Del Mar, eterno

 

Coleção de microlatinhas, o bolinho de bacalhau e o salão do Del Mar / Fotos: Miguel Icassatti

Confesso, sou daqueles que e romanceia e vê poesia no centro de São Paulo, ainda que reconheça que anda mal cuidado e sujo – e há muito tempo. Mas o centro de São Paulo é a região mais legal da cidade, disso não tenho dúvida, especialmente para beber e para comer.

E não me refiro às boas novidades, não, mas a lugares clássicos, aos quais sempre retorno para conferir como andam.

Um desses lugares que me fazem voltar sempre ao centro é o Del Mar. Foi aberto em 1982, e fica muito perto do pai de todos os botecos paulistanos, o Bar Leo, ali na região da Santa Ifigênia (que bobagem, aliás, essa história de Bar Leo na Vila Madalena…).

Trata-se, vamos dizer, de um boteco com cardápio à espanhola e chope à brasileira – para mim, é um dos 5 melhores chopes do mundo, não tenho dúvida.

Espuma cremosa, lisinha, colarinho largo, leve amargor, perfeito.

Os comes merecem atenção: a começar pela lula recheada, que vem em porção de 4 unidades. Elas vêm recheadas com os próprios tentáculos, com alho poró, pão preto e uma redução de vinho branco.

O nome, Del Mar, embora faça de alguma forma referência à especialidade da casa – que é a paella valenciana, a 69 reais, repleta de frutos do mar, num prato para duas pessoas, servida no almoço de segunda a sábado – é a mistura dos nomes dos fundadores, o Delta e o Mario.

Um deles morreu há uns 20 anos, o outro passou o negócio adiante e o boteco segue firme e forte, embora tenha deixado para trás alguns itens do cardápio, dos quais eu gostava muito, caso do puchero e dos bolinhos de bacalhau em miniatura, que eram simplesmente espetaculares.

Hoje o bolinho é vendido em porção de 8 unidades,  e são gostosos, sim – aliás, eu dou uma de Migué toda vez que vou lá e pergunto pro garçom: “Então, vocês não fazem mais aqueles minibolinhos de bacalhau deliciosos?”

Vai que um dia voltam a fazer, né?

Del Mar. Rua dos Andradas, 161, Santa Ifigênia (centro).

 

Picco e a pizza do domingo

 

Negroni e pizza Formaggi (4 queijos) do Picco / Foto: divulgação facebook

Houve uma época, ali pelo meio dos anos 1990, em que São Paulo ganhou uma série de casas no estilo pizza-bar. Ou seja, que serviam pizza no tamanho individual acompanhada de várias opções de bebida e, em geral, num ambiente mais descontraído, sem forro xadrez, menos tradicional, digamos assim.

Alguns já nem existem mais – caso do Javatea, na Vila Olímpia, que lotava nas noites de domingo – e outros ainda resistem, como o Carcamano, na Vila Mariana, e a Cristal Pizza Bar, nos Jardins.

Pois a esse time junta-se o Picco, um pizza bar em Pinheiros muito legal. E, definitivamente, contraindicado para quem, como eu, tem filho bem pequeno. Se bem que o barulho não impediu que minha caçula dormisse no carrinho, nas duas vezes em que estive ali

Tem um salão apertadinho, meia-luz, um piano (aos domingos costuma rolar concerto), rock nas caixas e um quintal com área ao ar livre e uma mesa comunitária no fundo. Uma delícia de lugar.

E com boas pizzas, à moda napolitana, muito leves, as quais se deve comer com a mão pois não há talheres. Eu gostei muito da Vero Napoli, que tem molho de tomate, mussarela, alho em lâminas, aliche, manjericão e parmesão salpicado. Custa 37,90.

E o que eu achei muito boa ali é a seleção de drinques, bem feitos, e com preço abaixo do que a gente costuma ver nos bares que alardeiam a sua coquetelaria.

O primeiro foi o Petruchio – até veio por engano, porque não gosto de drinque muito doce – mas eu encarei, porque é refrescante. Leva gim, aperol, suco de limão siciliano, bitter de laranja e clara de ovo. Custou-me 18,50.

Em seguida, um negroni (que é feito com gim, vermute tinto, campari e bitter de laranja), a 18,90.

Como eu disse, só não recomendo pra quem tem de circular por aí pilotando carrinho de bebê porque tive de pedir para umas 5 pessoas levantarem das mesas pra eu poder passar. Mas antes isso do que ficar em casa, né?

