A costela do Belchior

 

Aquele Belchior, o rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, é outro, e foi pro céu dia desses, grandissíssimo compositor!

No caso, o da costela, que mencionei no título deste texto, é o Belchior de Freitas Soares, mais conhecido como Bel, o dono de um boteco bem pequeno em Pinheiros, escondido no meio de um quarteirão, num salão simples e estreitinho (foto).

Aliás, o Bel se gaba de fazer “a melhor costela no bafo do mundo”. Ele é fornecedor de bares nas vilas Madalena e Mariana, inclusive.

Não acho que seja a melhor do mundo – não chega perto do matambre que meu finado tio Artur fazia -, mas a carne estava bem macia na visita que fiz recentemente.

Na verdade, foi a segunda vez que estive lá – e da primeira, havia levado para viagem uma costela muito suculenta, úmida, limpa (isto é, sem gordura)  e, sim, deliciosa.

Desta vez, pedi um PF de costela, que veio com arroz, feijão e mandioca frita (R$ 18,98). Vem com uma porção pequena de arroz e feijão, mas se você quiser repetir, basta pedir que o Bel traz, sem cobrar nada a mais. Temperei a costela (que fica 15 horas em cozimento, segundo o Bel, apenas com sal grosso, ervas e cebola) com a pimentinha e a farinha da casa e foi mesmo uma delícia.

Tem também costela servida na panela de pedra sabão (por 75 reais), costelinha de porco com barbecue (85 reais), vaca atolada (cozida com mandioca, 75 reais) e até ossobuco cozido na cerveja preta (68 reais) – tudo isso em porção para 3 pessoas.

Pra beber, caipirinha feita com cachaça mineira de Salinas a R$ 18,50 e cerveja Heineken a 10 reais.

De sobremesa? Uma paçoquinha, que é cortesia da casa.

Costelas (Costela do Bel). Rua Amália de Noronha, 343, Pinheiros.

 

11 botecos em 4 horas

Bar do Zezé: campeão de 2011 Fot: divulgação

Eu sabia que a tarefa não seria fácil: provar, em uma única tarde, o maior número de petiscos diferentes entre os bares concorrentes do Comida di Buteco 2011, reunidos no domingão durante a festa de Saideira do festival, em Belo Horizonte.

A tarefa se transformaria em uma missão quase impossível quando, a caminho do evento, fui interceptado por um telefonema de uma prima, convidando-me para um churrasco de família. Não tive como negar o convite, muito menos como dispensar os cortes que meu primo ia tirando da churrasqueira.

O fato é que a saideira da Saideira do Comida di Buteco – festa que começou no sábado – me esperava. Esta foi a terceira vez, em doze edições, que participei do evento. Comparada com as de 2006 e 2009, foi a mais bacana e bem organizada.

Os donos dos 41 botecos participantes, que tiveram de criar petiscos com ao menos um de uma lista de onze ingredientes típicos do Norte de Minas Gerais, mandaram muito bem no sabor e na apresentação de seus pratos. Não faltou cerveja gelada e no fim da festa havia táxi na porta, com preço cobrado de acordo como que marcava o taxímetro. Nada do péssimo hábito dos taxistas paulistanos de estorquir os passageiros com tarifas fechadas, como acontece nos garndes eventos – lembram-se do show do U2?

Muito bem: das 4 da tarde às 8 meia da noite, quando parei de provar os tira-gostos para acompanhar o anúncio dos vencedores do festival, consegui degustar 11 porções de petiscos diferentes. Tive sorte na minha seleção porque escolhido, entre eles, as sugestões do Bar da Lora, vencedora no ano passado e 3º lugar este ano, e do grande campeão, o Bar do Zezé.

Dá uma olhada na lista, pela ordem que os petiscos foram degustados:

1. Café Palhares – bolinho de carne de sol com molho, farofa de pequi e maionese

2. Köbes – carne de porco à moda, vinagrete de feijão andú e farofa de alho

3. Bartiquim – panhoca (pão italiano), creme de milho verde, carne de sol em cubos puxada na manteiga de garrafa acompanhada de requeijão do Norte, parmesão e salsinha

4. Bar Temático – carne de sol, jerimum, requeijão do Norte, vinagrete de conetro, queijo de manteiga e manteiga de garrafa

5. Bar da Leninha – pé de porco desossado e recheado com carne-seca e molho de pequi

6. Buteco do Filho – carne de sol na brasa com rapadura, bolinho de feijão andú recheado com requiejão escuro

7. Família Paulista – charque na manteiga de garrafa, creme de abóbora com gorgonzola e gengibre mais mandioca cozida e assada

