Namga: o herói da resistência tailandesa

O salão do tailandês Namga / Foto: Fernando Moraes

 Por mais que São Paulo seja celebrada como um dos mais importantes destinos gastronômicos do mundo, é notória a carência de bons representantes de diversas culinárias.

Se nos últimos anos nós paulistanos vimos uma invasão de parrillas argentinas, ainda nos falta um mexicano decente.

Receitas, pescados, folhas, cortes de carne e ingredientes da Amazônia e de outras regiões do Brasil ainda são tratados como itens exóticos numa cidade que abriga dezenas de casas de culinária japonesa, alguns coreanos e outros tantos chineses.

A onda peruana dos ceviches chegou, mas não se pode bater o martelo ainda sobre sua perenidade. Será apenas mais um modismo?

A verdade é que a dieta padrão do paulistano que está acostumado a frequentar restaurantes pouco foge do trivival: o GUIA QUATRO RODAS BRASIL 2012 certamente reflete o apetite de quem circula ou vive em São Paulo, ao listar, por exemplo, 46 italianos –  sem contar as 19 pizzarias e 14 cantinas -, 21 churrascarias, 25 franceses e 12 árabes. Mas são apenas 3 baianos, um sul-matogrossense, um paraense e 4 brasileiros. Pescados, não mais que 5 portos seguros. Não é um número irrisório para um país que tem um litoral gigantesco? A cidade dos contemporâneos – o GUIA indica 12! – é pobre em baianos: são apenas casas três dignas de nota.

É admirável (e desejável), portanto, que o Namga prospere e resista como o único restaurante tailandês de São Paulo, e no bairro de Perdizes, que está longe de ser reconhecido como um pólo gastronômico.

O Namga é uma espécie de irmão mais novo e esperto do Tele-Thai, casa inaugurada em 2008 no mesmo bairro de Perdizes na forma de um endereço de entrega de comida tailandesa em domicílio.

O saudoso Tele-Thai, na Rua Caiubi / Foto: Cida Souza

Como as bem elaboradas receitas apresentadas pelo restaurateur Roni Kormis, que viveu e trabalhou vários anos em cozinhas de restaurantes thai em Londres, fizeram sucesso entre os vizinhos, logo a casa, que funcionava na Rua Caiubi, foi crescendo. Os dezesseis lugares improvisados na calçada e no pequeno salão térreo (a compacta e eficiente cozinha do Tele-Thai funcionava na sobreloja) deram conta do recado por dois ou três anos mas no início de 2011 já não comportavam mais a demanda.

A saída foi mudar-se para um ponto maior e no mesmo bairro. E a aposta tem dado certo. Sem perder a qualidade, o cardápio foi ampliado e o serviço de entrega continua a todo vapor. Mas agora os clientes que quiserem almoçar ou jantar ali mesmo são mais bem acomodados num salão espaçoso, com luz suave e decoração sóbria.

Os preços, apesar da mundança, mantêm-se convidativos e as porções, generosas, caso da porção de bolinhos de lombo (R$ 14,00), da lula recheada com carne de porco (R$ 38,00) e a salada de pato com lichia (R$ 28,00). Esses dois útimos pratos não estão disponíveis para entrega, apenas para refeições no próprio Namga.

Aos paladares acostumados com o arroz-e-feijão de todos os dias, o arroz-de-jasmim com coco (R$ 9,00) e o bem apimentado curry de filé-mignon (R$ 38,00) serão gratas surpresas.

Namga. Rua Apiacás, 92, Perdizes, tel. (11) 2507-1774.

Junho de 2012: Comida di Buteco em SP!

Eduardo Maia (à esq.) e seus sócios: agora em São Paulo Foto: Leo Drumond/ Agência Nitro

 

Podem preparar seus paladares e sistemas digestivos: o festival gastronômico Comida di Buteco, que surgiu em Belo Horizonte e hoje está espalhado pelo interior do estado e capitais como Rio de Janeiro, Salvador e Goiânia, vai chegar a São Paulo em 2012.