Picco. Rua Lisboa, 294, Pinheiros.

 

 

 

De volta ao Joan Sehn, em Moema

 

joan_sehn

Joan Sehn / Foto: facebook.com/joansehn

 

A zona sul de São Paulo, naquele imenso pedaço que vai de Moema a Santo Amaro, sempre foi um reduto de bares e restaurantes inspirados na culinária alemã. Alguns ainda resistem, como o Zur Alten Muhle (no Brooklin), o Bierquelle, o Konstanz e o Whinduk, em Moema.

Outros já se foram, casos do Zillerthal e do Choppinho´s.

E há aqueles que ressuscitaram – ou foram ressuscitados – casos do Ilhabela (que não está mais na João Dias, no entanto) e do Joan Sehn.

O Joan Sehn original foi fundado em 1937 e encerrou as atividades em 2010, para que o ponto desse lugar a um empreendimento imobiliário.

Durante muito tempo, foi a choperia mais antiga em atividade em São Paulo, e recebia muitos boêmios em seu salão gasto, compridão, com a cara de bar alemão.

Pois a casa foi reaberta há pouco mais de um ano, pelas mãos da antiga proprietária, e, desta vez, só não teve vida curta porque antigos frequentadores do Joan Sehn se uniram e compraram o bar, mantendo-o em atividade.

Estive lá e pude perceber que, sim, há certos elementos que aludem à antiga choperia, mas, a bem da verdade, o que tinha de ficar no passado, ficou.

Embora esteja localizado na mesma rua de antes, a atmosfera é outra, assim como a decoração. As paredes são forradas por lambe-lambes alusivos à uma marca de cerveja, há duas TVs no fundo do salão e piso de cimento queimado.

A lembrança do passado vem graças ao balcão extenso, do lado esquerdo de quem entra, onde ficam os frios que serão servidos em porções e a chopeira.

Da equipe antiga, aliás, foi recrutado o Ribeiro, que é o cortador oficial de frios.

O cardápio também recupera os itens que eram clássicos no velho Joan Sehn, tipicamente alemães. Por exemplo, o mix de salsichas, o frikadel (um bolinho de carne temperado com especiarias, e o currywurst, que foi o que eu comi e me fez lembrar dos botecos (ou knipes) aos quais vou, quando visito minha irmã na Alemanha. É uma porção de salsicha branca grelhada, com molho picante e mostarda. Vem com batata frita.

E tem o chope, é claro, bem tirado. Aos nostálgicos, como eu, ou a quem não conheceu o velho Joan Sehn, vale a visita.

Joan Sehn. Avenida Lavandisca, 477, Moema.

A costela do Belchior

 

Aquele Belchior, o rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, é outro, e foi pro céu dia desses, grandissíssimo compositor!

No caso, o da costela, que mencionei no título deste texto, é o Belchior de Freitas Soares, mais conhecido como Bel, o dono de um boteco bem pequeno em Pinheiros, escondido no meio de um quarteirão, num salão simples e estreitinho (foto).

Aliás, o Bel se gaba de fazer “a melhor costela no bafo do mundo”. Ele é fornecedor de bares nas vilas Madalena e Mariana, inclusive.

Não acho que seja a melhor do mundo – não chega perto do matambre que meu finado tio Artur fazia -, mas a carne estava bem macia na visita que fiz recentemente.

Na verdade, foi a segunda vez que estive lá – e da primeira, havia levado para viagem uma costela muito suculenta, úmida, limpa (isto é, sem gordura)  e, sim, deliciosa.

Desta vez, pedi um PF de costela, que veio com arroz, feijão e mandioca frita (R$ 18,98). Vem com uma porção pequena de arroz e feijão, mas se você quiser repetir, basta pedir que o Bel traz, sem cobrar nada a mais. Temperei a costela (que fica 15 horas em cozimento, segundo o Bel, apenas com sal grosso, ervas e cebola) com a pimentinha e a farinha da casa e foi mesmo uma delícia.

Tem também costela servida na panela de pedra sabão (por 75 reais), costelinha de porco com barbecue (85 reais), vaca atolada (cozida com mandioca, 75 reais) e até ossobuco cozido na cerveja preta (68 reais) – tudo isso em porção para 3 pessoas.

Pra beber, caipirinha feita com cachaça mineira de Salinas a R$ 18,50 e cerveja Heineken a 10 reais.

De sobremesa? Uma paçoquinha, que é cortesia da casa.

