Você tem 15 chances para comprar – já – um Vinho do Porto de 1863

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Um lote de apenas 15 garrafas do Vinho do Porto Taylor’s Vintage, do ano de 1863 – ou seja, 152 anos atrás –, colocado à venda em 2014, finalmente chegou ao Brasil, e está à disposição dos clientes na Confraria Carioca, loja instalada do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.

A safra de 1863 é tida por especialistas como a última grande colheita antes da devastação causada pela filoxera nos vinhedos do Velho Mundo.

A edição limitada do Taylor’s Single Vintage, da qual foram produzidas apenas 1500 garrafas, vem acondicionada, na verdade, em um decantador de cristal, cuja tampa de vidro foi gravada e polida artesanalmente na Escócia.

Cada um dos 15 exemplares disponíveis no Brasil custa 10.000 reais. Se você for um dos compradores, receberá esse tesouro em uma caixa de madeira de plátano e um certificado de garantia de procedência e autenticidade, devidamente assinado pelo diretor geral da vinícola Taylor’s, evidentemente.

Confraria Carioca. Casa & Gourmet Shopping (Rua General Severiano, 97, loja 237-A), Botafogo, Rio de Janeiro, te. (21) 2244-2286.

Atualização: um dia depois de confirmar o preço de 10.000 reais, a Confraria Carioca informa que o preço do Taylor’s Single Vintage 1863 é 14.000 reais.

O duelo das porchettas: Nova York x Itapecerica da Serra

Foi meu compadre Caio Mariano quem recomendou, de última hora, pelo what’sapp: “tenta ir no Porchetta”. Era meu penúltimo dia em Nova York e, ao ler a dica dele pensei: Caio não blefa, restam-me umas horinhas, vou fazer de tudo para ir lá.

E fui, e aproveitei para me encontrar com duas amigas ali, na porta do que eu imaginava ser um restaurante italiano. E tomei uma surpresa: até agora tenho dúvidas se o Porchetta é um restaurante (pequeno demais para isso, com assentos apenas em dois balcões internos e do lado de fora) ou um bar (não pode ser, pensando bem, já que não vi muita coisa para beber). Talvez seja uma lanchonete. O fato é que é o chamariz da casa é a receita da porchetta alla romana — na verdade o bar-restaurante-lanchonete prepara também um sanduíche de frango com acompanhamentos.

Originária da Emilia-Romagna, no centro da Itália, a porchetta é um corte que pega toda a lateral de um leitão, que por sua vez vai ao forno completamente desossado. A pele, porém, é mantida. Após muitas horas, umas cinco, pelo menos, assando a uma temperatura de 250 graus, essa capa ganhará uma deliciosa consistência de pururuca — generosamente, o Porchetta publica em seu site a receita.

Eu pedi a versão sanduba — do mesmo modo como se come nas ruas da região de Roma (12 dólares) — e a carne estava com uma textura macia, enriquecida pelo bom tempero de alecrim e outras ervas. O pão ciabata, crocante, era dos bons, menos aerados do que as ciabatas que costumamos comer nas padocas de São Paulo.

Essa surpresa novaiorquina me fez lembrar da primeira vez que provei a porchetta: foi na costelaria Rancho do Vinho, em Itapecerica da Serra. Faz uns quinze anos, eu era repórter da Playboy e havia ido até lá para experimentar a costela e conferir a adega da casa que, na ocasião, guardava uma considerável oferta de vinhos brasileiros.

Lembro-me do proprietário e chef Celso Frizon tirando lasca por lasca do interior da porchetta exposta no meio do salão desse restaurante à beira da rodovia Régis Bittencourt. A carne saia úmida, branquinha e muito bem temperada para rechear as duas bandas de pão francês.

Celso continua preparando a própria versão da porchetta alla romana, mas apenas sob encomenda e no Dr. Costela, novo nome do Rancho do Vinho. Para a receita, Celso lança mão de leitõezinhos de 7 a 8 quilos. Recheados com carne suína selecionada, ervas frescas, embutidos e outros temperos, a porchetta chegará aos 15 quilos e ficará pronta depois de 17 horas de forno. Por cada quilo, Celso cobra 65 reais.