8. Bar da Lora – carne de sol, linguiça defumada, mandioca na manteiga de garrafa, requeijão do Norte, molho de siriguela, melaço de rapadura e farinha de pequi

9. Bar do Zezé – músculo cozido, feijão andú, calabresa, bacon e mandioca amarela na manteiga de garrafa

10. Barção Moreira – carne de sereno de boi e de frango refogados na rapadura caramelada com farofa de pequi e creme de siriguela

11. Cantina da Ana – bolinho de crane de sol com molho acompanhado de farofa de pequi e maionese

Não foi pouca coisa, pois não me limitei a uma garfada ou espetada, nem dispensei a companhia da cerveja.

O melhor de tudo é que me pesei na manhã desta terça-feira e não ganhei um quilo sequer.

Quem disse mesmo que cerveja com petisco engordam?

Leia também post sobre o Bar da Lora, de outubro de 2010.

Petiscos coadjuvantes

No cinema, tendo a achar que o papel de ator e de atriz coadjuvante é encarado como sendo de segunda classe. A despeito disso, o Oscar é concedido, muitas vezes, a atuações de primeiríssima qualidade, aquelas que de fato roubam a atenção do espectador.

Para ficarmos em dois exemplos de atuação em que o protagonista é surpreendido, lembro da encarnação do Coringa pelo brilhante Jack Nicholson do Batman, de Tim Burton (1989) – alguém se lembra que bruce wayne era Michael Keaton? – e a irretocável atuação de Christoph Waltz como o coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios. Waltz, ao menos, garantiu para a si a estatueta.

O leitor há de perguntar: o que essa breve menção ao cinema tem a ver com o assunto deste blog? Vou tentar explicar: em muitas casas especilalizadas nisso ou naquilo, costumo me surpreender com o acompanhamento de um prato, a guarnição ou com petiscos relegados à segunda página do cardápio.

Puxe na mamória: é impressão minha ou os melhores pães de queijo são encontrados nos coverts das churrascarias?

Pois foi a polenta frita (R$ 14,50 a porção) do Pira Grill (Rua Wisard, 161, Vila Madalena, tel. 3097-8262), no tardio almoço de sábado, que me fez pensar nesta história. Fazia mais de ano que não almoçava ali. Entre as especialidades grelhadas, fiquei surpreso também com o delicioso e marcante tempero do frango (na verdade, pedi meia porção e paguei R$ 18,50).

Cortada em cubos, a polenta tem a casca crocante, bem sequinha. O segredo é esperar uns minutinhos até ela esfriar um pouco – sai da cozinha pelando! – e abrir ao meio esses dados de fubá de milho para perceber o seu úmido e salgado recheio. Tenho a impressão de que ali no Pira Grill é frita a melhor polentinha desta cidade.

Além dessa sugestão, deixo uma lista de petiscos que, embora pareçam coadjuvantes, roubam a atenção dos paladares mais atentos:

Ao Chopp do Gonzaga, Avenida Ana Costa, 512, Gonzaga, Santos, tel. (13) 3284-8940.
– Coadjuvante: para atacar o ótimo molho de cebola preparado nesse tradicionalíssimo endereço de Santos, não espere pelas carnes. Pegue meio pãozinho, cavuque o miolo e preencha o espaço com as lâminas de cebola curtida.

– Principal: o espetão à moda da casa, com carne, lombo de porco e linguiça calabresa.

Bar do Sacha, Rua Original, 89, Vila Madalena, tel. 3815-7665.
– Coadjuvante: a porção de mandioca cozida puxada na manteiga, bem amarelinha, me faz lembrar da que minha vó preparava. No próprio quintal de sua casa em Ponta Porã (MS), ela arrancava a raiz, limpava, descascava e levava à mesa. Melhor companhia a um bom churrasco não há.

– Principal: a costela assada no bafo.

Burdog, Avenida Doutor Arnaldo, 232, Pacaembu, tel. 3151-4849.
– Coadjuvantes: não dá para ignorar a maionese feita na casa e a porção de anéis de cebola frita.

– Principal: o cheese salada.

Carlinhos, Rua Rio Bonito, 1641, Pari, tel. 3315-9474.

– Coadjuvantes: o arais (foto), cafta que vai à chapa prensada no meio de duas bandas de pão árabe, é um perigo. Você corre o risco de repetir uma, duas, três vezes e deixar de provar outras boas opções de tempero armênio no cardápio.