Costelas (Costela do Bel). Rua Amália de Noronha, 343, Pinheiros.

 

Kebab à paulistana

 

Uns bons anos atrás, quando este blog ainda estava hospedado no site da Vejinha, escrevi a respeito das casas especializadas em kebab que, na época, brotavam pela cidade.

Minha opinião não mudou de lá para cá: entendo que kebab é comida de rua e, como tal, dispensa maiores frescuras no preparo, o que ajuda a tornar a receita uma opção barata de comida, como acontece em qualquer grande cidade da Europa, por exemplo. Por lá, quem cobrar mais de 4 euros por um desses lanches correrá o risco de falir, pois no quarteirão seguinte a banquinha concorrente cobrará 3 euros.

Daquela moda gastronômica, que meio que prenunciou a era da gourmetização de tudo, restaram poucas dignas de nota, entre as quais incluo o Pita Kebab Bar, ao qual voltei ontem, depois de todo esse interlúdio.

Fiquei contente ao ver que a casa prosperou, cresceu, tornou-se um agradável bar e que mantém, em alguns detalhes, uma identidade gastronômica alinhada com o que se come e se bebe em alguns lugares do Oriente Médio, berço do kebab.

Uma vez que eu não podia beber nada alcoólico, pedi uma limonada, que a casa serve em um copo grande, temperada com folhas de hortelã. Uma delícia (R$ 5,50).

O kebab de cordeiro, também bem-feito, veio enrolado num pão tipo pita bem fresco, misturado aos temperos de praxe e picles, o que deu um sabor mais ácido (R$ 20) ao meu sanduba (será que posso chamar assim?). Os nacos de carne estavam bem macios, em que pese o fato de terem sido preparados naqueles típicos espetos giratórios, que às vezes acabam deixando a carne ressecada, por causa das horas de exposição no mecanismo.

Pita Kebab Bar. Rua Francisco Leitão, 282, Pinheiros, tel. (11) 3774-1790.

Feliz Ano Novo! *

 

Chope Brahma  no Léo: R$ 6,90 / Foto: Miguel Icassatti

Chope Brahma no Léo: R$ 6,90 / Foto: Miguel Icassatti

 

Ei, você, meu caro paulistano que deixou a cidade para curtir, bem longe, as festas de Natal e de Réveillon: não deixe para 2015 o que você pode fazer agora!

Torne real, já!, aquela sua resolução de Ano Novo, decidida ali, entre aquelas sete ondinhas que você pulou dias atrás. Sim, vá morar na praia! Sim, volte àquela vidinha tranquila no interior! Esta é a sua chance! Não adie seu sonho, escute o que eu digo e fique onde está! De Santos a Araçatuba, de Franca a Apiaí, passe bem longe de São Paulo, desvie pelo rodoanel e risque a cidade do seu mapa!

Putz, você teve de voltar ao trabalho nesta segunda, dia 6? Sem problemas! Esqueceu que já existe Skype? Facebook? E-mail? E que você pode programar as contas a pagar no serviço de débito automático de seu banco? Ou pelo site? Ou pelo celular?

Exercite sua pró-atividade e proponha a seu chefe: se você trabalhar em esquema home (ou beach home) office, quanto a empresa não vai economizar? Melhor ainda: que tal convidá-lo a experimentar essa nova modalidade de trabalho? Como dizia o Chorão, seu escritório pode ser a praia! Se o chefinho topar, você ainda vai ganhar um aumento. Certeza!

São Paulo está insuportavelmente quente nestes primeiros dias de 2014 – os termômetros da Avenida Sumaré, às 18h30 de sexta passada, marcavam inacreditáveis 34 graus! E não é que eu vi uns malucos fazendo cooper àquela hora – tadinhos, não têm praia par se refrescar —, e bem ali ao lado do corredor de ônibus?

Corredor de ônibus!? Taí mais um motivo – na verdade, 300 quilômetros de motivos, segundo o Haddad – para você não arredar o pé do calçadão de Pitangueiras ou da areia fofinha do Posto 9. Já pensou em ter de encarar todo aquele trânsito de dezembro de novo? Bate na madeira, né?

Tenho certeza que se você resolver voltar para essa maltrapilha Pauliceia, vai se decepcionar um bocado: muitas lojas e bares e restaurantes estão fechados. Nos estabelecimentos que estão abertos, veem-se várias mesas vazias. Eu juro! Nada a ver com São Paulo, certo?