Qual das duas é a melhor? A menos que você consiga ir a Nova York, confie em mim: sinceramente, temos aqui um empate.

Porchetta. 110 East 7th Street, Nova York, tel. 212-777-2151, http://www.porchettanyc.com

Dr. Costela. Rodovia Régis Bittencourt, quilômetro 293,5, Itapecerica da Serra (SP), tel. (11) 4147-1557, http://www.drcostela.com.br.

 

Finalmente, o Bardega

Bardega: vinho direto na máquina

Bardega: vinho direto na máquina

Nos últimos dois anos, São Paulo ganhou uma razoável quantidade de wine bars (ou bares dedicados ao vinho). Sem dúvida, uma boa notícia. A ideia comum a esses estabelecimentos é a de oferecer a possibilidade ao cliente de comprar uma boa variedade de vinhos em taça e não em garrafa. Assim, degusta-se várias opções pelo preço equivalente ao de uma garrafa.

O Bardega, inaugurado em 2012 na Vila Olímpia, desponta como o que tem a maior oferta de vinhos em taça: pelas minha inexatas contas passam de 100 os rótulos de tintos, brancos, espumantes e rosés. Quantidade impressionante.

Novato em visita à casa, não captei de imediato o esquema de autoatendimento. Até alcançar minha mesa, nenhum garçom, maître ou sommelier veio até a mim para perguntar se eu precisava de alguma ajuda. Mas o serviço funciona assim: você deve pegar um cartão com o sommelier e se dirigir às doze máquinas Enomatic, que evitam que o líquido de deteriore e onde são conservadas as garrafas [à direita, na foto]. Ao escolher o vinho, pode optar por doses de 30, 60 ou 120 mililitros (uma garrafa de vinho tem 750 mililitros). Basta posicionar uma taça embaixo da torneirinha da máquina, inserir o cartão e pronto. O vinho é despejado copo abaixo e o valor cobrado pela dose é incluído no cartão, que deverá ser pago à saída.

Degustei doses de 60 mililitros e, confesso, achei os preços um tanto salgados. Ok, não se pode comparar o preço cobrado no bar com o que geralmente se paga numa loja ou na importadora. Por outro lado, não faz sentido embutir uma quantia no preço relativa ao serviço do vinho, já que a casa apregoa o sistema self-service, certo? Donde só posso inferir que a margem de lucro da casa lhe é bem favorável.

Pelo português Vinha Grande, por exemplo, paguei R$ 16,00. O australiano Wakefield State Shiraz custou-me R$ 12,00 a dose de 120 mililitros do espanhol Viña Sastre Crianza saiu por R$ 32,00. De fato, os vinhos estavam em perfeitas condições. Os espumantes, por sua vez, devem ser pedidos a um barman no balcao montado no fundo do salão. Servido na taça flûte padrão, o rosé português Aida Maria custou R$ 20,00.

Do cardápio, provei o risoto de abóbora e o cozido de carne (R$ 28,00 cada porção). Os pratos muito saborosos, mas achei a ração muito pequena. Honestamente, não reclamaria se tivesse de desembolsar uns R$ 5,00 ou R$ 10,00 para comer um pouco mais.

Senti falta de um jerez na seleção de vinhos e, por isso, perguntei ao sommelier se eventualmente havia alguma opção fora das Enomatics. Infelizmente não, disse-me ele, que já chegou a disponibilizar umrótulo, mas desistiu por causa da baixa procura. Uma pena, taí uma bebida que merece ser descoberta pelos fãs de vinho.

 

Bardega. Rua Doutor Alceu de Campos Rodrigues, 218, Vila Olímpia, tel. (11) 2691-7578, http://www.bardega.com.br.

 

 

Beba duas vezes por semana e seja feliz

Happy hour: duas vezes por semana, no mínimo / Foto: Romero Cruz

Happy hour: duas vezes por semana, no mínimo / Foto: Romero Cruz

A Organização Mundial de Saúde e entidades científicas internacionais de grande reputação, como o hospital da Universidade Johns Hopkins e a American Dietetic Association — além da minha nutricionista, a quem tive de recorrer no início desta semana depois que levei um presta-atenção do meu check-up mais recente por causa do colesterol —, recomendam os benefícios do vinho tinto para combater inimigos como as placas de gordura nas veias, a má circulação sangüínea e o mais ardiloso de todos os vilões (ao menos, no meu caso), o mau colesterol.