Segundo Eduardo Maia, empresário e criador do festival, os paulistanos poderão escolher os melhores entre os melhores botecos de São Paulo no período de 1º de junho a 1º de julho.

Maia e sua equipe, aliás, já estão visitando anonimamente potenciais estabelecimentos candidatos.

Beba com os olhos

Sampler, menu degustação da Cervejaria Nacional / Foto: Mário Rodrigues Jr.

 

Antes da implantação da civilizada lei anti-fumo, eu pensava duas, três vezes antes de chegar a um bar de ambiente fechado. Saudade zero daquele fumacê. A bem da verdade, a memória daqueles tempos ainda provocam em mim certa desconfiança, razão pela qual levei um tempo para conhecer a Cervejaria Nacional, em Pinheiros. Mas um convite do meu amigo Marco Santo Mauro, expert em vinhos, grande e exigente bom-de-garfo, acabou por me convencer a ir até lá. Saí de lá bem surpreso.

O bar ocupa um improvável prédio de três pavimentos no meio do quarteirão da Rua Pedroso de Morais, entre as ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio. No térreo ficam os tanques de fermentação e maturação dos cinco tipos de chope fabricados na casa. O primeiro andar, sob luz baixa, é uma espécie de corredor com mesas do lado esquerdo e um imenso balcão à direita, de onde é possível observar sacas de malte na produção da bebida. A quem tiver idade suficiente para se lembrar da finada Brewpub, na Rua da Consolação, fará um inevitável déjà vu. No andar superior avista-se a cozinha ao fundo, precedida de um salão mais iluminado e formal, eu diria, como um restaurante.

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A mais gostosa e divertida maneira de experimentar a cerveja produzida na casa é o sampler, menu desgustação que inclui doses de 160 mililitros dos cinco tipos fabricados ali e que custa justíssimos R$ 14,00: domina (weiss, de trigo), y-îara (pilsen), mula (india pale ale), kurupira (ale) e sási (stout). Como mostra a foto acima, os copos são apresentados sobre uma plataforma de madeira, em uma sequência baseada na densidade da cor da cerveja e com a sugestão que se deguste da esquerda (mais clara) para a direita (mais escura, stout).

Subverti a ordem de degustação e deixei por último a mula (india pale ale), de maior teor alcoólico (7,5%), aroma mais marcante, frutado e delicioso paladar amargo. Das cinco é, sem dúvida, a melhor. Gostei também da domina (weiss), turva, adocicada e bem refrescante. Mais leve de todas, a stout poderia ser um pouco menos aguada. O aroma de café torrado cria uma expectativa que o paladar não confirma. Ainda assim, como eu disse acima, pedir um sampler é bem divertido.

Chamou-me atenção também a gentileza e o preparo dos garçons e garçonetes, que prestam informações básicas sobre as cervejas da casa. Taí um exemplo a ser seguido pela concorrência.

Entre os comes, experimentei a alheira (R$ 18,00 a porção), a linguiça picante e a temperada com erva-doce (R$ 12,00 cada porção de 150 gramas), aprovadas! A rabada com agrião (R$ 32,00) decepcionou-me um pouco. Vem, ok, no ponto e bem temperada, mas servida sem osso, com a carne como que desfiada e prensada, em meio a uma polenta de textura rugosa demais.

Fiquei curioso para provar a porção de coxa de pato grelhada. Na próxima, certamente.

Cervejaria Nacional. Rua Pedroso de Morais, 604, Pinheiros, tel. (11) 3034-4863, www.cervejarianacional.com.br

A Mooca faz bem

Don Carlini / Foto: divulgação

Ao deixar a Sala São Paulo no mesmo sábado citado no post anterior, resolvi fugir do óbvio – para um paulistano do Pari e que recentemente só tem circulado pelas regiões central, Sul e Oeste, sim, a querida Mooca é um refúgio – e decidi jantar no Don Carlini.