Na mesma sexta-feira passada, fui ao Bar Léo, no centrão, e, pela primeira vez na minha vida, consegui sentar-me à mesa, e sem ter de esperar nenhum segundinho! Convenhamos, boteco sem aquele fervo tipicamente paulistano não tem a menor graça, né, não? Sem contar que o preço do chope, R$ 6,90, está pela hora da morte. Ao menos o canapé blumenau foi feito na hora (de linguiça moída crua, R$ 30,00 a porção)…

Ok, ok, eu sei que os ambulantes aí na Barra do Sahy devem estar cobrando os olhos da cara pela latinha de Heineken, mas, veja, depois do carnaval o preço vai baixar. Aqui em São Paulo, você sabe, isso não vai acontecer nem que a vaca tussa! Quando aquele italianinho que você gosta for reaberto, prepare-se: o cardápio estará reajustado, o manobrista vai te cobrar 20 paus e ainda vai estacionar seu Jetta na rua de trás – e em fila dupla.

E olha que coisa mais anticlímax: você passou a virada em Copacabana (mesmo sem o beijaço prometido), Trancoso, Paris, Punta…  E daqui a pouco vai ter de encarar a realidade das gravatas da Faria Lima, do mundaréu de gente nos trens da linha amarela… Precisa? Não, né? Continue vivendo seu sonho de verão, transforme sua vida num eterno sabático e recomece sua vida bem longe da 25, do Largo 13, da 23, da 9 de Julho (que está em obras) e de todos esses logradouros numéricos que só te causam urticária a cada vez que a repórter da rádio Sul América informa as condições do trânsito.

Aproveite a onda da Copa do Mundo para, por exemplo, abrir um negócio em Cuiabá. Arrende umas terras, monte uma pousada, aprenda a falar inglês e espanhol. Afinal, Chile e Austrália vão jogar na Arena Pantanal e você pode faturar uma boa grana ao receber bem essas duas torcidas. Com essa grana, quem sabe, você já não concebe uma sementinha para um novo empreendimento focado, por exemplo, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016? Rio = praia = resolução-de-ano-novo-agora, nunca é demais lembrar!

E em vez de ficar meio jururu ao relembrar pelo instagram ou o face da balada sen-sa-ci-o-nal da virada em Jurerê, meu amigo, pare e pense: pra quê voltar? A qualidade de vida em Floripa não é demais? O povo não é lindo? Então… #ficaadica!

Do fundo do meu coração, torço para que você realize sonho de ir-se embora São Paulo. Feliz Ano Novo!

Bar Léo. Rua Aurora, 100, centro, tel. (11) 3221-0247.

*Este texto foi publicado originalmente no meu blog Guidemig. Na versão acima, acrescentei algumas correções ortográficas e de pontuação e atribuí outro título.

Com quantas fatias de mortadela se faz um sanduíche no Mercadão?

Bar Mortadela Brasil: sanduíche de escabeche de sardinha / Foto: divulgação

Bar Mortadela Brasil: sanduíche de escabeche de sardinha / Foto: divulgação

“São doze a quinze fatias de mortadela, que perfazem 290 a 300 gramas”, disse-me o garçom do Mortadela Brasil, um dos bares que faziam lotar o mezanino do Mercado Municipal Paulistano, por volta da 1 da tarde de hoje.

O Mortadela Brasil não foi o inventor — não foi, ao menos, ali no Mercadão — do megassanduíche de mortadela (R$ 19,00, com queijo) que há muitos anos faz com que longas filas se formem nesse e em outros bares do local. Mas, para quem se dispõe a encarar esse exagero da gula, é uma das alternativas ao do famoso Hocca Bar, cujo ponto original fica no térreo do mercado. Ali, aliás, a atendente limitou-se a me dizer que o sanduíche tem 300 gramas. Recusou-se a me dizer quantas fatias vão no lanche (R$ 15,00, quente ou frio).

Para falar a verdade, tanta mortadela assim de uma vez, seja do Mortadela Brasil, seja do Hocca, não faria tão bem ao meu coração, ainda mais na véspera de mais um São Paulo x Corinthians, de modo que optei pelo sanduba de escabeche de sardinha, a mais popular fonte de ômega 3 que se conhece, a fim de proteger minhas artérias.