Na consulta de segunda-feira passada, Livia, a nutricionista, me deu o aval: “tudo bem, pode beber uma a duas taças de vinho por dia, não tem problema.”

Ok, para mim a boa notícia não era exatamente tão nova assim. Tipo, eu-já-sabia! Mesmo assim, meus olhos brilharam, ela há de ter percebido. Afinal, agora eu tinha um aval científico dito em alto e bom som.

Devo tamanha alegria aos queridos resveratrol e aos flavonoides, compostos presentes na uva, que têm respectivamente ação antioxidante e favorecem a produção de colesterol bom no  fígado.

Além dessa preciosa confirmação, dez dias atrás um interessantíssimo estudo comandado pelo neurocientista Robin Dunbar, da Universidade de Oxford foi divulgado. (Leia a notícia, em inglês, aqui.)

De acordo com Dunbar, homens que saem duas vezes por semana para beber com os amigos tendem a ter uma saúde melhor, a se recuperar mais rapidamente de doenças e a ser mais generosos.

Convenhamos, duas noitadas por semana em companhia dos amigos não farão mal a nenhum relacionamento.

Moderação e equilíbrio, no bar e na vida, não fazem mal a ninguém.

 

Brera, os panini ‘de boy’ e o bom exemplo do garçom

Passaram-se quatro ou cinco meses desde a inauguração do Brera, um bar-sanduicheria aberto nos Jardins, até que, na noite do sábado, fui conhecer a casa. E, antes de esclarecer o porquê, digo que gostei, e muito dali.

O Brera ocupa uma espécie de sobrado do lado esquerdo da rua, em sua parte plana. Um terraço em nível elevado em relação à calçada acomoda uma mesa coletiva ao redor da qual, em noites gostosas como foi a de sábado, turmas podem se reunir num certo clima de dolce far niente. Essa impressão ganha força ainda mais quando, de passagem, ouve-se pessoas falando em italiano. Algo que ali não acontece por acaso, porque alguns dos donos nasceram na Bota.

Lá dentro, num ambiente à meia-luz, as paredes são cobertas por réplicas com fotos em preto-em-branco de padeiros e padarias italianos do fim do século 19 e início do 20. Uma delas é esta:

Padeiro italiano, em foto de 1865: belas imagens nas paredes do Brera

Padeiro italiano, em foto de 1865: belas imagens nas paredes do Brera

Especializado em panino, o local trabalha com frios, queijos e demais ingredientes de primeira, expostos aos clientes no balcão instalado logo à direita da entrada do salão. A imensa maioria dos itens — da mortadela de Bolonha ao presunto de Parma — é importada da Itália. As exceções ficam por conta do pão (produção especial da padaria Em Nome do Pão, especialmente para o Brera, e que tem assim uma textura de ciabatta) e dos itens de salada. E os frios são cortados na hora, como bem fazem as boas padocas.

Para cada uma das 20 e poucas combinações, há dois tamanhos: o padrão, digamos assim, que vêm a mesa disposto sobre uma tábua e acompanhado e de uma salada, e o míni, que é servido num pão menor, quase do tamanho do nosso francês.

Primeiro, provei o langhe, que é montado com presunto cru de Parma maturado por 18 meses, queijo brie, tomate, azeite trufado piemontês (em tempo: bem suave, cujo delicado sabor integrou-se aos demais ingredientes) e rúcula (R$ 23,90/ R$ 12,50 o míni).

Langhe: boa opção de panino

Langhe: boa opção de panino

Em seguida, pedi o longobardo, composto de mortadela, qeuijo gorgonzola, tomate, anchovas e mostarda (R$ 22,90/ R$ 11,50), também saboroso.

A primeira boa surpresa, porém, tive logo que pedi uma taça de vinho para acompanhar a refeição. O syrah (R$ 14,00) havia acabado e o garçom me ofereceu o nero d’ávola, cuja taça custa R$ 19,00, pelo mesmo preço do primeiro.

Taí um exemplo que deveria ser seguido por todos os estabelecimentos.