– Principal: embora o restaurante se autoproclame “rei da picanha”, pule esse item, junte uma dezena de amigos e encomende o carneiro inteiro recheado de arroz e amêndoa.

Pasquale, Rua Amália de Noronha, 167, Pinheiros, tel. 3081-0333.
– Coadjuvantes: depois de refestelar-me com a seleção de antepastos preparados na cantina, entre eles a abobrinha grelhada e o queijo cacio cavalo, não sobra muito apetite para outras experiências

– Principal: as massas cantineiras.

Totò, Rua Doutor Sodré, 77, Vila Olímpia, tel. 3045-1966.

– Coadjuvantes (?): bom, se levarmos as coisas ao pé da letra, estaremos falando de um restaurante italiano. Mas a verdade é que o bar – não por acaso montado no meio do salão – divide iqualmente com as massas frescas as atenções de quem chega à casa. Sócio do local, Alfredo Martins (foto) divide a bancada com Dantley de Souza e prepara espetaculares caipirinhas. Se você tiver a sorte de ser obrigado a aguardar por uma mesa, não hesite em puxar uma banqueta e ficar ali, à esquerda do balcão, a observar o minúcia com que a dupla corta as frutas antes de misturá-las às doses precisas de cachaça, vodca ou saquê. Sou fã da caipirinha de caju com limão-cravo e mexerica.

Esses botecos maravilhosos e seus nomes esquisitos

Neste fim de semana chega às bancas e aos assinantes do Vale do Paraíba, do Litoral Norte paulista e da Serra da Mantiqueira a edição especial VEJA Mar, Vale & Montanha (leia mais aqui). A revista apresenta 546 bares, restaurantes e casas de comidinhas em cerca de vinte cidades.

Os jurados da edição elegeram o Bar Coronel, de São José dos Campos, o melhor boteco da região. Trata-se de um estabelecimento aberto em 1992 no mesmo ponto central em que funcionava uma quitanda e que homenageia ilustres botecos paulistanos.

O extenso e vistoso balcão de petiscos, por exemplo, foi inspirado no do Elídio Bar, da Mooca. Ali (no do Coronel) há salsichão, queijos e mais queijos, tomate seco, ovos de codorna, picles e outras bobagens deliciosas. O pastel de bacalhau imita o do Hocca Bar e o imenso sanduba de mortadela é uma referência ao do Bar do Mané — ambos estabelecimentos são pontos de passagem obrigatória a quem visita o Mercado Municipal paulistano. Para beber há chope e cachaças, entre elas marcas mineiras e catarinenses.

Fazem companhia ao Bar Coronel, na seção de bares do guia, alguns botecos de nomes curiosíssimos e tira-gostos que pouco são vistos hoje em dia, mesmo nas melhores casas do gênero, pelo país a fora.

No Bar Avanço, em Taubaté, por exemplo, José Francisco Moreira Filho, o Chico, faz questão de manter no cardápio, desde 1970, o singelo ovo cozido, daqueles cuja casca ganha por aí cores como azul e vermelho.

Tem moça que jamais colocaria seus pezinhos 36 num lugar com esse nome, mas o fato é que o Bar do Pereba, em funcionamento há quinze anos tambám em Taubaté, prepara delícias como a costelinha de cordeiro com molho de hortelã e as tulipas de frango com molhop barbecue picante.

O Bar do Zebra não é nenhuma sucursal do zoológico, mas ali a fauna mescla estudantes da Universidade de Taubaté e profissionais liberais. A bebida oficial é a cerveja, que acompanha o lanche-porção de filé mignon.

Ainda em Taubaté, o Barril do Zé Bigode é ponto de encontro de quem gosta de pescaria e, mais ainda, daqueles que apreciam tucunaré, cação, lambari e traíra. José Carlos Almeida dos Santos, o Zé Bigode, ostenta nas paredes do bar fotos de suas aventuras em mares e rios.

Em Jacareí, por fim, fica o bar que faz certamente o maior torresmo do Brasil. Na Tião Lanchonete, cada torresmo tem 20 (vinte!) centímetros crocantes de comprimento. Servida com ou sem farofa, fritas e limão, a iguaria — sim, iguaria — é procurada por fregueses de outros bairros e até por gente de outras cidades do Vale.

Se alguém souber de algum bar em que seja possível encontrar um torresmo maior que esse, por favor me avise – e ao meu cardiologista.