Alguns meses atrás eu havia provado a deliciosa versão fria do lanche criado pelo Mortadela Brasil. Para os padrões da casa, ele tem o tamanho médio, o que significa, talvez, uns 150 gramas do peixe. Hoje resolvi pedir a versão quente (R$ 16,00), e confesso que me decepcionei, já que tive de descartar boa parte do recheio, que estava torrada demais. O pão e o azeite com o qual reguei o sanduíche, em compensação, estavam muito bons, assim como o chope (R$ 7,00), tirado com capricho.

No fim das contas, voltar ao Mercadão é sempre um bom programa.

Mortadela Brasil. Rua da Cantareira, 306, mezanino, box 4 (Mercado Municipal Paulistano), tel. (11) 3311-0024, http://www.mortadelabrasil.com.br

 

 

 

Breja e bistrô

Coxinha de rabada: para abrir os trabalhos / Foto: Fernando Moraes

Expert em cervejas, consultor de pubs e chef de cozinha, o australiano Greigor Caisley é a  cabeça, o coração e os braços que comandam o agradabilíssimo Twelve Bistro, aberto cerca de um ano atrás num pedaço ainda imune ao costumeiro fuzuê que toma conta da Vila Madalena.

Para os dias e as noites mais quentes, vale a pena fincar a bandeira na varanda, embora o salão interno, decorado com recortes de um suplemento de culinária de um dominical australiano, seja bem aconchegante, escurinho, bom para ir a dois.

Há doze anos em São Paulo e com a experiência de quem trabalhou em restaurantes londrinos, no Buffet Ginger (de Nina Horta) e no Drake’s Pub, Greg, como todos o chamam, deu, sim, atenção à cozinha sem descuidar da oferta de cervejas na carta de bebidas.

Há cerca de 100 rótulos na lista, importados de uma dúzia de países e de variados tipos. O chope Bamberg Pilsen, produzido em Votorantim (SP), por exemplo, sai a R$ 5,00. A garrafinha de 330 mililitros da fantástica strong golden ale belga Duvel custa R$ 22,00 e a La Trappe Triple, produzida na Holanda, vale R$ 52,00 (750 mililitros).

As cervejas, aliás, são usadas na receita do fish’n chips (robalo frito em massa de cerveja com batata frita, R$ 36,00) e de sobremesas, a exemplo petit gateau com sorvete de Guinness (R$ 14,00), extremamente doce, e do pudim de pão com sorvete de cerveja de frutas vermelhas (R$ 12,00).

No almoço de hoje, eu e dois amigos abrimos os trabalhos com a deliciosa coxinha de rabada e o pastel de cordeiro ao curry e chutney de manga (R$ 16,00 cada porção). Entre os pratos principais, as três pedidas foram aprovadas: bife ancho com batatinha ao murro e mostarda de Dijon (R$ 38,00), robalo em crosta de castanha e coco com purê de banana da terra e molho de gengibre (R$ 42,00) e a fraldinha com purê de batata, uma das opções do menu de almoço da São Paulo Restaurant Week (R$ 31,90, com entrada e sobremesa), evento que termina no domingo, 16.

A quem pensa em aproveitar o último fim de semana do evento, taí uma boa sugestão.

Twelve Bistro. Rua Simão Álvares, 1018, Vila Madalena, tel. (11) 3562-7550, http://www.twelvebistro.com.br.

Bem-vindo de novo, Bar Léo

Azulejo nas paredes do bar / Foto: Miguel Icassatti

Continuo achando mal contada a história do chope Ashby vendido como se fosse Brahma, e que motivou a interdição do Bar Léo no dia 30 de março passado e a autuação do então gerente e da proprietária à época.

O vendedor ou o distribuidor da Brahma que atendia o local à época não teria percebido uma eventual redução na quantidade de barris comprados pela casa? Esta talvez seja a pergunta de 1 milhão de dólares para quem quiser saber por quanto tempo a antiga administração do bar enganou a freguesia.

Mas, como dizem, essas são águas passadas.

Afinal, o Bar Léo foi reaberto anteontem, no mesmo número 100 da Rua Aurora, onde foi inaugurado em 1940. O boteco agora é gerido pelo grupo Fábrica de Bares, que pertence a Alvaro Aoas, empresário que revitalizou outro célebre ponto da boemia de São Paulo, o Bar Brahma, na esquina das avenidas São João e Iprianga, doze anos atrás.

Estive lá ontem à noite e pude conferir que, felizmente, Aoas teve o cuidado de não mexer na decoração. Se muito, tirou um pouco do pó das garrafas de riesling doce que ficam perfiladas numa das prateleiras coladas à parede do salão. Também estão lá as mesas de tampo de fórmica vinho, as pesdas cadeiras, os quadros, as canecas de cerâmica.

