
Rio Douro, visto a partir da Quinta do Crasto
Anteontem participei de uma degustação de vinhos elaborados pelos Douro Boys, como são chamados os produtores do Douro que, a partir de 2002, juntaram-se para promover os vinhos dessa bela região para o mundo. Não é exagero dizer que esses simpaticíssimos e competentes boys de meia-idade provocaram uma pequena revolução. Afinal, concorrentes que são, por que haveriam de se juntar num negócio? Porque viram que, unidos, poderiam explorar muito mais o potencial mercadológico da bebida sem prejuízo nenhum aos negócios de suas próprias vinícolas. Já se falou muito, aliás, que essa experiência poderia ser replicada aqui no Brasil a fim de divulgar a região do Vale dos Vinhedos e mesmo outras menos conhecidas.
Das regiões produtoras de vinho que conheço – Piemonte, Maipo e Colchágua, Franciacorta, Alentejo, Jerez, Montevidéu e Vale dos Vinhedos – o Douro é, de longe, a mais bonita e magnética. As vinícolas locais começam a se abrir para o enoturismo e as pequenas vilas e cidades ao longo do curso do rio, como Pinhão e Peso da Régua, têm lá sua graça e gastronomia castiças, que valem o investimento de alguns dias de exploração. Há exatamente um ano estive na Quinta do Crasto, onde fui muito bem recebido pelo enólogo Manuel Lobo, que conduziu uma visita pelos vinhedos e uma rápida degustação.
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Bom, o fato é que o evento de anteontem teve a presença, in loco, dos boys João Ferreira (da Quinta do Vallado), José Teles (representando a Niepoort), Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão), Tomás Roquette (Quinta do Crasto) e Cristiano Van Zeller (Quinta Vale D. Maria).

Os Douro Boys
A degustação começou com a prova dos brancos, dos quais gostei bastante do Crasto Branco 2010, da Quinta do Crasto (cujos rótulos no Brasil são importados pela Qualimpor). Frutado e refrescante, tem bom corpo e equilíbrio, não enjoa se bebido desacompanhado de comida. Na sequência, aponto o Redoma Reserva 2009 do Niepoort (importador: Mistral), com boa persistência, encorpadão, “novomundista”, ou seja, com uma dosezinha a mais de açúcar, um pouco enjoativo.
Na sequência, cada produtor apresentou, separadamente, rótulos de suas respectivas vinícolas.
Dos três exibidos pela Quinta Vale Dona Maria (importador: Vinho Sul), destaco o Quinta Vale Dona Maria 2007. Como os outros dois, esse é vinificado a partir de vinhas velhas, de um total de 41 castas diferentes plantadas há mais de sessenta anos. É um vinho potente, estruturado e com retrogosto de café e chocolate. Achei o mais diferentão entre eles.
Convém ressaltar, tanto para esse como para todos os demais vinhos, que são de safras recentes, logo, ainda fechados, “duros”, como se diz, e que devem proporcionar muito mais prazer a quem os degusta se forem bebidos daqui a alguns anos.
A Quinta do Vale Meão (importadora: Mistral), que produz apenas os rótulos Meandro e Quinta do Vale Meão, apresentou exemplares da safra 2008. O primeiro exibiu aromas desequilibrados, de caráter animal. Já o segundo (um corte das castas touriga nacional, touriga franca, tinta roriz, tinta barroca e tinta amarela), arrisco dizer que foi o melhor da noite. Mescla elegância e concentração. Equilibrio é mesmo tudo.
Da Quinta do Vallado (importador: Cantu), o Reserva Field Blend 2008 mandou bem, embora estivesse um tanto tímido em termos de aromas. Por ser de vinhas velhas, desconhece-se quais sejam os tipos de uva usados em sua vinificação.
Em seguida, a Quinta do Crasto foi a única a abrir quatro rótulos diferentes, dos quais o Reserva Vinhas Velhas 2009 foi o melhor. Um vinho elegante, com boa concentração o aroma e o paladar amadeirados bem integrados à bebida. Um dos meus top 3 da noite.
Também beliscou o meu pódio o Batuta 2008, um dos trê stintos trazidos pela Niepoort. Tem uma cor mais límpida e características de aroma e sabor que remetem aos vinhos da Borgonha, os bons. Se para algumas pessoas isso demonstra uma certa falta do caráter e tipicidade da região, para mim não há problema. Vinho delicioso.
Para encerrar, dos três portos Vintage apresentados, diria que o da Quinta do Vallado 2009 é o mais interessante.
Ao fim da degustação, alguém disse que a região do Douro se diferencia por conseguir produzir dois tipos de vinho – tinto e Porto – com qualidade. Eu não descartaria os brancos que vêm surgindo. E diria que seja qual for o tipo de vinho, é uma região que merece ser brindada e visitada sempre!