O relógio marcava 11 da noite e eu previa chegar lá em quinze minutos, o que consegui, mesmo costurando o caminho pelas Ruas São Caetano, Oriente e Bresser (no Brás), Viaduto Bresser, Avenida Paes de Barros e Rua da Mooca, àquela hora desertos.

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Inaugurado em 1985, o Don Carlini abriu filiais na Vila Madalena e em Perdizes mas, a bem da verdade, elas não têm nem de longe a graça da casa original, que fica a um quarteirão da Avenida do Estado, em meio às construções que restaram daquele passado operário mooquense.

Ao chegar ao restaurante, as recompensas não demoraram a postar-se sobre à mesa: um fettuccine ao molho de calabresa, com cuja massa, garante a casa, é moldada num aro de bicicleta (R$ 29,00). E o nhoque da bisnonna, pedido da Camila, com um densíssimo ragu de carne (R$ 32,00).

Na saída, passei pela rotisseria e acabei não levando para a casa uma bandeja de talharim (R$ 11,00 o quilo) para o almoço de domingo. Paciência, espero passar por lá em breve.

Voltar a Mooca faz bem para a saúde e a alma.

Don Carlini. Rua Dona Ana Néri, 265, Mooca, tel. (11) 3208-2024.

O ovo da dona onça

Salão do Bar da Dona Onça / Foto: Raul Zito

“A partir de agora e por todo o tempo que você permanecer no bar, seremos responsáveis pela sua felicidade”. Estão vendo a lousa no canto superior esquerdo da foto que mostra o Bar da Dona Onça? Pois bem, a frase que começa este texto estava escrita ali, como que dando boas-vindas a quem chegasse à casa.

No domingo passado, depois de ter ido à exposição do artista gráfico holandês Escher no Centro Cultural Banco do Brasil, centrão de São Paulo, parei para um almoço tardio no Bar da Dona Onça, que não visitava há um ano ou mais.

Fiquei contente por ver a casa cheia em pleno domingão, quando a região central costuma ficar vazia e tristonha. Passava das 3 e meia e havia apenas duas mesas vagas. Estava curioso para finalmente provar algumas das receitas que ainda não conhecia no novo cardápio.

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Tive a sorte de conseguir pedir a última porção de minissanduíche de carne moída temperada com azeitona e ovo cozido (R$ 24,00, com três unidades), uma versão graciosa do buraco quente, o velho pão com carne moída.

Para acompanhar o almoço, minha ideia era pedir um vinho, mas confesso que fiquei assustado com os preços. Meia-garrafa do argentino Catena malbec está custando, ali, R$ 54,00! Acabei optando por uma garrafa da cerveja Colorado Indica, R$ 19,00 e arrematei a refeição com o Terranova shiraz, produzido pela vinícola Miolo no Vale do Rio São Francisco, divisa de Bahia com Pernambuco, pelo qual paguei justos R$ 9,00 a taça.

Dividi com Camila um prato de arroz de bacalhau, que nos pareceu apetitoso. À mesa, ele chegou em dois pratos de alumínio, tipo caçarola, em quantidades que, se não generosas, suficientes para nos deixar satisfeitos. Sobre o prato de Camila veio o ovo da segunda foto deste post.

Mal a garçonete desejou-nos bom apetite, elogiei a belezura daquele ovinho frito (na hora que postei a foto abaixo no facebook não havia rolado a parte chata da história…) e brinquei, “pô, só veio pra ela?”

O ovo de R$ 4,00

Ao perceber minha vontade de provar daquele ovinho de gema quase molinha, a garçonete disse que iria ver com o chef se ele fritaria um para mim. Fiquei feliz da vida com a gentileza dela.

Pois é, não foi uma gentileza, conforme eu veria na hora em que a conta chegou. Por esse ovo extra, cobraram-me R$ 4,00.

