Picco e a pizza do domingo

 

Negroni e pizza Formaggi (4 queijos) do Picco / Foto: divulgação facebook

Houve uma época, ali pelo meio dos anos 1990, em que São Paulo ganhou uma série de casas no estilo pizza-bar. Ou seja, que serviam pizza no tamanho individual acompanhada de várias opções de bebida e, em geral, num ambiente mais descontraído, sem forro xadrez, menos tradicional, digamos assim.

Alguns já nem existem mais – caso do Javatea, na Vila Olímpia, que lotava nas noites de domingo – e outros ainda resistem, como o Carcamano, na Vila Mariana, e a Cristal Pizza Bar, nos Jardins.

Pois a esse time junta-se o Picco, um pizza bar em Pinheiros muito legal. E, definitivamente, contraindicado para quem, como eu, tem filho bem pequeno. Se bem que o barulho não impediu que minha caçula dormisse no carrinho, nas duas vezes em que estive ali

Tem um salão apertadinho, meia-luz, um piano (aos domingos costuma rolar concerto), rock nas caixas e um quintal com área ao ar livre e uma mesa comunitária no fundo. Uma delícia de lugar.

E com boas pizzas, à moda napolitana, muito leves, as quais se deve comer com a mão pois não há talheres. Eu gostei muito da Vero Napoli, que tem molho de tomate, mussarela, alho em lâminas, aliche, manjericão e parmesão salpicado. Custa 37,90.

E o que eu achei muito boa ali é a seleção de drinques, bem feitos, e com preço abaixo do que a gente costuma ver nos bares que alardeiam a sua coquetelaria.

O primeiro foi o Petruchio – até veio por engano, porque não gosto de drinque muito doce – mas eu encarei, porque é refrescante. Leva gim, aperol, suco de limão siciliano, bitter de laranja e clara de ovo. Custou-me 18,50.

Em seguida, um negroni (que é feito com gim, vermute tinto, campari e bitter de laranja), a 18,90.

Como eu disse, só não recomendo pra quem tem de circular por aí pilotando carrinho de bebê porque tive de pedir para umas 5 pessoas levantarem das mesas pra eu poder passar. Mas antes isso do que ficar em casa, né?

Picco. Rua Lisboa, 294, Pinheiros.

 

 

 

Pizzas à gaúcha e piadina à paulista

Neste fim de semana chega às bancas do Rio Grande do Sul e às mais importantes de outras regiões do país, a edição 2010 de VEJA PORTO ALEGRE “Comer & Beber”, da qual participei como editor.

Vamos apresentar nessa publicação cerca de 560 endereços da grande Porto Alegre, entre restaurantes, casas de comidinhas e bares.

Porto Alegre, aliás, é berço de alguns dos botecos mais fantásticos do país. A Cidade Baixa – a Vila Madalena de lá – reúne lugares históricos e símbolos da boemia gaudéria, lado a lado com casas cheias de novidades e modismos. Esses lugares devem, portanto, ser percorridos sob inspiração da movida madrileña. Ou seja, a pé, com paradas em quantos bares você aguentar, nem que seja para um traguinho só.

Dias atrás, enquanto editava os textos da revista, percebi algo curioso. Muitos botecos portoalegrenses sugerem como petisco principal as suas versões para a napolitaníssima receita de pizza, assim como do sanduíche aberto no prato.

Será influência da cultura italiana, tão notável na culinária gaúcha? Sobre essa presença, convém dizer, o grande legado é a profusão de galeterias, casas especializadas em servir o galeto al primo canto, sempre cercado de massas e outros acompanhamentos.

É interessante notar, quando se pensa em petiscar, essa diferença nos costumes boêmios nas diferentes regiões do país. Se em São Paulo estamos mais acostumados a pedir porções ou unidades de bolinhos, croquetes etc., ao longo dos anos reparei que em Belo Horizonte, por exemplo, a moçada é chegada em tira-gostos com molhinhos, ensopados, daqueles em que se mergulha um pedaço de pão. O Rio de Janeiro exportou a ideia do balcão de petiscos, pra gente se servir. Mundo afora, e já que citei Madri, tem coisa mais legal que fazer uma degustação de tapas e pinxos tipicamente espanhóis?

Pois é, como aqui em São Paulo lugar bom pra comer pizza é mesmo a pizzaria – ou, no máximo, um balcão de padoca –, não me lembro de ver uma sugestão de redonda no cardápio de nenhum boteco, exceção feita também aos pizza-bares. (Não me lembro, não quer dizer que não exista.)

Mas como em São Paulo há de tudo um pouco, outro dia voltei ao Vianna, em Pinheiros, e entre trouxinhas de camarão, espetos de cafta etc, acabei pedindo uma piadina de mussarela com alecrim.

Piadina é uma espécie de pizza (há quem diga que é um tipo de pão…) de massa ultrafina, crocante, esticada e assada sobre uma chapa ou frigideira, de preferência. Nessa massa vão apenas farinha de trigo, sal e banha de porco ou azeite de oliva. As coberturas podem variar.

Embora eu não tenha encontrado registros, é inegável a semelhança entre a piadina – originária da região italiana da Emília-Romagna – e a pizza.

Para acompanhar uma garrafa de vinho e engatar um bate-papo sem hora para terminar, numa noite friazinha como a de hoje, ela vai muito bem.

Vianna. Rua Cristiano Viana, 315, Pinheiros, tel. (11) 3082-8228.