fomos ao Jabuti.

Meu amigo, que é carioca, não conhecia esse botecão. Logo deu seu parecer: “ixto aqui pariéce demaix com os botecox do Rio, de Copa, né não?, tipo o Caranguejo, ali péarrrto do metrô Cantagalo.”

Concordei e disse mais: o Jabuti me remete muito às marisqueiras lisboetas, como o fantástico restaurante Ramiro, e tantas outras casas do gênero espalhadas por Portugal.

Sobre marisqueiras, é bom lembrar, fiz aqui mesmo neste blog uma comparação rápida entre as amêijoas de Portugal e os berbigões que comi na Marisqueira Sintra, em Florianópolis (leia aqui).

Para quem se lembra, o Jabuti é a cara do santista Mar del Plata, da Ponta da Praia, antes da reforma que o deixou “moderno”. O salão envidraçado, fora de moda, é preenchido com mesas e cadeiras simplérrimas. No fundo do salão, sobre o balcão também de vidro, as travessas exibem as porções de polvo, ostra, lula, sardinha, atum e salmão (escabeche e/ou à vinagrete), sem contar os bolinhos de bacalhau enroladinhos, à espera de irem à frigideira.

No canto direito, fica a chopeira. A turma da casa costuma tirar o chopinho à moda carioca, com pouco colarinho, mas não se importa caso você reclame pelos três dedos regulamentares.

Aí é que mora o perigo: você toma três ou quatro copos e esquece de esclarecer com o garçom a dúvida cruel sobre o nome do bar.

Tudo bem, fica para a próxima vez.

Jabuti. Rua Conselheiro Rodrigues Alves, 1315, Vila Mariana, tel. 5549-8304.

Memórias gastronômicas e desorganizadas de um iPhone

Amigos, como vocês poderão julgar ao verem a qualidade das imagens abaixo, este blogueiro é um péssimo fotógrafo.

Esse defeito, porém, não é desculpa para que não sejam compartilhadas com vocês algumas memórias soltas, aleatórias, recolhidas pelo iPhone que adquiri seis meses atrás.

Espero que gostem:

Os três pratos a seguir foram servidos a mim e a meus confrades no mais recente encontro da Confraria da Baixa Gastronomia. Esse grupo se reúne uma vez por mês, religiosamente, ao redor das melhores mesas de São Paulo, isso eu posso garantir, sejam elas premiadas ou não, conhecidas do grande público ou não, badaladas ou não. Pela segunda vez seguida, a reunião de fim de ano aconteceu no Fiorana (Rua Joaquim Eugênio de Lima, 209, Bela Vista).

Aperitivo: azeitonas recheadas à milanesa

olive alla ascolana

Entrada: zampone e cotecchino com lentilha

Primeiro prato: nhoque alla romana (de sêmola, gratinado, não leva batata)

Nhoque alla romana

Segundo prato: piccione farcito (pombo recheado com molho de cogumelos)

pombo ao molho de cogumelos

Confesso que não lembro o nome do lugar abaixo. Sei apenas que estive lá no dia 28 de julho passado, durante o meu giro por Portugal. Fica em Tomar, na região central do país. Ali comi um delicioso confit de pato.

Tomar

Esta foto não é inédita. Publiquei-a em setembro, num post em que comparava as amêijoas a bulhão pato com os berbigões da Marisqueira Sintra, de Florianópolis. As amêijoas abaixo são de Aveiro, cidade litorânea de Portugal, no meio do caminho entre Coimbra e Porto. Inesquecível essa refeição.

Amêijoas

As fotos a seguir foram tiradas no sensacional restaurante 100 Maneiras, certamente hoje um dos top 3 de Lisboa. Fiz um menu degustação de oito ou nove etapas, se não estou enganado. Acontece que no meio do jantar— e sob efeito do espumante de entrada e das taças de Pó de Poeira, um tinto do Douro— larguei mão de fotografar os pratos. A casa fica na Rua do Teixeira, 35, no Bairro Alto, e tem no comando o chef Ljubomir Stanisic, nascido na ex-Iugoslávia. É estranho escrever isso, sobre sua nacionalidade, mas é assim que ele se define, já que seu país foi riscado do mapa e deu lugar a Sérvia, Croácia etc.

Atum selado com raiz-forte. Empata com o sashimi de toro (atum gordo) que provei anos atrás no velho Kinoshita da Liberdade, como o melhor que já comi, certamente.

Esta aqui é a vieira marinada com uma espécie de sopa de ovo servido em sua casca:

Em Coimbra, jantei no Arcadas, restaurante instalado no espetacular hotel Quinta das Lágrimas. A casa tem uma estrela no Guia Michelin. Competente e solícita, a sommelière recomendou o branco Castelo D’Alba para acompanhar os primeiros pratos do menu degustação. Adorei o vinho e fiquei mais contente ainda quando passei pela adega do El Corte Inglés e vi que a garrafa custava 5 euros. Trouxe duas na mala, que pretendo abrir neste verão.

Sopa rica de peixe e crostões:

Sopa rica de peixe e crostões

Magret de pato:

A paisagem abaixo é o que se vê a partir da acolhedora vinícola Quinta do Crasto, que produz alguns dos melhores vinhos da região do Douro. Passei uma tarde lé, quando fui recebido pelo enólogo Manoel Lobo. Fizemos um tour pela adega e os vinhedos. Das regiões vinícolas em que estive (do Vale dos Vinhedos à Franciacorta e do Vale do Maipo ao Piemonte), a do Vale do Douro é, de longe, a mais cinematográfica. Merece muitas e muitas visitas.

Aqui estamos em Vila Nova de Gaia, vizinha à cidade do Porto, da qual é separada pelo Rio Douro. Tirei a foto durante a visita guiada pelo museu e as caves da Adriano Ramos Pinto. É um passeio turístico? É. É clichê? É. Mas para quem gosta de vinho, é imperdível. Por 5 euros faz-se essa visita, com direito a degustação de três tipos de Porto produzidos ali e também um passeio de barco de uma hora pelo rio.

De volta a Lisboa, um café n’A Brasileira, no miolo do Chiado.

Flagrantes do derradeiro jantar em Portugal, no bonito e incensado Buhle (Avenida Montevidéu, 810, Matosinhos, Porto, http://www.buhle.pt). De frente para o mar.

Filé de robalo com cebola caramelada e queijo de cabra:
Filé de robalo

A sobremesa: um sorvete de creme com cereja e licor de menta maçaricado.

Sorvete de creme com cereja

Por fim, um registro rápido no Bar da Lora (Avenida Augusto de Lima, 744, loja 115,
centro, tel. 31/3274-9409), em Belo Horizonte, em outubro passado. Um pequeno tesouro em pleno Mercado Central.

Bar da Lora

PS: atualizado pelo blogueiro às 19h