Situações como essa me deixam beeeeem chateado. Irritado. Mal-humorado. Afinal, 1. eu não pedi pelo ovo; 2. a garçonete não me entregou o cardápio para que eu conferisse o preço; 3. não me falou que eu teria de pagar por algo que ela própria havia me oferecido (para efeito de comparação, ela me perguntou se eu iria querer o couvert…); 4. conclusão: fiquei com a nítida impressão que ela (ou o caixa) deu-me claramente um “migué” para cima de mim.

Paguei a conta, deixei os 10% do serviço, dei uma última olhada no que estava escrito na lousa e pensei: comi muito bem, como das outras três vezes em que estive ali. Mas não fiquei feliz.

Bar da Dona Onça. Avenida Ipiranga, 200, Centro, tel. (11) 3257-2016.

Fim de semana no (s) jardim (ns)

Troca-troca, obra de Jarbas Lopes exposta em Inhotim / Foto: divulgação

Por coincidência e sorte, nos dois últimos fins de semana acabei fazendo programas ao ar livre. E que programas!

No sábado (21), finalmente conheci Inhotim (www.inhotim.org.br), o maravilhoso museu de arte contemporânea a céu aberto que ocupa uma área visitável de 100 hectares na cidadezinha de Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte.

Melhor do que detalhar todo o esplendor desse lugar é ver as imagens de Inhotim.

Galerias – são dezessete – dedicadas exclusivamente a nomes como o fotógrafo Miguel Rio Branco e o artista Cildo Meireles, assim como obras expostas em meio a plantas de diferentes portes, parecem brotar próximo aos lagos e no percurso das alamedas do jardim botânico, que é dono da maior coleção de palmeiras do mundo, com 1500 espécies!

Veja também a reportagem sobre Inhotim da revista Viagem e Turismo

Um final de manhã e uma tarde, o tempo que tive, não basta para explorar todo o local. O ideal é reservar dois dias inteiros para poder explorar Inhotim com calma. Diretamente do aeroporto de Confins, com carro alugado, a viagem leva uma hora e meia, em estrada movimentada mas de condições razoáveis, no caso, a Fernão Dias.

Se Belo Horizonte, a capital mineira já merecia uma visita não só para quem quer explorar os botecos, Inhotim é a razão que faltava para uma viagem nestes tempos de passagens aéreas a bom preço: no meu caso, consegui comprar bilhetes no site da TAM por R$ 78,00 (ida e volta), menos de um mês antes do embarque.

Estufas do Jardim Botânico de São Paulo / Foto: divulgação

De volta a São Paulo, no fim da manhã de ontem participei de um piquenique no Jardim Botânico (Avenida Miguel Estéfano, 3031, Água Funda, tel. 11/5073-6300). Era aniversário de um amigo e juntamos-nos em quatro ou cinco casais mais  meia dúzia de crianças. Desde os tempos de colégio – quando fazíamos aquelas excursões chatas e a professora de ciências tentava nos mostrar as diferenças entre as plantas briófitas e as pteridófitas – eu não visitava o Jardim Botânico.

O domingo amanheceu frio mas ensolarado, o que me fez perceber que antes de encarar um programa como esse é sempre bom lançar mão de um chapéu e passar protetor solar no rosto antes de sair de casa. De casa – moro na região da Avenida Paulista – até lá não gastei mais do que trinta minutos, seguindo pelas avenidas Vinte e Três de Maio e Bandeirantes.

Surpreendi-me com a beleza e a limpeza do local, que fica próximo ao Zoológico. Além de bem-cuidadas áreas gramadas e de portar muitas lixeiras, inclusive para coleta seletiva, o Jardim Botânico de São Paulo tem trilhas, alamedas, lagos e as duas estufas de vidro inauguradas em 1928, ano de abertura do parque, que conservam espécies nativas da Mata Atlântica. A alameda que dá acesso a partir da portaria, por exemplo, é escoltada por belíssimas e altíssimas palmeiras.