Brera. Rua Ministro Rocha Azevedo, 1068, Jardins, tel. (11) 3895-5855.

 

Vinho na Bienal

Entrada da Wine Weekend no prédio da Bienal: estandes de 24 importadoras / Foto: Miguel Icassatti

Entrada da Wine Weekend no prédio da Bienal: estandes de 24 importadoras / Foto: Miguel Icassatti

Pelo quarto ano consecutivo, acontece de hoje (25) a domingo (28) em São Paulo a Wine Weekend, feira que reúne 24 pequenas importadoras de vinhos e algumas das principais vinícolas brasileiras.

É a primeira vez que a feira acontece no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, o prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera — nos anos anteriores ocorreu no estacionamento do Jockey Club.

O ponto mais bacana deste evento, porém, é que, diferentemente de outras feiras, o visitante pode não apenas degustar os vinhos, mas principalmente comprar as garrafas (em geral, com desconto) ali mesmo. E quantas garrafas quiser ou conseguir acomodar nos carrinhos de supermercado colocados à disposição.

Casa Valduga, Lídio Carraro, Pericó, Perini, Aurora e Salton são as principais vinícolas nacionais presentes. No estande da Salton, por exemplo, o Talento (elaborado com as uvas cabernet sauvignon, merlot e tannat), tinto servido à comitiva do papa Francisco, está à venda por R$ 49,00. Na compra da caixa com seis unidades (R$ 294,00), ganha-se uma garrafa. O tinto Desejo (100% merlot) sai a R$ 55,00 e o branco Virtude, feito com a uva chardonnay, custa R$ 45,00.

Entre as importadoras, destacam-se a De La Croix, com seu portfólio dedicado aos vinhos franceses, a Qual Vinho? (com boa oferta de sul-africanos), a Cantu (que vende o fantástico Quinta do Vallado Reserva Field Blend 2008, R$ 125,00) e uma novata, a Weinkeller. Fundada há um ano, essa importadora é especializada em vinhos alemães, muitos deles com boa relação entre preço e qualidade, caso do branco Pfaffmann riesling (R$ 49,00).

A quem vai de carro, a boa notícia é que para estacionar não se gasta mais do que os R$ 3,00 do bilhete Zona Azul. Palestras e degustações temáticas, assim como uma exposição do cartunista Hermé, completam o programa.

Wine Weekend São Paulo Festival 2013. Pavilhão Ciccillo Matarazzo (Bienal), Parque Ibirapuera, portões 3 e 4. Ingresso: R$ 50,00, com direito a uma taça de cristal. http://www.wineweekend.com.br.

La vie en rosés…

É certo que muitos experts e críticos do mundo do vinho torcem o nariz quando é colocada à sua frente uma taça de vinho rosé. O que é uma bobagem tremenda. Vinho bom e vinho ruim não têm cor predeterminada. Tá certo que entre os vinhos mais caros e prestigiados do mundo um outro rosé apareça com algum destaque e na forma de espumante. Mas eu não desprezo um bom rosé.

Os vinhos rosés são em geral versáteis, porque se apresentam como uma boa opção de bebida para os dias mais quentes — a temperatura média nos primeiros dez dias de dezembro em São Paulo foi de 31,1 graus! — e podem fazer bom papel tanto como aperitivo como acompanhando pratos mais leves, como pescados, massas com molhos delicados e até frituras.

Já que está um calorão danado lá fora e como estamos a poucos dias do verão, aproveito para indicar cinco rótulos rosés — três dos quais degustei recentemente — que valem a pena ser degustados, e sem que nenhum nariz fique torcido.

Cà’del’Bosco Cuvée Prestige Rosé DOCG (R$ 268,65, na Mistral): é um grande símbolo da bela região da Franciacorta, na Lombardia, norte da Itália, que destaca justamente pela produção de espumantes. Feito com uvas chardonnay (brancas), essa edição especial, digamos assim, tem produção limitada. Em sua produção são acrescidos vinhos de outras safras. Um vinhaço, para ser bebido em grandes (ou pequenas, por que não?) comemorações.

