No cinema, tendo a achar que o papel de ator e de atriz coadjuvante é encarado como sendo de segunda classe. A despeito disso, o Oscar é concedido, muitas vezes, a atuações de primeiríssima qualidade, aquelas que de fato roubam a atenção do espectador.
Para ficarmos em dois exemplos de atuação em que o protagonista é surpreendido, lembro da encarnação do Coringa pelo brilhante Jack Nicholson do Batman, de Tim Burton (1989) – alguém se lembra que bruce wayne era Michael Keaton? – e a irretocável atuação de Christoph Waltz como o coronel Hans Landa em Bastardos Inglórios. Waltz, ao menos, garantiu para a si a estatueta.
O leitor há de perguntar: o que essa breve menção ao cinema tem a ver com o assunto deste blog? Vou tentar explicar: em muitas casas especilalizadas nisso ou naquilo, costumo me surpreender com o acompanhamento de um prato, a guarnição ou com petiscos relegados à segunda página do cardápio.
Puxe na mamória: é impressão minha ou os melhores pães de queijo são encontrados nos coverts das churrascarias?
Pois foi a polenta frita (R$ 14,50 a porção) do Pira Grill (Rua Wisard, 161, Vila Madalena, tel. 3097-8262), no tardio almoço de sábado, que me fez pensar nesta história. Fazia mais de ano que não almoçava ali. Entre as especialidades grelhadas, fiquei surpreso também com o delicioso e marcante tempero do frango (na verdade, pedi meia porção e paguei R$ 18,50).
Cortada em cubos, a polenta tem a casca crocante, bem sequinha. O segredo é esperar uns minutinhos até ela esfriar um pouco – sai da cozinha pelando! – e abrir ao meio esses dados de fubá de milho para perceber o seu úmido e salgado recheio. Tenho a impressão de que ali no Pira Grill é frita a melhor polentinha desta cidade.
Além dessa sugestão, deixo uma lista de petiscos que, embora pareçam coadjuvantes, roubam a atenção dos paladares mais atentos:
Ao Chopp do Gonzaga, Avenida Ana Costa, 512, Gonzaga, Santos, tel. (13) 3284-8940.
– Coadjuvante: para atacar o ótimo molho de cebola preparado nesse tradicionalíssimo endereço de Santos, não espere pelas carnes. Pegue meio pãozinho, cavuque o miolo e preencha o espaço com as lâminas de cebola curtida.
– Principal: o espetão à moda da casa, com carne, lombo de porco e linguiça calabresa.
Bar do Sacha, Rua Original, 89, Vila Madalena, tel. 3815-7665.
– Coadjuvante: a porção de mandioca cozida puxada na manteiga, bem amarelinha, me faz lembrar da que minha vó preparava. No próprio quintal de sua casa em Ponta Porã (MS), ela arrancava a raiz, limpava, descascava e levava à mesa. Melhor companhia a um bom churrasco não há.
– Principal: a costela assada no bafo.
Burdog, Avenida Doutor Arnaldo, 232, Pacaembu, tel. 3151-4849.
– Coadjuvantes: não dá para ignorar a maionese feita na casa e a porção de anéis de cebola frita.
– Principal: o cheese salada.
Carlinhos, Rua Rio Bonito, 1641, Pari, tel. 3315-9474.
– Coadjuvantes: o arais (foto), cafta que vai à chapa prensada no meio de duas bandas de pão árabe, é um perigo. Você corre o risco de repetir uma, duas, três vezes e deixar de provar outras boas opções de tempero armênio no cardápio.
– Principal: embora o restaurante se autoproclame “rei da picanha”, pule esse item, junte uma dezena de amigos e encomende o carneiro inteiro recheado de arroz e amêndoa.
Pasquale, Rua Amália de Noronha, 167, Pinheiros, tel. 3081-0333.
– Coadjuvantes: depois de refestelar-me com a seleção de antepastos preparados na cantina, entre eles a abobrinha grelhada e o queijo cacio cavalo, não sobra muito apetite para outras experiências
– Principal: as massas cantineiras.
Totò, Rua Doutor Sodré, 77, Vila Olímpia, tel. 3045-1966.
– Coadjuvantes (?): bom, se levarmos as coisas ao pé da letra, estaremos falando de um restaurante italiano. Mas a verdade é que o bar – não por acaso montado no meio do salão – divide iqualmente com as massas frescas as atenções de quem chega à casa. Sócio do local, Alfredo Martins (foto) divide a bancada com Dantley de Souza e prepara espetaculares caipirinhas. Se você tiver a sorte de ser obrigado a aguardar por uma mesa, não hesite em puxar uma banqueta e ficar ali, à esquerda do balcão, a observar o minúcia com que a dupla corta as frutas antes de misturá-las às doses precisas de cachaça, vodca ou saquê. Sou fã da caipirinha de caju com limão-cravo e mexerica.