Enquanto a criançada descarregava sua bateria correndo para todo lado, os adultos quase não saíram de perto das toalhas estendidas – pena que nenhuma era quadriculada… – sobre a grama, sobre as quais dispusemos nossas contribuições para o piquenique: pães de diversos tipos, queijos variados, frios, vinhos, salgados, frutas e o bolo de aniversário, é claro.

A julgar pela quantidade de gente que passava por nós e observava nosso piquenique, a ideia foi um sucesso.

Farofa chique, minha gente, é isso aí.

E por falar em estádios…

Estádio Olímpico de Berlim Foto: Camila Antunes

Sempre que chego pela primeira vez a uma cidade procuro conhecer dois tipos de atração: estádios de futebol e mercados (sob a aba do chapéu “mercado” incluo feiras de rua, camelódromos e supermercados).

Mas é de estádios que quero falar. Num momento em que os principais estádios brasileiros estão em reforma para a Copa do Mundo de 2014 – a exceção do Morumbi, o mais importante de todos!, que, não sei não, ainda acho que vai receber alguns joguinhos do mundial – é interessante saber que a bola vai rolar por velhos-novos gramados, antes esquecidos.

Como pode ser visto nesta galeria de estádios publicada pelo viajeaqui, o Brasileirão 2011 terá partidas em Pituaçu (Salvador), no Presidente Vargas, em Fortaleza, e até em Macaé, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro.

Aos torcedores mais fanáticos, eis um bom motivo para seguir os times e conhecer novas cidades, não só em dia de jogos.

É verdade que os clubes e/ou cidades e/ou estados que administram os estádios pelo país ainda estão engatinhando no que poderíamos chamar de “turismo de futebol”. As exceções, eu diria, são poucas.

Uma delas é o Estádio do Pacaembu, em São Paulo, onde fica o maravilhoso Museu do Futebol e cuja infra-estrutura fica disponível a qualquer pessoa que queira, por exemplo, fazer uma caminhada na pista ao redor do gramado ou mesmo tomar um sol na arquibancada.

Ao Morumbi é possível fazer visitas programadas, com direito a conhecer a espetacular sala de troféus, entre outras instalações.

Lembro-me que, quando criança, explorei o Mineirão, onde já assisti diversos jogos, e pude até pisar no gramado.

Fora do Brasil foram inesquecíveis:

– a visita a La Bombonera, do Boca Juniors, em Buenos Aires, onde estive por duas vezes: a primeira, em 2004, fiz a visita guiada pelos vestiários, loja, sala de imprensa, museu e gramado. Naquele dia, por sorte, Carlitos Tevez, que ainda jogava pelo Boca Juniors, estava no clube e pude tirar uma fotinho ao lado dele. Voltei ao estádio em 2009, quando assisti a um empate de 2 a 2 do time da casa com o Argentinos Juniors.

– as duas vezes em que fui ao Estádio Olímpico de Berlim. A primeira delas, na companhia de dois amigos, assisti a estreia do Brasil na Copa de 2006, o 1 a 0 contra a Croácia, gol de Kaká. Naquele dia tive a prova de que Deus existe: apesar de um amigo ter se perdido bem na hora que o jogo ia começar, ele conseguiu ver o jogo. Enquanto procurava por ele, eu encontrei um ingresso para a partida, jogado na alamenda que liga a estação de metrô ao estádio. Não localizei meu amigo – só fui revê-lo tarde da noite, já no nosso motorhome como qual rodamos a Alemanha – mas vendi o ingresso pelos mesmos 300 euros que tive de desembolsar ao cambista de quem comprei a entrada (que dava acesso ao setor destinado à amável torcida croata). Na segunda vez, em 2008, fiz um passeio por toda a área do estádio, que tem uma arquitetura monumental, como se pode ver pelas fotos deste post (desculpem pela qualidade das imagens).

No detalhe, a pira olímpica

– na mesma Copa, assisti no Estádio Olímpico de Munique ao jogo entre Alemanha e Argentina, que acontecia no Estádio Olímpico de Berlim. Como? Simples: a organização da Copa de 2006 instalou um megatelão no meio do gramado do estádio de Munique para que todos os torcedores e turistas que estavam na cidade pudessem torcer pelas equipes. Foi muito legal (ainda mais porque deu Alemanha, hehe)!