 

Ercavio Tempranillo Rosado 2010 (R$ 41,40, na Decanter): boa opção custo-benefício, esse rosé espanhol é produzido com uvas tempranillo na região de Castilla – Toledo. Ganhou 87/100 pontos do crítico americano Robert Parker. O aroma discreto esconde um sabor bem gostoso de frutas vermelhas, em especial morango. Vai muito bem com uma paella.

 

Les Hauts de Janeil Rosé (R$ 44, na Zahil): Trata-se de uma espécie de repaginação do Rosé Les Bateaux. Apesar da mudança de nome e da apresentação (a garrafa tem agora formato bordalês), mantém-se como boa opção de preço-qualidade. É produzido na região do Languedoc, sul da França, com uvas syrah.

Janeil rosé: ótima relação preço-qualidade (R$ 44)

 

Paul Bur Rosé (R$ 59, na Zahil): ótimo custo-benefício, esse espumante francês é produzido com as uvas tempranillo (de origem espanhola) e grenache. Gosto tanto desse vinho que foi o escolhido para embalar a festança do meu casório. No caso, escolhi a versão brut.

 

Whispering Angel 2011 (R$ 129,90 na Todovino Interfood): os  rosés produzidos pelo Chateau D’Esclans são os melhores que tomei nos últimos dois ou três anos. O céu é o limite — na verdade, o limite pode ser os R$ 320,90 do top dessa vinícola, o Les Clans 2009 —, mas eu me contentaria e muito com o vinho de entrada, o Whispering Angel. Produzido no mais antigo chateau da Provence, datado de 1201, esse vinho é feito como os brancos da Borgonha, ou seja, as uvas são colhidas à noite e refrigeradas a 6 graus até chegarem à adega para a vinificação. Um vinho realmente especial.

 

Whispering Angel 2011: vale o investimento

 

O ovo da dona onça

Salão do Bar da Dona Onça / Foto: Raul Zito

“A partir de agora e por todo o tempo que você permanecer no bar, seremos responsáveis pela sua felicidade”. Estão vendo a lousa no canto superior esquerdo da foto que mostra o Bar da Dona Onça? Pois bem, a frase que começa este texto estava escrita ali, como que dando boas-vindas a quem chegasse à casa.

No domingo passado, depois de ter ido à exposição do artista gráfico holandês Escher no Centro Cultural Banco do Brasil, centrão de São Paulo, parei para um almoço tardio no Bar da Dona Onça, que não visitava há um ano ou mais.

Fiquei contente por ver a casa cheia em pleno domingão, quando a região central costuma ficar vazia e tristonha. Passava das 3 e meia e havia apenas duas mesas vagas. Estava curioso para finalmente provar algumas das receitas que ainda não conhecia no novo cardápio.

Veja também: o centro histórico de São Paulo, do viajeaqui

Tive a sorte de conseguir pedir a última porção de minissanduíche de carne moída temperada com azeitona e ovo cozido (R$ 24,00, com três unidades), uma versão graciosa do buraco quente, o velho pão com carne moída.

Para acompanhar o almoço, minha ideia era pedir um vinho, mas confesso que fiquei assustado com os preços. Meia-garrafa do argentino Catena malbec está custando, ali, R$ 54,00! Acabei optando por uma garrafa da cerveja Colorado Indica, R$ 19,00 e arrematei a refeição com o Terranova shiraz, produzido pela vinícola Miolo no Vale do Rio São Francisco, divisa de Bahia com Pernambuco, pelo qual paguei justos R$ 9,00 a taça.

Dividi com Camila um prato de arroz de bacalhau, que nos pareceu apetitoso. À mesa, ele chegou em dois pratos de alumínio, tipo caçarola, em quantidades que, se não generosas, suficientes para nos deixar satisfeitos. Sobre o prato de Camila veio o ovo da segunda foto deste post.

Mal a garçonete desejou-nos bom apetite, elogiei a belezura daquele ovinho frito (na hora que postei a foto abaixo no facebook não havia rolado a parte chata da história…) e brinquei, “pô, só veio pra ela?”

O ovo de R$ 4,00

Ao perceber minha vontade de provar daquele ovinho de gema quase molinha, a garçonete disse que iria ver com o chef se ele fritaria um para mim. Fiquei feliz da vida com a gentileza dela.