“O que mudou mesmo foi só preço do chope”, brinca Luiz de Oliveira, figura mais ilustre das história da casa que, aos 91 anos, continua dando expediente ali, ora tirando chope (R$ 6,50, mesmo preço do inigualável bolinho de bacalhau servido às quartas e sábados), ora preparando um pratinho de canapés meio blumenau meio rosbife (R$ 27,00).

Luiz conta que ele próprio recrutou novamente parte dos ex-funcionários que estão de volta à casa. Nessa turma está Fernando Lopes, o gatilho mais rápido do centro na hora de tirar o chope – Brahma, de verdade, e impecável. A eles juntaram-se funcionários de confiança dos novos administradores.

Chope Brahma, o legítimo / Foto: Miguel Icassatti

Entre as novidades, registre-se que uma comanda está substituindo as bolachas na hora de fazer a contagem dos chopes consumidos pelos clientes.

E deve-se louvar o fato de que a partir de agora o horário de funcionamento se estende até as 23 horas de segunda e sexta e até as 20 horas aos sábados – uma pequena mas bem-vinda, talvez, contribuição para que aquele pedaço colado à cracolândia traga um pouco mais de vida ao pedaço.

Fernando Lopes e a chopeira histórica / Foto: Miguel Icassatti

No mais, tudo continua como está. Inclusive a prodigiosa memória do Sr. Luiz Oliveira, que recebe os fregueses mais antigos pelo nome.

Luiz Oliveira e o blogueiro / Foto: Marcos Santo Mauro

Bar Léo. Rua Aurora, 100, Santa Ifigênia, tel. (11) 3221-0247. www.barleo.com.br.

Bar do Magrão, the champion

 

Salão do Bar do Magrão, no Ipiranga / Foto: Mario Rodrigues

 

Quis o destino – ou Gobbo, o anjo protetor dos bares – que eu estivesse ao lado de Luiz Antonio Sampaio, o Magrão, na manhã de hoje, no exato momento em que seu bar era anunciado como o vencedor da primeira edição paulistana do festival Comida di Buteco.

“Pô, meu bar nunca ganha nada, já anunciaram o quinto lugar, o quarto, o terceiro, o segundo, já era…”, lamentava o Magrão, inconformado, minutos, segundos, talvez, antes de sair correndo, aos berros, meio chorando, em direção ao palco montado num salão em pleno Mercado Municipal Paulistano, onde viria a receber o troféu pela conquista.

Seu escondidinho de bacalhau conquistou o paladar do público e dos jurados que percorreram os 49 bares concorrentes, nas cinco regiões da cidade – centro e zonas Norte, Leste, Oeste e Sul – em busca do petisco perfeito.

O pódio foi completado pelo Lewis Bar – botecaço aberto na Lapa por um ex-garçom do vizinho Valadares, que alcançou o vice-campeonato com uma sensacional porção de panceta frita na hora -, e pelo Tiro-Liro, de Perdizes, que levou o bronze com a deliciosa e crocante cestinha de parmesão com batata recheada de bacalhau puxado no azeite e no alho.

Entre tantos bons participantes do Comida di Buteco, o Bar do Magrão merece o título. Trata-se de um boteco que está sempre se renovando sem, no entanto, perder sua identidade original. Desde 1995 na ativa, não há uma noite que não se ouça ali no bar os riffs de Keith Richards, Eric Clapton e Jimmy Page ou de qualquer outro grande roqueiro “das antigas”. Atento às tendências, Magrão dobrou recentemente a quantidade de rótulos de cerveja em sua carta, para 140 marcas. Se o escondidinho é o petisco da vez, não saem do cardápio as porções de ravióli e outras massas que Magrão importa da cozinha de sua cantina, vizinha de parede do bar.

Magrão: minutos após vencer o Comida di Buteco / Foto: Miguel Icassatti

Magrão trabalha em família, ao lado da mulher Mônica e do filho Giovanni, a quem Magrão incentivou a estudar gastronomia e a quem atribui a execução do premiado escondidinho de bacalhau. É ao lado deles que na noite de hoje – e por um bom tempo – as caixas de som do Bar do Magrão vão abrir espaço para o Queen, de Brian May, seu riff e o coro de “We are the champions”. 

Bar do Magrão. Rua Agostinho Gomes, 2988, Ipiranga, São Paulo – SP, tel. (11) 2061-6649.