– o jogo entre Real Madrid e Atlético de Bilbao, em dezembro de 2006, no Santiago Bernabéu. Em sua fase “galática”, o Real tinha na equipe Ronaldo, Beckham, Roberto Carlos, Emerson, Raúl, Van Nistelrooy, Robinho, entre outros. O Real ganhou de virada, com gols de Ronaldo e Roberto Carlos. Não pude conhecer os bastidores do estádio mas fiquei impressionado com a organização dos setores, a acústica (se eu estivesse no lugar do jogador do Bilbao que foi expulso e tomou a mais sonora vaia de todos os tempos, eu teria saído do gramado aos prantos) e o acesso: há uma estação de metrô na porta, exatamente na porta do Bernabéu.

– a estreia do St. Pauli na segunda divisão do Campeonato Alemão de 2008-2009, em seu estádio em Hamburgo. Havia pelo menos 20.000 pessoas nas arquibancadas, em uma partida às 18 horas de uma sexta-feira. O bacana é que esse estádio é o único na Alemanha que tem autorização para que seja vendida cerveja na arquibancada, conforme contei aqui mesmo no Boteclando.

Mas preciso contar uma coisa: nenhuma dessas experiências se compara ao dia em que o São Paulo ganhou seu primeiro título da Taça Libertadores, em 1992, em pleno Morumbi. Eu estava lá.

Parece que foi ontem…

 

Em pé: Zetti, Dinho, Ronaldão, Cafu, Leonardo e Toninho Cerezzo; agachados: Muller, Doriva, Válber, Palhinha e André

 

… mas lá se vão dezessete anos desde que este time conquistou o segundo título mundial para o São Paulo Futebol Clube, no dia 12 de dezembro de 1993.

Lembro-me que eu e meu amigo Reinaldo fomos assistir à partida num bar que ficava na Rua Professor Arthur Ramos, nos Jardins, logo depois do posto que ainda hoje divide essa rua da Avenida Nove de Julho.

O bar não existe mais. Mas aquela noite, aquele gol do Muller e a partida exuberante que o Toninho Cerezzo fez são inesquecíveis.

Cadê (os) camisas 10?

O ambiente do All Black/ foto: divulgação

Desde o mais recente jogaço entre São Paulo e Botafogo – apenas para registro, os dois times que mais cederam jogadores para a Seleção Brasileira em Copas do Mundo; 46 pelo Bota e 42 pelo Tricolor –, ocorrido em meados de novembro no Engenhão, passei a integrar a brilhante torcida SampaFogo.

Aos que levam a vida a sério demais, cabe advertir que se trata de uma brincadeira, evidentemente, entre amigos, em favor da cordialidade e do bom humor nas disputas ludopédicas (smepre quis escrever esta palavra, hehe).

Naquele 22 de novembro, eu e mais um grupo de amigos sãopaulinos fomos mui bem recebidos no Rio de Janiero por amigos botafoguenses, que providenciaram as entradas, transporte e nos ciceronearam até o Engenhão.

Ao fim do jogo, ainda tivemos direito à saideira no Jobi para secar o Flamengo – deu certo, ao menos naquela noite, pois o Urubu ficou no 0 a 0 com o Goiás, no Maracanã lotado.

Todo esse preâmbulo serve, na verdade, para lembrar que na próxima terça-feira, dia 2, tem jogo da Seleção Brasileira, em Londres, contra a Irlanda. O All Black promete receber torcedores com um telão, a partir das 17 horas. Um pub pode realmente ser uma bom lugar para acompanhar a partida, ao lado de um pint de Guinness, que tal?

Por falar em seleção, assim como o São Paulo, o time do Dunga carece de um camisa 10 autêntico, da estirpe de um Zico, Pita, Raí. Hernanes é bom jogador, mas a 10 pesa pra ele. A 8 lhe cai melhor, assim como a Kaká.

