A pior padaria do mundo

Eu, que seria capaz de passar os meus dias apenas alimentado por pão (água e um tintinho também iriam bem), tenho a má sorte de morar a dois quarteirões da Bella Paulista, a pior padaria do mundo.

Pelo que percebo quando passo por perto da pior padaria do mundo, devo ser a única pessoa a achar que a Bella Paulista é a pior padaria do mundo. Afinal, a qualquerhora do dia ou da noite o salão ultrailuminado está cheio, seja numa madugada de quinta para sexta, seja numa manhã de domingo, quando há filas para servir-se no bufê do brunch, para ir ao banheiro, para pagar a conta e para conseguir uma mesa livre.

Há quem goste de começar o dia ou curtir a saideira dessa forma, mas definitivamente esse não é o meu caso.

Não tenho dúvida que a localização estratégica, a uma quadra da Avenida Paulista, aliada à conveniência de funcionar 24 horas por dia são a razão principal do sucesso da pior padaria do mundo. Ok, ok, os sandubas sarados são bons e a ala reservada aos vinhos é melhor que a de alguns supermercados.

O fato é que em quase dois anos de vizinhança, foram raras, raríssimas as vezes em que não me aborreci ou me arrependi por ter precisado dos serviços da pior padaria do mundo. Já me cobraram o preço errado por um pote de manteiga (a mais, claro), já incluíram itens na comanda que evidententemente eu não havia pedido e de grão e grão a galinha encheu o papo com trocos de 5, 10 ou 20 centavos que acabaram no bolso de alguém por falta de moedas no caixa.

Para o café da manhã de domingo passado – não, não me refiro ao serviço de brunch da casa; aliás, nunca tive o prazer de degustá-lo, simplesmente porque me nego a encarar uma espera na primeira refeição do dia, ainda mais em um domingo; estou falando do desjejum caseiro mesmo – tive de recorrer à pior padaria do mundo para comprar quatro pãezinhos e alguns gramas de frios.

Pães comprados, segui para o balcão de frios e procurei pela tabela de preços dos frios.

Não a vi exposta em nenhum lugar.

Perguntei ao funcionário, então, por ela:

– A gente vai colocar, mas pode perguntar o preço do que quiser e eu falo – respondeu-me ele, com ar de sabichão.

Acredite se quiser, caro leitor, mas recebi essa mesma resposta muitos meses atrás, na época em a pior padaria do mundo foi ampliada.

Retruquei:

– Não é essa a questão. Quero ver a tabela para poder comparar preços, ver se levo alguma coisa diferente…

E segui para o caixa, onde passei por mais amolação. Ao pegar a comanda eletrônica (e imaginando que eu tivesse gastado uma boa grana ali), a funcionária perguntou:

– Nota fiscal paulista?

– Sim – eu disse.

Como a conta ficara em R$ 2,20, pois eu havia comprado meros quatro pãezinhos – só pode ser por isso –, ela entendeu “não”.

Obviamente, saí de lá com a nota fiscal, não sei antes reclamar à gerente pela falta da tabela de preços e lembrar de outra situação que vi por lá.

Na noite do domingo semana anterior, a caminho da farmácia, tive de passar pela calçada em frente à pior padaria do mundo.

Ao cruzar a faixa de pedestres e alcançar o passeio, que naquele trecho da Haddock Lobo deve ter uns 4 metros de largura, dei-me conta que a calçada estava tomada por bancos de madeira ocupados por clientes da… pior padaria do mundo!

Não contentes em colocar bancos encostados na parede, a pior padaria do mundo resolveu ocupar mais um quinhão do espaço publico, deixando bancos também próximos à guia. Assim, de uma hora para outra, os 4 metros reduziram-se a um corredor de 1 metro, cercado também por fregueses da pior padaria do mundo, que se lambrecavam de sorvete e davam uns traguinhos em seus Marlboro e Dunhill (não vou comentar nada sobre as bitucas de cigarro).

A julgar pelo desdém com que a gerente da pior padaria do mundo ouviu minhas reclamações, eles não devem estar precisando de meus R$ 2,20. Eu que me dane, sou o pior cliente do mundo.

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Passos gastronômicos

Foto: Miguel Icassatti

Foto: Miguel Icassatti

Em uma cidade como Paris, não é difícil escolher um lugar para comer e beber. A oferta de bistrôs, brasseries, bares, cafés e restaurantes de todo tipo de cozinha é absurda. Guias, revistas e sites de turismo e gastronomia do mundo inteiro ajudam a fazer a seleção de um endereço perfeito para aplacar a fome, a sede e o desejo do turista.

 

Quando se tem a sorte de contar com a ajuda de um amigo ou parente que possa dar algumas dicas de insider, a brincadeira fica ainda mais divertida. Felizmente, é o meu caso. Na última noite da viagem a Paris, no dia 3 de janeiro, fui visitar uma prima de minha mãe, artista plástica que vive na França há cerca de trinta anos. Jane é casada com Luc-Michel, um moldurista artesão premiadíssimo que mantém um ateliê de frente para a Ile St. Louis, às margens de um dos braços do Sena.

 

Não foi a primeira vez que estivemos juntos, mas a noite foi uma das mais especiais. Natural da Borgonha, Luc fuçou em sua adega particular e abriu uma garrafa de um pinot noir sobre sua prancheta de trabalho, para darmos juntos o primeiro brinde do ano. Em seguida, ciceroneou-os a um restaurante típico francês instalado há cem metros de distância de seu ateliê.

 

O Cafe Restaurant Louis Philippe tem um cardápio especializado em clássicos da Borgonha, com espaço para algumas sugestões de outras regiões do país, tanto entre os pratos como na carta de vinhos. Do salão do primeiro andar, tem-se vista panorâmica para o Sena, com a Catedral de Notre Dame ao fundo. Não exagero ao dizer que seu ambiente, a iluminação, a localização e a atmosfera compõem o conjunto ideal do que se espera para receber um jantar romântico.

 

À mesa, éramos seis, contando com Moffy, o dálmata de treze anos do casal Jane e Luc. A julgar pela silhueta rechonchuda de seu dorso e a avidez com que traçou os restos de boeuf bourguignon, deve ser habituê da casa.

 

De entrada, suei para dar conta de uma porção de meia dúzia de ostras, cultivadas nas águas frias da Bretanha. Em seguida, deliciei-me com um gigot d’agneau (fatias perna de cordeiro).

 

Após despedir de Jane e Luc, caminhando pela noite gelada e silenciosa de Paris, dei-me conta de que esse hábito de explorar, a pé, os bons bares e restaurantes vizinhos de casa tem se tornado cada vez mais raro em São Paulo.

 

Pensando bem, uma caminhada pelos arredores de casa pode revelar também mercadinhos, uma padoca diferente, uma lanchonete, uma casa de sucos, a sorveteria… Da próxima vez que pegar as chaves do carro para dar um pulinho à padaria, caro leitor, lembre-se do tempo em que sua mãe lhe pedia para buscar o pão quentinho, que saía de hora em hora.

 

Cafe Restaurant Louis Philippe. 66, quai de L’Hotel de Ville, Paris, tel. 00XX33-0142722942.