Pois é, não foi uma gentileza, conforme eu veria na hora em que a conta chegou. Por esse ovo extra, cobraram-me R$ 4,00.

Situações como essa me deixam beeeeem chateado. Irritado. Mal-humorado. Afinal, 1. eu não pedi pelo ovo; 2. a garçonete não me entregou o cardápio para que eu conferisse o preço; 3. não me falou que eu teria de pagar por algo que ela própria havia me oferecido (para efeito de comparação, ela me perguntou se eu iria querer o couvert…); 4. conclusão: fiquei com a nítida impressão que ela (ou o caixa) deu-me claramente um “migué” para cima de mim.

Paguei a conta, deixei os 10% do serviço, dei uma última olhada no que estava escrito na lousa e pensei: comi muito bem, como das outras três vezes em que estive ali. Mas não fiquei feliz.

Bar da Dona Onça. Avenida Ipiranga, 200, Centro, tel. (11) 3257-2016.

Parrilla: Montevidéu X Buenos Aires

Cheguei a Montevidéu no fim da tarde de quinta-feira (23), o dia seguinte à derrota do Peñarol para o Santos, que, agora, como o São Paulo, pode bater no peito e dizer que é tricampeão da Libertadores.

A manchete dos jornais uruguaios, mais do que lamentar a perda do jogo e do título, destacava a luta, a raça e o orgulho de ver o mais tradicional e vencedor time local novamente entre os melhores do continente. Na saída do aeroporto, vi algo que seria inconcebível por aqui: um ambulante vendia pôsteres com a foto dos vice-campeões da América.

Veja também:

Doce Deleite, reportagem sobre o Uruguai da revista VIAGEM E TURISMO

10 restaurantes para ir a dois em Buenos Aires

10 shows de tango em Buenos Aires

Nesse dia e nos seguintes, a final da Libertadores seria o assunto principal das conversas sobretudo entre os locais e os turistas brasileiros. Mas eu estava interessado, na verdade, em outro assunto: as parrillas, tema que acirra rivalidades entre uruguaios e argentinos.

Em qual das duas cidades está a melhor? Montevidéu ou Buenos Aires? Como seguiria também para a Argentina, resolvi fazer um tira-teima.

Em Montevidéu, comecei por uma das bancas de parrilla do Mercado del Puerto, lamentavelmente não pelo famoso El Palenque, que estava já fechando, mas pela La Chacra, a única no mercado que àquela hora, 5 da tarde mais ou menos, não tinha cadeiras já viradas sobre as mesas nem garçons varrendo o salão.

Mercado del Puerto, Montevidéu

Sentei-me no balcão da casa, que fica bem no meio do mercado. Ali devorei dois meganacos de asado de tira (costela bovina), precedidos por uma apimentada salsicha parrillera (linguiça). Assada ao ponto, a carne tinha um quase nada de sal, como manda a tradição local. Compensei o sal com o excesso sobre as batatas fritas e com o molho chimichurri. O mais legal foi constatar que as boas churrasqueiras urtuguaias são alimentadas por lenha e não por carvão. Veredicto: bom.

Na sexta, após umas comprinhas no Shopping de Punta Carretas, jantei no La Perdiz. Com astral de pub, esse restaurante reúne casais, turmas e turistas, que são servidos por garçons jovens e solícitos. Após uma espera de 10 minutos no balcão, o tempo de desenrolhar uma garrafa de vinho, conseghui uma mesa defronte à churrasqueira. Camila pediu um badejo a la plancha (na churrasqueira) e eu fiquei com um bife ancho acompanhado de purê de batatas. Veredicto: muito bom.

Depois de uma tarde de friaca e ventos na lindinha Colônia de Sacramento, cidade às margens do Rio da Prata, uma mistura de Parati com o Quadrado, de Trancoso, desembarcamos do buquebus em Buenos Aires pontualmente às 21h30. Na capital argentina também só se falava de futebol, no caso, sobre o provável rebaixamento do River Plate à segunda divisão local, um absurdo tão grande como aquele que acometeu o Corinthians. Como essa foi minha quarta visita à cidade, posso dizer que já começo a me sentir um portenho, até por que eu tenho ascendência argentina: Leopoldo Icassatti, meu tataravô, era um hermano.