Torço para que Ronaldinho continue melhorando e rezo para que Dunga considere levá-lo à África do Sul. Por ora, e com a contusão do Luís Fabiano, esta deve ser a lista dos 11 titulares na terça-feira: Julio César, Maicon, Juan, Lúcio e Michel Bastos; Gilberto Silva, Josué, Elano e Kaká; Robinho e Nilmar.

Para este jogo, a mim pouco importa quem vai jogar. Mas para a estreia contra a Coreia do Norte, no dia 15 de junho, eu entraria em campo com: Julio César, Daniel Alves, Juan, Lúcio e Michel Bastos; Kleberson, Ramires, Kaká e Ronaldinho; Luís Fabigol e Nilmar.

E a sua seleção, qual é? Abra uma cerveja e ajude o nosso comandante.

All Black. Rua Oscar Freire, 163, Jardim Paulista, São Paulo, tel. (11) 3088-7990.

Jobi. Avenida Ataulfo de Paiva, 1166, loja B, Leblon, Rio de Janeiro, tel. (21) 2274-0547.

Trancinhas

– A coisa mais difícil é você se apaixonar e alguém se apaixonar por você ao mesmo tempo. É difícil. Eu me apaixonei desse jeito umas 4 ou 5 vezes, cara.
– É mesmo?
– Paixão é uma coisa meio estranha.

Escutei esse trecho de conversa numa noite dessas, quando fui ao Tiro Liro. Descendente do já afamado Dona Felicidade, é um bar que existe há quatro anos e fica numa bucólica esquina, na qual os funcionários instalam três ou quatro mesas na calçada, que não atrapalham o tráfego, porque ele praticamente inexiste naquele sobe-e-desce de Perdizes.

– Aí ela foi namorar lá com o mané, né? Um imbecil. Eu me lembro até hoje, cara, das trancinhas dela. Me apaixonei, primeira série, cara, primeira série.

No pequeno salão há mais uma dúzia de mesas, que se espalham de frente para o belo balcão de madeira e granito no qual ficam a chopeira (chope apenas razoável, R$ 3,50) e a vitrina de acepipes (100 gramas, R$ 4,10). Ali chama atenção uma vistosa sardinha a escabeche.

Não encarei uma dessas, mas optei pela fina lingüiça a Augusto (R$ 16,00) que, de modo artesanal, é preparada com carne de porco e pimentão. À mesa, chega misturada com cebola, numa chapa quente. Uma delícia, assim como a caipirinha montada em copo longo (R$ 9,00 com vodca).

O Tiro Liro nunca ficou abarrotado, não é um bar de modinhas. É daqueles refúgios de bairro, protegido das vias mais movimentadas e que normalmente se prestam a uma happy hour calma e a um fim de noite tranqüilo. Tão tranqüilo que serve como cortesia os diálogos de fregueses sensíveis, a exemplo desse dos amigos que falavam de paixão.

– Na oitava série ela começou a sair com o tal mané. Aí veio a decepção: ela ficou grávida do cara!

A eles peço desculpas pela minha bisbilhotice, mas aqui cabe uma explicação pela indelicadeza: adquiri esse hábito de xeretar a conversa alheia por estar muitas vezes sozinho nos bares. Por sugestão de um amigo, expert no assunto, acabei aprimorando esse dom de ouvir o que não queria.

– Anos depois me achou na internet. Agora tem dois filhos. Era das mais inteligentes da escola. Deu dó, sabe?

Com a garrafa de uísque 8 anos já pela metade, os amigos se despedem com um aperto de mãos, que logo se transforma em um abraço. E vão embora, um pela Rua Cotoxó, o outro pela Cajaíba.

– A gente é muito certinho, cara.

Tiro Liro Rua Cotoxó, 1185, Perdizes, tel. 3868-3551. 17h/1h (sáb. 12h/20h; fecha dom).