Não tive muita dificuldade para encontrar o Don Julio, restaurante típico que fica em Palermo Viejo. O melhor é que, como hospedamo-nos em Palermo – o que poucos brasileiros fazem, mesmo depois de consolidada nossa invasão a cada inverno -, seguimos a pé para lá.

Por volta das 23h, o restaurante tinha bom público – pegamos a última mesa disponível. Notei que a clientela compunha-se de grupos de casais jovens, famílias e alguns poucos turistas gringos. Camila pediu por um bife de chorizo, meia-porção, o que sigifica muita carne para uma mulher só. Eu esperei ansiosamente por meu vacio (fraldinha). Não sei se é um reflexo da preferência da maior parte dos brasileiros, mas achei que o carne tinha passado do ponto – e olhe que pedi que viesse ao ponto, já sabendo que o “ao ponto” dos portenhos corresponde ao nosso “mal passado”. Veredicto: bom.

Para o almoço de domingo, reservei tempo e paciência para conhecer o La Brigada, em San Telmo, famosa e turística parrilla. Na opinião do meu amigo Jorge Carrara, argentino e crítico de vinhos da revista “Prazeres da Mesa”, ali estaria a melhor carne de Buenos Aires.

La Perdiz, em Montevidéu

Antes de falarmos da carne, convém dizer que o restaurante merece uma visita simplesmente por estar em Santelmo, por ser um ponto turístico e por causa da decoração, repleta de flâmulas, fotos e faixas de clubes de futebol do mundo inteiro. O astral tem assim uma pegada do paulistano Família Mancini. e o turista corre o risco até de cruzar com Lionel Messi, quando ele está pela cidade.

Para variar, quis provar o asado de tira especial e Camila ficou com o ojo de bife, ambas boas pedidas. O ojo de bife devia ter uns 10 centímetros de altura. Saboroso, estava muito macio. O asado especial foi o melhor corte que degustei na viagem, mas não foi a melhor carne que provei por lá, embora tivesse notado que o garçom cortou a carne com a colher, de tão macia que estava. Veredicto: Muito bom.

Como me propus a desempatar essa versão do clássico do Rio da Prata por meio da parrilla, tive de recorrer à memória. De modo que dou a vitória a Buenos Aires. Não esqueço do asado de tira que encarei há exatamente um ano, no La Cabrera, em companhia dos amigos Krueger, Badá e Ed. Ponto perfeito, ótimos acompanhamentos, tempero impecável. Veredicto: sensacional.

La Cabrera, em Buenos Aires

Don Julio. Calle Guatemala, 4691, Palermo Viejo, Buenos Aires.

La Brigada. Calle Estados Unidos, 465, San Telmo, Buenos Aires, Argentina.

La Cabrera. Calle Jose Cabrera, 5099, Palermo Viejo, Buenos Aires, Argentina.

La Chacra. Mercado del Puerto, Ciudad Vieja, Montevidéu.

La Perdiz. Calle Guipúzcoa, 350, Punta Carretas, Montevidéu.


Nasceu Tiago! Viva Santiago!

Detalhe da Catedral de Santiago de Compostela Fotos: Miguel Icassatti

 

À 1 e tanto da manhã desta segunda-feira, 18 de abril de 2011, quase 2 horas (ou10 da noite deste domingo, 17 de abril, no horário brasileiro), nasceu meu sobrinho Tiago Padberg-Biederbeck em Hamburgo, na Alemanha, com 51 centímetros (os mesmos de quando nasci) e 3 quilos, 350 gramas (10 gramas a mais do que eu). Minha irmã Daniela passa bem e ele já mamou uma vez. É o terceiro sobrinho deste tio apaixonado, que vem se juntar a Júlia e Torbinho, o alemãozinho que prestes a completar três anos de vida já é fã de AC/DC e do Iron Maiden, torce para o São Paulo e o St. Pauli, tem uma bela canhota e acaba de ganhar um irmãozinho.

Logo depois do café da manhã deste domingo liguei o computador para falar com a Dani e saber, afinal, como ela estava se sentindo, porque toda a família já estava de prontidão à espera do novo integrante da família, cujo nome, aliás, ela manteve em segredo até agora (torço para que Tiaguinho deixe a maternidade com o macacão dos Beatles que comprei meses atrás na Galeria do Rock). Conversamos por cerca de meia hora pelo Skype e ela estava bem. Minutos depois minha irmã Priscila, mãe da Julieta, telefonou para minha casa e avisou que a Dani estava indo para a maternidade. Era meio-dia, mais ou menos, horário do Brasil e eu estava assistindo a Bayern Munich x Bayer Leverkusen na TV, enquanto me preparava para ir ao clube.

Neste primeiro texto depois de um período de oito semanas sem escrever, eu esperava me desculpar a você, leitor, pelo longo tempo sem escrever, já que tenho estado de molho, depois de uma cirurgia a que submeti o meu tornozelo esquerdo, após tê-lo fraturado num jogo de futebol. Eu esperava também contar a boa nova, ou seja, a migração deste blog para o portal Viajeaqui, também da Editora Abril, já que agora o blogueiro passa a ser também editor-chefe do referido portal.

Mas eis que o domingo, 17 de abril, reservaria outras boas novas: desde quinta-feira, fui autorizado pelo meu ortopedista a pisar novamente com o pé esquerdo – depois de quase sete semanas! –, a trocar as muletas axilares pelas canadenses (alguém sabe o porquê desse nome?) e a começar a fazer alguns exercícios de fisioterapia na água. Pois bem: já sabendo que meu sobrinho poderia nascer a qualquer momento, segui para o clube, onde, pela primeira vez em dois meses, mergulhei em uma piscina, em um dia de lindíssimo céu azul de outono.

O dia passou rápido, até o momento em que recebi a notícia da chegada de Tiago, por um telefonema de minha mãe. Eu recebi a ligação enquanto participava do sensacional e comovente jantar beneficente organizado pelo chef Jun Sakamoto no hotel Unique e com a participação de 20 outros chefs, cuja renda foi revertida às vítimas do terremoto e do maremoto no Japão. Não pude atender na hora, apenas na saída, após cumprimentar alguns chefs.

Enquanto minha mãe descrevia o peso e o tamanho de Tiaguinho, emocionada, é óbvio, não sei por quê, meu pensamento viajou aos primeiros dias de agosto do ano passado, quando visitei a cidade de Santiago de Compostela, na Galícia, Espanha.

Fiquei apenas duas noites naquela cidade, cujo entorno da catedral do discípulo de Jesus é repleto de ruelas medievais, que estavam tomadas por peregrinos, turistas, gente, enfim, do mundo inteiro.

A praça da Catedral de Santiago

 

Cheguei a Santiago numa noite de sábado, de carro, dirigindo desde Coimbra, em Portugal. A cidade estava lotada e sob uma aura alegre, festiva, já que o período coincidia com a festa do jubileu do santo, algo que, se eu não estiver enganado, acontece a cada onze anos. Faminto, deixei o hotel e me juntei à multidão que vagava entre os prédios centenários das ruas centrais, medievais e abertas apenas a pedestres. Guiei-me pelo fluxo de pessoas e quando me dei conta estava diante na praça em que fica a catedral. Um mundaréu de gente acompanhava o show do músico francês Jean-Michel Jarre (os mais velhos haverão de se lembrar de seus clips no Fantástico nos anos 80), um concerto algo psicodélico, algo new age, que combinava perfeitamente com a aura mística que domina a cidade.

Naquela noite, depois do show, parei em um bar que estava lotado. Não saberei dizer o nome. Tomei uma taça de vinho branco no balcão, duas talvez, observei a moçada falando alto e se divertindo, belisquei umas tapas e voltei ao quarto do hotel.

A Catedral de Santiago de Compostela, fabulosa

 

Todo esse roteiro de repente se reconstitui à minha frente. Enquanto escrevo este texto dedicado a Tiago, meu sobrinho, bebo um copo de uísque, sentado no sofá de casa. Daqui a pouco vou dormir, e com uma certeza: logo estarei em Compostela, diante da catedral, prestes a tocar a imagem de Santiago, em agradecimento a mais esta graça, mais esta bênção, mais esta alegria. Viva Thiago! Viva Santiago!